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Palavra do ano: desinformação

A palavra do ano é desinformação. O site Dictionary.com elegeu “misinformation” como a palavra do ano.

Na falta de uma tradução literal precisa, podemos mais ou menos traduzir como desinformação, ou, conforme a definição do site, “informação falsa que é espalhada, independente de haver intenção de enganar”.

Embora esse termo tenha sido escolhido por um site norte-americano, ele diz muito sobre a situação vivida no Brasil ao longo de 2018. Durante o período eleitoral diversos casos de “desinformação” puderam ser observados. Era possível ver informações falsas circulando em todos os lados do espectro político – principalmente a favor e contra os principais candidatos.

Esse termo deve continuar a ser relevante nos próximos anos, também, à medida em que os novos candidatos assumirem o governo. Seguirá relevante, ainda, em escala mundial, e em outros contextos que não a política.

Os sites de rede social e os algoritmos de propagação de conteúdo facilitam a disseminação em massa de informações falsas ou errôneas. Assim, mesmo que não se tenha a intenção de espalhar informações falsas, como a definição do termo sugere, pode-se acabar compartilhando uma informação sem saber ter sido criada com o intuito de gerar discórdia. A informação falsa, muitas vezes, parece verdadeira. Ela é feita para parecer verídica – muitas vezes até cita fontes sérias para parecer verdadeira.

Porém as informações falsas não são novidade da era das redes sociais. Boatos, correntes, notícias falsas, tudo isso já circulava nos primórdios da internet (e até fora dela). Antes dos sites de rede social, as correntes falsas eram distribuídas por email. Antes do Facebook, circulavam via scrapbook e mensagens no Orkut (inclusive esse assunto já foi abordado  inúmeras vezes neste blog aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

O que muda com os sites de rede social é a escala da distribuição. Se antes se dependia de passar o email de uma para outra pessoa, para um consumo privado, hoje, com um clique em um botão, é possível espalhar essas informações falsas para vários contatos ao mesmo tempo, e até para potenciais desconhecidos (nossas audiências invisíveis), num consumo semi-público das informações.

Outra novidade dos tempos contemporâneos são os bots, ou contas automatizadas dedicadas a postar e compartilhar notícias falsas. As notícias falsas compartilhadas pelos amigos (sabendo ou não se tratarem de notícias falsas), combinadas com as informações falsas postadas pelos milhares de bots, acabam por criar uma falsa ideia de consenso. Passa-se a achar que “todo mundo” pensa como nós, quando, de fato, pode se tratar de uma mera combinação de algoritmos com informações falsas sendo disseminadas – a tal da desinformação.

 

 

Em tempo: Percebi que, sem querer, desde 2014, tenho feito apenas um post por ano neste blog.

 

Como assistir The Voice ao vivo

Planejando uma viagem para Los Angeles? Saiba como assistir à gravação de um ou mais episódios de programas de televisão. 

 

No final do ano passado, tivemos a experiência de assistir a um episódio do The Voice norte-americano ao vivo. E foi interessante descobrir que é relativamente fácil passar pela experiência de assistir à transmissão ao vivo ou à gravação de um programa nos estúdios de Hollywood. Só é preciso ter um pouco de paciência e planejar com antecedência.

 

O primeiro passo foi marcar a viagem para Los Angeles. Depois de saber as datas que estaríamos por lá, o passo seguinte foi começar a pesquisar os sites que fornecem tickets para programas de TV, com 1iota (Universal Studios) e Audiences Unlimited (Warner). Os ingressos são fornecidos gratuitamente, mas os sites diferem em termos de critérios. Para o Audiences Unlimited, o critério é agilidade – quem pedir primeiro leva. No 1iota eles vão oferecendo os tickets aos poucos mais próximo da data – e podem até mesmo avisar 24 horas antes que há um novo lugar disponível. Como não é possível planejar com muita antecedência, o ideal é fazer nessa ordem mesmo – primeiro decidir as datas da viagem para Los Angeles, e só depois pesquisar que programas de TV será possível assistir nessas datas.

