Monthly Archives: February 2008

Mais sobre o fim do jornal em papel

Muito tem se dito sobre a possibilidade de a Internet vir a acabar com o jornal em papel. Mas a situação não é bem assim: cada meio tem seu espaço, e assim como a televisão não acabou com o rádio, a Internet também não acabará com a imprensa. Meios diferentes conquistam públicos diferentes, e é preciso aprender a conviver com isso. A grande questão não é se os jornais vão acabar, e sim o que é preciso fazer de diferente para evitar que eles acabem.
Preocupada com essa situação, Romina, do blog En El Medio, traz a lista elaborada em 2005 pelo Real Simple de 10 novos usos para o jornal em papel:

1. Desodorizar caixas de alimentos
2. Amadurecer tomates
3. Empacotar coisas delicadas
4. Limpar vidros.
5. Preservar antigüidades de cristal.
6. Secar sapatos.
7. Embrulhar presentes.
8. Usar como capacho para secar as botas de neve encharchadas.
9. Preparar o jardim.
10. Manter a gaveta de verduras da geladeira seca e livre de odores.

Também daria para incluir um item 11, ou substituir o 8 (já que não temos neve), por: jornais são ótimos para fazer banheiros para animais domésticos.
Não, isto não é uma piada. A idéia é buscar alternativas ecológicas para o jornal em papel, aproveitando-se do fato de que o papel jornal é bastante absorvente. Mas óbvio que isso não tem absolutamente nada a ver com a discussão online/offline – embora seja interessante ler o artigo “Should I Cancel My Newspaper Subscription?” da Slate (via Ponto Media), que traz os prós e contras, sob o ponto de vista do meio ambiente, de se ler notícias online ou offline. Um trechinho:

“Paper may be an energy hog, but so, too, are the servers and desktops that make online newspapers possible”

Dá o que pensar. Leia o texto completo aqui.

Estudantes 2.0

A Web 2.0 abre potenciais inegáveis para a comunicação. A abertura à participação permite que, ao menos em tese, todo mundo possa se expressar em um mesmo suporte, o que faz com que a fronteira entre emissão e recepção se torne nebulosa. Além disso, o fato de que essas informações estão disponibilizadas na Internet faz com que elas possam ser acessadas e alteradas em qualquer parte do mundo.
Isso acaba abrindo um potencial enorme para os estudantes. Seus atos, anseios, opiniões e reivindicações não precisam ficar restritos a um único curso, a uma única universidade. Pela Internet, é possível mobilizar outros estudantes em prol de uma causa, ou discutir com alguém do outro lado do mundo as políticas estudantis de um determinado país.
juicy1.jpg

Mas o mesmo meio que permite um potencial democrático, também pode trazer como conseqüência um verdadeiro caos, dependendo do uso que se faça. O João Barreto sugeriu um link para uma matéria da BBC sobre o site JuicyCampus.com. O site tem gerado uma série de protestos nos EUA. Criado originalmente para ser um fórum em que universitários de diversas partes dos Estados Unidos pudessem expressar suas opiniões de forma anônima, a coisa descambou a tal ponto que, atualmente, o que mais se encontra por lá são fofocas e denúncias a respeito da vida privada de estudantes, funcionários e professores de universidades americanas. Como em um típico site de Web 2.0, dá para votar e comentar nas fofocas. E, é óbvio, as mais populares são as mais suculentas, principalmente as que envolvem drogas ou sexualidade. Já há grupos de estudantes buscando barrar o acesso ao site a partir de algumas universidades.
descolando 1.jpg

Entretanto, nem toda rede social para estudante precisa necessariamente virar uma bagunça total. Depende do modelo, depende do uso. No Brasil, há o Descolando. A proposta do site é os alunos avaliarem seus professores – dizendo se costumam faltar aulas, fazer provas difíceis, ou não explicar bem a matéria descolando - prova.jpg (também dá para avaliar coisas felizes e realmente úteis para um estudante, como: se é fácil de colar, se o professor repete provas de um semestre para outro, e se cobra presença). A idéia é permitir que os alunos possam conhecer um pouco dos professores antes de terem aula com eles, até para poder, quando possível, optar por cursar a disciplina em outra turma. Claro que algumas críticas são bem cruéis (como chamar um professor de ‘sonífero’), mas em geral não se parte para agressões pessoais. Avalia-se o tipo de aula. É possível denunciar comentários abusivos, e votar nos comentários mais pertinentes. A comunidade se auto-organiza. Diferentemente do Juicy Campus, o acesso ao Descolando se dá mediante cadastro. Para se cadastrar, todo aluno precisa estar vinculado a uma universidade (óbvio). E o acesso funciona mediante convite (aliás, tenho ainda alguns convites se algum estudante quiser testar; professores são proibidos :P). O site foi criado por quatro alunos da PUC-Rio (não é à toa que a maior parte das críticas disponíveis são sobre professores dessa instituição), mas está aberto a estudantes universitários de todo o país. Problema prático: assim que tiver muitos usuários, é bem provável que acabe tendo o mesmo destino do Classe a Limpo, da Ufrgs (outra sugestão do João), que saiu do ar esta semana, depois de inúmeras críticas que partiram para o lado pessoal.
A idéia do 2.0, a colaboração em tese, é muito boa. Pena que muitas vezes as coisas acabam desandando para a bagunça nas mãos de estudantes mal intencionados (como no caso das fofocas no site norte-americano).

