“Alô. Quem fala?”

Tenho pavor de telefone – nunca sei o que dizer, muito menos como as coisas devem ser ditas. Gaguejo, tremo, suo frio… Tenho medo de ser mal compreendida, sei lá. Sempre que posso, mantenho-me afastada dessa coisa. Mas tem horas que não dá para escapar. E um desses momentos típicos é quando o telefone toca.
Uma das coisas que nunca entendi, e que talvez nunca vá entender, é o motivo que faz com que a pessoa que liga tenha a prerrogativa de iniciar a conversa. Não parece de bom grado invadir a privacidade de alguém sem aviso e, não obstante, como se não bastasse, iniciar a conversa perguntando quem está falando. Por que, ao falar no telefone, quem liga é quem faz essa pergunta? Não deveria ser o contrário?
Quem liga tem ao menos uma vaga noção de quem poderá atender o telefone, ao passo que aquele que recebe a chamada não tem a mínima idéia de quem poderá estar do outro lado da linha (a menos, é claro, que esteja esperando uma ligação, mas nesse caso estará tão grudado ao telefone que nem dará chances para a pessoa que liga falar qualquer coisa).
A pergunta correta, aliás, não é nem quem fala, e sim com quem se quer falar. O ideal não seria, então, aquele que recebe a ligação, após o alô, perguntar: “quem é você e com quem deseja falar?”. Apesar do tom inquisitivo que a pergunta invertida possa aparentar ter, isso se faz necessário quando se constata que o elo fraco da relação não é quem liga, e sim aquele que é incomodado no recôndito do seu lar por uma ligação inoportuna.
Imagine a cena. Você está lá, de pijama de bichinhos, meia furada, cabelos desgringolados, arrastando-se pela casa enquanto toma uma xícara de chá bem quente, e de repente toca o telefone. Você leva um susto homérico, toma um gole mais forte que os pequenos bebericos que vinha tomando por saber que o chá estava muito quente, e acaba queimando o céu da boca e a língua. Sua vontade é a de xingar as paredes, mandar o telefone para aquele lugar que rima com cerda, mas o melhor que tem a fazer naquele momento é deixar a xícara e o chá de lado, dirigir-se ao telefone e atendê-lo; do contrário, ele não vai parar de berrar. Ainda não totalmente recuperada do susto, você tira o telefone do gancho e, ao invés de do outro lado da linha alguém se desculpar pelo susto que te deu, muito pelo contrário, a voz do além simplesmente pergunta quem é você, e isso antes mesmo de querer saber se está tudo bem, ou sem ao menos te questionar se você queria ou se podia atender aquele telefonema. Mas tudo bem. Digamos que isso é culpa do comodismo da vida em sociedade: certos hábitos arraigados são muito difíceis de serem modificados.
(Não vou nem entrar no mérito da questão de a pergunta ser “Quem fala?”, ou “Quem é?”, porque esta última abre uma gama infinita de possibilidades de respostas, muito mais do que caberia neste humildíssimo post de blog)
Até que há uma pseudo-justificativa para a situação. Geralmente quem liga é quem sabe o que vai falar, e, sabendo o tema da conversa, tem maiores subsídios para conduzi-la com propriedade.
Mas não é só esse o problema. Tem ainda toda aquela história de quem deve dar o alô inicial: se é quem liga ou quem atende. Às vezes isso nem chega a ser um problema, os dois tentam se adiantar e acaba saindo um alô concomitante. Mas tem vezes que o que liga está distraído, não percebe que sua chamada foi atendida, e o cara do outro lado da linha fica meio hesitante, não sabe se fala alguma coisa ou espera pela voz de com quem se fala. Aí fica aquela situação estranha, aquele silêncio constrangedor, e acaba que nenhum dos dois tem a coragem necessária para dar início à conversa. O cara que atende chega até a pensar se não estaria sonhando que o telefone tinha tocado. No fim, um dos dois vence esse jogo do sério imposto, a brincadeira acaba, e o um dos indivíduos pergunta se tem alguém do outro lado da linha.
Celular acaba com isso tudo. É sempre com quem você vai falar que vai atender. Mas invade muito mais a privacidade, muito mais. Daí se dizer que celular é problema, não é solução.
A meu ver, o meio de comunicação ideal seria o Skype. A justificativa é simples: para acessá-lo, presume-se que você esteja ao menos disposto a conversar… Ou acaso alguém seria insano de colocar seu status como online quando não está a fim de papo?

