Monthly Archives: November 2008

O Twitter pode ser usado para o jornalismo?

A discussão do uso do Twitter para o jornalismo voltou à tona por ocasião dos atentados terroristas em Mumbai, na Índia. Enquanto alguns dizem que o que acontece na ferramenta não é jornalismo (por que muita da informação que circula por lá ainda não foi verificada e pode ser falsa), outros defendem que a velocidade da ferramenta, e multiplicidade de suportes que podem ser utilizados para atualizá-la, permite que as informações apareçam primeiro por lá, e só depois cheguem à mídia tradicional. De acordo com o Techcrunch, “O Twitter ainda não é o lugar para fatos sólidos – a situação é um tanto desorganizada. Mas é onde as notícias são dadas primeiro” (tradução livre).
A discussão percorre o fato de que as atualizações do Twitter não podem ultrapassar o limite de 140 caracteres. Uma notícia pode ser assim tão curta? É possivel fazer jornalismo em 140 caracteres? De certa forma, acho que o jornalismo não depende tanto do suporte utilizado para propagar a informação, ou do tamanho da notícia, e sim do conteúdo da mensagem. E o que as pessoas fazem no Twitter pode não ser exatamente jornalismo, no sentido estrito da palavra, mas não dá para negar que seria ao menos uma informação jornalística, no sentido de que essa informação que pode vir a interessar um determinado grupo de pessoas.
Como disse acima, um argumento contrário apresentado é o fato de que as informações postadas no Twitter não são verificadas. E disso decorreria muita informação falsa. Mas Mathew Ingram defende o Twitter: isso é típico de coberturas ao mesmo tempo em que o fato acontece. Até na televisão e em outros meios acontecem “baleiadas” desse tipo, pelo fato de que ainda não se tem a informação pronta e acabada: o evento ainda está acontecendo.
Isso nos leva de volta à proposta de Paul Bradshaw de diamante da notícia, ainda de 2007. O Twitter é colocado por ele como o primeiro passo da cobertura notícia, como uma espécie de “alerta” de acontecimento, cujas informações devem depois ser retrabalhadas em outras formas de composição noticiosa. Em outras palavras: as atualizações em tempo real pelo Twitter não substituem outras formas de jornalismo, mas podem vir a complementá-las.
Como diz o título de uma postagem de Michael Arrington no Techcrunch, “Não consigo acreditar que algumas pessoas ainda estão dizendo que o Twitter não é uma fonte de notícias” (tradução livre).
No caso do atentado terrorista de Mumbai, não só o Twitter, como também as mídias sociais em geral, desempenharam um papel fundamental na disponibilização de informações em tempo real. E isso foi reconhecido pela mídia tradicional (vide, por exemplo, esta matéria da CNN). Aliás, um aspecto interessante dessa matéria é que ela faz algo que discutíamos como importante em uma das sessões de trabalhos da ABCiber: a criação de espécies de resumos do que aconteceu em um determinado dia no Twitter, para aqueles que perderam as atualizações do dia e queiram reconstruir o caminho da informação. Exceto pela busca por palavras-chave, a característica de memória ainda é pouco explorada no Twitter – de certa forma, fica-se preso a um presenteísmo constante, a um agora renovado a cada segundo. Percorrer arquivos DEPOIS do acontecimento é uma tarefa árdua e demorada. Nesse contexto, resumos noticiosos de coberturas feitas pelo Twitter podem ser uma boa saída para recuperar a informação.
Enquanto isso, no Brasil, salvo raras exceções, os jornais tradicionais continuam a usar o Twitter apenas para reproduzir conteúdos de outras mídias

E um pouco bem mais perto de nós… o que é aquela enchente em Santa Catarina??? Já são quase 100 mortes confirmadas e milhares de desabrigados. Quem puder ajudar, a Defesa Civil de SC tem pedido doações.
As mídias sociais, em especial blogs e redes sociais, também têm sido utilizadas para prestar informações sobre a situação nos municípios atingidos.

Pergunta via Twitter

Uma das coisas mais legais que rolaram semana passada lá no 6o Encontro da SBPJor (as demais coisas legais serão comentadas em posts futuros) foi a cobertura que fizemos pelo Twitter. Não tanto por ter feito a cobertura em si, mas pelas discussões paralelas que acabaram sendo desencadeadas com o pessoal que estava acompanhando pelo Twitter.
Foi a partir daí que o professor Alex Primo, da UFRGS, nos enviou, pelo Twitter, duas perguntas para serem respondidas pelo professor Manuel Pinto, da Universidade do Minho, um dos integrantes da mesa de sexta-feira, 21 de novembro. Não conseguimos fazer os questionamentos na sessão de perguntas, na frente de todo mundo (o que teria sido muito interessante, até porque teríamos que explicar para a platéia e para a mesa como a pergunta havia chegado até nós), mas demos um jeito de improvisar que a pergunta fosse respondida mesmo assim.
A gravação foi feita com a webcam do MacBook, então não reparem nas tremedeiras e nas vozes paralelas. A pergunta foi feita pela Laura Storch.