Além do ingresso para o The Voice, também tínhamos ingresso para ver The Big Bang Theory na mesma data. Acabamos optando pelo programa ao vivo mais pela experiência de ser ao vivo mesmo (o Big Bang é gravado, e a “participação” da audiência se limita às risadinhas ao fundo).

A seguir descrevo o processo para obter os ingressos para os dois programas, e também comento um pouco mais sobre a experiência de acompanhar o The Voice.

 

The Big Bang Theory – ingressos via Audiences Unlimited

 

O site Audiences Unlimited disponibiliza os ingressos 30 dias antes da exibição, às 8:30 da manhã (horário de Los Angeles). Eles só liberam ingressos em dias de semana, então pode acontecer de os ingressos só aparecerem por lá 29 ou 28 dias antes da transmissão. Ao menos até o final de 2017, o programa era gravado nas terças-feiras à tarde. Entrei no site 29 dias antes, numa segunda-feira, 8:30, para pegar os ingressos. The Big Bang Theory é muito concorrido, e os ingressos todos esgotam em questão de minutos. Além dos ingressos, eles também oferecem espaço na lista de espera (que significa que você tem o direito de ir até o estúdio no dia, mas ficará numa fila de espera para aguardar se teve alguma desistência). Cada ingresso precisa ser solicitado individualmente. Seguindo uma dica de um blog, assim que bateu 8:30 eu abri duas janelas do navegador (para pedir dois ingressos), preenchi os dados dos dois, e cliquei enviar ao mesmo tempo – isso foi feito para não correr o risco de conseguir ingresso para um, e não para outro, ou acontecer de um ficar na lista de espera enquanto o outro consegue o ingresso. Consegui os ingressos 8:34, e por volta de 8:37 já estava na lista de espera. Foi muito rápido mesmo! Eles enviam o ingresso por email na hora, já com instruções de como chegar, como estacionar, que horário chegar no estúdio, etc. Em geral eles pedem para chegar cerca de 2 horas antes, e a gravações tem duração estimada de 2 horas – ou seja, prepare-se para gastar praticamente um dia inteiro por lá. A ordem de chegada é importante, pois vai determinar onde você vai sentar no estúdio. Chegar antes tem suas vantagens – mais chance de conseguir sentar de frente pro apartamento to Sheldon, ou para algum cenário legal.

 

The Voice – ingressos via 1iota

 

Já os ingressos para o The Voice foram solicitados pelo site 1iota. Nesse site é possível criar um perfil – com foto e informações pessoais – e ir solicitando ingressos para os programas que você tem interesse. Eles não dão a resposta de imediato. Quando estiver mais próximo da data, eles podem enviar um email dizendo que você conseguiu o ingresso, ou está na lista de espera. Aí você precisa confirmar que pretende ir, ou então o ingresso vai passar para o próximo da lista, e assim por diante. Como você precisa cancelar se não for no evento, é possível receber um email com o ingresso 24 horas antes do evento. Recebemos o ingresso cerca de 10 dias antes da data do programa.

 

O programa que fomos assistir era ao vivo – vimos o Top 12 da temporada 13 do The Voice. Por se tratar de um programa ao vivo, as dicas e restrições são bem mais complexas. Eles também enviaram instruções de estacionamento e tipo de roupa esperado (arrumadinho estilo festa/jantar legal, mas sem que apareça nenhuma marca ou logo). Os estúdios da Universal ficam dentro do parque da Universal, então eles enviaram um passe de estacionamento para estacionar de graça dentro do parque e depois instruções de onde ir para pegar o trenzinho para o estúdio. Para o The Voice, foi necessário chegar 3 horas antes do início do programa – e o programa em si teve duração de 2 horas (era ao vivo, então ao menos sabíamos ao certo quanto tempo ia levar). Eles providenciam algumas formas de entretenimento enquanto se espera, então não é tão cansativo assim. E fornecem água à vontade. Só tem banheiro químico – mesmo no estúdio – o que é um pouco desconfortável, mas nada absurdo. Não faz muita diferença chegar mais cedo do que a hora indicada no ingresso ou não. Como o programa é ao vivo, eles fazem uma seleção bem cara de pau na hora de entrar. Eles olham para a cara da pessoa e colocam uma pulseira de uma cor específica. Na hora de posicionar as pessoas no estúdio, eles fazem isso conforme a cor da pulseira. Jovens bem arrumados e que ficam bem na TV vão parar de pé ao redor do palco. Pessoas mais velhas, ou mais mal arrumadas, vão parar em pontos onde a  câmera mal pega, no topo da arquibancada. Nós sentamos numa área atrás dos jurados – o que significa que praticamente não aparecemos na tv, mas ao mesmo tempo significa que podíamos ver o palco de frente.

