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Facebook, jornalismo e compartilhamento de notícias

Dentre as alterações feitas no Facebook a partir de setembro deste ano, está o “seamless sharing”, um recurso que possibilita, através da tecnologia Open Graph, o compartilhamento de informações em tempo real sobre consumo e utilização de recursos em outros sites fora do Facebook. Assim, quando a pessoa ouve uma música no Spotify, essa informação é repassada automaticamente para seus contatos no Facebook. Da mesma forma, ao abrir o link para ler uma notícia do The Guardian, essa notícia aparecerá automaticamente em seu perfil no Facebook.

Esse compartilhamento não intencional tem gerado controvérsias. De um lado, há críticas ferrenhas que incidem no ponto de que fere a privacidade, abusa da boa vontade do usuário comum, e, ao extremo, poderia levar ao auto-policiamento dos indivíduos, na medida em que passariam a escolher cuidadosamente o que leem, ouvem ou veem, diante da possibilidade de esse conteúdo vir a ser compartilhado em tempo real com seus contatos no Facebook.

De outro, porém, exalta-se seu potencial para acionar a memória no jornalismo online: notícias mais antigas estariam sendo “redescobertas” através da leitura e do compartilhamento, inclusive vindo a figurar na lista de “mais compartilhadas” ou “mais lidas” de sites noticiosos.

Com o uso de aplicativos que se utilizam do “seamless sharing”, o custo social para compartilhar uma notícia se torna quase zero. Não é preciso praticamente qualquer esforço (exceto, talvez, autorizar uma única vez o acesso ao seu perfil no Facebook). Mesmo assim, o sistema permite uma recirculação de conteúdos noticiosos, com o diferencial de não estar preso ao “agora”. Se no Twitter temos a ditadura de tuitar logo para não perder o “timing” de uma notícia, no Facebook pode acabar parecendo perfeitamente normal compartilhar um link de alguns anos atrás. Ou então podemos ao menos ser mais sinceros em nosso compartilhamento de notícias: às vezes, hoje ainda estamos lendo notícias de ontem, ou mais antigas ainda. Compartilhar no Facebook o que estamos lendo, ao invés daquilo que gostaríamos que os outros vissem, pode ser um bom caminho para escapar da ditadura do tempo real no Twitter.

Só não sei aonde essa ideia de compartilhar diretamente, sem “filtros”, pode parar. Apertar o botão “curtir” ao final de uma notícia já era tão simples, ao ponto que simplificar mais ainda pode vir a complicar o processo (fim da privacidade, auto-policiamento de leitura, excesso de itens compartilhados, superabundância de informações…).