Conversando sobre Jornalismo e novas mídias

No dia 12 de abril acontece em São Paulo a segunda edição do NewsCamp, uma desconferência sobre Jornalismo. Assim como a Ciranda de Textos, o NewsCamp também teve sua origem na Lista Jornalistas da Web.
Quem não puder ir até São Paulo para participar do evento pode acompanhar a “desconferência virtual”. Desde o final de março, rola blogosfera afora o “Esquenta do NewsCamp!“. A idéia é a de se fazer postagens sobre temáticas que se gostaria ver sendo discutidas no evento, como uma forma de se preparar para as discussões que por lá serão travadas. Além de servir como um ótimo aperitivo do que vai acontecer por lá, também é uma forma interessante de fazer com que pessoas que, como a gente, não terão como estar presentes, também possam participar das discussões.
Então, vamos lá… entrei… er, entramos (vide rodapé do post) nesta conversa mediante provocação. Sam Shiraishi, do Nossa Via, colocou em pauta a discussão sobre nova e velha mídia, além de comentar um pouco sobre as especificidades do meio online. No post, ela sugere a idéia de que uma mídia absorve a outra, e que a nova geração de jornalistas estaria mais preparada para enfrentar essas mudanças. A partir disso, a Ceila Santos, lá no blog do NewsCamp, sugeriu que a discussão fosse continuada…
Dentro dessa perspectiva, talvez fosse ser interessante discutir no NewsCamp, também, a questão das novas ferramentas para comunicação na web, e no que elas podem influenciar na prática do Jornalismo. Será que o Twitter poderá acabar com o impresso? Será que joguinhos e entretenimento serão a grande tendência do online? As empresas jornalísticas que ficarem de fora das redes sociais terão condições de sobreviver?
A discussão de como a mídia irá lidar com essas ferramentas, e também com as participações espontâneas dos internautas, não deve ser vista como um mal que irá mudar o jornalismo como o conhecemos hoje. As possibilidades de interação entre os meios de comunicação e a sociedade, através das ferramentas da Web, devem ser vistas como uma extensão do jornalismo “tradicional” – um avanço, um complemento. Por exemplo, as contribuições que podem ser feitas nos espaços destinados aos comentários de alguns veículos podem influenciar na pauta desses mesmos veículos. Além disso, os links que alguns sites estão utilizando para blogs que comentam suas notícias através da ferramenta trackback também provocam pequenas mudanças no modo como encaramos as notícias. Este é o caso, por exemplo, dos jornais Público, de Portugal, e La Vanguardia, da Espanha (e muitos outros sites europeus) que utilizam a ferramenta Twingly para disponibilizar de forma automática links das postagens de blogs que fazem referência àquela notícia. A CNN.com usa a tecnologia do Sphere para linkar para posts de blog (conforme comentado pelo Thassius). No Brasil, a própria Agência Brasil já faz algo parecido, listando as notícias “mais blogadas” em sua página inicial (como lembrado pelo Gustavo D’Andrea). Então, o leitor mais apurado, que procura ver a discussão e repercussão daquela informação na blogosfera, poderá acompanhar as opiniões das pessoas que estão escrevendo e fazendo referência àquele texto. Ou seja, a notícia online já não termina mais na última palavra do texto, mas pode ser apenas o primeiro passo rumo à discussão sobre um tema, que pode ser comentado por qualquer pessoa que possua um blog, ou então, gerar discussões em redes sociais ou servir de pretexto para diálogos no Twitter.
O leitor tem outras formas de interagir com a notícia votando nas que ele julgar melhor, dando de certa forma o seu aval àquela informação. Uma outra forma, porém mais passiva, de voto, seria o seu simples acesso, pois há sites que disponibilizam em suas home pages listas das notícias mais acessadas, que podem acabar influenciando nos clics dos visitantes. Antes, quando se comprava um jornal impresso, as manchetes eram definidas exclusivamente pela redação dos jornais. Agora, o leitor passa a poder influenciar nas manchetes que irão para a capa num simples clicar. Com isso, tem-se conhecimento instantâneo e imediato do que está sendo mais lido pelos visitantes do site, e, mesmo que ainda sejam influenciados pelas manchetes sugeridas pela redação, há a possibilidade de uma notícia que foi julgada de pouca importância para a capa ir parar na página inicial.
Essas são algumas sugestões de assuntos que também poderiam ser abordados lá no NewsCamp. E também daria para discutir no que a interconexão em tempo real poderia contribuir para a prática jornalística – será que a web e suas ferramentas não abriria a possibilidade de construção de redações descentralizadas e produção colaborativa à distância de conteúdo?