Em ambos os programas, não era possível entrar no estúdio com celular ou qualquer equipamento eletrônico. Eles recomendavam ir de carro e deixar eletrônicos no carro – ou usar um dos armários de aluguel do parque da Universal.

 

Sobre o The Voice em si

 

Assistir ao programa foi bem cansativo mas interessante… ficamos cerca de 2 horas numa área de espera, e 1 hora antes fomos para o estúdio. Lá eles dão instruções específicas – tipo levantar e bater palma quando volta do intervalo, ou quando alguém começa a cantar. Palmas e comemorações ao longo da música são opcionais e espontâneas, mas no começo de cada música é obrigatório. Mas é interessante ver que durante o intervalo eles correm para mudar o estúdio para o próximo concorrente – mudam o cenário completamente. É interessante ver essa parte mais de “como se faz a salsicha”.

Também foi interessante ver o top 12, pois tivemos a oportunidade de ver 12 artistas cantarem (depois de tê-la visto cantar ao vivo, não consigo acreditar que a Janice Freeman acabou saindo na semana seguinte, foi sem dúvida a voz mais “poderosa” de se ouvir ao vivo – mas talvez na TV não soe tão impressionante). Como era o primeiro programa ao vivo, também tivemos um “bonus” – um mini show do Maroon 5 (uma música, cantada duas vezes porque a primeira não ficou muito legal na câmera, que no fim das contas acabou sendo exibido em um programa futuro).

Também é interessante observar o comportamento dos jurados nos intervalos. Blake Shelton e Adam Levine ficam no celular. Miley Cyrus sai para caminhar, conversa com os outros jurados. Jennifer Hudson estava o tempo todo comendo umas frutas, o prato de frutas voltava a cada intervalo.

Na saída, estávamos todos na fila esperando o trenzinho para voltar para o estacionamento quando uma camionete grande estava sofrendo para dar ré para sair. Todos os outros carros saíram do caminho, e um segurança foi tentar ajudar com gestos o motorista com dificuldades. No final, quando o carro finalmente saiu da vaga, Miley Cyrus abriu o vidro e agradeceu a ajuda – era ela quem estava dirigindo.

O terceiro

O terceiro é meu personagem favorito no mundo jurídico. Ele não é nem eu, nem você, mas outro, terceiro em relação a nós. O terceiro é aquele que sem querer se mete na relação estabelecida – seja por contrato, seja em decorrência da lei – entre o primeiro e o segundo. Num processo, há autor, réu, e terceiros. Num contrato, tem-se contratante, contratado, e terceiros. Num blog ou em qualquer texto escrito, há um autor, um leitor, e os terceiros – aqueles, além de você, que deixaram comentários, ou até mesmo aqueles que leram antes mas não deixaram rastro algum.
Há sempre uma competição no mundo jurídico. Dizem por aí que o terceiro quer sempre ser primeiro, ou segundo. Se você vende uma casa e depois descobre que ela não era sua, mas estava em nome de terceiro, o terceiro vira primeiro e você se torna o terceiro. Da mesma forma, se decide dar a palavra para o terceiro em algum processo ele pode vir a se tornar segundo – quiçá primeiro – junto ou no lugar do primeiro ou do segundo.
O terceiro é aquele que impele você a escrever cada vez mais em seu blog. O terceiro é o que indiretamente se beneficia de tudo, mesmo que não precise fazer qualquer coisa para que esse benefício o alcance – basta deixar agir o primeiro e o segundo.
A posição do terceiro é bastante cômoda. O problema é quando nos acostumamos a ser terceiros e deixamos de ser protagonistas de nossas próprias vidas…

