Síndrome do cursor piscando na tela vazia

Acho que estou com a síndrome do cursor piscando na tela vazia. Trata-se de uma doença muito freqüente em pessoas que se sentem obrigadas a escrever sobre determinados assuntos, mas que, por algum motivo, não conseguem. Como conseqüência, elas tendem a pôr a culpa nos programas de edição* dos sistemas operacionais convencionais, cuja distribuição de informações na tela prioriza uma imensa área em branco com a presença de um cursor intermitente deixando um pequeno espaço para a criatividade individual (manifesta pela possibilidade de dispor as ferramentas das caixas de diálogo em uma posição diferente, ou pelas inúmeras combinações de cores e fontes permitidas). Fora isso, predomina a ditadura da tela branca. E a do maldito cursor intermitente, esse i i i que não nos deixa em paz.
Pior que isso só o barulhinho do ventilador do computador. Existe ruído mais desinspirador que esse?
Preenchi metade da tela e o cursor permanece a piscar – insistente, chato, repetitivo, monótono e sagaz. Queria escapar para um mundo sem cursores e sem ruídos – mas sem que isso significasse o fim da possibilidade de escrever e alterar o que se escreve, em tempo real. As máquinas de escrever também produziam ruídos. O mais arcaico dos lápis emite sons ao roçar a ponta de sua grafite sobre o papel. Estamos confinados à ditadura da folha branca, à ditadura do som para se chegar à escrita? Escrever precisa ser sempre uma tarefa ruidosa? Bom, pelo menos do cursor é possível se livrar…

* Um sentimento análogo toma conta de mim diante das caixinhas de comentários dos outros blogs. Leio os posts. Compreendo. Mas não consigo me expressar. Culpa do cursor? Culpa do espaço em branco? Culpa do ruído do processador? Ou culpa de uma mente desacostumada a pensar?

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