Assunto paralelo: o Daniel Bender iniciou uma campanha interessante com relação à revista Veja: ele propôs uma Googlebombing associando a Veja às denúncias que vem sendo feitas pelo jornalista Luis Nassif. Saiba mais sobre o bombardeio aqui.

Por que o Twitter vicia?

Howard Rheingold, autor, dentre outros livros, de Smart Mobs, fez uma lista dos motivos pelos quais ele gosta do Twitter, meio que tentando explicar por que o Twitter vicia. De forma sintetizada, esses motivos seriam:
A abertura (qualquer um pode acessar, seguir e ser seguido – embora seja possível restringir suas atualizações para apenas conhecidos, pouca gente efetivamente faz isso), o imediatismo (as informações fluem o tempo todo), a variedade (os assuntos tratados são os mais diversos, e vão de política a tecnologia, de fofocas a notícias, de trivialidades do dia-a-dia a experiências de produção literária em 140 caracteres, etc.), a assimetria (Rheingold chama a atenção para o fato de que muito pouca gente segue exatamente as mesmas pessoas que as seguem), o fato de que o Twitter pode ser utilizado como um canal de comunicação com vários públicos (no sentido de que é possível usá-lo para divulgar informações aos seguidores, como posts de blogs, ou o andamento de determinados projetos), uma maneira de se conhecer novas pessoas, um lugar para encontrar pessoas com quem se compartilha os mesmos interesses, além de servir como uma janela para o que está acontecendo no mundo, na medida em que é possível seguir pessoas de situações e lugares os mais diferentes.
Por que esse post de Howard Rheingold é relevante? Ao que parece, ele desencadeou uma espécie de nova onda de adoração do Twitter Internet afora. Dezenas de pessoas aproveitaram a oportunidade para expor os motivos pelos quais também curtem (ou odeiam) o Twitter, fora os que já falariam do assunto em situação normal (como o Jeff Jarvis, que comenta a brevidade do Twitter em sua coluna de hoje no The Guardian).
Russell Beattie, por exemplo, parte do post de Howard Rheingold para acrescentar o fato de que o Twitter tem quase um milhão de usuários, e, mesmo assim, nele (praticamente) não se vê spam ou trolls. Na verdade, conforme foi percebido nos comentários à postagem de Beattie, até há algumas formas de se fazer spam (como ao adicionar o mesmo grupo de pessoas várias vezes, fazendo que cada uma receba zilhares de notificações de novo seguidor – a Capricho costumava fazer isso, e era extremamente irritante), mas elas costumam ser bastante desencorajadas pelos demais usuários. Agora, alguém já viu algum troll no Twitter? E pára-quedista/salsinha?
Bom, não sei se é por conta da brevidade, da rapidez, da possibilidade de conversação, da simplicidade ou da diversidade de temas tratados (ou de uma combinação entre os cinco, e muitos outros fatores), só sei que o Twitter realmente vicia…
E vocês, por que gostam ou odeiam o Twitter? É só uma bolha, ou os microblogs ainda irão marcar época?

Assunto paralelo: logo mais, às 22h40min na TV Cultura, vai ao ar a entrevista com Steven Johnson no Roda Viva. Os questionamentos foram feitos por Ricardo Anderáos (Metro), Alexandre Matias (Link/Estadão), Tiago Dória (blogueiro do IG), Gustavo Villas Boas (Folha de S.Paulo), Juliano Spyer (Radarcultura) e Ronaldo Lemos (Creative Commons). Vale a pena conferir. A entrevista já havia sido twittada pelo professor Luli Radfahrer, no dia 13 de fevereiro, data em que foi gravada.

