Monthly Archives: February 2008

Pensar pequeno

“It is the small groups of people that have started the revolutions. It is the small companies that become the industry disruptors. And finding your small group to speak to could be the biggest thing you’ve ever done.”
Isso foi dito por Spike Jones, da Brains on Fire, no contexto de mensagens publicitárias. A idéia é de que uma mensagem focada a um grupo pequeno, bem circunscrito, tem mais chances de ser ouvida (assimilada, compreendida e respondida) do que uma mensagem ampla dirigida a muitos de uma vez só – visto que a massa já está acostumada a receber muitas mensagens amplas, o que pode fazer com que mais uma não seja percebida. Em síntese, pensar pequeno pode fazer com que se vá longe.
Spike Jones parte do texto de Seth Godin “Small is the new big“, originalmente aplicado ao contexto das empresas (cuja premissa básica é: pequenas empresas podem ir longe desde que pensem grande). Godin também se refere aos blogs: “Small means you can tell the truth on your blog”.
Spike convoca-nos a pensar pequeno, no sentido de produzir mensagens para pequenos nichos de pessoas, de modo a se fazer ouvido (na verdade, ele só quer vender o seu peixe, mas abstraia o fato de que ele falou isso no blog de uma empresa). Saindo um pouco do mundo corporativo e dos anúncios publicitários, isso talvez possa ser usado para refletir quanto à quem, efetivamente, gostaríamos de dirigir uma mensagem em um blog – a uma massa de anônimos provenientes de sistemas de busca, que entram, interagem minimamente com o conteúdo, e vão embora, sem deixar nada (exceto, talvez, como ocorre em certos blogs, algum rendimento financeiro, advindo muitas vezes da exploração da capacidade intelectual dos visitants), ou a um grupo específico, que, ainda que pequeno, reaja às mensagens, e possa nos permitir iniciar uma conversação?
(quanto a essa discussão, vale a pena conferir os últimos posts de Ana Brambilla sobre monetização).

Assunto paralelo: a possibilidade de criar formulários associados a planilhas do Google parece ser extremamente útil (Jeff Jarvis, do Buzz Machine, mostrou-se particularmente entusiasmado com a idéia). Aliás, aqui vai uma pergunta teste: como você chegou a este blog?

Notícia em 20 palavras

O site argentino 20palabras.com suspendeu suas atividades no início de fevereiro. O motivo: seus criadores pretendem dedicar-se a outros projetos.

Não é nada fácil dar uma notícia completa em apenas 20 palavras. Mas essa era a proposta do 20palabras.com, um projeto argentino idealizado por Pablo Mancini e Darío Gallo, inspirado na idéia de brevidade do Twitter. No ar desde setembro do ano passado, junto com as notícias curtas, o site também trabalhava com uma proposta de redação descentralizada, e apostava em publicações a partir de e para dispositivos móveis.

Ao suspender suas atividades, o projeto demonstra as dificuldades que ainda se enfrenta ao se tentar inovar online. As vinte palavras que José Luis Orihuela, do eCuaderno, usou para comentar a suspensão das atividades do 20palabras.com sintetizam bem essa idéia: “un proyecto original que se toma um respiro porque innovar no es fácil y triunfar no es barato. Hasta pronto”.

Também na linha de propostas inovadoras em jornalismo que não tiveram fôlego para ir adiante está o ChicagoCrime.org. O projeto de Adrian Holovaty estava no ar desde 2005, e usava dados do departamento de polícia de Chicago para mapear os crimes ocorridos em Chicago. Dava para navegar por tipo de crime, ou por localização. O mapa criado por Holovaty foi um dos primeiros mashups criados com o Google Maps, em uma época em que acrescentar dados a um mapa não era nada fácil (hoje, basta ter uma Google Account para fazer isso). O projeto foi o vencedor do Batten Awards for Innovations in Journalism no ano de 2005.
Mas a idéia do ChicagoCrime não morreu por completo – foi incorporada ao EveryBlock, um projeto mais abrangente de jornalismo hiperlocal, também idealizado por Holovaty.

