Monthly Archives: January 2006

Jornalismo online

Muito interessante o artigo “A New Media Tells Different Stories“, de Bruno Giussani, na revista online First Monday, edição de 7 de abril de 1997. Com uma linguagem simples, o jornalista fala dos avanços conquistados no jornalismo online até então, e do muito que ainda está(va) por vir dali em diante. O que mais espanta é que suas palavras permanecem atuais, mesmo tendo sido escritas há quase 10 anos!
Giussani fala da internet como um novo tipo de mídia, e que, portanto, faz surgir um novo tipo de jornalismo, com sua linguagem e estilo característicos. Entretanto, esse novo meio, que agrega não só informação textual como também imagens e áudio, ainda precisa(va) se consolidar. O autor destaca os três conceitos fundamentais dessa nova espécie de jornalismo: diversidade, comunidade e movimento.

“The fact that all of these media are now one unique medium, a series of zeroes and ones aligned in sequences, brings forth to the journalist a diversification of points of view, an increased pressure on mastering technique and above all – because the capacity of the medium is virtually without limits – a complete reversal in journalistic judgment.”

O jornalismo na web destaca-se pela versatilidade. Até mesmo a noção de tempo dos jornais impressos (e as constantes submissões a prazos e limites para entrega de matérias) acaba sendo alargada, pois na internet uma notícia pode ser publicada a qualquer hora. As limitações de espaço também são abolidas: é possível aprofundar bem mais os acontecimentos a serem descritos.
Outra característica importante desse novo meio é permitir a interação entre o público leitor entre si, e entre o leitor e o autor de uma notícia. Criam-se verdadeiras comunidades de leitores, que passam a discutir os assuntos em um fórum na página do jornal. As barreiras geográficas são abolidas: cada vez mais o jornal tem deixado de ser um produto para se ler, para se tornar bem mais um lugar para se visitar:

The newspaper is no longer a product. It becomes a place. A place where people from the community stop by, make contacts and come back again to build a common future.”

E, por fim, há também a questão da hipertextualidade, levada aos extremos no mundo online: os hyperlinks permitem uma maior mobilidade entre os textos, e possibilita que se aprofundem determinados assuntos que possam interessar certos leitores mais exigentes, o que faz com que o jornal online seja uma verdadeira teia (web) de assuntos que se entrelaçam.

“By taking advantage of the unlimited virtual space we call cyberspace, it would be possible – and in a sense it is already – to satisfy the interests and the level of knowledge of each and every single reader.”

Enfim, todos têm a ganhar com o jornalismo online: as leituras tornam-se mais específicas (sem as limitações de espaço e conteúdo das edições em papel), fica mais fácil de navegar entre notícias (é como se elas não fossem mais descartáveis: é possível acrescentar dados, voltar, avançar, continuar, aumentar, sem que se percam informações importantes)… Enquanto que a notícia do dia anterior no jornal de papel vira embrulho para peixe, a notícia online pode ser constantemente reciclada: “today’s breaking news, tomorrow’s fish wrap”.

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O Google e a censura

Do ABCNews.com:
“Saying that providing some information is better than providing no information, Google Inc. today defended its decision to cooperate with China’s demand to censor some Web search results.”
Interessante essa estratégia do Google. Eles resolveram colaborar com o governo da China e bloquear alguns resultados de seu site de buscas na versão em chinês. O Google.cn bloqueia, por exemplo, cerca de 40% dos resultados de uma pesquisa com termos como “democracy” e “China”.
O site justifica-se alegando que é melhor fornecer alguma informação do que nenhuma. Apesar de tudo, não dá para negar que a saída encontrada é bastante engenhosa.
Obviamente, estão em jogo interesses comerciais:
“China currently has an estimated 100 million Web users. That number is projected to rise to 187 million over the next two years.”
A China tem cerca de 100 milhões de usuários da web, e perder uma fatia tão grande de mercado não ia valer a pena para o Google. “Yahoo and Microsoft also cooperate with China’s censorship policy.” Se a concorrência colabora, por que o Google não iria também colaborar? 😛