De qualquer modo, como já apontou o Alex Primo, não deixa de ser interessante observar o resultado da convergência entre Twitter, conexão wi fi, webcam, YouTube e blog.
… e só não deu para postar o vídeo antes porque a rede da Universidade Metodista de São Paulo (local onde ocorreu o evento) não permitia acesso ao YouTube.

Ainda o projeto de cibercrimes

Cartaz_Protesto_Azeredo Não dá para deixar passar em branco:
Dia 13 teve a audiência pública para discutir o Projeto do Azeredo, com a presença de diversos ciberativistas (link para o vídeo aqui).
Dia 14, foi a vez de se realizar uma flashmob (e uma refreshmob) em São Paulo, na Av. Paulista, contra o projeto.
E, finalmente, no dia 15, realizou-se a segunda edição da blogagem política – “Não ao Vigilantismo”, organizada pelo blog Xô Censura (lista completa de participantes aqui).

(Para completar a semana, dias 10, 11 e 12 estive na ABCiber, em São Paulo, e conheci pessoalmente muitos dos meus ídolos acadêmicos nacionais… incluindo Sérgio Amadeu e André Lemos – os quais, junto com o João Carlos Caribé, foram os idealizadores da petição online contra o projeto do Azeredo).

A blogosfera vai acabar! (E daí?)

Dizem por que a blogosfera vai acabar (ou cheguei tarde e já acabou?). Tudo por culpa de uma ranquinite aguda que assola os mais altos escalões da monarquia bloguística blogosfera dessa massa esférica amorfa resultante da união de todos os de alguns blogs em torno de uma conversação única múltipla, digo, de várias conversações em torno de vários… enfim, quem se importa?
Para a Wired, blogs são muito… 2004 (!). Tem coisa muito mais legal por aí, tipo, Facebook, YouTube e Twitter (em um ponto concordo com a Wired: o Twitter meio que diminui hierarquias; o post de todo mundo tem, ao menos em tese, o mesmo peso – mas como nada é plenamente democrático em termos de web, assim como em outros meios, o pessoal top top que possui muito mais seguidores tem, digamos, muito mais chance de ser lido.)
Para o Economist, Twitter, Facebook e outros, também são bem mais legais que blogs. Mas a culpa para o declínio da blogosfera é atribuída ao fato de que os blogs têm se tornado muito mainstream (seja lá o que isso signifique para o pessoal que não está nem aí para o mainstream e que desejaria simplesmente… continuar a blogar).
Para Nicolas Carr, ninguém matou a blogosfera – o que aconteceu foi uma morte natural (o que significa que a blogosfera já acabou, e estamos perdendo tempo tentando discutir isso.)
E agora?
Deixemos os apocalípticos de lado, continuemos (voltemos) a blogar e aproveitemos enquanto os blogs ainda existem. Enquanto houver blogs, haverá blogosfera (ou, pelo menos, blog-linha entre duas pessoas, ou blog-microesfera entre um grupinho de amigos). Depois que a blogosfera acabar a gente bota a culpa em algo ou alguém. (Só vai ser um pouco complicado argumentar em pequenas doses de 140 caracteres.)

Bônus track: Como os jornais* anunciariam o fim da blogosfera (adaptado da piadinha clássica que circula por e-mail desde antes de o e-mail ter sido inventado)
O Globo
Pequena nota lá pelo meio do jornal: “Governo anuncia fim da blogosfera”
Folha de S. Paulo
Disponível apenas na versão online, “Saiba como será o fim da blogosfera”
O Estado de S. Paulo
Nova campanha publicitária: “Macacos põem fim à macacosfera”
Zero Hora
No ZH Digital, reportagem, recheada de depoimentos: “Gaúchos ficam de fora da blogosfera”
Correio Braziliense
“MBB (Movimento dos Blogueiros sem Blogosfera) convoca audiência pública para discutir a constitucionalidade do fim de sua esfera”
Veja
EXCLUSIVO:
ENTREVISTA COM CALACANIS
– Por que a blogosfera durou tão pouco
– Especialistas indicam como encarar o fim da blogosfera
Playboy
“Ex-blogueira revela tudo”
Info Exame
“100 dicas do que fazer com seu blog com o fim da blogosfera”
Época
Os 80 blogs que você não pode perder de visitar antes de a blogosfera acabar”

* porque até lá os blogs já terão sido extintos – os jornais vão acabar só em 2043

Da série: assuntos que perdi de discutir porque fiquei quase 20 dias sem postar porque não levei meu computador a um evento de cibercultura.