Mercado de trabalho para jornalistas

Versão pessimista: A concorrência no mercado de Jornalismo no Brasil é grande. A cada ano, milhares de novos jornalistas saem da faculdade e tentam ingressar no mercado de trabalho. O ingresso no curso de Jornalismo se torna a cada ano mais concorrido. Mas o número de vagas nas grandes empresas jornalísticas do país não cresce na mesma proporção. O resultado é muita gente desempregada, ou tendo que ir trabalhar em outras áreas. E esse cenário assusta.
Versão otimista: O mercado de trabalho para o jornalista é bastante concorrido. Mas basta ser um profissional versátil, que sempre haverá uma vaga para quem realmente se esforça e procura. Além do mais, hoje em dia, com um pouquinho de espírito empreendedor e uma boa visão de mercado, é possível começar o próprio negócio. Nunca se teve tantas possibilidades, e muitas delas surgiram em decorrência do avanço da web. Existe vida além do jornalismo tradicional, fora das redações. E o primeiro passo é reconhecer isso.
Em qual desses cenários é mais fácil acreditar?
periodista_frustrado.jpgO Colegio de Periodistas de Chile iniciou, no final de 2007, uma campanha no mínimo curiosa. Intitulada “Não seja um jornalista frustrado“, a ação objetiva buscar esforços para esclarecer aos ingressantes nos cursos universitários de Jornalismo no país a necessidade de se observar a qualidade dos cursos e o campo de atuação do jornalista. O motivo? Um estudo realizado pela Universidade Adolfo Ibañez indicou que, após dois anos de formado, um em cada cinco jornalistas do Chile estava desempregado. Dentre os 80% que conseguiam emprego, 44% não trabalhavam como jornalistas. (Não sei como andam as porcentagens aqui pelo Brasil. Mas ver os colegas se formar e não conseguir emprego assusta mais do que um punhado aleatório de estatísticas.)
É comum atribuir o problema da falta de emprego à má qualidade dos cursos. Mas será que o problema está apenas na formação? Será que em parte também o problema pode ser culpa do aluno? Fazer um curso universitário não é uma garantia de que se adquirirá conhecimento, de que se estará preparado para o mercado. A única obrigação da universidade é fornecer os subsídios e as ferramentas (livros, aulas, atividades extra-classe) para que o aluno construa o conhecimento. Mas fazer um curso não garante que se esteja preparado para a profissão. E muito menos estar formado garante o ingresso no mercado de trabalho.
Embora não haja uma fórmula definitiva para sair do curso de Jornalismo com um emprego garantido, há inúmeras listas e sugestões do que fazer para quem, como eu, ainda é estudante e quer aproveitar ao máximo o tempo de graduação para facilitar depois o ingresso no mercado de trabalho. Abaixo, segue a lista elaborada por Greg Linch, estudante de Jornalismo da Universidade de Miami, que, em seu terceiro ano de universidade, já traz na bagagem um currículo bastante vasto e invejável – mais ou menos na linha do que representa o Dave Lee para o Reino Unido. A lista é na verdade uma compilação de sugestões e recomendações disponíveis sobre o assunto web afora (meus comentários estão entre parênteses):
1. Use bastante a Internet (algo como: existe vida além do Orkut).
2. Leia blogs sobre jornalismo online (uma boa dica é seguir o caminho da primeira edição da Ciranda de Textos).
3. Comece um blog (se você ainda tem dúvidas quanto a isso, vale a pena ler a discussão iniciada no LinkedIn e continuada no Online Journalism Blog).
4. Aprenda a contar histórias de mais de uma forma (aqui vão algumas dicas).
5. Sites importantes: entre para o LinkedIn (substituto brasileiro: Via 6) e adicione o Poynter aos seus favoritos (substituto brasileiro: Observatório da Imprensa? Jornalistas da Web? Comunique-se?)
6. Você tem experiência? Trabalhe nos veículos de sua universidade, e procure por experiências fora da faculdade (também conhecido como: estágio).
7. Utilize os recursos da universidade: converse com alunos mais antigos, e conheça seus professores (e também cabe a ressalva de que se deve procurar fazer isso ainda antes de entrar para o curso).
8. Networking: faça contatos.
9. Conheça o mercado. Leia sobre ele (siga a bolinha e acompanhe os textos desta edição da Ciranda).
10. Esteja aberto a mudanças (o que permite retornar a um dos pontos iniciais deste post: nem todo jornalista precisa necessariamente trabalhar como repórter).
(Veja a lista original aqui.)
As dicas não garantem um emprego. Mas certamente ajudam a deixar o estudante de Jornalismo um pouco mais preparado para, ao término da faculdade, tentar o ingresso no assustador mundo do mercado de trabalho. Ou, pelo menos, nos ajuda a ter uma visão do mercado um tanto mais realista (na verdade, confesso que a minha visão é a mais pessimista possível, ainda mais depois da discussão que houve na lista de Jornalistas da Web a partir de uma vaga para jornalista por lá postada que oferecia um salário relativamente baixo – essa discussão inclusive acabou inspirando a temática desta edição da Ciranda de Textos).

*Conforme antecipado alguns pixels acima, este post faz parte da segunda edição da Ciranda de Textos. Esta rodada está sendo hospedada no blog Meio Digital.