Post relacionado: O terceiro de boa-fé

Para que eu quero descer

Nas últimas semanas, deixei de falar sobre vários assuntos. Deixei de comemorar os 5 anos da Verbeat (embora só esteja aqui há menos de 2), de divulgar o protesto contra a ditabranda (o Global Voices fez um interessante apanhado geral sobre o caso), não comentei sobre o Projeto 701, do Gustavo D’Andrea, que propõe o estímulo à criação de novos blogs jurídicos (aliás, seria mais um meme que eu passaria para o Sérgio). Também perdi de dar meus palpites sobre a questão da privacidade no Facebook com a mudança/desmudança nos termos de serviço, ou então sobre a nova página inicial do site, que ficou com cara de Twitter, mas com uma pergunta título diferente (agora é “Qual é a sua opinião?”). Não falei da nova casa do Marmota (embora tenha me identificado com um dos primeiros posts por lá), deixei de atualizar o menu ali do lado (blogroll necessita atualização). Não dei mais detalhes sobre a pesquisa do Twitter (mas recomendo a leitura dos posts da Raquel, aqui, aqui e aqui). Daria para ter comentado também toda a questão do sequestro interparental (sem trema, assim como o título desse post deve ter ficado ambíguo sem o acento diferencial – título, aliás, copiado daqui – fora que até as ideias já não são mais as mesmas!), assunto que esteve (está ainda?) em alta na mídia em função do garoto Sean – seu pai inclusive colocou anúncio no Facebook. Também não comentei o Twitter como capa da revista Época, não critiquei o fato de o senador Azeredo estar tentando apressar a votação do projeto de cibercrimes – nem recomendei que as pessoas assinassem a petição. Também dava para ter falado que está acontecendo uma consulta pública em busca de sugestões para a alteração do currículo dos cursos de Jornalismo (aliás, dá para enviar sugestões até 30 de março). Fora os vários outros assuntos que passaram e nem lembro agora.
Dava para ter falado de muita coisa, de qualquer coisa, de nada, de tudo.
Ou melhor: dá ainda. O bom de um blog é que a gente determina o ritmo. 🙂

Humanos, máquinas e o CAPTCHA

Com o avanço das técnicas de produção e difusão de informação, novos sistemas informáticos cada vez mais complexos podem passsar a ser empregados para as finalidades as mais diversas, desde a substituição por órgãos humanos até a produção de conteúdo. Ao mesmo tempo que isso abre precedentes fantásticos – como no caso do desenvolvimento da técnica de inteligência artificial, ou na biomedicina – a mesma tecnologia também pode ser empregada de formas maliciosas por pessoas mal intencionadas. E é mais ou menos por aí que surgem os spams nos comentários dos blogs (ok, transição tosca).
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Esse CAPTCHA simpático aí de cima aparece no site do Tribunal de Justiça do RS
Uma das maneiras de se evitar uma avalanche de spams em comentários de blogs é o CAPTCHA. O termo CAPTCHA é na verdade um acrônimo (por isso é escrito assim, em MAIÚSCULAS) para Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Aparts – sim, isso mesmo, um teste para determinar se você é humano. Por meio de uma pergunta simples (teoricamente simples) e que qualquer humano possa responder, a idéia é que o teste seja capaz de diferenciar homens de máquinas (ou humanos de sistemas automatizados construídos para se passar por humanos). Por conta disso, o CAPTCHA (aquele negocinho que aparece quando se tenta comentar em blogs Verbeat, por exemplo – dá uma olhada ali embaixo, ao final do post, ou então ali em cima, na figurinha) é considerado uma espécie de inversão do teste de Turing, na medida em que se trata de um teste que, ao invés de ser usado por um humano para descobrir se se está diante de uma máquina, é empregado por uma máquina para descobrir se está diante de um humano!
De acordo com o HowStuffWorks, não chega a ser algo tão ruim quando um CAPTCHA consegue ser burlado por spammers, na medida em que, “para um teste CAPTCHA falhar, é preciso que alguém tenha encontrado uma maneira de ensinar a um computador como passar por ele. Em outras palavras, toda falha de um CAPTCHA é de fato um avanço na inteligência artificial”.
Diante de um CAPTCHA, somos levados a refletir sobre nossa condição humana, e o quanto a técnica está impregnada em praticamente todos os aspectos de nossa vida. A presença do CAPTCHA está ali, ao final do formulário, hipermediando o processo, não para que nos irritemos e desistamos de ir adiante, mas sim para nos fazer ver que somos humanos, e, enquanto tais, apesar do embaralhamento das letras, apesar das figuras complexas, apesar dos cálculos bizarros (os Mathematical CAPTCHAS), apesar dos sons desfigurados, apesar de tudo, ainda cremos sermos capazes de dominar a máquina superar o CAPTCHA e ir adiante em nosso rumo. (Claro que, idealmente, bem que os sites não precisavam exagerar na dose – aliás, será que um dia precisaremos chegar a este ponto?)