A polêmica diz respeito também à questão da liberdade de expressão e da censura prévia. Ora, mas a censura não está presente em todos os lugares, a todo o momento, em tudo o que se fale? O normal (mas quem define o que é normal em tempos hodiernos?) é associar a censura aos regimes totalitários, e a liberdade de expressão às democracias. Entretanto, “a censura é uma das dimensões intrínsecas de qualquer sistema de poder.”* Não há sociedade sem censura, e o que varia, ao longo do tempo e do espaço, é a modalidade de censura exercida.
Claro que a ditadura chinesa exagera um pouco (não deixar que seus cidadãos procurem se informar acerca dos direitos humanos é ir um tanto longe demais!) e certamente não é um exemplo a ser seguido, mas também não dá para querer falar, ler e saber de tudo. Há coisas que simplesmente não devem ser ditas. E isso varia de país para país, de cultura para cultura.
A liberdade total de expressão é na verdade um discurso mítico, porque “a plenitude do dizer e do fazer equivaleria à própria negação da linguagem, à morte da palavra, ao silêncio total.” Nesse sentido, a espécie de censura predominante nas sociedades democráticas seria a do tipo que, ao invés de limitar o que é dito, simplesmente obriga a dizer: “Esta censura tem sobretudo horror ao silêncio.”
Além do mais, a liberdade de expressão nunca poderia ser total: sempre haver(i)á confronto com outros direitos fundamentais (e aqui entram novamente os tais direitos humanos barrados em pesquisas realizadas no Google da China :P). Talvez a China não tenha lá o melhor dos regimes políticos, mas ao menos exerce a censura em termos claros. Ganha em transparência, perde em liberdade — é impossível agradar a todos ao mesmo tempo 😛

* Figuras das Máquinas Censurantes Modernas, de Adriano Duarte Rodrigues. Recomendo a leitura 🙂

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Salada de frutas

Num singelo arquivo .doc em meu computador, cujo título era a data do dia em que fora criado (8/11/05), lia-se:

E lá se foi um limão. O outro. O terceiro resistiu. E de repente veio uma laranja. Banana. Maçã. E quando se foi ver, já tinha virado uma salada de frutas.

(Definitivamente, eu não sou normal :P)

As pequenas coisas (ou A água evaporou-se junto com o tédio.)

A quantidade de água que choveu em mim hoje foi exorbitante. Se eu fosse uma represa, teria armazenado água potável suficiente para abastecer alguma nação miserável qualquer do centro-nada da África. Parece que toda vez que eu saísse de casa, por mais tempo de sol que antes tivesse, a minha simples presença na rua fosse capaz de reiniciar a batalha milenar entre as gotas de água gelada e o mormaço.
Mas o bom é que estou curtindo essa quebra na rotina. Aulas nas férias é divertido (seria ainda melhor se a frase fosse reversível!). Já tomei banho de chuva, assisti aulas de Financeiro, comprei uma caixa de Nuggets, almocei sozinha no restaurante, enfim, fiz coisas que já não fazia há bastante tempo. Até o ato de lavar louça de certa forma adquiriu um tom todo especial. A vida é mais colorida quando se está de bom humor 🙂

[Editado porque entrou uma lagartixa no meu apartamento: talvez a vida não seja tão colorida assim :P]

Férias em stand by

Até que não é tão ruim ter algumas (poucas) aulas em pleno janeiro. É bom ter alguma atividade intelectual de vez em quando (sinto que meu cérebro estava prestes a enferrujar de vez… e depois de empacar, não há matéria chata ou reflexão profunda que o faça funcionar novamente!)… Também é útil rever os colegas superdotados (intelectualmente) do Direito e conversar sobre as férias. Aí a gente começa a perceber que está desperdiçando tempo vendo filmezinhos bobos e jogando cartas, quando deveria estar estudando, lendo ou trabalhando em alguma coisa de útil e produtivo para a vida sobre a face da Terra. Talvez seja hora de fazer uma visitinha à biblioteca, ou algo do tipo… 😛
Não sei se bati a cabeça, sofri alguma intervenção alienígena, ou se colocaram alguma coisa suspeita na minha comida, mas fato é que gostei da aula de hoje de Direito Financeiro. Não me pareceu tão ruim quanto nas demais aulas no decorrer do ano. Talvez assim, isolada, a matéria até pareça legal (mas é só reunir outras 10 matérias ao redor que Financeiro se torna, instantaneamente, a matéria mais chata do mundo — viva a relativização dos valores!).
Ah. E ao menos uma coisa estava errada na minha “previsão” da volta às aulas em janeiro: como o resto da faculdade está em férias, eles nos permitiram usar a sala de aula (sim, é uma só) com ar condicionado. Nada de ventiladores caquéticos: nosso frescor é proporcionado por refrigeração artificial. É um ar falso, mas bastate refrescante. Faz até a gente esquecer que é Janeiro! 🙂
O mundo necessita de mais aulas na férias (ou de mais férias nas aulas).