Pirataria online é crime também no Brasil

A Justiça de São Paulo condenou um homem por vender CDs piratas com músicas dos Beatles pela Internet em 2003. A Justiça do país é tão lenta que, De acordo com a APCM, esta é a primeira vez que alguém é condenado por esse tipo de crime no país.
A defesa apresentada é no mínimo interessante. O réu alegou que era fã de Beatles e que o site em que vendia os CDs era na verdade um fã clube que distribuía, gratuitamente, as cópias dos discos. (A sentença completa pode ser acessada no blog do advogado Marcel Leonardi.)
A decisão foi em primeira instância, o que significa que o condenado ainda pode recorrer. A pena, de um ano e oito meses de reclusão, foi substituída por uma pena restritiva de direitos (isso pode acontecer quando o réu preenche uma série de requisitos, dentre os quais, não ter sido condenado por nenhum outro crime nos últimos 5 anos).
Tudo bem, vender cópias de CDs pirata é um exemplo claro de violação à lei. O que muda é que a situação já não fica tão impune assim, a decisão abre precedentes para que outros também possam ser condenados pelo mesmo motivo.
Apesar de ter apenas 10 anos, nossa Lei de Direitos Autorais já anda um tanto defasada, principalmente por não prever muitos dos usos advindos da popularização e do crescimento da Internet. Um exemplo mais específico: no Brasil, não se tem o direito à cópia privada (nossa legislação não prevê a figura do fair use), o que torna a simples operação de passar as músicas de um CD comprado legalmente para mp3, para poder ouvir em um iPod, uma atividade contra a lei. (Para saber mais sobre isso, vale a pena conferir a entrevista em vídeo que Juliano Spyer, autor de Conectado, fez com Ronaldo Lemos, advogado representante da Creative Commons no Brasil – a primeira parte da entrevista trata especificamente dessa questão do fair use).

A renúncia de Fidel Castro e a mídia

Uma postagem de Marshall Kirkpatrick no ReadWriteWeb analisa o papel desempenhado pelas mídias sociais na cobertura da renúncia de Fidel Castro. A idéia geral é a de que, na Web 2.0, as pessoas consomem cada vez mais notícias de forma social (através de redes sociais, de indicações de amigos, em blogs), e, por isso, uma análise de como foram essas coberturas seria algo pertinente. O post segue a linha do Uncov, que faz divertidas críticas a empreendimentos de Web 2.0.
Os sites Digg, Mahalo, Memeorandum (não conhecia, é uma espécie de agregador da blogosfera política), Slashdot, Technorati, Twitter e Wikipedia foram analisados. Como considerações gerais, Kirkpatrick constata que o Twitter é o melhor lugar para ficar sabendo primeiro dos fatos (as informações fluem de forma rápida), porém não é bom para acompanhar os desdobramentos do acontecimento (okay, nenhuma novidade nisso – vide a categoria microblogging ali no menu ao lado). Já o Mahalo, com suas páginas de resultados construídas manualmente, fornece uma boa quantidade de links para quem busca informações básicas sobre o fato, já no meio do desenrolar do acontecimento. Por fim, a Wikipedia seria o melhor caminho para acompanhar os desdobramentos de um fato (numa espécie de megajornal em tempo real).
A partir do questionamento “What social news site can break the news, offer quality background resources and stay relevant for a global 24 hours news cylce? So far, no one but mainstream media has proven able to do that”, Kirkpatrick analisa site por site, vendo o destaque conferido ao fato logo que a renúncia foi anunciada, e mais tarde, algumas horas depois. Com isso, ele percebeu que a maior parte desses sites não continuou a dar destaque a Fidel Castro ao longo do dia. A conclusão a que ele chega é no sentido de que o potencial da Web 2.0 para notícias é imenso, mas que nenhum dos sites analisados teria conseguido fazer uma cobertura completa por si só.
Mas, espera aí… quem disse que a mídia social precisa fazer exatamente a mesma coisa que a mídia tradicional? Qual é a graça de imitar o que já faz a grande mídia??? Outro problema é que a análise leva em consideração o número de notícias, a quantidade de tempo que o fato permaneceu em destaque nas redes sociais, e não tanto o que foi dito e como foi dito. E conclui que a cobertura social foi um fracasso, sem nem ao menos analisar o conteúdo do (pouco) que foi dito. Será que as pessoas realmente queriam mais informações sobre o caso? Será que o tempo que o fato ficou em destaque nas redes sociais não demonstra o grau de importância que as pessoas realmente deram ao fato (em contraposição ao tempo excessivo que a mídia tradicional achou que ele mereceria)? E tem mais… nos comentários ao post, as pessoas se deram conta do fato de que a análise feita pelo ReadWriteWeb desconsiderou completamente a cobertura em espanhol sobre o caso – provavelmente a maior e mais completa.
Bom, de qualquer modo, passadas mais de 24 horas do fato, lanço a pergunta: como você tomou conhecimento da renúncia de Fidel Castro? Foi por blogs, pelo Twitter (enfim, pelas mídias sociais), por um site de notícias tradicional, ou por algum outro meio? E o meio escolhido foi suficiente, ou você precisou procurar mais dados por outra via?

