O respeito às religiões e a liberdade de expressão

Interessante o conflito gerado entre liberdade de expressão e fundamentalismo religioso por conta da publicação de charges do profeta Maomé em diversos jornais europeus.

“O Islã não permite representações de Muhammad, mesmo que seja uma imagem respeitosa, pois considerar que pode levar à idolatria.” (Folha Online, 29/01/06)

As charges foram publicadas inicialmente em setembro do ano passado, no jornal dinamarquês Jyllands-Posten. Mas o que gerou toda a polêmica foi a reprodução das mesmas por outros jornais europeus, primeiramente por um polonês. Mesmo assim, estranha o fato de que algo aparentemente tão simples tenha conquistado tanto espaço na mídia e gerado tantos protestos no Oriente. Se é para condenar as caricaturas do profeta… o que dirão os muçulmanos de possíveis caricaturas da figura de deus? Ah, fala sério! (E, aliás, por que toda essa necessidade de dividir o mundo entre orientais e ocidentais? Não somos todos, por mais estranho que possa parecer, e por mais díspares que sejamos, habitantes de um mesmo mundo? :P)
Embora eu seja contra a liberdade de expressão total (se é que ela é possível…; nem tudo pode ser dito), acredito que ela deva ser cultivada nas democracias, sob risco de se cair em tirania. Os meios de comunicação devem ser supostamente livres para que se prestem informações supostamente independentes. Mas, convenhamos, para que publicar charges logo sob esse tema? O jornal dinamarquês foi um pouquinho longe demais. A caricatura que associava o profeta islâmico ao terrorismo (com uma bomba saindo do turbante em sua cabeça) era de muito mau gosto. Mas é liberdade de expressão, mesmo assim… Quem dera os muçulmanos se mobilizassem de tal modo para combater certos exageros cometidos por certos fundamentalistas que praticam atos de terrorismo…
Okay, foi cruel o que fizeram, não deveria ter sido feito (ao menos não do jeito que foi feito), deviam ter respeitado as religiões, mas… NADA justifica a violência. Os manifestantes revoltados incendiaram hoje embaixadas de países europeus em Damasco, na Síria. E os mais revoltados começaram também um boicote a produtos dinamarqueses.
Os dois estão errados: países europeus por difamarem a cultura muçulmana, e muçulmanos por reagirem de forma violenta (e infantil). Mas não é nada que um pedido de desculpas formal (de ambas as partes) não possa resolver. O jornal dinamarquês já deu o primeiro passo:

“In our opinion, the 12 drawings were sober. They were not intended to be offensive, nor were they at variance with Danish law, but they have indisputably offended many Muslims for which we apologize.”(Open letter to Fellow Muslim citizens, 30/01/06)

Enfim, não leva a nada ficar dividindo o mundo entre aqueles que apoiam o ato e os que condenam.
Talvez a liberdade de expressão seja melhor efetivada se forem respeitados certos limites…

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