Privacidade na internet

Os EUA estão pressionando o Google para que libere informações sobre pesquisas realizadas por seus usuários no site de buscas. Esse duelo ainda vai dar muito o que falar. O governo americano alega que os dados serão utilizados para combater a pornografia. Outros grandes sites de busca já concordaram em liberar as informações solicitadas, mas com restrições. O único que se nega terminantemente a ceder qualquer tipo de informação é o Google, pois isso iria contra a política de privacidade do site.
Essa exigência judicial de fornecer dados abre caminho para uma discussão sobre privacidade na rede. Uma coisa é liberar dados pessoais dos usuários quando eles agem acreditando estarem protegidos pelo manto da confidencialidade. Outra situação completamente diversa seria avisar aos internautas (— que palavra bem horrível… credo!… por que não chamá-los de intenéticos? interneiros? internatos? —) que a partir de um determinado momento em diante todas as suas pesquisas online não estarão mais protegidas. Claro que isso abriria caminho para que aqueles que cometem irregularidades consigam sair impunes disso tudo, e outros tantos partiriam em busca de sistemas para burlar a escancaradice do sistema, mas ao menos todos estariam agindo com a mais pura transparência.
Enfim, o que o governo americano está querendo fazer, do jeito que está sendo feito, seja quais forem as reais intenções, é uma grande sacanagem… (mas nem por isso eu deixo de achar que tudo seria mais simples se não houvesse essa tal cláusula de sigilo quanto a que tipo de coisa as pessoas procuram em sites de buscas :P)

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Mais trabalho, menos pagamento

No meio de tanto escândalo político nesse país, é de se admirar que tenham surgido projetos como o que propõe o fim de pagamento de subsídios por convocações extraordinárias do Congresso Nacional, e o que reduz o período de recesso anual, de 90 para 55 dias.
O primeiro, já inteiramente aprovado, visa a melhorar a imagem do Poder Legislativo perante a sociedade, tão abalada(s) com os recentes acontecimentos. Nesse sentido, o Legislativo seria como a mulher de César; não basta ser, é preciso também parecer honesta. O sentimento atual é o de que se está pagando (caro) e os congressistas não estão fazendo nada (de útil). Além disso, o desprestígio do Congresso fora agravado com a recente convocação que fora feita desconsiderando os preceitos constitucionais — as convocações fora do período ordinário deveriam ser feitas com um propósito específico, e não genericamente para dar prosseguimento às votações que não puderam ser concluídas em tempo hábil. Bom saber que na próxima vez ninguém estará sendo pago para cumprir algo que não vai muito além de sua obrigação…
Nesse mesmo sentido, a proposta de emenda constitucional que propõe a redução do recesso dos parlamentares de 90 para 55 dias já foi aprovado na Câmara. Resta apenas passar pelo crivo do Senado. A emenda vem em boa hora para tentar resgatar a imagem do Legislativo, tão desgastada com os recentes escândalos políticos, como o do mensalão. A idéia de reduzir o tempo de descanso também é bastante promissora. Atualmente, os deputados e senadores são eleitos para mandatos de 4 e 8 anos, respectivamente, e, considerando-se os absurdos 90 dias de recesso anuais e o fato de que os congressistas acabam efetivamente trabalhando durante 3 ou 4 dias da semana, é como se eles estivessem cumprindo apenas 1/3 de seus mandatos. A redução ainda é pouca (um trabalhador ordinário, regido pela CLT, goza de míseros 30 dias de descanso anuais), mas representaria um total de 140 dias de trabalho ao longo de uma legislatura. De grão em grão, a galinha enche o papo. E a idéia já está rendendo frutos; a Assembléia Legislativa gaúcha (e muitas outras) já tem propostas similares de redução do período de recesso.
Enfim, todo mundo sai ganhando com o fim do subsídio para convocações extraordinárias do Congresso Nacional e com a redução do período de recesso. Ganham os deputados e senadores, que terão suas imagens melhoradas; ganha o povo, que terá mais tempo para cobrar efetivos resultados de seus representantes; ganham os cofres públicos, com o dinheiro que se vai economizar… (Entretanto, é como se as duas coisas praticamente anulassem-se mutuamente: com menor recesso, reduzem-se as necessidades de se fazer convocações extraordinárias…:P).

