Número de acessos X relevância do conteúdo

Mais uma prova de que rankings são bastante relativos. Seamus McCauley do Virtual Economics fez uma análise das notícias mais lidas em 2007 em alguns veículos online, e constatou que há uma presença marcante de notícias relacionadas a sexo ou a animais (e, mais ainda, a sexo com animais) no topo dessas listas. Ou seja: notícias bizarras atraem a atenção das pessoas (okay, não há potencialmente nenhuma novidade nisso). Segundo ele, haveria uma distância entre o que os jornalistas querem escrever, e o que os leitores gostariam de ler (o que não é lá muito diferente do que concluiu este estudo do PEJ).
Partindo do post de McCauley, o jornalista britânico Shane Richmond fez algumas considerações interessantes em seu blog (no Telegraph.co.uk), mais ou menos tentando explicar o que passa na cabeça de um leitor que decide ler uma notícia sobre um homem que fazia sexo com bicicletas (a segunda notícia mais lida no Telegraph.co.uk, considerando apenas leitores do Reino Unido). Suas considerações não têm base científica alguma, são apenas especulações. Mas basicamente se resumem ao seguinte: as notícias mais acessadas não são necessariamente as melhores notícias, pois nem sempre o que chama mais atenção, à primeira vista, é o conteúdo que estávamos procurando a princípio. Ele usa como exemplo um leitor hipotético que entra no jornal toda quinta-feira para ler notícias sobre música. Esse leitor entra, localiza na página inicial o que procura, mas aquela manchete bizarra do homem com a bicicleta lhe desperta a curiosidade, e ele acaba abrindo-a primeiro, antes de partir para as notícias sobre o mundo da música. Parece um cenário possível, não? A grande pergunta é: a notícia sobre o homem fazendo sexo com a bicicleta é relevante para ele? Talvez – muito provavelmente – não. Mas esse leitor, mesmo sem querer, contribuiu para aumentar os índices de visitação da notícia do homem com a bicicleta…
Richmond conclui seu texto sugerindo que, “In a Venn diagram of readers interests, the most popular stories sit in the centre. They’ve caught a little bit of everyone’s attention but they might not be anyone’s most important story.”
Assim, por mais que uma notícia tenha recebido muitos acessos, isso não quer dizer que ela seja relevante. Não é à toa que estão repensando o modelo de medição de audiência de sites – de quantidade de page views para tempo de permanência em cada página.
Blogosfericamente, isso não significa que a gente precisa passar a postar apenas sobre assuntos bizarros para conseguir atrair leitores. Não, longe disso. Mas as considerações servem para refletir se se o que desejamos é simplesmente aumentar o número de visitas (e, para isso, bastam posts bizarros) ou gerar conversação (o que requer a produção de textos relevantes, ainda que rendam pouca visitação).
Via OJB Agregator.

Assunto paralelo: o xkcd fez uma tirinha sobre os resultados do Google para tipos de mortes bizarras. À época de elaboração da tirinha, eram apenas dois resultados no Google para “died in a blogging accident” (referentes a este post aqui). Depois da tirinha, o número de resultados já aumentou para 2.990. E continua subindo…

5 thoughts on “Número de acessos X relevância do conteúdo

  1. Como vão medir os leitores que lêem em feed, como acabei de fazer? E quando toca o telefone ou a gente vai até a cozinha e deixa o blog no computador?
    Depois da vitória espetacular da Hillary, candidata mais qualificada, não acredito em medidores de nada. Nem comentário mede nada, pois sites com captcha são o terror dos leitores.
    No dia triunfal em NH, Hillary dividiu a CNN com Lindsay Lohan e Britney Spears. É um exemplo d que você diz, Gabriela.
    A conclusão sendo que…

  2. Obrigada, eu não havia compreendido a tirinha direito, hehe. O post que tu linkaste deixou a coisa muito mais engraçada.
    Eu concordo totalmente com a teoria de que blogs devem gerar conversação, divulgação, “conhecimento”- mesmo que de forma não-acadêmica e/ou aparentemente relevante. Visitas deveriam ser conseqüência natural e agradável disso tudo.
    Fico feliz quando, por exemplo, um post meu que nem fora comentado sobre slgum livro leva alguém a lembrar-se dele e a lê-lo (palavra feia…)

  3. É, talvez não seja tanto a questão de produzir conteúdo relevante (afinal, relevante para quem? :P). Mas o que quis dizer (de forma enrolada, no meio do post hauhau) é que de nada adianta fazer textos com altas taxas de visitação, se a pessoa vai lá, lê o texto, e não absorve nada dele. E duas horas depois já esqueceu sobre o que tinha lido…

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