O mundo dos fakes

Cansado de sua vidinha online pacata? Crie um fake! Você pode interagir em diversas comunidades no Orkut, passear quase incólume por sites como fóruns de discussão e bate-papos, e até mesmo arrancar boas risadas dos demais usuários do Twitter. Tudo isso sem ter que se preocupar em ser você mesmo.
Na escalada social do dia-a-dia, precisamos a todo momento tomar conta de nossa identidade, de forma consciente ou inconsciente. Na prática, como nem todo mundo é paranóico com sua própria imagem o tempo todo, muita coisa passa batida, e mesmo sem querer o que não queríamos demonstrar pode acabar se transformando no modo como os outros nos vêem (Goffman vai dizer que há as impressões dadas, a parte que a gente controla, e as impressões emitidas, aquela parcela de nossa identidade que foge ao nosso controle).
Mas e naqueles momentos em que tudo o que se quer é simplesmente relaxar? Bom, para essas situações, pode-se recorrer a um perfil fake.
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Praia deserta para fakes no Orkut
No Orkut, há todo um submundo dedicado aos fakes. Há shopping de fakes, festas de fakes, e até mesmo uma agência de adoção para bebês fakes. Fakes casam, têm filhos, visitam lugares exóticos, e até “morrem” (morrer, em linguagem fake, significa deletar seu perfil). O problema é que os fakes acabam levando uma vida tão normal, mas tão normal, que precisam também enfrentar o dilema de conseguir cada vez mais e mais amigos. E o que era para ser solução acaba se transformando em um novo problema. Se é para ter os mesmos problemas de um perfil normal, qual a vantagem de ser fake? A vantagem pode ser vista neste vídeo: A liberdade. A possibilidade de se reinventar a cada dia. A experimentação de identidades. A construção e representação de novos papéis, ainda que virtuais.
No Twitter, ao menos por enquanto, a apropriação da ferramenta pelos fakes tem sido um tanto diferente. Se no Orkut o propósito é mais voltado para a experimentação de identidades, no Twitter os fakes buscam parodiar personagens famosos. Para que a paródia faça o máximo de sucesso, é preciso elevar à máxima potência o controle das impressões emitidas pelo personagem que se quer interpretar. Como resultado, alguns personagens fakes fazem enorme sucesso.
Picture 11 Há a Maisa do Sabado Animado, a Dercy Gonçalves, e até um Delegado da Polícia Federal fake. Fakes até conversam com outros fakes. Mas o sucesso mesmo é do Vitor Fasano (a versão fake do ator Victor Fasano; há até mesmo uma versão fake do fake, bem como uma versão fake do fake do fake, além de uma versão fake do fake do fake do fake). Muitos até mesmo passaram a adotar um estilo VF de vida.
Criar um fake não é nada fácil. Criar um fake verossímil, então, é mais complicado ainda. Você precisa captar a essência do personagem a ser incorporado de tal modo que interaja com os demais de uma forma natural. De certa forma, o VF do Twitter consegue fazer isso com maestria. Até mesmo fora do próprio Twitter.
Por outro lado, “incorporar” traços da personalidade de outras pessoas pode ser considerado crime, como no caso da falsidade ideológica (art. 299, do Código Penal). Há um limite entre a piada saudável e o abuso. Além disso, há quem se valha de fakes para cometer crimes, como os de ofensa a honra. Um fake pode até mesmo acabar com uma vida real. Literalmente. Criar um fake de um personagem de desenho animado é completamente diferente de criar um fake para sacanear seu vizinho.
Embora a maior parte dos fakes saia impune (só do ator Victor Fasano, são 4 versões fake no Twitter, e pelo menos outras 10 no Orkut), há a possibilidade de haver ações no judiciário contra aqueles que extrapolam o limite entre diversão e crime.
Alguns perfis fakes para acompanhar no Twitter:
(claro, só o VF realmente vale a pena seguir)
Silvio Santos
Padre Voador
Regina Volpato
Dercy Gonçalves
Maisa Silva (outra versão)
Roberto Justus
Regina Duarte
Leila Lopes
Ruth Lemos (a do sanduiche-iche)
Mari Alexandre
Elza Soares
Eliana
Palmirinha Onofre (alguém me ajuda – quem é este ser???) – vídeo aqui. (Valeu, oProfeTa!)
Tiririca
Ronnie Von
Hebe Camargo
Xuxa
Ana Maria Braga
Susana Vieira
Fábio Assunção
Glorinha (???)
Cissa Guimarães
São Longuinho
Jesus Cristo
Mais sobre fakes no Twitter:
EGO Notícias: O diário falso de Victor Fasano, Roberto Justus, Leila Lopes e outros famosos
De Repente: A “mídia” e a popularização do twitter
A História Doce: Fakes de famosos invadem o twitter
Mashable: Is Social Network Identity Theft a Crime? No, a Pain in the Arse

