Monthly Archives: August 2005

Bom, pelo menos a viagem de volta foi [bem] mais tranqüila. Peguei o ônibus das 17h (semi-direto), e pude ir de início a fim do trajeto sozinha em um par de bancos.Consegui ler até um pedaço da viagem (nada mais que 20-30 páginas, o equivalente a um ensaio e meio), e fui interrompida perto da metade do trajeto, quando algumas pessoas subiram ao ônibus e começaram a falar em tom alto. Mas daí não fiquei tão irritada, até porque já estava escurecendo, e não vi mal nenhum em fechar o livro para desfrutar um pouco mais do espetáculo da vida :)Mas que isso sirva de lição: ler em viagens definitivamente não é uma boa idéia 😛

Crônica de uma viagem bizarra

O livro
Ao terminar o livro anterior, sobre o Poder Constituinte, resolvi começar a ler um livro da área de Comunicação. Depois de muito pensar (:P), a escolha recaiu sobre a obra “O Óbvio e o Obtuso”, de Roland Barthes, que estava na minha lista de leitura desde o semestre passado. Outro fator que contribuiu para a decisão foi o fato de ele estar presente nas bibliografias básicas de duas disciplinas (Foto e Semiótica — não é à toa que os professores são pai e filha, respectivamente!). E também já tinha lido (e gostado) de A Câmara Clara, do mesmo autor.
Como só vou precisar desse livro no mês de outubro em Semiótica, optei por começar apenas dando uma olhada nas páginas do mesmo. Leitura descompromissada: o objetivo é apenas familiarizar-me com a obra, para uma posterior leitura aprofundada…
O ônibus
E então resolvi carregar o livro em minha viagem para Bagé, com a brilhante idéia de lê-lo durante a [cansativa] viagem de ônibus de 3 horas. Na minha mente inocente, eu sentaria a um canto (janela), e teria o mais completo silêncio para ler durante 3 horas ininterruptas! Ia ser perfeito — só que o mundo real não é tão maravilhoso quanto se imagina…
Cheguei na rodoviária com meia hora de antecedência, e peguei um lugar relativamente no meio (poltrona 23, janela, à direita do motorista). Parecia uma boa posição para leitura: iluminação direta do Sol, e pertinho de um dos pontos de calefação do ônibus. Entretanto, como hoje em dia existe lei de Murphy para tudo (mais especificamente, para nada… para nada dar certo :P), foi só eu abrir o livro na página em que eu estava para retomar a leitura, que as pessoas do banco da frente começaram a conversar em voz alta. Pior ainda: o diálogo tinha um terceiro e quarto participantes, da dupla de bancos imediatamente à esquerda. Então era o cara da esquerda comentando como eram lindos os campos verdes à beira da estrada, o da minha frente olhando embasbacado (como se nunca tivesse feito aquele trajeto antes), e a guriazinha do outro lado fazendo comentários inúteis. Mas até que eles não atrapalhariam tanto a leitura, visto que só falavam quando houvesse alguma paisagem bonita, rio conhecido ou plantação curiosa para observar.
Quando eu já estava praticamente me acostumando à idéia de só poder ler nos períodos de calmaria da conversa dos bancos da frente, eis que “a lei de Murphy da lei de Murphy” (“se algo está ruim, poderá ficar pior ainda”) resolve atacar. O ônibus era do tipo Comum, indireto, que pára em cada paradinha de ônibus de beira de estrada. Ele parou. Entrou um senhor, que chegou para mim e perguntou se o lugar ao meu lado estava vago. Ah.. se desse para voltar o tempo, eu diria que não… ah se diria! Tanto lugar vago no ônibus, e o cara foi sentar logo ao meu lado? Mas tudo bem. Que mal poderia haver? (Ainda acredito na inocência do mundo!)
