As experiências únicas de parto

Uma vez li num fórum de discussão um comentário que me marcou. Era mais ou menos no sentido de que cada experiência de parto é única, e por isso todo mundo acha que sua experiência foi mais incrível que as outras e se põe a contar nos mínimos detalhes. Mas mesmo que pareça incrível para quem passou pela experiência, os demais podem não ter o mínimo interesse em saber o que aconteceu exatamente as 3:18 da manhã enquanto você estava no hospital. 

Então se você não tem interesse em ler mais um relato nesse sentido, pare por aqui. Obrigada por ler este post, volte sempre. Ultimamente tenho postado mais ou menos uma vez por ano, então até 2022! _o/

Se você continua por aí, senta que lá vem história…

Tive dois partos completamente diferentes e achei que seria interessante relatar por aqui. Em ambos os casos, tive meninos com o exato mesmo peso ao nascer (3.150). Mas as semelhanças acabam por aí.

O primeiro filho estava sentado (posição pélvica). Com 37 semanas fizermos um procedimento chamado versão cefálica externa, para tentar virar a criança por fora da barriga. O procedimento é feito no hospital, por um médico, e com a sala de operação pronta pra um parto de emergência se qualquer coisa der errado. No fim não foi possível virar o rapaz, e dali já saí com uma cesárea marcada para duas semanas depois, com 39 semanas exatas. Assim, minha primeira experiência de parto envolveu chegar na hora marcada e fazer uma cirurgia. 

O parto em si foi tranquilo, mas a recuperação nem tanto. Fiquei 3 noites no hospital, levei 24 horas para conseguir levantar da cama, perdi tanto sangue que precisei de uma transfusão de ferro. E por semanas a fio, o local da incisão doía, muito. Levantar e sentar doía. Se abaixar, então, era melhor nem tentar. E mesmo quando por fora parecia estar tudo bem, era preciso se lembrar que várias camadas de tecido foram cortadas, e seria melhor pegar leve por um bom tempo para garantir que tudo melhorasse por dentro. Cheguei a escrever num caderninho, logo após o parto: “nota mental: não tentar ter outro filho”. Mas a gente esquece e eventualmente até pensa em passar por tudo de novo…

Como meu primeiro parto foi cesárea por um motivo que não necessariamente se repete, o segundo poderia ser parto normal. Não é todo médico que topa fazer parto normal após cesárea, mas se todas as condições são favoráveis, dá para receber sinal verde. Não é recomendado induzir o parto após cesárea, e meu médico não queria deixar passar da data prevista (40 semanas), então o parto normal só aconteceria se o bebê resolvesse vir antes sozinho por conta própria. 

No final da semana 38, minha bolsa rompeu. Eu achava que quando a bolsa estourasse seria como nos filmes, com um rio de líquido escorrendo pelo meio das pernas. Mas não foi bem como aconteceu – a água foi escapando as poucos, e se manifestou na forma de uma vontade de ir no banheiro a cada 15 minutos. Liguei para o consultório médico achando que seria algo tipo uma infecção urinaria. A enfermeira que me atendeu do outro lado da linha apenas exclamou “querida, você está em trabalho de parto!”. Eu estava na rua, caminhando com o cachorro.

Cheguei no hospital no final da manhã. A dilatação foi lenta mas progrediu aos poucos. Como a qualquer momento o parto poderia virar cesárea, passei o dia sem comer ou beber nada, estava com 2 acessos intravenosos (um ativo, e um reserva para a cesárea), e era fortemente recomendado fazer uma anestesia (que poderia ser aproveitada para a cesárea, caso necessária). 

No final da tarde pedi para fazer a anestesia peridural. No começo da madrugada cheguei na dilatação esperada, mas as contrações ainda estavam muito espaçadas, então me deram oxitocina para acelerar. Comecei a fazer força no meio da madrugada (olá, 3:18), e o bebê nasceu de manhã cedo. Mesmo com anestesia, foi uma dor horrível, não achei que iria conseguir. Mas uma coisa que a médica disse no meio do processo ajudou a chegar lá – como o bebê já tinha começado a sair, não tinha mais chance de virar cesárea. As únicas opções eram o bebê sair por conta, ou usar vácuo. O negócio foi fazer sair por conta e evitar ao máximo a manobra invasiva. 

Apesar de toda a dor, uma coisa porém foi mágica. 1 hora depois eu estava de pé. Sem dor. Sem problemas para sentar, abaixar, ou o que fosse. A recuperação foi infinitas vezes melhor. Não foi perfeita – tive laceração de segundo grau, levei pontos lá embaixo, acabei com uma fissura anal chata e insistente. Mas ainda assim um pouco de desconforto foi bem mais tranquilo de lidar. E o mais incrível – 24 horas depois já estávamos todos em casa. 

Algumas pessoas me perguntaram qual experiência achei melhor, cesárea ou parto normal. Existe uma certa comodidade em poder escolher a data de aniversário da criança e chegar para o parto como se estivesse fazendo check in em um hotel. Mas eu ficaria com a dor do parto normal 500 vezes antes de optar pela cesárea, a recuperação foi infinitas vezes mais tranquila, o que me permitiu curtir mais os primeiros dias de se ter um recém nascido em casa, sem deixar de dar atenção ao primogênito que viu seu mundo totalmente alterado com a chegada de um irmãozinho. 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *