Category Archives: academicismos

Enade

Se for para levar ao pé da letra a interpretação do resultado das notas do ENADE, eu praticamente posso dizer que estudo Direito na UFRGS e Jornalismo na PUCRS. Ao menos as notas da UFPel e da UCPel são iguaizinhas às das universidades e cursos equivalentes de POA. Nada como poder estudar no comodismo de uma cidade média mas sem perder para a qualidade do ensino da cidade grande… 🙂
(Mas como não é só pelas notas dos alunos que se determina a qualidade de uma instituição de ensino, ainda falta o resultado da avaliação in loco para determinar a média final de cada curso…)

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Intercom 2007

Piada sem graça – o Intercom resolveu re-prorrogar o prazo de envio de trabalhos até o dia 14/06. Depois que a gente quebra a cabeça para terminar a tempo, prorrogar por mais 15 dias não tem a mínima graça… 😛 Eles já tinham prorrogado antes por mais uma semana (de 23 a 30 de maio).
Consolo barato: dá tempo de fazer outro trabalho.

(Em tempo: alunos de graduação participam do Intercom Júnior; é a mesma coisa, só que em menores proporções, e com menos categorias. Também tem o Expocom, que é uma mostra de pesquisas experimentais. Os demais eventos do Congresso são para “gente grande”).

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Como (não) fazer um trabalho de metodologia jurídica de última hora

Tema: Teoria da hipótese

Delimitação do tema: A (im)possibilidade de se fazer uma hipótese decente de um dia para o outro: um estudo baseado em hipóteses

Problema: É possível fazer uma hipótese jurídica de conteúdo razoável de um dia para o outro?

Hipótese: É possível fazer uma hipótese jurídica de conteúdo razoável de um dia para o outro desde que se utilize de técnicas absurdas para determinar os demais elementos do esboço do projeto, como fazer o problema exatamente igual à hipótese, mas com uma interrogação no final.

Variáveis: Hipóteses, conteúdo juridicamente razoável, técnicas absurdas de metodologia

Objetivo geral: – Descobrir se é possível fazer uma hipótese decente de um dia para o outro.

Objetivos específicos: – Delimitar a noção de conteúdo juridicamente razoável;
– Propor várias hipóteses;
– Medir o tempo mínimo necessário para se criar uma hipótese razoável, a partir da criação de várias hipóteses.

Ordenação do tema:
Introdução
I – Teoria geral da hipótese
II – Hipóteses de conteúdo juridicamente razoável
III – Técnicas e macetes de metodologia jurídica
IV – Cálculo do tempo médio para elaboração de uma hipótese decente
Considerações Finais
Bibliografia consultada

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Teoria da Comunicação

Uma das discussões interessantes que rolou em um dos GTs do Celacom foi sobre o fato de a Teoria da Comunicação ser ensinada nos primeiros semestres do curso e de forma totalmente desvinculada da prática. Não haveria mal nenhum em se ministrar a disciplina logo no começo do curso se ela não costumasse ser ministrada na forma expositiva clássica: um professor despeja as várias teorias na cabeça dos alunos; os alunos entram em colapso decorando nomes de teorias e suas respectivas explicações, e tudo isso para eles não faz o mínimo sentido. O resultado é um mar de alunos que acham a Teoria da Comunicação uma disciplina chata e tediosa, e são incapazes de perceber que ela é, na verdade, a base para todo o resto do curso (e justamente por isso deve ser ministrada logo de cara).

Os alunos sobrevivem à teoria e chegam ao final do curso. Lá na outra ponta, eles vão precisar se basear nessa teoria que (não) aprenderam nos primeiros semestres para poder redigir um trabalho de conclusão de curso decente. Só aí é que vão perceber o quanto a Teoria da Comunicação era importante, e terão que correr atrás do tempo perdido para recuperar a compreensão do conteúdo e a apreensão de conceitos que já deveriam ter sido assimilados muito tempo antes.

Alguns dos problemas apontados para a impopularidade da Teoria da Comunicação junto aos alunos seriam os professores despreparados para ministrar a disciplina (geralmente, a Teoria da Comunicação é dada por jovens professores, que ainda não possuem uma clara sistematização de todas as Escolas e da evolução da comunicação no país e no mundo), a forma excessivamente dogmática de ministrá-la (uma solução seria propor aos alunos aplicar as diferentes teorias estudadas a casos reais, a acontecimentos midiáticos que estejam em voga no momento em que se estuda determinada teoria) e o fato de que grande parte dos professores adotam uma corrente de pensamento (que quase nunca é a própria corrente latino-americana) e praticamente não falam sobre as outras. Isso contribuiria para outro fator relevante: a situação inusitada de que a Escola Latino-Americana de Comunicação (ELACOM) possua mais prestígio no exterior do que dentro da própria América Latina. Por aqui, predominariam professores e pesquisadores da linha frankfurtiniana, ou seguidores do funcionalismo norte-americano. Desse modo, costuma-se adotar uma perspectiva estrangeira para analisar fenômenos localizados, ao invés de se utilizar de uma teoria latino-americana para estudar objetos igualmente latino-americanos (o que pareceria bem mais lógico).

A conversa aconteceu no GT 3, Comunicação, Educação e Linguagens Educacionais, na quarta-feira à tarde, a partir da apresentação do trabalho da Dra. Maria Cristina Gobbi (da Metodista). O trabalho procurou sistematizar a evolução histórica do pensamento da ELACOM. A partir dessa sistematização, surgiu o questionamento de por que a maior parte dos presentes à sala nunca tinha estudado nada sobre a Escola Latino-Americana durante o curso de graduação. Uma coisa levou à outra, e acabou se tendo um interessante debate sobre o ensino da Teoria de Comunicação como um todo 🙂

Estou começando a pensar em rever minhas tendências frankfurtinianas. A crítica pela crítica não leva a nada – e o receptor nem sempre é assim tão passivo.

