A elite do jornalismo

A Carla comentou, no post anterior, sobre uma coluna do David Coimbra no jornal Zero Hora, na qual ele critica o jornalismo praticado por não jornalistas. O mesmo colunista teria iniciado, algum tempo antes, o concurso cultural “Leitor cronista“. Contraditório? Talvez… O fato é que a coluna, de certa forma, faz ressurgir das cinzas o famigerado debate amadores X profissionais (cuja discussão quase sempre descamba para a já batida falsa disputa entre blogueiros e jornalistas).
O trecho final da coluna de David Coimbra (Zero Hora, 14/03/08) traz as seguintes palavras:

“Não quero ouvir algo que é feito pelo ouvinte, nem ler o que o leitor escreve. Quero o trabalho do especialista, do jornalista de comprovadas experiência e competência. Quero consumir a elite, não a mediocridade. Até democracia demais cansa”

Ou seja: David Coimbra posicionou-se contra o jornalismo participativo em bloco. Pelas palavras dele (leia a coluna inteira), daria para depreender que qualquer produção de conteúdo jornalístico que não fosse feita pela “elite” de jornalistas profissionais não teria valor algum.
Talvez o grande problema do texto tenha sido o tom incisivo e firme que ele usou para comparar a produção de notícias feitas por jornalistas e não jornalistas (defender com veemência uma opinião, qualquer que seja, sempre gera vozes dissonantes). O posicionamento foi tão forte que provocou reações nos comentários da versão da coluna publicada no blog. Algumas horas depois, David Coimbra postou um breve esclarecimento – mantendo a posição de ser contra não-jornalistas publicarem textos jornalísticos, mas explicando que não tinha nada contra o leitor¹ participar com opinião ou com colaborações que não fossem textos jornalísticos stricto sensu (meio que tentando defender a interação que ele normalmente mantém com seus leitores).
De qualquer modo, que tanto mal os jornalistas vêem em se poder contar com uma eventual “concorrência” (não há concorrência, e sim complementariedade) com a produção amadora de conteúdo? Se o problema é chamar de jornalismo o que o não-jornalista faz, resolveria se a gente chamasse por qualquer outro nome? É sempre tão ruim assim quando alguém sem formação jornalística produz textos jornalísticos? Todo “jornalista cidadão”² seria incapaz de contribuir com qualquer informação relevante? (Quanto tempo ainda vai levar para a mídia tradicional perceber que nem toda audiência é formada apenas por Homer Simpsons?)

¹ O termo leitor só faz sentido em um contexto de comunicação de massa… Mas isso mereceria toda uma discussão à parte.
² A expressão “jornalista cidadão” também é lá um tanto estranha — os demais repórteres (a “elite”) seriam desprovidos de cidadania?


Em tempo: o dosh dosh traz uma lista com dez dicas de fontes de informação para produzir um blog de sucesso (ou, em outras palavras, como produzir conteúdo específico, construir credibilidade reputação, e fazer um trabalho relativamente próximo ao jornalismo, mas sem deixar de ser blogueiro). Para quem procura algo mais na linha da mídia cidadã, o guia “Conquiste a Rede – Jornalismo Cidadão” [PDF] pode ser uma boa opção.

13 thoughts on “A elite do jornalismo

  1. Obrigada pela resposta!
    Eu também sempre considerei a opinião dos leitores um “complemento”, mas também sempre achei normal a presença de não-jornalistas em jornais, assim como sempre achei natural que não-bibliotecários ocupassem cargos de bibliotecários.
    Acontece, paciência, e às vezes serve para enriquecer um pouquinho as profissões com um ‘novo olhar’.

  2. Mãe de cristo……….
    David Coimbra, eleito da classe média gaúcha pra ser O SEU CRONISTA, escreve bem, verdade……… mas cadê a junção de neurônios? Aonde estão as boas idéias?
    Um beijo pra ele.

  3. O Carlos Heytor Cony escreveu um artigo ontem na folha de São Paulo, falando sobre os chatos da internet. Com toda a pompa que lhe cabe:
    “Desocupados, embriões de gênios que desejariam ser comentaristas de política, de esportes, de economia e de cultura, ditando regras disso ou daquilo, encontraram afinal a tribuna, o miniespaço que buscavam e não conseguiam.
    Entram na internet com tempo e garra suficientes para tentar criar um mundo à sua imagem e semelhança, mundo que felizmente não existe, a não ser na cabeça desses novos Petrônios informatizados. E, ao contrário de Deus, que quando criou todas as coisas, o céu e a Terra, o Sol e as estrelas, descansou no sétimo dia, o chato eletrônico não descansa, trabalha em tempo integral, todos os dias, sábados, domingos e feriados, não tira férias, não adoece. E como ninguém toma as providências que ele reclama, o chato adota um moralismo pedestre, primário, tentando mudar o mundo que insiste em rejeitá-lo”
    Em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1603200804.htm (para assinantes).
    É outro velhinho rancoroso que não se conforma em ter que dividir o altar de jornalista com pessoas que escrevem sem pretensão de chegar à academia brasileira de letras ou ser livro da Fuvest.

  4. “do jornalista de comprovadas experiência e competência”
    Sei não, mas eu prefiro, em alguns casos, ler textos escritos por não-jornalistas. Em alguns assuntos eles escrevem textos muito melhores, principalmente quando destinados a um público não-leigo no assunto.
    Quem já comparou a Scientific America com a Super Interessante (ou o que restou dela) sabe do que estou falando.

  5. Considero que tem muita coisa ruim por aí, tanto de jornalistas quanto de não-jornalistas. Porém, uma faculdade oferece o suporte básico unindo a técnica com a teoria. Abraços!