Pois foi só o cara sentar que ele começou a conversar com a senhora que se encontrava no assento ao lado, no corredor da fileira da esquerda. E assim ele seguiu a falar nos meus ouvidos durante a viagem inteira! Qualquer resquício de possibilidade de iniciar uma leitura fora por água abaixo…
Fato é que simplesmente não consigo ler com gente falando ao redor. Preciso de silêncio absoluto! Meu sentido de audição se sobrepõe ao da visão, de maneira que eu chego a beirar à loucura quando meus vizinhos começam a gritar enquanto leio em casa. Mas, mesmo assim, não reclamo: aceito passivamente as irritações. Para que se estressar? Fiquei sim o tempo todo torcendo para o cara pegar no sono, descer no meio da estrada.. qualquer coisa era válida… Apelei tanto que não só ele, como também a mulher e os carinhas dos bancos da frente acabaram descendo na metade do caminho – em Pinheiro Machado. E foi só a partir daí que pude, finalmente, começar a ler! 🙂
Até foi interessante ouvir tudo sobre a vida do homem que estava ao meu lado (mesmo que a conversa não tenha sido comigo, mesmo que seja ‘feio’ escutar a conversa dos outros; mas não tive como não fazê-lo). Ele tem dois filhos, ambos casados. Ele também é casado, desde os 18 anos. A nora de 19 anos está terminando o Ensino Médio para ser frentista, com um salário de 850 reais (vale ressaltar que esse salário é superior ao piso do salário de jornalista no interior do RS…! acho que vou largar as faculdades e ser frentista de posto de gasolina!), o filho quer ser sargento e ganhar mil e quinhentos reais por mês (nada mal!), a filha trabalha há dois anos numa papelaria que fica a duas quadras do meu apartamento… Não entendi direito o que o cara faz, mas tem algo a ver com transportar leite de Pelotas a Pinheiro Machado (mas de ônibus??).
A conversa tratou de tudo, até de máquinas de lavar (roupa e louça) e do fato no mínimo curioso de que o cara trabalha com corte e costura nas horas vagas. Quanto às máquinas de lavar, acabei ficando convencida que o melhor é ter um tanquinho, e trocar a água dele na pia do banheiro para o enxágüe após a lavagem (você sabia que o melhor tanque é aquele que tem formato de máquina de lavar – sem a bordinha -, e possui a roda (?) na parte inferior, e não ao lado??). E tem até quem diga (ouve-se falar por aí, de acordo com o cara) que há uma peça que se compra para o tanque, e que faz com que ele fique que nem uma máquina de lavar… (Viram só? Virei especialista em máquinas! Sei até como tirar uma mancha de graxa de uma camiseta branca usando apenas um tanquinho e uma pia de banheiro!).
Mas no fim, ele até se deu conta da chatice, e fez um pedido de desculpas tácito, conversando um pouco comigo, e contando que a sobrinha dele também queria fazer Direito (mas em Bagé, mesmo morando em Pelotas). Eu sou de Bagé e faço faculdade em Pelotas. (Será que existe algum mundo bizarro onde tudo é o exato oposto do mundo real? Será que esse cara vem de lá?).
Com medo de represálias (nunca se sabe… vá que o cara leia este post e decida pegar sempre o mesmo ônibus que eu, só para não me deixar ler em viagens?), não vou citar o nome dele. Mas adianto: é um nome duplo e tosco, desses de novela mexicana, ambos iniciados com a letra A… 😛
O lema
Enfim… disse tudo isso para mostrar o quanto sou pacífica e cultivo a tolerância. Aliás, andei até pesquisando acerca do tema. Neste artigo, o psicólogo Antonio de Andrade propõe uma solução simples para todos os males do mundo: agir com cidadania. (Ahã… Como se ninguém nunca tivesse se dado conta disso antes… ).
Na dúvida, estou fazendo a minha parte. Até hoje nunca reclamei dos meus vizinhos que jogam futebol narrado, apesar de já ter ficado com raiva suficiente para pensar nas melhores maneiras de calar a boca deles de forma definitiva (:P).