Além de participar do Esquenta do NewsCamp!, este post também foi uma tentativa de escrita coletiva. O texto foi elaborado no Google Docs. A autoria de cada frase é indeterminada – o texto inteiro foi escrito por mim e pelo Gilberto Consoni.

3 thoughts on “Conversando sobre Jornalismo e novas mídias

  1. Não sei se em um dia, bastante próximo, o jornal no papel vai se obsoletizar, como também não poderiam dizer ninguém se o cinema desapareceria com o advento da televisão. O VHS, por outro lado, sumiu com o advento do DVD e o K7 também sumiu de cena surgindo o CD. A Web ainda é ferramenta, pode seguir sendo, é muito cedo pra se falar nisso ainda. Mas algumas coisas acho que já podemos ter algumas boas suspeitas.
    No Brasil, é necessário dizer que o fomento a burrice, ignorância e estupidez que sobretudo, de 1964 ( 1º de abril de 64 e não 31 de março ) até hoje se paga o preço por isso. Para sermos básicos, uma ditadura militar que demoliu com o país no meio, no que nos interessa aqui, a maneira com a qual a educação foi destruída e por tabela se enfraquecendo o sistema de ensino se enfraquece também o senso crítico, gosto pelo conhecimento do novo, saber o que realmente é a busca por ser livre do povo brasileiro.
    Resumindo, os milicos cagaram tudo, trocaram o cerébro da maioria por um saco de bosta sem capacidade pra contestar nada. O nosso problema é MUITO maior do que se pensa.
    Quanto as redações me parece, que como em todas as outras áreas de serviço intelectual, tendem ao encolhimento e implosão posterior, quem hoje opera com 40 pessoas no futuro operará com 7, o jornal argentino Clarín, hoje, não precisa mais formar correspondentes internacionais, o mundo encolheu, com meia duzia de minutos na frente do computador posso saber mais sobre o que se passa na China do que um chinês. Não consigo ver como, a criação de vários núcleos emanadores de notícias, seriam núcleos de uma pessoa em casa com um telefone na mão e um computador na outra.
    Quanto a interatividade, como proposta no texto, é vista como algo menor entre quem assiste notícia, quem lê a notícia quer que a importância seja dada por aquele que é o especialista da notícia, o interesse .
    Exceto:
    ” Então, o leitor mais apurado, que procura ver a discussão e repercussão daquela informação na blogosfera, poderá acompanhar as opiniões das pessoas que estão escrevendo e fazendo referência àquele texto. ”
    Aqui vejo a proposta muito elitizada, sectário e um tanto que utópica até. Entre as massas não existe sequer tempo pra uma relação de tamanha reflexão com a notícia, quem lê, vê, ouve, tem o contato que tiver com a notícia tem em relação a ela e o comunicador de inferioridade até, o comunicador por ter o poder de divulgar um acontecimento ganha importância em quem a recebe, tende a acreditar que é verdade. ” Saiu no rádio, li na internet “, toma um café, liga a chave do carro e vai embora….
    Ainda, uma relação na qual o diálogo ou reflexão com aquele que difundiu a notícia é posterior e insisto por mais que seja a melhor parte de todas, existe muito pouca gente interessada, capacitada ou até com tempo pra tanto. Eu não consigo ver um número gigantesco, enorme de pessoas querendo interagir com o fato, conforme proposto no texto. Me parece um exercício mais restrito ao leitor que já atingiu uma maturidade intelectual dura de se encontrar. Havendo ainda o problema do tempo prático mesmo, muita gente pode ter capacidade e querer meter o bedel porém, vai faltar tempo e pra finalizar e não menos importante, desde quando se tem esse hábito? A interatividade entre os meios não é um hábito é coisa pra ser trabalhada, discutida mais e mais e mais vezes e sempre.
    Desde já agradeço pelo espaço.

  2. Oi Gabriela, muito obrigado pela participação ainda mais essa que retrata justamente a teoria na prática. muito legal usar google docs para falar sobre jornalismo, interatividade e possibilidades. eu concordo plenamente com a premissa de que o jornalismo pode ser sim bastante reinventado a partir das novas ferramentas colaborativas…como? quando? e quais os desafios de agora? são dúvidas que só mesmo quem trabalha na área ou quem é leitor participativo destes sites podem nos responder… alguém se habilita?

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