Ver grandes idéias chegarem a um fim em tão pouco tempo nos faz repensar os rumos do jornalismo digital. (Mas vai dizer que não seria bacana tentar misturar tudo isso e fazer uma salada mista do tipo notícias colaborativas via Twitter em caráter hiperlocal e posicionadas sobre um Google Map??? — foi mais ou menos isso o que o Google tentou fazer na Super Terça…)

Tradução colaborativa do Facebook

O Facebook anunciou ontem a versão em espanhol do site. A partir de segunda-feira, todos os usuários provenientes de países de língua espanhola passarão a acessar o Facebook em espanhol automaticamente. Quem quiser, pode mudar o idioma em Accounts > Language.
Lembram o que escrevi algum tempo atrás sobre a tradução colaborativa do Facebook? Bom, esqueçam. O post tinha sido feito sem saber muitos detalhes sobre como efetivamente funcionaria a tradução. Na verdade, ela funciona assim: alguns usuários (ou todos, não sei) de países que possuem o espanhol como língua nativa foram convidados a adicionar o aplicativo Translations. Esse aplicativo não está disponível em uma busca pelo site, e, ao menos em tese, só é possível acessá-lo mediante o recebimento do convite.

Dentro do aplicativo, há uma lista de expressões que ainda precisam ser traduzidas, uma lista para votar nas traduções já feitas (no sistema positivo/negativo; o que permite que traduções toscas possam ser facilmente removidas), e um quadro com o ranking dos tradutores (sim, quem traduz mais fica em primeiro, quem traduz menos vai lá para o fim da lista – nada como estimular a competitividade entre colaboradores).
Quem tem o aplicativo Translations em seu perfil já pode acessar há um bom tempo não só a tradução para o espanhol, finalizada, como também as traduções em andamento para francês e alemão – estas últimas previstas para estarem prontas até abril. A tradução mais perto de ser finalizada e com mais colaboradores é a para o francês. E não, ainda não tem português na fila de tradução.
O Facebook foi traduzido para o espanhol por cerca de 1.600 pessoas. Cada um podia sugerir traduções para os textos do site, ou então votar nas traduções já realizadas. Até onde sei, a minha única tradução aceita foi “Mejores Carreras” para “Top Races” (?), o que não parece ser uma contribuição lá muito relevante, até porque não tenho nem idéia de onde deveria aparecer isso. Fiz outras sugestões, mas elas acabaram ficando para trás nas votações. Também votei em muita coisa. Como era possível pré-visualizar o Facebook em espanhol ainda durante o processo de tradução, ficava mais fácil de perceber alguns absurdos, e correr para a votação para tentar resolvê-los.
A tradução colaborativa parece ter dado tão certo que o Facebook planeja disponibilizar a tecnologia para outros desenvolvedores.
Via Mashable.

2008, o ano dos mashups?

Anteontem, na Super Terça (dia decisivo nas prévias das eleições norte-americanas, em que 24 estados iriam decidir seus candidatos do lado democrata e republicano), Google, Twitter e Twittervision anunciaram uma ferramenta que permitia acompanhar ao vivo, em um mapa, os comentários que estavam sendo feitos no Twitter sobre as votações (além de agregar notícias do Google News sobre o assunto). O resultado do cruzamento de dados era/é algo que mistura informação hiperlocal (é possível saber o que pensam os eleitores em cada ponto dos Estados Unidos, e do resto do mundo), com a lógica do tempo real (as atualizações do Twitter vão pipocando sobre o mapa, e ao lado, era possível acompanhar, ao vivo, o andamento da apuração da votação em cada estado – os dados da apuração também eram fornecidos em um gadget), a partir do cruzamento de informações provenientes de mais de uma fonte (ou seja, um mashup). O resultado é um grande volume de dados expostos de uma forma visualmente interessante.

Como se não bastasse isso… os vídeos relacionados às eleições postados no YouTube também foram posicionados em um mapa – o que permitiu acompanhar em vídeo as reações à votação Internet afora. No mapa, há ícones que diferenciam os vídeos postados por usuários do YouTube, por empresas jornalísticas, e por candidatos democratas ou republicanos. Significado disso tudo: um volume imenso de informação sintetizado e apresentado com uma boa dose de criatividade. (Ou, na fórmula sintetizada do Google Maps Mania: Google Maps + Twitter + Twittervision + YouTube + Google News = The Google Super Tuesday Map).

Não é à toa que Paul Bradshaw do Online Journalism Blog chamou a Super Tuesday de “Mashup Election” (“If 2004 was the blogged election, and 2006 the YouTube election, 2008 is the mashup election. The bar has just been raised. Again”). Ele também levanta questionamentos quanto ao modo como as pessoas consomem informações atualmente (para onde é mais provável se dirigir um jovem eleitor – para o site de um jornal, ou para YouTube ou Twitter, para um texto seco e sério, ou para algo dinâmico e divertido? A gente chega à informação de forma tradicional, entrando na home page de um megaportal, ou de uma forma mais social/viralizada, indo de site em site a partir de sugestões de amigos?).
Mas os dois mapas não foram algo isolado. A tendência parece ser produzir cada vez mais infográficos e mashups, cada vez mais conteúdo multimídia. As próprias prévias das eleições norte-americanas já foram objeto de inúmeras outras “experiências jornalísticas”, por assim dizer. De jogos a mapas, de infográficos multimídia a mashups. Quer mais? O Mashable trazia ontem uma lista com 40 fontes para acompanhar a Super Terça, muitas delas realmente interessantes.
É esperar para ver o tanto que a criatividade de empresas jornalísticas e empresas de Internet (o que seria o Google?) serão capazes de produzir ao longo deste ano. (E tomara que o material produzido nas eleições regionais aqui no Brasil seja no mínimo remotamente parecido com o que tem aparecido lá nos Estados Unidos).