P.S.: Reflexões surgidas após o telefonema que recebi hoje de tarde:

Interlocutor estranho do sexo feminino: Alô?
Eu: Alô!
Iesf: De onde fala?
Eu: É, er.. [silêncio constrangedor… demorei para lembrar qual era o meu telefone] trinta e dois vinte e sete – blá blá blá blá.
Iesf: É de Pelotas?
Eu: Sim.
Iesf: Quem é você?
Eu: [a vontade era responder “Não sei, estou há tempos procurando me entender, mas ainda não cheguei a uma conclusão específica”, mas engoli a resposta e disse, simplesmente:] Gabriela.
Iesf: Gabriela? Não, Gabriela não…
Eu: [“Sim, é Gabriela! Ao menos é assim que me chamam desde que eu nasci, e é esse o nome que consta na minha carteira de identidade. Queres que eu te mostre? Ah, não, isso é impossível… A gente está no telefone. Ei! Quem é você???”] Com quem você gostaria de falar?
Iesf: Com a Kelly. A Kelly tá aí?
Eu: [Kelly??] Não tem ninguém com esse nome aqui.
Iesf: [dirigindo-se para um terceiro alheio à conversa, provavelmente] Viu? Tu discou o número errado. Não tem nenhuma Kelly lá. [novamente dirigindo-se a mim] Ah, desculpa, eu devo ter errado o número.
Eu: Tudo bem, t- [a pessoa desligou antes que eu pudesse terminar a palavra].

4 thoughts on ““Alô. Quem fala?”

  1. me deu vontade d te ligar agora :)posso fazer isso qq dia desses, bi? 😛 faz tempo q eu n te ligo!! 😀 heheheeu só acho q vc complica mto esse negocio d tel… leva mto ao pé da letra ¬¬ tudo o q vc disse eh algo simples pra mim, sei lá…bom, pelo menos continue acentando as ligações!! ;)bjos

  2. Heheheehehe.. concordo com a carol, deu vontade de te ligar agora!!! :PEu acho que atender telefone, até aí é “tranquilo”, mas quando fica cheio de perguntas (como ocorreu na sua situação) é constrangedor mesmo.. eheheheheheMas não chega de ser um BICHO DE SETE CABEÇAS!!! ;)Beijoss..

  3. Hehehhehe!
    Bom, seu desespero com relação a telefone ficou bastante “nítido” depois deste post. Engraçadíssimo 🙂
    Eu tenho que dizer que adoro telefone, desde pequena sempre me adaptei muito bem à comunicação à distância (com 12 anos me correspondia por cartas com pessoas de diversos estados, aos 15 instalei o ICQ e antes de conhecer pessoalmente meu atual namorado, conversei com ele no telefone durante 1 ano!)
    Mas acho no mínimo estranho a mania das pessoas de ligarem na casa alheia e, ao primeiro “alô”, dispararem logo a pergunta “quem é” – soa invasivo, afinal quem está ligando é que deve saber pra onde/quem está ligando! E isso de não gostar de telefone não é só com vc, muitas pessoas odeiam e só atendem por necessidade (já deixei de ligar pra mta gente por saber dessa aversão). Mas como telefone hoje é de extrema importância, sigo as seguintes regrinhas (claro que acompanhada das diversas variáveis possíveis, como pra quem se está ligando, o motivo da ligação, o horário, possíveis pessoas que poderão atender etc):
    – dou uma de decidida, por mais que esteja me tremendo toda por dentro e por fora. isso significa fazer uma voz firme, educada mas com um tom de intimidação para com o interlocutor. isso sempre deu certo, pois não dá chance à pessoa que atendeu de se mostrar mal-humorada, e mesmo que ela se mostre, não dá a chance de ser sem-educação, e mesmo que que seja sem-educação, ela vai saber que você não vai desistir tão cedo da informação que quer ou de falar com quem quer (caso quem atenda seja um terceiro).
    – não pergunto “quem é”, jamais. isso desde que meu pai me ensinou esses truques (antes disso morria de vergonha de ligar em qualquer lugar pra pedir informação, o que me atrasava a vida). quando a pessoa atende e a comunicação se estabele, com a garganta limpa e a voz firme solto: “boa tarde/bom dia/boa noite” ou “oi”; “por favor, eu gostaria de falar com fulano de tal” ou “fulano de tal se encontra?” – jamais “vc pode chamar fulano?”, pois isso dá margem à pessoa demonstrar má vontade. “gostaria” soa mais “simplesmente faça, querendo ou não” hehe 😀
    – anotar as palavras-chave do assunto sobre o qual vai discorrer, para a conversa não se estender além de 10 ou 15 minutos e vire aquela coisa insuportável xD

    bom, é isso, acho que escrevi demais!bjão

  4. Gabriela!Estou também chateadíssimo com a essa hisória do telefone. Concordo plenamente com o teu comentário. Não atendo mais telefonema se a pessoa que desja falar comigo do outro lado da linha não dizer alô.Várias vezes,quando tocava meu telefone, alguém do outro lado, simplesmente, desligava o telefone na minha cara. Que se crie um código de etiqueta e as pessoas aprendam a usar de forma educada o telefone.

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