Meme: Blogar… uma profissão?

Há vários blogs por aí que falam sobre blogs – de dicas sobre como ganhar dinheiro (com blogs) a sugestões de como começar do zero (um novo blog), passando por discussões que tratam a blogosfera como um grupo socialmente autônomo (apesar da diversidade de blogs, apesar da heterogeneidade de blogueiros) e posts que comentam a realização de eventos (sobre blogs). É tanta metalinguagem que não resta dúvidas de que, ao longo de seus mais de 10 anos de história, os blogs já se consolidaram como um meio de comunicação democrático (há controvérsias) e autônomo em relação ao jornalismo. Mas e quanto aos blogueiros – blogar já virou uma profissão?
O Bruno Cardoso, do Navalha Infame, passou-me um meme intitulado “Blogar… uma profissão?”. A idéia é discutir se o uso intensificado e diversificado dos blogs estaria dando origem a uma profissão autônoma, exercida por blogueiros, e em contraposição ao trabalho exercido pelos jornalistas. Embora eu acredite que seja difícil dizer algo novo sobre o assunto, sem cair na inevitável reverberação de argumentos, segue abaixo a tentativa de escrever alguma coisa sobre o tema.
Antes de tudo, contrapor blogueiros e jornalistas simplesmente não faz sentido. Os dois não exercem a mesma função. O jornalista (ideal) possui uma ética que lhe é própria da profissão, aprende técnicas de reportagem, faz um trabalho investigativo sério e ouve os dois lados da história. O resultado de tanta preparação e cuidado faz com que jornalistas – e jornais – trabalhem para construir credibilidade. Por conta disso, apenas por um fato ter saído em um veículo como Folha de S.Paulo faz com que ele adquira status de verdade. Já os blogs não possuem uma regulamentação – a grande graça da coisa é a liberdade de se poder escrever, do jeito que se quiser, sem se submeter a constrangimentos organizacionais (como no caso de jornalistas que trabalham para veículos de imprensa) ou a pautas impostas verticalmente (blogueiros são auto-pautados). Assim, não se trabalha em termos de busca por credibilidade, mas de busca por reputação. E a reputação é construída pela quantidade e qualidade de seguidores que se consegue atingir, pela capacidade de ser reconhecido pelos pares como “blogueiro”. E, sim, o blogueiro precisa se preocupar com o conteúdo, citar as suas ‘fontes’ (que, veja só, quase sempre são outros blogs), e usar, mesmo que intuitivamente, a noção de “valores-notícia” do jornalismo (sob pena de escrever para ninguém ler). Nessa busca por reputação, o blogueiro pode até começar a ganhar dinheiro (embora a grande maioria dos que buscam lucros prefira abusar da capacidade intelectual de seus leitores – dentro da idéia de que uma maior quantidade de leitores irá render mais dinheiro, ainda que esses leitores precisem ser enganados para que cheguem até o blog), o que nos leva ao segundo ponto.
A possibilidade de se ganhar dinheiro com blogs não significa que blogar tenha se tornado uma profissão. Posso ter como hobby pintar quadros, fazer obras realmente muito boas, e até ganhar dinheiro com isso. Também posso ter o jornalismo como profissão, ser formado, com diploma e tudo, e escrever matérias de graça para o informativo de um projeto social ou de uma ONG. Não dá para ignorar que tem gente vivendo de blogs, mas isso, por si só, não justificaria alçar blogar à categoria de “profissão” – o que nos leva ao terceiro ponto: a regulamentação das profissões.
Você consegue imaginar algo como…
Blogueiro
Norma Regulamentadora:
Lei no 210.746 de 27 de fevereiro de 2017 – Dispõe sobre o desmembramento dos Sindicatos de jornalistas e blogueiros.
Decreto no 123.947 de 31/08 de 2017 – Dispõe sobre a profissão de blogueiro e regula o seu exercício.

