O Google e a censura

Do ABCNews.com:
“Saying that providing some information is better than providing no information, Google Inc. today defended its decision to cooperate with China’s demand to censor some Web search results.”
Interessante essa estratégia do Google. Eles resolveram colaborar com o governo da China e bloquear alguns resultados de seu site de buscas na versão em chinês. O Google.cn bloqueia, por exemplo, cerca de 40% dos resultados de uma pesquisa com termos como “democracy” e “China”.
O site justifica-se alegando que é melhor fornecer alguma informação do que nenhuma. Apesar de tudo, não dá para negar que a saída encontrada é bastante engenhosa.
Obviamente, estão em jogo interesses comerciais:
“China currently has an estimated 100 million Web users. That number is projected to rise to 187 million over the next two years.”
A China tem cerca de 100 milhões de usuários da web, e perder uma fatia tão grande de mercado não ia valer a pena para o Google. “Yahoo and Microsoft also cooperate with China’s censorship policy.” Se a concorrência colabora, por que o Google não iria também colaborar? 😛

A polêmica diz respeito também à questão da liberdade de expressão e da censura prévia. Ora, mas a censura não está presente em todos os lugares, a todo o momento, em tudo o que se fale? O normal (mas quem define o que é normal em tempos hodiernos?) é associar a censura aos regimes totalitários, e a liberdade de expressão às democracias. Entretanto, “a censura é uma das dimensões intrínsecas de qualquer sistema de poder.”* Não há sociedade sem censura, e o que varia, ao longo do tempo e do espaço, é a modalidade de censura exercida.
Claro que a ditadura chinesa exagera um pouco (não deixar que seus cidadãos procurem se informar acerca dos direitos humanos é ir um tanto longe demais!) e certamente não é um exemplo a ser seguido, mas também não dá para querer falar, ler e saber de tudo. Há coisas que simplesmente não devem ser ditas. E isso varia de país para país, de cultura para cultura.
A liberdade total de expressão é na verdade um discurso mítico, porque “a plenitude do dizer e do fazer equivaleria à própria negação da linguagem, à morte da palavra, ao silêncio total.” Nesse sentido, a espécie de censura predominante nas sociedades democráticas seria a do tipo que, ao invés de limitar o que é dito, simplesmente obriga a dizer: “Esta censura tem sobretudo horror ao silêncio.”
Além do mais, a liberdade de expressão nunca poderia ser total: sempre haver(i)á confronto com outros direitos fundamentais (e aqui entram novamente os tais direitos humanos barrados em pesquisas realizadas no Google da China :P). Talvez a China não tenha lá o melhor dos regimes políticos, mas ao menos exerce a censura em termos claros. Ganha em transparência, perde em liberdade — é impossível agradar a todos ao mesmo tempo 😛

* Figuras das Máquinas Censurantes Modernas, de Adriano Duarte Rodrigues. Recomendo a leitura 🙂

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One thought on “O Google e a censura

  1. Seja tigre ou dragão, não me simpatizo muito pela China.Lá, são todos muito parecidos, e em graaaaaaaaaande quantidade tb.São nessas horas que eu acho viável uma catástrofe natural.Morrer 200 milhões de pessoas nem iria fazer tanta diferença. Ah, 10% só. 😛

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