Sobre a luta de egos na blogosfera

Não sou uma blogueira lá muito experiente – basicamente, tudo que sei vem de observar outros blogs, porque meu blog é quase um nada frente à imensidão da blogosfera. Mas vou me arriscar a falar sobre um assunto espinhoso: o ego dos blogueiros.

Partindo-se do pressuposto de que todo mundo bloga por algum motivo, vou me ater a um único aspecto: quem bloga, busca fama ou reputação?

Fama é associado a celebridades, tem a ver com ser reconhecido pelo público em toda e qualquer circunstância da vida social. Para ter fama, é preciso ter presença ativa na mídia de massa tradicional.

Na Internet, o que se tem é uma espécie de ciberfama. Alguns conseguem se destacar dos demais, mas no geral essa fama só existe na Internet. Experimente falar sobre um blogueiro famoso para alguém que nunca leu um blog. A pessoa vai fazer uma cara de “quem é esse ser?” e você vai se sentir extremamente idiota tentando explicar de quem se trata (sim, eu já tentei fazer isso antes).

Mas se você falar sobre a moça que dormiu com o jogador de futebol do Flamengo e que apareceu no programa de domingo na tevê, pode ter certeza que a probabilidade de alguém saber de quem se trata é bem maior, dentro ou fora da Internet. Aí é fama. Fama instantânea, ninguém vai saber quem é essa moça daqui uma ou duas semanas, mas é fama. O que importa é que ela é passível de ser reconhecida na rua. É mais ou menos isso que define o que é ou não fama.

A fama é o que move celebridades da mídia tradicional. É aquilo que levou Andy Warhol a dizer que todo mundo terá seus 15 minutos de fama. É querer aparecer na tevê, no rádio, no jornal impresso, ou em qualquer outra manifestação da mídia de massa.

Entretanto, nem todo blogueiro quer fama. Fora alguns que possuem um ego quase lá na Lua, a maior parte das pessoas que posta na Internet procura reputação. A reputação é um conceito um tanto mais vago, que se refere à capacidade de ser reconhecido por seus pares (ou seja, outros blogueiros) como uma autoridade em um determinado assunto (aquele que é objeto do blog), mesmo que seja ser reconhecido como o maior especialista do mundo para falar sobre a sua própria vida (no caso, em blogs pessoais). A reputação do blogueiro seria uma espécie de “fama” que se estende dentro de sua própria rede social. O tanto que alcança sua própria blogosfera determinará o alcance de sua fama. Fora disso, ele é um ser comum, que tem uma vida comum, e pode andar na rua sem um monte de paparazzi na volta.

Adquirir reputação entre outros blogueiros não é fácil. É preciso visitar outros blogs, comentar outros posts, escrever sobre outros assuntos… Enfim, é preciso penetrar em todo um universo próprio em que page rank, technorati, feeds, trackback e tags são termos corriqueiros. Dependendo do alcance que se quer dar a um blog, construir uma reputação demanda tempo e dedicação.

Como se vê, a distinção entre fama e reputação é por vezes sutil. Mas, ao menos em termos gerais e extremamente vagos, a fama seria a opinião dos outros sobre você, ao passo que na reputação vale o que você acha que os outros pensam sobre a sua pessoa. Tem gente que pode se contentar em ter um blog com alcance de dois, três leitores (e terão de trabalhar para construir sua reputação perante eles). Mas tem outros que vão procurar dar vôos maiores. Só uns tantos felizes irão buscar a fama com um blog. E a maior parte acabará tendo que se contentar com um simulacro de ciberfama.

Seja em busca de fama, ciberfama ou reputação, o que importa é que todo e qualquer blogueiro, por mais que negue, por mais que esperneie e bata o pé, sempre bloga em busca de status social. E é mais ou menos isso que o faz tratar os outros cordialmente, responder a todos os comentários e e-mails e fazer de tudo para ter uma boa imagem frente aos demais. Também pode ser isso o que faz com que as pessoas pensem várias vezes antes de deixar um comentário não concordando com a opinião de um blogueiro que supostamente tem uma reputação maior (ou não). E esse medo de discordar acaba fazendo com que o blog não cumpra sua função de gerar conversação. E, ao não gerar conversação, ficamos condenados a um eterno embate vazio de egos, em que uns elogiam os outros e se colocam, uns aos outros, em pedestais. A blogosfera acaba sendo um ambiente em que todos se amam, ou fingem que se amam, quando, por dentro, o sonho de todo blogueiro é eliminar o próximo para poder, sozinho, triunfar.

Espero não perder minha micro-reputação por conta desse post 😛 A caixa de comentários está aberta para quem queira discordar, ou contribuir, de alguma outra forma, para o debate 🙂

Disclaimer: como, infelizmente, nem toda idéia é original, a discussão original entre fama e reputação em blogs surgiu em uma mesa redonda sobre Internet no Celacom, em maio deste ano.

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11 thoughts on “Sobre a luta de egos na blogosfera

  1. Clap! Clap! Clap! E não quero dizer gonorréia em inglês. Sou mais modesta ainda, tenho pico-fama pico-reputação e macro-reputação de mal educada.Admiro sua sinceridade e fidelidade a si mesma. Sou assim também. Olhei agora para sua viagem de ônibus e me lembrei de um blog infanto-juvenil daí do Sul Maravilha. As crianças ou jogavam jogos ou andavam de ônibus. Acho que era amarelinha que jogavam. Gabriela, você não é boa, você é apenas o máximo. Tem que ter coragem mas assuma o post.