na lista de profissões regulamentadas, ali, logo após Biomédico? Consegue imaginar uma entidade de classe em defesa dos direitos dos blogueiros, com estatuto, regras para o exercício da profissão e até um curso superior para formar profissionais na área (algo como “Comunicação Social – Habilitação em Blogs”)? Como bem colocou Alexandre Inagaki, a graça do blog é a liberdade, tanto editorial como de forma. Dá para ter blogs sobre qualquer assunto. Os posts podem ter qualquer formato. Qualquer um pode ter um blog. Tentar acabar com essa liberdade propiciada pela ferramenta seria insano (até porque os demais blogueiros não deixariam).
Acho que não cabe aqui discorrer sobre o que é uma profissão, e por que blogar não é uma profissão – o Bruno Cardoso já fez isso, inclusive de forma divertidamente ilustrada. Em seu post, o Bruno traz a definição do dicionário Aurélio para profissão e discute por que os blogueiros não se enquadram na situação. Ele vê os blogs como ferramentas de discussão (em essência, a grande graça da coisa estaria nos comentários, e não nos lucros), e não como meio de comunicação, o que nos leva a um quarto ponto: blogs são versáteis – e, como tal, blogs podem ser muitas coisas ao mesmo tempo.
Enquanto ferramentas de discussão, os blogs são espaços de reflexão e de conversação (embora haja notórias dificuldades em se construir as conversações), distribuídos em uma complexa estrutura de rede, baseada em links, comentários, e trackbacks. Voltando à comparação (equivocada) ao Jornalismo, equiparar blogueiros e jornalistas é o mesmo que esperar que um jornalista da Folha cite uma matéria do Estadão, ou convoque outros veículos a abordar um mesmo tema, como num meme ou numa blogagem coletiva. Blogs e jornais são coisas completamente diferentes, embora por vezes ambos se utilizem de um mesmo suporte (a Internet), tratem dos mesmos temas – e, cada vez mais, jornalistas passem a “blogar” em nome de suas organizações (leve ressalva: a maior parte desses ‘blogs’ não passa de uma versão digitalizada das colunas dos impressos – porque ter um blog é muito mais do que escrever em ordem cronológica inversa e abrir para comentários).
Bom, resumo da ópera: blogar não é profissão (talvez uma atividade, uma ocupação) – embora no futuro possa vir a ser (nunca se sabe; imagino como não devia ser a situação do exercício do jornalismo até ser oficialmente regulamentado) – e a grande graça da coisa é poder falar e ser ouvido, é poder postar e receber comentários, é poder escrever sobre o que se gosta, do jeito que se quiser, e quando bem entender (embora a perspectiva de ter 4 leitores às vezes assuste um pouco).

O caminho do meme
Tudo começou em um post da Ana Brambilla. Ou melhor, o buraco é mais embaixo: tudo começou com as “hostilidades” cometidas por blogueiros contra a imprensa no Campus Party – e que na verdade os jornalistas pareciam estar levando numa boa, mas isso não vem ao caso – e no debate que ocorreu por lá entre blogueiros e jornalistas. Ou melhor, o buraco é mais embaixo ainda: a discussão já tem rolado há muito tempo pela blogosfera afora.
O Thalles Waichert, do iBlog, resolveu continuar a discussão iniciada pela Ana Brambilla sobre se blogar seria uma profissão, e transformou o assunto no meme “Blogar… uma profissão?”, convidando outros blogueiros a manifestarem a sua opinião sobre o caso. Aí o Thalles passou o meme para, dentre outras pessoas, o Yuri Almeida, que, por sua vez, passou para o Bruno Cardoso, e através dele o meme chegou até aqui. E como nessas situações nunca sei para quem repassar um meme, fica o convite para quem quiser se manifestar sobre o assunto. Convoco, em especial, o Gilberto, que recentemente fez um post sobre como os jornalistas poderiam aproveitar o potencial dos blogs para se tornarem, eles próprios, verdadeiros veículos de comunicação social.

Futuro 2.0: um mundo sem advogados?

