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Vivendo no exterior

Mudar para outro país pode ser o sonho de muita gente que vive no Brasil. Ir para o exterior parece a solução perfeita para escapar da crise financeira, da violência urbana, e até da corrupção endêmica. Mas ainda que possa ser uma solução em alguns aspectos, a mudança também traz novos desafios a serem encarados.

  • Primeiro, você vai sair de um país em que você conhece várias pessoas e passar a viver em um lugar que você conhece pouca gente e precisa retomar todos as habilidades sociais da infância para começar do zero uma rede de amizades e contatos.
  • Por conta do primeiro ponto, conseguir emprego não vai ser tão fácil assim. Além da falta da rede de contatos como suporte, ainda tem a questão da formação. Enquanto no Brasil estampar o nome de uma Universidade Federal no currículo abre portas, por aqui o diploma de uma universidade obscura um país estranho não significa absolutamente nada. É como se voltássemos a quando tínhamos só Ensino Médio e estávamos à procura de nosso primeiro emprego. Um doutorado no Brasil tem o mesmo valor que um curso do Coursera. A diferença é que um leva 4 anos e o outro dá para concluir em 4 semanas.
  • Enquanto no Brasil adoramos estrangeiros e tudo o que vem de fora, dependendo do país para onde você for, estrangeiros sofrem preconceito. Nos Estados Unidos, todo mundo que vem da América Latina é considerado Hispânico/Latino. O Brasil entra numa espécie de limbo – somos Latinos, mas não necessariamente Hispânicos. Para as estatísticas, tanto faz. Na cabeça do norte-americano, somo latinos e falamos espanhol. De qualquer modo, aos latinos são reservados empregos de serviço de segunda categoria – limpeza, jardinagem, e tudo aquilo que americano rico não faz por si só.
  • Serviços são extremamente caros. Ou seja, vai ser necessário aprender a limpar a própria casa, lavar a própria louça (felizmente há boas máquinas de lavar por aqui), fazer as próprias unhas, e até mesmo se virar para pintar o cabelo. Sim, dá para pagar para fazer isso tudo. Mas vai sair caro e não vai ser bem feito. E pior do que pagar caro, é pagar caro por algo que você pode fazer melhor sem gastar nenhum tostão.
  • Se algo der errado, não dá para correr para o conforto da família. Dez mil quilômetros de distância separam você do abraço apertado da sua mãe, ou da alegria contagiante dos seus sobrinhos. Felizmente existe FaceTime para quando a saudade aperta. Infelizmente existe um troço chamado fuso horário, que faz você ficar fazendo complexos cálculos matemáticos antes de descobrir se pode ou não ligar para a família num determinado momento.
  • Depois de ter sua formação acadêmica reduzida a nada, sua identidade diminuída ao estereótipo de Latino, e passar horas a fio limpando a casa, não conseguir emprego na sua área vai ser o menor dos seus problemas.
  • Sim, dá para desistir de tudo e voltar a qualquer momento, mas isso também significa deixar de lado o desafio e a oportunidade de tentar se reinventar como indivíduo e como profissional.
  • Morar no exterior é legal, mas também é importante levar em conta todos esses aspectos não tão bonitos na hora de decidir se sair do país é para você ou não.

 

Sim, sinto falta de trabalhar na minha área, sinto falta dos amigos, sinto falta dos contatos profissionais, sinto falta da família. Mas não sinto falta da sensação de insegurança ao andar pela rua, ou daquela pulga atrás da orelha ao achar que todo mundo está tentando obter vantagem ou te passar para trás a todo momento.

Aqui, as coisas funcionam. Os pedidos chegam. O correio é meio atrapalhado, mas dá conta do recado. O custo de vida é menor, então mesmo ganhando menos, dá para viver bem.

Sentir-se segura ao sair na rua para passear com o cachorro às onze da noite com o celular na mão enquanto captura Pokemons não tem preço.