Quem matou o coelhinho da Páscoa?

Por que as pessoas não se empolgam mais com a Páscoa? Antigamente (na época de outrora, sabe? aquela que os tempos não trazem mais) todos ficavam felizes quando a Páscoa se aproximava. As lojas faziam decorações mirabolantes, as pessoas elaboravam planos do que fazer na data, as crianças escolhiam seus ovos com base no sabor (e não no brinquedinho que vem dentro), as famílias se reuniam… Era tudo tão mais mágico, tão mais meigo.
Escolhi como pauta de Foto o tema de Páscoa, mas não encontrei nada de decoração nas lojas de Pelotas. E tinha muito pouca coisa em Bagé. No comércio, o espírito de Páscoa já era.
E em termos de viagens também há decadência. No meu retorno de Bagé para Pelotas, em pleno sábado de véspera de Páscoa, achei que o ônibus ia estar lotado (até comprei a passagem com três dias de antecedência!), e, no entanto, o ônibus estava completamente vazio (o que não impedia que houvesse os velhos chatos habituais de sempre, como uma cara esparramado do meu lado – sem que restasse espaço para meus braços, pernas, livro, bolsa e bagagem de mão – e um menininho sem noção dando socos a partir do banco de trás). E não adianta alegar que talvez as pessoas estivessem fazendo o caminho inverso (Pelotas-Bagé) porque os dois ônibus se cruzam (perfect timing?) no meio do caminho em Pinheiro Machado. O outro ônibus estava igualmente vazio. A minha mala ficou o tempo todo sacolejando sozinha no bagageiro, sem outras malas para ampará-la (aliteração intencional), sem nada que evitasse que ela se debatesse (em vão?) no vazio.
Mas o que mais me impressiona é o fato de as pessoas não estarem mais dando a mínima para a Páscoa. Nas ruas, não há nada de coelhinhos. Diferente do que acontece no Natal, em que há um Papai Noel a cada esquina, e as pobres crianças que ainda acreditam na magia do Natal (são poucas, hoje em dia) são enroladas com desculpas bizarras que tentam explicar a multiplicidade de papais noéis, quando, no fundo, mal conseguem disfarçar a decadência da infância. Lá em Bagé tem até uma loja que todo Natal contrata um carinha para distribuir balas vestido de Papai Noel. Na minha infância eu tinha medo desse carinha, porque ele usava uma daquelas máscaras assustadoras de plástico (mistura de Chucky com Fidel Castro). Mas eu ia lá e pegava uma balinha mesmo assim. Hoje passei por essa loja, na esperança de encontrar alguém vestido de coelhinho. Mas não havia nada, nem ao menos alguma decoração fajuta ou alguma alusão ao fato de hoje ser véspera de Páscoa.
Tudo bem que a religiosidade esteja meio em decadência e tudo o mais, mas poxa, a Páscoa é um feriado religioso, tal qual o Natal. Por que um abismo tão intenso entre um e outro? (lembrar morte e ressurreição é triste, mas lembrar o nascimento do bebê-cristo é divertido? Esses católicos são muito esquisitos…). Afora todo o apelo comercial que ronda ambas as datas, é tempo de refletir e repensar valores. O coelho simboliza a reprodução. O ovo representa o nascimento. (O chocolate é mero apelo comercial?). Que idéia mais linda e maravilhosa a de um coelho ovíparo para simbolizar a ressurreição! (Não vou nem entrar no mérito da questão de um coelho que pode botar ovos, ainda por cima de chocolate, para não estragar a reflexão).
Sinceramente, acho que a Páscoa está se transformando num verdadeiro dia das mães – uma data móvel sem sentido que só serve para tirar dinheiro das pessoas. Ou acaso alguém ainda desembala um ovo lembrando que Jesus morreu na cruz pelos cristãos? Ah, enfim, ninguém morreu em favor dos ateus, e mesmo assim me reservo no direito de me sentir indignada com o tratamento que os cristãos estão dispensando à Páscoa. Não fosse pela negligência deles eu não teria precisado ir para Bagé para tirar fotos 😛

Um Feliz Natal a todos! Porque a Páscoa, tal qual Jesus, definitivamente já morreu (mas talvez ela ainda ressuscite…)

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