Category Archives: mídia

Too much information

A capacidade de categorizar informações a serem armazenadas faz com que a mente tenha dificuldade em perceber detalhes. Essa é uma das conclusões de um estudo conduzido em 2005 na Ohio State sobre memória de crianças em comparação com memória de adultos.

“The ability to categorize is often very helpful, but this study shows how it can lead people to ignore individual details, Sloutsky said”.

Ou seja: vai ser totalmente justificável se eu me sair mal nas quatro provas que terei entre hoje às 19h e amanhã às 21h. É muita informação, que a) só pode ser armazenada em categorias e b) o reducionismo/a esquematização leva ao esquecimento das particularidades. Sei as matérias. Mas me perco nos detalhes.

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A mídia e a lei penal

Dois projetos na área criminal foram sancionados pelo presidente Lula recentemente. Um deles estabelece novos prazos para a progressão de regime para condenados por crime hediondo. O segundo projeto transforma em falta grave o uso de telefones celulares e aparelhos de radiocomunicação no interior dos presídios.

Embora o controle dos celulares esteja sendo discutido no Congresso desde os ataques do PCC em 2006, e a reforma dos crimes hediondos estivesse em pauta desde março do ano passado, quando o STF votou pela inconstitucionalidade da proibição à progressão de regime em crime hediondo, os dois projetos de lei receberam um impulso extra com a morte do menino João Hélio em 7 de fevereiro deste ano.

Aliás, também foi aprovado na mesma semana na Comissão de Constituição e Justiça do Senado um projeto que prevê pena mais rigorosa para crimes que envolvam menores de idade – um reflexo direto da influência do caso do menino, pois um dos criminosos envolvidos na barbárie era à época menor de idade.

O que há em comum entre essas reformas da legislação criminal, já aprovadas ou em processo de aprovação, é que todas elas foram influenciadas e aceleradas pela mídia. A legislação criminal, como um todo, costuma ser remendada conforme o que os jornais estão noticiando. A pauta do Congresso Nacional coincide com a pauta do telejornalismo.

Um exemplo de influência midiática no processo legislativo é o que aconteceu ao longo de toda a trajetória da Lei dos Crimes Hediondos. Desde sua aprovação, que se deu logo após uma onda de extorsão mediante seqüestro de empresários no Brasil no final da década de 80. A solução encontrada foi a de criar uma lei que desse tratamento diferenciado a este e outros crimes igualmente bárbaros. Com uma ampla cobertura da mídia, a tramitação foi rápida, e assim surgiu a lei 8.072 de 1990.

De lá para cá, a lei sofreu inúmeros acréscimos, sendo o mais emblemático a adição do crime de homicídio qualificado ao rol de crimes hediondos por ocasião do assassinato da atriz global Daniella Perez, em 1992, pelo também ator Guilherme de Pádua. Ambos interpretavam o par romântico Iasmin e Bira na novela “De Corpo e Alma” da Rede Globo. Por se tratar de um crime praticado e sofrido por pessoas públicas — o que causou enorme comoção na sociedade —, a pressão exercida pela mídia foi tanta que o legislativo não viu outra saída senão elevar o crime de homicídio qualificado à categoria de hediondo.

Outro caso bastante noticiado (inicialmente um furo de reportagem fruto de investigação jornalística) e que foi incluso na lei por conta da pressão da mídia é a questão das quadrilhas de falsificação de remédios, deflagradas em 1998. A partir de então, falsificar medicamentos passou a sofrer as mesmas restrições oferecidas aos demais crimes hediondos.

Basicamente, funciona assim: a mídia noticia o crime, instiga a população para iniciar o debate sobre o ocorrido, e, quando já se está prestes a tirar as primeiras conclusões lógicas sobre o fato, o assunto perde o interesse e sai da pauta dos noticiários. Como conseqüência, as pessoas param de falar sobre o assunto, e passados dois, no máximo três meses, ninguém mais é capaz de se lembrar o que aconteceu. Mas, enquanto isso, já deu tempo para que o tema fosse desmembrado pelo Congresso Nacional em vários projetos de lei desastrosos, todos com o objetivo de aumentar o rigor da pena, na vã ilusão de que a punição mais grave irá reduzir a criminalidade. E, assim, quando o crime seguinte é noticiado pela mídia, os projetos que já estavam tramitando por ocasião do delito anterior são acelerados, e, como conseqüência, tem-se a aprovação – mesmo sem se ter tido a discussão necessária.

Como já dizia o Marquês de Beccaria, em pleno século XVIII, “o que inibe o criminoso não é o tamanho da pena, mas sim a certeza de punição”. De que adianta aumentar o tempo de prisão, tornar mais rígidas as penas, se, no fundo, a realidade carcerária é insuficiente para atender a todos, os policiais não conseguem conter a criminalidade e a sociedade não consegue se organizar minimamente para se insurgir contra isso tudo?

Obs.: autoplágio detected

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Salvem o ursinho Knut

O mundo está comovido com a polêmica do ursinho Knut. Knut é um urso polar nascido no dia 5 de dezembro do ano passado. Ele foi rejeitado pela mãe ao nascer, e o pessoal do zoológico de Berlim decidiu adotá-lo. A polêmica surgiu quando ativistas ambientais começaram a defender a necessidade de sacrificar Knut. Ele teria se apegado demais a seus treinadores, o que poderia fazer com que ele não tenha condições de se adaptar à convivência com outros ursos, ou até mesmo a uma vida solitária no zoológico. E, à medida que for crescendo, o ursinho se tornará mais agressivo, o que resultará numa convivência com humanos cada vez mais difícil.

A comoção popular só tende a crescer. Knut é tratado como se fosse um ursinho de pelúcia antropomorfizado: o canal alemão RBB posta vídeos e fotos de Knut em sua página na Internet. Knut tem até um blog (em primeira pessoa e com espaço para comentários!). A emissora também pretende criar um programa semanal para mostrar as peripécias do ursinho na TV.

Sim, há problemas mais graves acontecendo no mundo. Mas, mesmo assim, o destino de um ursinho polar rejeitado pela mãe é capaz de comover o mundo todo pelo inusitado da situação. Alguém consegue entender os humanos?

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Quando quem fala e de quem se fala são a mesma pessoa

Essa é boa. O jornalista sueco Niclas Rislund estava sendo processado por ter se passado por um policial durante uma investigação sobre um desaparecimento. Além do processo na Justiça, ele também acabou sendo demitido do jornal onde trabalhava, o tablóide Expressen. Atualmente ele trabalha para a revista Dagens Media.
Na terça-feira o caso ganhou destaque na imprensa sueca porque era a data da primeira audiência. Mas o que mais chamou atenção foi a matéria do Dagens Media sobre o caso. O próprio Rislund fez o relato, em terceira pessoa, do processo no qual estava envolvido. Ora, quem melhor para falar sobre um processo senão o próprio réu que está sendo julgado?
O fato ganhou repercussão, e está sendo discutido na Suécia. Até que ponto é ético um jornalista falar sobre si próprio?

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