As pessoas têm direito de conversarem em um ônibus. Mas que isso atrapalha… bah!

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sobre o livro “Revolução e Poder Constituinte”

Ontem terminei de ler o livro “Revolução e Poder Constituinte”, de José Carlos Toseti Barrufini.
Interessei-me pelo assunto com os recentes debates acerca da proposta de sabe-se-lá quem de que talvez seja a hora de fazer uma nova Constituição no Brasil (percebe-se aqui que meu interesse por política é quase nulo).A Constituição em vigor atualmente, que serve de suporte de validade e fundamento para todas as demais leis em vigor no país, data de 1988. Embora toda Constituição escrita tenha como princípio a idéia de unidade, nossa Constituição já foi emendada 47 vezes nesses 17 anos de história. Ora, tantas alterações acabam por causar uma certa instabilidade, pois se nem mesmo a lei maior do país consegue ser rígida, o que se dirá das demais leis que existem por aqui?
Muitos sustentam que não há nova Constituição sem Revolução. Um exemplo disso é o golpe militar de 64, que deu origem à Constituição anterior de 1967. Já a Constituição atual surgiu do movimento das Diretas Já (aqui nota-se uma clara interferência dos meios de comunicação na mudança de rumos políticos do país… há mais relações entre Direito e Jornalismo que se possa imaginar!).
Mas o que poderia nos levar para uma Constituição nova? Em que se investiria o Poder Constituinte para romper com a ordem estabelecida, e fundar um novo Estado? Pois bem. Mais uma vez, nota-se uma grande influência da mídia, que poderá novamente levar à tomada de novos rumos em nosso país. Todos param diante da TV para ver depoimentos sobre o escândalo do mensalão, a ponto de a corrupção ter virado uma espécie de ‘show’, um verdadeiro espetáculo para as massas. Será que a corrupção declarada não é suficiente para provocar a ruptura? A meu ver, não é necessária uma mudança na forma de estado ou governo do país para que se funde uma nova nação (como por exemplo, quando foi da ditadura para a democracia). Apenas a mudança de pensamento pode fazer com que nasça uma Constituição, com vistas a restabelecer a segurança nacional, e [como sempre] na tentativa de acabar com a corrupção, fortalecendo a democracia.
Já dava para aproveitar essa nova Constituição para determinar a criação de um órgão híbrido do Executivo e do Judiciário específico para a fiscalização de irregularidades no governo. Desse modo, tornar-se-ia mais efetiva a apuração de casos de corrupção, e os julgamentos não se estenderiam tanto assim, a ponto de virarem diversão para as mídias (como se a corrupção fosse uma novela, quando na verdade ela está aí, no mundo real, e em todos os lugares).
Mas, pensando bem… se fôssemos tentar resolver todos os problemas do país elaborando novas Constituições, isso acabaria com seu fim aparente, qual seja, o de garantir estabilidade à nação.
Ah, sei lá… o importante é que tudo se resolva tão logo quanto for possível.
E, bem, quanto ao livro que li… recomendo para aqueles que queiram saber mais sobre o assunto (mas não espere uma análise tão profunda; a obra peca justamente por tratar superficialmente de um tema tão complexo…)

Livro: Revolução e Poder Constituinte
Autor: José Carlos Toseti Barrufini
Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1976
Disponível na Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito (UFPel)

Observação: (incluída em 05/08/05)

Agora, pensando melhor, há um motivo para o texto do livro ser tão superficial. Ele foi escrito em 1976, ou seja, em pleno período de ditadura militar, e portanto sujeito a censuras. Nada mais normal que o autor não dar ênfase à Revolução como única forma legítima de promover um movimento constituinte… 😛