Via Blog da Raquel.

Em tempo, a pergunta que não quer calar: qual é o plano secreto do Google para o Jaiku??? — porque ninguém, em sã consciência (empresas têm consciência?), compra uma ferramenta de microblogging para fazer parcerias gratuitas com o concorrente direto dessa ferramenta…

Atualização — percorrendo a barreira de feeds acumulados dos últimos dias, vi que O Biscoito Fino e a Massa tem feito uma cobertura completa das votações, inclusive tendo realizado uma interessante cobertura em tempo real das primárias da Super Terça. Os posts são uma fonte excelente para quem quiser compreender um pouco mais a fundo como funcionam as eleições nos EUA. (Não sabe por onde começar? Que tal partir de um ABC das eleições americanas, e ter uma aula rápida sobre cada um dos principais pré-candidatos?)

Como não tratar seus clientes

Tivemos um pequeno contratempo nestas férias. No domingo, fomos a uma filial do restaurante Bate Coração, na Praia do Cassino, em Rio Grande-RS (não achei link de referência, apenas para a sede do restaurante, localizada no Centro da cidade de Rio Grande). A comida é boa, apesar dos preços não muito convidativos. Mas a parte ruim aconteceu quando saímos de lá – mais precisamente, ainda no estacionamento (ou no que tudo indicava ser um estacionamento; há controvérsias).
Ao sair de lá, encontramos o vidro do carro quebrado. Não houve grandes danos materiais (notamos a ausência de um radinho a pilha e dos fones de ouvido do celular, que estavam no porta-luvas). Mas o que realmente estragou a noite foi a atitude do proprietário do estabelecimento.
Ora, se um carro é arrombado no estacionamento de um restaurante, o mínimo que se espera é algum apoio do estabelecimento. Mas não foi bem isso que recebemos. A primeira coisa que o proprietário fez (ressalva: não sabemos ao certo se era o proprietário, mas se comportou como tal) foi ressaltar que aquilo não era um estacionamento – apenas uma área livre entre a rua e o estabelecimento. Na verdade, há um muro com o nome do restaurante, fechado por um portão de ferro (o portão fica aberto durante a noite), e lá ao fundo está localizado o restaurante. Os carros ficam entre o muro e o prédio. Havia outros carros lá antes de chegarmos, e há espaço para uns 12 carros. Se isso não é um estacionamento, então me digam o que é.
Isto não é um estacionamento
bate coração
Tudo bem, pode não ser um estacionamento. Mas o proprietário continuou, dizendo que a gente teria que se virar para dar um jeito de substituir o vidro ou tapar o buraco, visto que a concessionária mais perto ficava a 60km. Quando meu pai tentou se auto-consolar com um “espero que o seguro cubra isto”, o dono do restaurante passou a dizer que duvidava que o seguro cobriria aquilo, até porque não era propriamente o vidro lateral, e sim um pedacinho de vidro fixo ao lado do vidro do carona. Reclamamos da falta de segurança no local, e o que ouvimos foi o proprietário contar, como se isso fosse resolver alguma coisa, que no ano anterior outro carro havia sido arrombado da frente do restaurante, e que o outro cliente tinha deixado para o seguro resolver, sem envolver o estabelecimento (o que só reforça a idéia de que o lugar é inseguro, diga-se de passagem).
Enquanto limpávamos os cacos de vidro, o dono do restaurante nos ignorou por completo para falar ao telefone celular. Depois, ele reuniu o máximo de boa vontade possível e nos ofereceu um pedaço de vassoura para limpar os cacos de vidro – e só.
Saímos de lá com mais raiva do tratamento péssimo recebido após a refeição (pena que já havíamos pagado a conta), do que propriamente pelo fato de terem quebrado o vidro do carro.
Ah, sim, Sr. Proprietário… o seguro cobrirá os danos do vidro. Mas, se não cobrisse, a jurisprudência estaria a nosso favor para cobrar os danos materiais do estabelecimento (quer queira, quer não, aquilo é um estacionamento, o que confere ao proprietário do terreno os deveres de um depositário – e a obrigação de restituir o bem depositado nas mesmas condições em que foi deixado).
Não sei o que ele poderia ter feito nessa situação (oferecer um pedaço de papel ou plástico para cobrir o espaço ocupado pelo vidro quebrado seria o mínimo, não?). Mas certamente ironizar sobre a situação não ajudou em nada. Na dúvida, é mais seguro pedir comida por tele entrega, do que ir a um restaurante com estacionamento espaço livre entre a rua e o prédio para se colocar carros com aparência de estacionamento.