Facebook na vida real

Já imaginou como seriam estranhos nossos relacionamentos sociais se nos baseassemos no que fazemos na Internet para interagir com as pessoas no mundo offline? Pois foi pensando nessa situação que o grupo de comédia inglês Idiots of Ants gravou um video que de certa forma ilustra como seria o Facebook na vida real – são dois minutos de cutucada, mensagem na parede, e pedido de confirmação de amizade. (Senti falta de uma tentativa de tentar converter o amigo em vampiro ou zumbi…)

Via En el Medio (“apud” Dutto PR).

Outro video interessante, também sobre a temática de redes sociais na Internet, é o Social Networking Wars, do Current.com (via O Lago).

Cenas do cotidiano

“Uma galinha, uma galinha, uma galinha, uma galinha”
Agora há pouco, no McDonald’s, uma família finalizou o seu lanche, e a mãe levou as crianças ao caixa para escolher a sobremesa. O menino mais novo notou que, ao lado do caixa, estavam expostos os brinquedos desse mês do McLanche Feliz. Tendo se interessado por uma das opções, a criança começou a gritar, estridentemente:
“Olha, mãe, uma galinha! Eu quero uma galinha, uma galinha, uma galinha, uma galinha”.
Ao que a mãe responde:
“Mas meu filho, já tens o coelho”.
A criança olha para o próprio coelho, olha para o mostruário dos brinquedos, e continua:
“Mas é uma galinha, uma galinha, uma galinha, uma galinha. Eu quero uma galinha, uma galinha, uma galinha, uma galinha”.
Quer saber qual é a galinha que o menino tanto queria? Confira abaixo, do material de divulgação dos brinquedos deste mês:

E então, já descobriu qual deles é a galinha?
O Papa-léguas ou Bip-Bip é, na verdade, uma ave típica do deserto norte-americano, mais ou menos do tamanho de uma galinha (e aqui terminam as semelhanças com galinhas). Nos EUA, é conhecida como Roadrunner. Tanto galinhas quanto papa-léguas pertencem à classe das aves, mas são de ordens diferentes: as primeiras são galliformes, enquanto os últimos são cuculiformes.
Mas, baseando-se apenas na aparência, a criança não errou totalmente ao chamar o Papa-léguas de galinha. Ou acaso vocês sabiam antes que animal era o Bip-Bip?