Richard Susskind, professor e consultor britânico na área de tecnologia da informação, autor do livro “The future of Law“, lançou a hipótese polêmica de que, em um prazo de 100 anos, a profissão de advogado já não existirá mais. A idéia é a de que a mercantilização da função, aliada à popularização das tecnologias de informação e aprimoramento das redes colaborativas online, estariam fazendo com que a profissão caminhe rumo à obsolescência e à desnecessidade.
Muitos advogados têm criticado a previsão de Susskind de que a advocacia está com seus dias contados. Entretanto, como aponta Suzana Cohen, no Bricolagem High Tech, “O que grande parte das pessoas não leva em conta, no entanto, é que essa previsão a respeito do “fim do advogado” deve ser vista como a profissão em seus MOLDES ATUAIS”. Ou seja: o advogado não vai desaparecer, sumir do mapa. Mas sua atuação tem grandes chances de sofrer transformações drásticas por conta do potencial de colaboração advindo da Web 2.0.
Por motivos parecidos, já se argumentou que os jornalistas estariam com seus dias contados, e com uma morte prevista para ainda mais breve (para daqui 6 anos, para ser mais exata – isso sem entrar no mérito da discussão sobre a necessidade de diploma). Apesar das previsões apocalípticas, o que se tem observado é que, ao invés de se extinguirem, as profissões estão se transformando. Vejamos o caso dos jornalistas. Com a onda de colaboração e participação, o jornalista pode deixar de ser aquele que coleta e produz a notícia, para se tornar o que confere, seleciona e hierarquiza as informações. Mesmo aqueles que ainda produzem conteúdo, também passam a receber a nova tarefa de lidar com comentários, com opinião dos leitores (co-autores?) no mesmo espaço e praticamente ao mesmo tempo da emissão. Em síntese, jornalistas precisam aprender a administrar comunidades.
Com advogados também poderá ser assim, mas com um pouquinho mais de tempo para a reformulação da profissão. Em entrevista à Revista Época de 04 de fevereiro, Susskind afirma que “A internet encoraja a comunicação e a colaboração. No futuro, teremos comunidades de clientes dividindo os custos de serviços jurídicos similares. Também haverá na rede roteiros gratuitos sobre as leis”. Desse modo, assim como os jornalistas 2.0, o advogado do futuro também deverá aprender a gerenciar comunidades (aquelas, nas quais, por exemplo, os consumidores lesados discutirão a melhor solução para seus problemas similares, com base em leis, que já se encontram na Internet, e nos roteiros didáticos ainda a serem criados). E não é algo para um futuro remoto, para daqui 100 anos. É algo para agora.
O questionamento de Richard Susskind sobre o fim dos advogados virá na obra “The End of Lawyers?”, prevista para ser lançada ainda este ano. Enquanto o livro não fica pronto, é possível acompanhar um suplemento especial do Times Online para discussão do tema. Sínteses de trechos da obra podem ser conferidos no espaço, além da opinião de outros profissionais – advogados ou não.
Via Bricolagem High Tech.

Assunto paralelo: realizou-se hoje uma blogagem coletiva contra a pedofilia, organizada por Luma Rosa, do Luz de Luma. Vários blogueiros participaram da iniciativa (a lista completa pode ser acessada aqui). Tomei conhecimento da iniciativa um tanto em cima da hora, a partir de um post do Gustavo D’Andrea (aliás, ele próprio um autêntico advogado 2.0), e não deu tempo para participar. De qualquer modo, vale a pena conferir as discussões levantadas sobre a temática blogosfera afora.

Twitter e consumo de notícias

Uma pergunta para aqueles que seguem veículos jornalísticos no Twitter (G1, Último Segundo, BBCBrasil, etc.) – vocês efetivamente acompanham o que dizem os veículos, ou preferem tomar conhecimento dos fatos pelas atualizações dos amigos? (Óbvio que não me refiro aqui àqueles que lêem notícias apenas pelo Twitter – seria insano, não? – mas aos que, além de recorrer a outros sites e meios, também acompanham notícias pelo Twitter).
Chris Garrett, do Blog Herald, questiona se o Twitter não estaria modificando nossos hábitos de consumo de notícias. Garrett comenta que a maior parte das notícias que ele lê atualmente é lida a partir do Twitter (em detrimento de outros meios ou de outros sites). Mas não necessariamente essas notícias vêm da mídia tradicional – ele também fica sabendo das novidades a partir das sugestões dos amigos.
O questionamento veio logo após a morte de Heath Ledger, em janeiro – ocasião em que os usuários do Twitter mostraram-se particularmente ávidos em (re-)informar a novidade, disputando o direito ao furo (ou re-furo, pois reverberavam um fato anteriormente divulgado pela mídia). Mas será que as pessoas realmente acompanham o que diz a grande mídia, ou preferem ler o que seus amigos dizem sobre o que diz a grande mídia? É mais ou menos assim: é mais provável que você tenha tomado conhecimento da morte do Heath Ledger porque algum dos seus amigos comentou sobre o fato (algo como “oh, pobre Ledger, era tão novo e foi dessa para uma melhor”) do que propriamente por ter visto a atualização do G1, por exemplo, com link para matéria sobre a morte. Não sei quanto aos outros, mas, de minha parte, já até desenvolvi uma espécie de “filtro subconsciente” para o mar de atualizações no Twitter, e na maior parte das vezes acabo ‘pulando’ o que dizem os veículos para ler logo as atualizações dos amigos.
Para quem busca notícias, o Twitter traz alternativas interessantes. Há desde empresas jornalísticas que disponibilizam bots automáticos para manchetes e links (mais ou menos desempenhando o papel de um feed) até complexos projetos colaborativos que contam com a participação de vários usuários (também tem vários experimentos praticamente desertos, mas isso é outra questão). A idéia geral é que, se você seguir vários bots de notícias no Twitter, é possível receber notícias o tempo inteiro. Mas isso, por si só, não significa que a pessoa estará bem informada. É como ao assistir televisão: se você não assistir ao telejornal, não vai ficar sabendo das notícias (e isso vale mesmo que a televisão esteja ligada durante o jornal, mas você esteja longe dela).
Assim, há um problema prático ao se usar o Twitter para tomar conhecimento das notícias: como Tamar Weinberg aponta em seu post sobre o consumo de notícias em redes sociais, publicar notícias é apenas uma das 17 maneiras de se utilizar o Twitter, o que significa que é extremamente fácil se perder no fluxo contínuo de informações (a menos que se crie uma conta APENAS para acompanhar notícias, o que ainda leva ao segundo problema prático de simplesmente se esquecer que essa conta existe e voltar a consumir informações apenas na conta principal do Twitter – aquela que tem seguidores, permite falar e ser lido e responder às mensagens dos outros).
Com isso, retorno à pergunta inicial: dentre os que acompanham notícias pelo Twitter, quantos, efetivamente, o fazem a partir de veículos tradicionais? E, só para complicar ainda mais as coisas, substituta “Twitter” por “Internet” ao longo do post, e tente responder à pergunta, tentando pensar na relação blogs, redes sociais, conteúdo colaborativo X sites tradicionais de notícias.