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Semiótica

Como eu não estava entendendo muito bem o que era Semiótica após a primeira aula que assisti sobre o assunto, e ainda estando um pouco (mais) apavorada pelas histórias descabidas que contam acerca da matéria (ao menos com relação à dificuldade imposta pela professora) andei procurando no Google algo que pudesse me dar uma luz quanto a isso. Encontrei esta página, que explica em termos mais simples o que é Semiótica, como ela surgiu, do que trata, e entra um pouco nas teorias malucas do Peirce.
Na real, depois de ter lido um pouco a respeito do assunto, não entendo como possa ser tão difícil uma matéria. É só questão de estudar, ler, dedicar-se, e não vejo dificuldades maiores nisso. Por um lado, é até bom ter algum professor que ‘pegue pesado’. Isso provavelmente nos instigará a ler mais, e a procurar ir mais a fundo também nas demais matérias. Contato que eu passe, aprenda, e não precise pagar de novo pela disciplina… qualquer forma de ensino é válida 😛
(Na dúvida estou lendo tudo o que encontro acerca do tema, devorando livros e textos a torto e direito…)

200 mil reais

Por que tanto furor com relação ao cara que devolveu a mala com 200 mil reais? Poxa, ele não fez mais que a sua obrigação!
Vejamos: num belo dia você está andando por aí e encontra uma mala abandonada em um local público. Se estivéssemos em um país dito de “primeiro mundo”, você sairia correndo, provavelmente — maleta, sozinha… BOMBA! — mas como você vive num país de terceiro mundo, onde o povo famigerado precisa se preocupar em comer, não sobrando tempo para se atacarem uns aos outros, você resolve pegar a mala para si. Ao abrir a mala, depara-se com uma enorme quantidade de dinheiro, superior a tudo que já tinha visto na vida. Pode ser que você conte quanto de dinheiro há na mala, ou então desista dos cálculos por ser notas demais. No interior da mala, você procura uma identificação, algo que remeta ao dono (mas, secretamente, espera que não haja; espera que a mala não seja de ninguém, que seja um presente a você dos céus). Ao encontrar o cartão do dono, você:
a) Entra em contato e se dispõe a devolver a maleta.
b) Fica com o dinheiro, e aceita todas as implicações morais que isso acarreta. Perde noites e noites de sono. Não gasta o dinheiro, simplesmente por se sentir culpado demais por apropriar-se do dinheiro alheio (além disso, não saberia esclarecer ao fisco o porquê de ter, de uma hora para outra, ganhado 200 mil reais, a menos que apelasse para as puras ‘causas divinas’, o que seria o mesmo que atestar insanidade, e acabar sendo acusado por um crime maior ainda — sim, até porque o desconhecimento da lei penal não extingue a punibilidade — apropriar-se coisa móvel alheia é furto, mesmo quando despercebido por parte do proprietário!)

Diante disso, fica difícil entender por que um cara que não fez mais do que sua obrigação (ou seja, devolver a mala ao encontrá-la perdida e COM identificação) tenha ocupado tanto espaço na mídia, inclusive indo a programas de auditório para ‘conceder entrevistas’, contanto o porquê de ter decidido devolver o dinheiro. Cuidado! Por muito menos que isso já teve gente que virou herói nacional!

Mas fica a pergunta: e se não houvesse identificação na maleta, o cara devolveria?

(E você, o que faria?)

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Exposição de motivos da parte principal

I – este blog terá como fim específico a publicação de textos relacionados ao mundo jurídico-jornalístico de Gabriela da Silva Zago, estudante dos 3° e 4° semestres, dos cursos de Jornalismo e Direito (respectivamente).
II – toda e qualquer peça publicada será necessariamente de autoria da contratante, salvo nos casos em que o post expressamente mencionar.
III – nos casos em que o post for omisso, entender-se-á tratar-se de texto original, e sujeito às regras de cópia autorizada.
IV – qualquer fuga ao tema poderá ser a qualquer tempo sinalizada, que será peremptoriamente removida, modificada ou justificada.
V – os comentários pertencem à pessoa do contratado, em nenhuma hipótese mostrando as idéias e opiniões da contratante, salvo nos casos expressos em post
VI – ficam revogadas as disposições em contrário.