  2. Creio que entre mortos e feridos (entre os que buscam fama e reputação, rs) existe uma categoriazinha bem ínfima e rara, a dos despretensiosos. O Zipadas mesmo passou por algumas fases, como uma época que a busca era pela ciberfama, outra que a intuito maior era manter a reputação, mas hoje em dia acho que a falta de pretensão ao escrever fala mais alto. Porém, talvez e bem provavelmente, mesmo essa desprentensão esteja acompanhada da vontade e intenção de “manter” (ou construir, vai saber!) a reputação. Gostei muito do post. E me diverti lendo o embate lá no Consoni…rs

  3. Pois é. Algo muito interessante. Talvez a ciberfama seja mais atraente que a fama porque está mais próxima da realidade de cada blogueiro: “como aquele top blogger conseguiu com as mesmas ferramentas que eu tenho”?E ao mesmo tempo temos um paradoxo: as pessoas que investem seu tempo na escrevendo e comentando na blogosfera são as mesmas que contribuem com a Wikipedia (uma colaboração não autoral)?

  4. Gabi, venho aqui algumas vezes – dica da Tina – e agora pintou uma chance de comentar seu texto. E você pode me chamar do que quiser, mas eu realmente acredito em uma coisa: quem começa a blogar pensando em status (seja o ego inflado pela fama ou uma busca frenética por reconhecimento) corre o grande risco de se frustrar. Um conjunto de blogs pode ser considerado “mídia de massa”, que procura essas coisas, mas isso acontece de uma forma espontânea, colaborativa, em função de debates (como este, promovido aqui). Atitudes leoninas não combinam com esse espírito, e por isso tendem a não funcionar.Quando escrevo meus textos, comento outros, indico links, etc, estou contribuindo para formar um ambiente de idéias complementares, formuladas por gente que tem algo a dizer e contribuir coletivamente. Imagino que eu tenha alguma reputação entre amigos (ou nenhuma entre inimigos). Mas ao invés de status, prefiro dizer que, em cinco anos blogando, eu busco por pessoas. :)Abração pra ti!

  5. E buscar por pessoas não é praticamente a mesma coisa que buscar status social? 😛 hehe(okay, não é exatamente o mesmo… mas ambos partem do pressuposto de que é necessário um pouco de sociabilidade para se chegar lá)Bem-vindo ao blog 😀

  6. “E buscar por pessoas não é praticamente a mesma coisa que buscar status social?”Hmmmm… Não? :POu sim, enfim. Talvez eu esteja depreciando demais o valor da palavra “status”. Conversar com gente sobre coisas bacanas não precisa necessariamente vir com algum mérito, ou reconhecimento. É como uma mesa de bar: estão todos na mesma altura da mesa – quem quer status que suba nela. Viajei? :)Agradeço as boas vindas. Depois que perdi minha avó, não fui mais a Pelotas. Ouvir um “bem vindo” de uma “conterranea” é sempre bom!

  7. “É como uma mesa de bar: estão todos na mesma altura da mesa – quem quer status que suba nela”E se a pessoa monopolizar a conversa? Não é busca por status? :PTah, não sei mais a diferença entre uma conversa despretensiosa e o alpinismo social. As aulas de Comunicação e Multimídia (e as noções de laços sociais, capital social e redes sociais) desvirtuaram totalmente a minha percepção da realidade :PDesculpa a insistência 😛 Hehe (mania de estudante de Direito.. tem sempre que contra-argumentar).E volte sempre 😀

  8. Gostei do texto, mas as vezes a questão não é bem “status” e sim uma busca por iguais, “não estou sozinha no mundo” ou coisa assim. Blog para mim é para falar tudo de vida pessoal, a série de tv. ^^ E às vezes publicar um texto/poesia bem escrita (na minha humilde opinião). hahaah. uma coisa é certa, blogueiros, em sua grande maioria, pretendem ser escritores (de livros) um dia.^^bjs

  9. Te “segui” do Chato… Muito bom o texto!! Fecha, em muito, com várias coisas que penso desde que entrei para essa “fogueira de vaidades”.Se me permite, vou mandar o link desse post para alguns amigos blogueiros que raciocinam nessa mesma linha. E continuar dando umas voltinhas por aqui…Beijos

  10. Gabriela, vim aqui por indicação da Sandra e simplesmente adorei esse seu post como também o último. Você foi perfeita.Blogar para mim é fundamental porque gosto de escrever. Como não tenho capacidade ou disciplina para escrever um livro, é com o blog que eu conto para colocar essa minha necessidade para fora.Não sou famosa, mas tenho pessoas que considero amigas, ainda que virtuais. Algumas até conheci pessoalmente e não me arrependo.No entanto, uma coisa que me deixa irritada é ver gente que se acha o rei da cocada branca só porque tem uma certa notoriedade no mundo blogueiro. Risível, como você bem disse e os demais seres humanos indagam “ele é o famoso quem?”.Não gosto de gente que não é humilde e tem o ego lá nas alturas. Não freqüento nenhum deles e não me arrependo.Parabéns pelo belo texto.Beijocas

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