A conversa do dia
Na mercearia:
“Ficaste sabendo do Beto Carrero?”
“Pois é, menina. E ele tinha a aparência de ser tão mais novo, coitado”
“É, mas mó-reu”.
No Twitter:
“A grande notícia do dia é a oferta da M$”
“A Microsoft quer comprar o Yahoo! para poder rivalizar com o Google!”
“Ai, meu deus, o que será que vai acontecer com o Flickr?”

Vou tirar férias da tecnologia. Até depois do Carnaval 🙂

A máquina não substitui o homem

Conta o G1 que um motorista, dirigindo em um carro alugado (provavelmente porque estava em alguma cidade que lhe era estranha), resolveu seguir à risca as indicações do aparelho de GPS¹ do veículo e foi parar em cima dos trilhos de um trem. Ele até tentou tirar o carro de lá, ou então chamar a atenção do maquinista para que este freasse. Não deu certo. O trem bateu no carro a uma velocidade de 96km/h, o carro foi arrastado por 30 metros, 80 metros de trilho ficaram danificados, e o povo que estava no trem (cerca de 500 passageiros) ainda teve que esperar por mais de 2 horas até que tudo fosse resolvido. Resultado: motorista e companhia que alugou o carro terão de pagar pelos estragos (apenas danos materiais, felizmente), na ordem de centenas de milhares de dólares.
Bizarro? Bizarro foi ter confiado cegamente nas instruções de um aparelho eletrônico. Sim, GPSs podem facilitar a nossa vida, e indicar o caminho (muitas vezes novo, inexplorado, desconhecido, implorando para ser desbravado) a que se quer chegar, mas não substitui a necessidade de verificar se o que o equipamento mostra realmente é o que se encontra ao nosso redor. A técnica até pode ajudar o homem, mas não o substitui. A máquina mostra indícios de que aquele seja o caminho. Até dá para confiar nas indicações. Mas confiar cegamente no que nos diz a máquina pode ser perigoso.
Peguemos um exemplo completamente pontual e aleatório para ilustrar localmente a situação: ao digitar meu endereço físico no Google Maps (com rua, número, cidade e CEP), o resultado retornado erra, por pouco mais de dois quarteirões, o lugar em que efetivamente moro. Se alguém fosse se basear no Google Maps para ir me visitar, ia acabar parando mais ou menos no meio de uma praça (!). Mas nem por isso vou deixar de conferir o mapa do Google quando tenho dúvida na localização de algum endereço na minha cidade. Só não preciso confiar cegamente nas informações prestadas – até porque sei que o meu próprio endereço está errado.
A lição que se pode tirar do motorista que foi parar em cima dos trilhos do trem por conta do GPS é a de que os homens falham. As técnicas – criadas pelos homens – também são falíveis. Basta aprender a conciliar as duas coisas – algo como usar a tecnologia para facilitar a nossa vida, mas usá-la com um pouquinho de desconfiômetro.

¹ O amigo Gilberto esclarece: aparelhos de GPS não são 100% precisos – em parte por culpa do Departamento de Defesa dos EUA, que é quem controla os satélites. Preocupados com a segurança dos indivíduos, eles criaram o programa Selective Availability, que provoca(va) um erro intencional no posicionamento fornecido pelo GPS, de modo a desviar possíveis atentados terroristas. Teoricamente, o sistema já foi desativado. Mas ainda assim a precisão da localização indicada no GPS não é absoluta. Mesmo com o sistema desativado, o erro pode chegar a 30 metros, uma distância mais do que suficiente para se entrar numa rua errada, ou ir parar no meio de uma estrada de ferro.

Assunto paralelo: irei poupá-los de ter que ler sobre Twitter e microblogs por aqui o tempo inteiro (o que não impede que eventualmente sejam feitas algumas postagens sobre microblogs). As postagens sobre o Twitter serão feitas no Twitter Brasil, um blog idealizado por Fernando Souza e Raquel Camargo. A idéia era fazer um blog em português apenas sobre o Twitter e seus concorrentes. Espero que dê certo.

