Sentimento de pertença a um lugar

Em nosso dia-a-dia conturbado, por mais que a gente passe o tempo inteiro viajando, por mais que se fique alternando entre um lugar e outro, e por mais que os lugares pareçam todos iguais, há sempre um lugar que podemos chamar de “nosso lugar”. É aquele espaço ou ambiente para o qual sempre queremos voltar, não importa onde estejamos. É o lugar que consideramos como nosso “lar’.
Os navegadores de Internet – e muitas páginas da web – também se utilizam dessa metáfora, ao estabelecer como “Home” um lugar previamente definido por nós (no caso dos navegadores) ou pela organização (no caso dos sites). Supõe-se que o Home seja um lugar que nos agrade tanto que queiramos sempre voltar para lá.
Supostamente, o lugar de nossas origens, onde plantamos nossas raízes, deveria ser o lugar para onde sempre queremos voltar. Deveria. De tanto que passo o ano alternando entre duas cidades, cheguei a um ponto que já acho que não pertenço a lugar algum. Circulei pelas ruas de Bagé esta semana, e não encontrei sequer um rosto familiar. Os lugares já não são os mesmos, as pessoas já não são as mesmas, tudo é diferente, embora tudo permaneça igual. Até em casa da minha família – a mesma casa de antes – já não me parece um lar. Meu antigo quarto virou um lugar um tanto cavernoso, frio, inóspito. As paredes seguem no tom azul desmaiado – mas ao invés de acolhedoras, parecem que vão me sufocar. As camas são as mesmas, apesar de estarem em outra posição. Mas não são as minhas coisas que estão sobre a escrivaninha. Não são meus os livros que estão na estante. Aquele lugar não pertence mais a mim, não é mais meu lugar.

Crise existencial suscitada por um formulário bobo de cadastro em um site. Lá tem o campo “Cidade”. Como preencher? De que cidade eu sou? Vale onde nasci, onde estou, ou onde passo a maior parte do ano?

Update 10/12 – o Sérgio fez uma análise interessante via comentário: “Ou ainda pode ser fruto desse fenômeno que a psiquiatria moderna insiste em não analisar a depressão pós ano letivo.

One thought on “Sentimento de pertença a um lugar

  1. Tem um livro do Darcy Ribeiro, Gentidades, é uma compilação de Ensaios, em um desses ele fala sobre Casa Grande e Senzala, do Gilberto Freyre e barará, deixa eu cortar direto ao ponto……..
    Nessa parte, quando se fala de se pertencer a um lugar, o Darcy mata a pau, fala pouco e fala tudo.
    Recomendo, se eventualmente tu não conseguir eu ponho ali no meu blog. É genial a tirada.

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