Como não tratar seus clientes

Tivemos um pequeno contratempo nestas férias. No domingo, fomos a uma filial do restaurante Bate Coração, na Praia do Cassino, em Rio Grande-RS (não achei link de referência, apenas para a sede do restaurante, localizada no Centro da cidade de Rio Grande). A comida é boa, apesar dos preços não muito convidativos. Mas a parte ruim aconteceu quando saímos de lá – mais precisamente, ainda no estacionamento (ou no que tudo indicava ser um estacionamento; há controvérsias).
Ao sair de lá, encontramos o vidro do carro quebrado. Não houve grandes danos materiais (notamos a ausência de um radinho a pilha e dos fones de ouvido do celular, que estavam no porta-luvas). Mas o que realmente estragou a noite foi a atitude do proprietário do estabelecimento.
Ora, se um carro é arrombado no estacionamento de um restaurante, o mínimo que se espera é algum apoio do estabelecimento. Mas não foi bem isso que recebemos. A primeira coisa que o proprietário fez (ressalva: não sabemos ao certo se era o proprietário, mas se comportou como tal) foi ressaltar que aquilo não era um estacionamento – apenas uma área livre entre a rua e o estabelecimento. Na verdade, há um muro com o nome do restaurante, fechado por um portão de ferro (o portão fica aberto durante a noite), e lá ao fundo está localizado o restaurante. Os carros ficam entre o muro e o prédio. Havia outros carros lá antes de chegarmos, e há espaço para uns 12 carros. Se isso não é um estacionamento, então me digam o que é.
Isto não é um estacionamento
bate coração
Tudo bem, pode não ser um estacionamento. Mas o proprietário continuou, dizendo que a gente teria que se virar para dar um jeito de substituir o vidro ou tapar o buraco, visto que a concessionária mais perto ficava a 60km. Quando meu pai tentou se auto-consolar com um “espero que o seguro cubra isto”, o dono do restaurante passou a dizer que duvidava que o seguro cobriria aquilo, até porque não era propriamente o vidro lateral, e sim um pedacinho de vidro fixo ao lado do vidro do carona. Reclamamos da falta de segurança no local, e o que ouvimos foi o proprietário contar, como se isso fosse resolver alguma coisa, que no ano anterior outro carro havia sido arrombado da frente do restaurante, e que o outro cliente tinha deixado para o seguro resolver, sem envolver o estabelecimento (o que só reforça a idéia de que o lugar é inseguro, diga-se de passagem).
Enquanto limpávamos os cacos de vidro, o dono do restaurante nos ignorou por completo para falar ao telefone celular. Depois, ele reuniu o máximo de boa vontade possível e nos ofereceu um pedaço de vassoura para limpar os cacos de vidro – e só.
Saímos de lá com mais raiva do tratamento péssimo recebido após a refeição (pena que já havíamos pagado a conta), do que propriamente pelo fato de terem quebrado o vidro do carro.
Ah, sim, Sr. Proprietário… o seguro cobrirá os danos do vidro. Mas, se não cobrisse, a jurisprudência estaria a nosso favor para cobrar os danos materiais do estabelecimento (quer queira, quer não, aquilo é um estacionamento, o que confere ao proprietário do terreno os deveres de um depositário – e a obrigação de restituir o bem depositado nas mesmas condições em que foi deixado).
Não sei o que ele poderia ter feito nessa situação (oferecer um pedaço de papel ou plástico para cobrir o espaço ocupado pelo vidro quebrado seria o mínimo, não?). Mas certamente ironizar sobre a situação não ajudou em nada. Na dúvida, é mais seguro pedir comida por tele entrega, do que ir a um restaurante com estacionamento espaço livre entre a rua e o prédio para se colocar carros com aparência de estacionamento.

Hoje, ao escolher um lugar seguro para almoçar – mais especificamente, um lugar em que pudéssemos estacionar com segurança um carro com um grande buraco na porta do carona sem que terminassem de furtar os objetos ali remanescentes (algo como… o rádio do carro?) -, saiu, sem querer, a piada pronta que a situação toda fornecia:
– E que tal se a gente procurasse um lugar que tenha estacionamento?

3 thoughts on “Como não tratar seus clientes

  1. A jurisprudência te dá razão, fez super bem de ter ido na jurisprudência.
    A jurisprudência tá a favor de vocês, e também um fato que me parece bem importante de se observar.
    A hipossuficiência na relação que a justiça do consumidor promove. A relação provedor-consumidor prevê toda sorte de beneces ao consumidor, pela simples natureza dela o CDC todo explica isso, não to te contando nenhuma novidade. Acho que a relação hipossuficiente do provedor-consumidor é só semelhante a relação patrão-empregado, mas aí é justiça do trabalho. Só dando o exemplo de outras justiças pra ir construindo e engordando mais e mais argumentos contra essa barbeiragem que cometeram contra vocês.
    Não entendo esses acessos de estupidez, essas coisas do tipo ” ah é? pegaram seu carro? ” quase como quem diz ” bem feito “. Essa atitude do “dono” ou dono é bem provável que seja mais coisa da natureza dele, mais mesmo do que uma tentativa de se eximir da culpa.
    Ou tu tem alguma dúvida que nos domingos de temporada alta aquele lugar não vira magicamente um estacionamento?
    Se tem lado bom nisso tudo é que no fim foi um crime menor, uma dor de cabeça claro. Mas ninguém se machucou nem perdeu nada com um valor muito pesado nem nada. Bem ou mal, por mais que tenha sido só um furto, infelizmente já hiper comum, menos mal que tenha sido só isso então e esteja todo mundo bem ( dentro do possível pq eu só consigo a irritação na hora, uma merda total ). Paciência cheia e com toda razão sentindo-se desrespeitados a parte…. passar a frequentar estacionamentos pra se alimentar e reunir a família e usar restaurantes pra guardar carros em plena segurança, quem sabe mesmo não é a solução?

  2. Essa situação me fez lembrar do Magritte 😛 hehe.
    E menos mal que não houve danos maiores… é só pela incomodação mesmo. O lado positivo foi economizar com ar condicionado na viagem de volta – quem precisa ligar o ar quando se tem um ar condicionado natural proporcionado pela ausência compulsória de um dos vidros? 😛

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