Insônia

Bateu a porta. O estrondo ecoou no corredor. Várias luzes de apartamentos vizinhos, acima, abaixo e ao lado, acordaram-se. Aquele silêncio mortificante da noite fria de agosto era interrompido por um estrepitante ruído. De súbito, o medo tomava conta de todos aqueles que há pouco estavam dormindo. O que teria acontecido?

Enquanto isso, não muito longe dali, ele já estava entrando em seu carro, na garagem do subsolo do prédio, quando se lembrou de que deixara o aquecedor ligado. “Droga.”

Desfez todo o caminho percorrido. Voltou ao apartamento. O crepitar da chave, num silêncio engasgante de 3h da madrugada, pôde ser ouvido dois apartamentos acima. A criança, que já não conseguia dormir desde o estrondo, vai então para o quarto ao lado, para a cama de seus pais, e por pouco não os flagra na concepção de mais um irmãozinho.

Enquanto isso, ele apaga o aquecedor. Verifica outros dispositivos eletrônicos, fogão, computador, televisão. Tudo devidamente desplugado. A viagem seria longa. Tudo deveria ficar em seu devido lugar.

Desta vez, não bateu a porta: fechou-a delicadamente. Percebera passos em um apartamento vizinho. Talvez morasse perto de sonâmbulos lunáticos e psicóticos. Talvez uma mãe estivesse a amamentar o seu filho. Talvez estivesse ouvindo coisas demais.

Retornou ao carro. Ficou algum tempo sem fazer nada. Sem dizer nada. Sem pensar em nada. Quando estivera prestes a esquecer porque estava ali, um medo súbito tomou-se-lhe conta. Aquela garagem escura e vazia, fria e cavernosa, assustara-o, como nunca antes o tinha feito. E antes que aquele sentimento pudesse lhe fazer desistir de seus planos, ligou o carro e acelerou com tudo. Tinha de sair dali o mais rápido possível!

Em poucos instantes, ganhou a rua. Tomou o cuidado de sair pelo portão da garagem cuja câmara de segurança estivesse estragada. Não queria correr o risco de ser reconhecido em seu carro. Principalmente depois do papel que seu carro desempenharia naquela noite.

Com um mapa em mãos, tratou de traçar um trajeto que não percorresse pedágios e câmeras de segurança. Ia ser difícil chegar aonde queria sem ser reconhecido. Era preciso inovar: parques e praças poderiam servir de atalhos engenhosos. Ainda bem que ninguém circulava pelas ruas da cidade em madrugadas frias de agosto. Estavam todos ocupados fritando seus miolos diante de lareiras, aquecedores, estufas, cobertores elétricos, calefação central. Poucos sofriam desse distúrbio incontrolável do sono chamado insônia.

Tomou tanto cuidado para não ter de parar em sinais vermelhos, que quase se esquecera de dobrar na esquina certa. E então viu a luz indicativa de que era aquele o lugar que planejava chegar há dias. Estava escuro o suficiente. Ninguém iria perceber o “crime” que cometeria.

Entrou pela entradinha da esquerda. Olhava insistentemente para os lados, de modo a certificar-se de que não havia ninguém por perto. Qualquer deslize poderia ser fatal. Reduziu a velocidade. Baixou os faróis. Sentiu que alguém se aproximava, mas logo percebeu que se tratava de um carro que passava velozmente pela avenida ao lado.

Quando estava no ponto final do trajeto, sorriu aliviado. A pior parte já passara. Agora era só questão de executar o plano, esconder o corpo, e voltar para casa. Não sem antes, é claro, tratar de apagar todas as evidências que permanecessem por seu carro. Era preciso tomar muito cuidado a partir de agora. Cuidado redobrado.

Parou o carro. Desligou o motor. A seu lado, uma janela de ferro deslizava lentamente. Tinha pouco tempo para desistir. Será que valeria a pena levar o plano adiante?

E então, uma voz quente e suave dirigiu-se a ele: “Faça seu pedido”.
Não resistiu: comprou seu McLanche Feliz com a Hello Kitty, e voltou feliz para casa.

Postado originalmente em 31 de agosto de 2005.

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