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Sobre o Celacom

De segunda a quarta aconteceu na UCPel o Celacom 2007. Esta era a 11ª edição do Colóquio Internacional sobre a Escola Latino Americana de Comunicação. O Celacom é uma iniciativa da Cátedra Unesco de Comunicação, e é promovido anualmente na Universidade Metodista, em São Paulo. Este ano foi a primeira vez que o evento foi deslocado de sua sede – e a proposta é de que os próximos também sejam realizados fora de São Paulo, em nome de uma maior regionalização do congresso.

A proposta é reunir pesquisadores em Comunicação para discutir a Escola Latino Americana de Comunicação (ELACOM) em três dias de evento. A edição deste ano contou com a participação de estudiosos de três países, e teve como tema central os Gêneros Comunicacionais: formatos e tipos latino-americanos.

Participei da comissão de organização (de forma voluntária; aliás, às vezes ainda me surpreendo com a minha natureza intrinsecamente voluntária… acho que não nasci para ingressar em um mundo capitalista), e por isso esses últimos três dias foram uma verdadeira correria. Mas valeu a pena.

Como em todo evento destinado à pesquisa, com o Celacom não foi diferente: foram três dias de intensa reciclagem científica e ebulição e aperfeiçoamento de idéias. Assisti a poucas palestras, mas todas elas eram muito boas. Só a mesa redonda de ontem pela manhã, sobre Gêneros Digitais, valeu pelo evento inteiro. A mesa contou com a participação de Elias Machado (UFSC), Alex Primo (UFRGS) e Vinícius Andrade Pereira (ESPM/UERJ), sob a coordenação de Raquel Recuero (UCPel). Os temas tratados foram o digital trash, a micromídia, e a forma de se pensar os gêneros no jornalismo digital. Mas a parte mais interessante foi o debate que rolou entre os painelistas após suas exposições.

Outros pontos altos do evento foram a palestra de Manuel Carlos Chaparro (da USP) sobre gêneros e a apresentação de trabalho de Maria Cristina Gobbi (Metodista; vide post acima) sobre a ELACOM.

Não sei se sou altamente influenciável, mas… gostei da idéia de pesquisar algo como a relação entre digital trash, cauda longa e micromídia. Também achei interessante a proposta de empregar a análise de discurso para investigar a comunicação, ou realizar a reflexão sobre gêneros. Só não gosto do fato de não conseguir encontrar um foco (algo mais específico; como objeto, já está praticamente certa a Internet) em meus interesses de estudos.

Nota mental: É mais divertido apresentar trabalho do que participar da comissão de organização. Acho (tenho certeza de) que eu teria aproveitado o evento bem mais se tivesse apresentado trabalho.

Hoje, quinta-feira, de volta à rotina, não tive mais desculpas para faltar às aulas do Direito. Tenho negligenciado demais esse curso ultimamente…

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Considerações gerais sobre os receptores¹

Do extremo de considerar a mídia como indústria cultural (e negar qualquer espécie de reação às mensagens por parte do receptor) à outra ponta de superestimar a recepção e considerá-la mais sábia que os produtores da mensagem, o ideal é encontrar um meio termo. Como em quase tudo na vida, a virtude está no meio.

Nenhum receptor é tão passivo que não reaja de modo algum aos estímulos que recebe da mídia. Ele pode se deixar levar pelo ritmo inebriante de um programa de tarde de domingo. Mas, no fundo, ele sabe que só está vendo aquilo porque não tem outra opção (televisiva). Ele aceita se submeter àquela tortura psicológica por falta de melhor opção.

Por outro lado, nenhum receptor é tão ativo que nenhuma mensagem subliminar ou recado cuidadosamente escolhido para atingi-lo não o atinja. Por mais que tenhamos nossos sentidos em alerta, muitas vezes baixamos a guarda e algo nos escapa: somos humanos e, portanto, influenciáveis. Criticamos a novela das oito (que na verdade nunca passa às oito), mas a assistimos. Reclamamos da presença massiva da publicidade, mas compramos o produto anunciado.

A idéia da indústria cultural surge no contexto da Escola de Frankfurt. Os propulsores da idéia, Adorno e Horkheimer viam a indústria cultural como um sistema de produção cultural situado em um contexto de produção padronizada para necessidades iguais. Seria como em um círculo vicioso, no qual a produção (atrelada a interesses econômicos) é cada vez mais padronizada, de modo a acostumar as pessoas para que elas passem a querer tudo sempre igual. “Quanto mais firmes se tornam as posições da indústria cultural, mais sumariamente ela pode proceder com as necessidades dos consumidores, produzindo-as, dirigindo-as, disciplinando-as e, inclusive suspendendo a diversão: nenhuma barreira se eleva contra o progresso cultural”². Na prática, a indústria cultural funcionaria como uma indústria de diversão: tudo deve dar prazer, com o objetivo de fisgar a atenção do espectador. Não seria necessário pensar para reagir: a própria mensagem deixa clara a reação possível. Como uma forma de captar atenção, a indústria cultural promete o prazer e o prorroga indefinidamente.

Notas
¹ Reflexões inacabadas acerca do tema. Ainda falta aprofundar como foram os estudos de recepção que conferiam excessivo poder aos receptores (e analisar a própria dinâmica de funcionamento dos estudos de recepção).
² HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor W. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985 (1947), p. 135.

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