Assunto paralelo: Lembram da perguntinha embutida como assunto paralelo alguns posts atrás? Obtive o imenso total de QUATRO respostas, e cada respondente anônimo (ou quatro vezes a mesma pessoa) informou ter chegado ao blog de uma forma diferente… Dos quatro, dois chegaram por feed, um por link em outro blog, e outro por indicação de amigos. Veja o gráfico abaixo:

Interpretação absurda dos dados: Versão otimista: tenho apenas quatro leitores, dos quais dois são fiéis (assinam o feed). Dos dois fiéis, um tem blog e colocou link para o meu blog em algum lugar (o que explica o leitor que chegou por link em outro blog). O outro leitor do feed indicou o blog para um amigo (o que explica o quarto leitor). Versão pessimista: Tenho um único leitor, e este, sentindo pena, respondeu a pergunta quatro vezes, de formas diferentes e aleatórias. Versão pulso-cortante: Eu mesma respondi o questionário quatro vezes, enquanto testava o sistema, e esqueci de apagar os dados. Versão super otimista: o questionário estava fora do ar, daí muitas possíveis respostas se perderam. Versão extremamente otimista: o Google entrou em colapso com tantos acessos ao questionário que esqueceu de coletar as milhares de respostas obtidas. Versão realista: colocar uma pergunta teste como assunto paralelo em uma postagem sobre outro assunto não foi uma boa idéia 😛 (e vejam que insisto no erro, colocando o resultado novamente em assunto paralelo).

Quer uma solução mágica para a pirataria? Expulse os infratores da Internet!

pirataria.jpgUma matéria do The Guardian informa que o Departamento de Mídia, Cultura Esportes do Reino Unido pretende criar uma lei para reprimir o download ilegal de músicas e filmes no Reino Unido. A lei imporia como punição máxima, a partir de um acordo com os provedores, a expulsão da Internet dos usuários que reincidirem no crime de baixar arquivos ilegais, em um sistema de três “chances”:
– Na primeira infração detectada, o usuário receberia um e-mail de alerta para que não repita a prática;
– Se reincidir, recebe uma suspensão do serviço de Internet;
– Caso insista, o contrato de acesso à Internet é encerrado.
Segundo estimativas do governo britânico, cerca de 6 milhões de usuários fazem downloads ilegais a cada ano no Reino Unido. (No Brasil, de acordo com um relatório da Federação Internacional de Produtores Fonográficos, são 1,8 milhão de downloads ilegais por ano.)
Bom, vejamos… Primeiro, impedem a pessoa de converter as músicas de um CD para mp3. Daí o cidadão recorre à web para conseguir alguma coisa para ouvir em seu iPod, e acaba ficando sem acesso à Internet. Fica complicado escutar música assim, não?
Alguém dúvida que, caso essa lei seja posta em prática, surgirão muitas alternativas para burlar o sistema? (vide caso do Hulu, teoricamente restrito a usuários norte-americanos) A lógica P2P simplesmente não tem mais como ser controlada (embora haja caminhos para reduzir a pirataria).
Digamos que a lei do Reino Unido seja criada, e eles até consigam suspender o serviço de algum usuário, mas o que impediria essa pessoa de contratar conexão por outro provedor, ou acessar a Internet a partir de outros computadores? Impedir a conexão à Internet de um indivíduo que faz download ilegal requereria um esforço tremendamente absurdo, que poderia ser melhor empregado para reprimir outros tipos de crimes virtuais.