  6. O rancor do Cony, ou a raiva iconoclasta do COMEÇO do David Coimbra, quando ele atucanava a Neuza Canabarro….. as idades ajeitam, o texto do David hoje é ótimo, mas o conteúdo é fraco, não gera 5 minutos de conversa.
    O excesso afetado de prudência ou de raiva , sobretudo pra quem tá começando num país que é craque em formar quaros que no Pravda ( não por serem de esquerda, pelo servilismo intelectual ) seriam muito bem vindos é tristemente comum.
    A mídia brasileira é bem definida por sujeitos como o Mino Carta, que nunca se cansa em denunciar não só a falta de capacidade moral, como também a grossura, falta do mínimo de educação, baixeza, formação intelectual baixíssima, um grau de leitura quase zero. São todos NÃO letrados, sem capacidade alguma pra fazer uma discussão durar 1 segundo.
    O jornalista brasileiro é inculto, grosso, fora de lugar e extremamente servil, nossa como é servil, faz o que o chefe manda até nos suspiros, parece um personagem fruteiro ou dono de barraca de feira que é um clássico já do Tony Ramos nos folhetins novelescos da Rede Globo.
    Logo, se antes da universidade mais do que nunca se formam imbecis e dentro dela só se lapidam imbecis…. como cobrar profissionalismo?
    Jornalismo não é medicina nem advocacia, os predicados pra se exercer são bastante menores que qualquer outra área, a formação acadêmica de um jornalista é jogada na lata do lixo assim que ele entra pra um jornalão, ou qualquer área do grande meio, que faça a distribuição da informação em massa.
    Muitos dos que fazem jornalismo, tristemente, verão um sujeito que nunca, nem sequer sabe o que significa faculdade de jornalismo tomando o seu lugar, falta independência pra quem faz jornalismo também, e isso vem da formação cultural, que tristemente a grossa maioria não tem. O que tem a mais, além de pequuenos predicados técnicos um sujeito que nunca passou por um banco de faculdade de jornalismo contra um que fez o curso todo? Os dois tem um ponto em comum, a falta de cultura geral, específica, dentro desse país são ruins do mesmo jeito. Se a gente levar em conta que o cara não formado talvez tenha algum talento pra escrever que o academico não tem…. o que me assusta é que o academico devia ter é um senso de independência que na faculdade ele não vai pegar, aliás na faculdade tudo que se pega são informações técnicas e nada mais, a formação de verdade vem lá do fundo, se cai na vala comum e verdadeira da culpa do sistema. Um idiota é um idiota no jornalismo, engenharia, direito, onde for…. a diferença é que no jornalismo os predicados técnicos da profissão são fáceis de serem postos em prática, qualquer aprende em dias, aliás, boa parte dos velhinhos que escrevem em jornais aprenderam assim…. a Zero Hora, jornal grande ( mas de péssima qualidade ), tem muita gente com licença pra exercer jornalismo.
    A independência, que é o que falta, se aprende com acesso a cultura, que se começa a ter desde que o sujeito é muito picolino lá desde quando começa a tomar consciência de si. É uma lástima ter que falar assim e no fim, parecer grosseiro, mas é só uma opinião, sem intenção de ofender ninguém.

  7. No começo do comentário do Sergio achei que ele falava de blogueiros. Depois me dei conta que eram os jornalistas seu objeto de crítica.
    Para mim, há picaretas em ambos grupos, blogueiros e jornalistas. O Cony é velho de guerra. E o resto o Sérgio mandou bem. Disse tudo.

  8. oi gabi.
    é verdade, o sérgio ja falou quase tudo.
    agora, juntar “elite” com “zero hora” e “david coimbra”, não da! a zh é péssimo jornal. o david coimbra so fala abobrinha. engrossando a lenha: a reforma do curriculo universitario na fabico estava tentando reduzindo a faculdade a um curso técnico – nem se fala do grau de exigência pensante nos demais cursos. o nivel do nosso jornalismo, em geral, é mediocre. dai essa celeuma protecionista da classe.
    um abraço.

  9. Vejam o programa “Observatório da Imprensa” na TVE Brasil. Certamente vc irá ver que até no meio “especializado” da imprensa tem algumas peças raras, que querem seja por interesse próprio ou de terceiros mudar uma notícia nós vermos o que eles querem.
    Infelizmente!!!!

  10. nao da para encarar o txt do coimbra – q nao conheço – ou (o ? a ? hahaha ?) zero hora – q eu preferiria nao conhecer – como simples recortes de algo q se convencionou chamar de crise – ciclica ? – do jornalismo . e nem to dizendo q ele, o jornalismo, morreu. cabe um olhar mais acurado para o desmantelamento das cursos de jornalismo – pega um, pega geral: particular, estadual e federal -, seja na questao laboratorial e tecnica, seja na formaçao humanista. pontos como esses elencados no txt da gabi e o q destaquei agora reforçam a configuraçao de um ambiente socio-politico prolifico para repetidores ideologicos e grasnadores de blablablas verossimeis somente a golpes de tacapes – “trogloditismo re(d)acionario”, q descamba no tal pensamento unico. e é justamente em um ambiente contaminado como esse que se tenta difundir, numa parodia de meme, a ideia de q jornalismo colaborativo é uma ameaça a santa integridade profissional do jornalista. particularmente, gosto de ameaças; mas sei que o jornalismo colaborativo nao se encaixa neste perfil, pelo simples fato de q estuda, exercita e aplica esta pratica prega uma tranquila, pacifica e necessaria co-existencia entre jornalistas e “nao-jornalistas”. viva a cartografia da informaçao. simples assim. complicar, eu ? ve la se me chamo cony.

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