Volta às aulas em janeiro

Não sei se a culpa é do professor (que aderiu à greve), da faculdade (que deixa a critério de seu corpo docente participar ou não de movimentos em prol de melhorias financeiras), da reitoria (que deixou a situação fugir ao controle e permitiu que se entrasse em recesso), do governo (que não remunera suficientemente seu quadro de funcionários e repassa pouca verba para as universidades), do sistema (que “inventou” a tão-renomada profissão de advogado, e suas variantes as mais diversas), da sociedade (que sempre deu tanto valor aos jovens que demonstram interesse em cursar Direito), da borboleta (que bateu as asas neste exato momento do outro lado do planeta), dos meus pais (que encheram tanto o meu saco para que eu fizesse Direito) ou se é minha mesmo (quem mandou em aceitar ser manipulada e fazer vestibular para o curso de Direito, e ainda por cima numa universidade pública, suscetível a paralisações e a tudo o mais?), mas fato é que semana que vem acaba a greve e retornam as aulas. Até não pareceria tão absurdo ter aulas em pleno janeiro, das 8h às 11h40, com um misto de 5 ou 6 matérias em aulas extremamente tediosas, em manhãs que se derretem lentamente em um calor de 40°, com todos os alunos aglomerados em torno de caquéticos ventiladores de teto que tentam inutilmente produzir vento a partir do bafo. O grande problema é que todos já estã(m)o(s) aprovados em 4 matérias. Apenas um (maldito) professor entrou em greve, e é essa matéria que retorna dia 23. Como se não bastasse o fato de ser uma única matéria, é ainda por cima a mais chata de todas (generalizar é sempre uma coisa perigosa), e a única cuja freqüência era de uma vez por semana (duas horas-aula combinadas, toda terça, às 10h da manhã). E, considerando-se o fato de que o professor entrou em greve já lá pelo final do ano, descontando-se os feriados, digamos que no total tenham nos faltado cerca de 5 ou 6 aulas. Agora não sei o que é pior: encará-las todas de uma vez só, numa espécie de maratona, com a bendita quarta avaliação faltante ao final, ou então sofrer a doses homeopáticas, com uma aulinha por semana, no horário normal de todo o ano. Tortura lenta e ritmada: uma hora e quarenta minutos ouvindo sobre receita e despesa pública. Tortura lenta e demorada: cinco ou seis semanas de sofrimento. Tortura lenta e cruel: é impossível não estar em férias apenas um dia por semana; ou se está em férias completamente, ou não se está. Raiva, cólera, irritação, fúria, impaciência, frustração, ira, furor, iracúndia (vida longa ao Aurélio de bolso!), todas essas palavras, em outros contextos tão impactantes, parecem vazias de sentido na hora de enunciar meu sentimento atual (ou acaso isso tudo seria simples capricho de uma alma já acostumada ao ócio das férias? :P)… Enfim, também ainda não está nada definido. Certos detalhes ainda precisam ser acertados antes de assinar o cartão de mudança de endereço. Dado o inusitado da situação, a gente ainda tem que esperar a primeira aula para ver como as demais serão posicionadas. O que é (menos) pior: todas de uma vez só, ou uma a cada semana?

P.S.: Tenho percebido que só os estudantes de Direito conferem ao curso o status de algo que deva ser escrito com LETRA MAIÚSCULA. As demais pessoas parecem não se preocuparem em dar ao curso tamanha relevância. E, muitas vezes, a palavra passa batida, disfarçada de contrário de esquerda, ou oposto de algo que está torto. Prefiro dizer que faço Direito e Jornalismo (shift D, shift J, ou caps lock, como preferir). Assim mesmo, de igual para igual. E seria bacana se todo mundo fizesse o mesmo (desse jeito eu não me sentiria errada por me referir ao curso com o d maiúsculo).
(Definitivamente, o mundo está irremediavelmente torto…)

Da inexorável necessidade de consenso entre as partes

Metade de mim quer voltar às aulas logo. A outra metade ainda não sabe o que quer.

(Obs.: dia 23/01 – possível “volta às aulas” na UFPel (disciplina de Direito Financeiro, apenas)
… também provável data da prova de direção veicular
— é possível estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo?)

Maldita greve. Uma única matéria. Uma única aula por semana. Grrr.

“Tudo o que eu queria era poder viver entre aspas… (!)”