Quem tem medo de levantar a mão?

Imaginem a cena: sexta-feira à noite, último período. Minha última aula da semana. Eu estava em um estado de semi-consciência seletiva (aquele em que a gente tem uma vaga noção do que está acontecendo no mundo a nossa volta, enquanto viaja profundamente em pensamentos insanos) quando a professora, do nada, perguntou se havia alguém na sala que não assistisse televisão. Minha reação quase instintiva foi a de erguer a mão. Eu estava sentada na primeira fileira habitada (terceira fila), numa sala com mais de cinqüenta pessoas. Sim, era a única mão levantada. Olhei para trás, e notei cinqüenta pares de olhos me olhando com incredulidade, noventa por cento pertencente a desconhecidos (aliás, de onde tiram tanto aluno estranho a cada semestre? será que a universidade contrata figurantes para nos confundir e colocar em situações embaraçosas?). Silêncio geral (o legal é que alguns segundos antes estavam todos conversando… hipócritas :P). Era como se eu fosse uma bizarra peça de exposição em um museu, um objeto que talvez não devesse estar ali. Um ET, um alienígena. Freak. Eu já estava me sentindo a última pessoa sobre a face da Terra, de um tamanho inferior ao de uma mitocôndria (sim, porque de uma formiguinha eu já tinha passado há muito tempo), quando uma criatura sentada ao fundo da sala ainda fez questão de me fazer ressaltar que não vejo televisão porque eu não quero (e não porque não tenho, ou porque me falte tempo, sei lá, justificativas bem mais… plausíveis)… Tentei remendar, dizendo que quando eu tinha TV a cabo eu assistia seriados…. mas a coisa só piorou. Tudo o que eu queria naquele momento era fugir para a fila 9 e ½ e nunca mais sair de lá. Era como se eu estivesse sendo processada em um tribunal (sem direito a ampla defesa, sem direito ao contraditório!), e qualquer coisa que eu dissesse poderia ser usada contra mim. A partir de então, resolvi que o melhor era mudar para o estado de alerta, prestar atenção no restante da aula, e não mais me manifestar pelos próximos 1782177261 anos.
Mais tarde cheguei em casa, procurando conforto, e relatei o caso para minha mãe. Ela me chamou de maluca porque eu não vejo televisão.
Okay. Eu sou anormal. Acho que vou precisar aprender a conviver com isso. (Mas, peraí… por que não dizer que são os outros os anormais? 😛 Viva a relatividade! \o/).

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