Hoje, ao escolher um lugar seguro para almoçar – mais especificamente, um lugar em que pudéssemos estacionar com segurança um carro com um grande buraco na porta do carona sem que terminassem de furtar os objetos ali remanescentes (algo como… o rádio do carro?) -, saiu, sem querer, a piada pronta que a situação toda fornecia:
– E que tal se a gente procurasse um lugar que tenha estacionamento?

Cenas do cotidiano

“Uma galinha, uma galinha, uma galinha, uma galinha”
Agora há pouco, no McDonald’s, uma família finalizou o seu lanche, e a mãe levou as crianças ao caixa para escolher a sobremesa. O menino mais novo notou que, ao lado do caixa, estavam expostos os brinquedos desse mês do McLanche Feliz. Tendo se interessado por uma das opções, a criança começou a gritar, estridentemente:
“Olha, mãe, uma galinha! Eu quero uma galinha, uma galinha, uma galinha, uma galinha”.
Ao que a mãe responde:
“Mas meu filho, já tens o coelho”.
A criança olha para o próprio coelho, olha para o mostruário dos brinquedos, e continua:
“Mas é uma galinha, uma galinha, uma galinha, uma galinha. Eu quero uma galinha, uma galinha, uma galinha, uma galinha”.
Quer saber qual é a galinha que o menino tanto queria? Confira abaixo, do material de divulgação dos brinquedos deste mês:

E então, já descobriu qual deles é a galinha?
O Papa-léguas ou Bip-Bip é, na verdade, uma ave típica do deserto norte-americano, mais ou menos do tamanho de uma galinha (e aqui terminam as semelhanças com galinhas). Nos EUA, é conhecida como Roadrunner. Tanto galinhas quanto papa-léguas pertencem à classe das aves, mas são de ordens diferentes: as primeiras são galliformes, enquanto os últimos são cuculiformes.
Mas, baseando-se apenas na aparência, a criança não errou totalmente ao chamar o Papa-léguas de galinha. Ou acaso vocês sabiam antes que animal era o Bip-Bip?

A conversa do dia
Na mercearia:
“Ficaste sabendo do Beto Carrero?”
“Pois é, menina. E ele tinha a aparência de ser tão mais novo, coitado”
“É, mas mó-reu”.
No Twitter:
“A grande notícia do dia é a oferta da M$”
“A Microsoft quer comprar o Yahoo! para poder rivalizar com o Google!”
“Ai, meu deus, o que será que vai acontecer com o Flickr?”

Vou tirar férias da tecnologia. Até depois do Carnaval 🙂

Microsoft oferece US$44,6 bilhões pelo Yahoo!

REDMOND, Washington (AFP) — A Microsoft fez uma oferta de compra da Yahoo! por 44,6 bilhões de dólares em dinheiro e ações, informou a gigante da informática em um comunicado nesta sexta-feira (daqui; veja o press release aqui)

Os rumores se confirmaram. A Microsoft acaba de oferecer US$ 44,6 bilhões para comprar o Yahoo!
microhoobn1.png Questionamentos, especulações:
– Foi um ato de desespero da Microsoft para poder competir de igual para igual com o Google? (mais uma batalha na guerra pela liderança do mercado online…)
– A Microsoft está mais interessada nas ferramentas online do Yahoo!, ou na base de usuários?
– Qual o futuro de sistemas como Flickr e del.icio.us? (será preciso ter algo como uma “Microhoo! account” para acessar qualquer coisa, a la Google?)
– Tudo bem que a informação ocupa um lugar central na sociedade. Mas US$44,6 bilhões não é um valor astronômico se considerarmos o quanto valiam “empresas de Internet” há poucos anos?

45 bilhões?? Ok, quase.
– A título de comparação, de acordo com a Forbes, a fortuna pessoal de Bill Gates era de US$59 bilhões em 2007.
– Só o anúncio da compra já bastou para colocar as ações do Yahoo! em alta (e as do Google em baixa).
– O Mahalo já tem uma página de resultados para o caso.
– Provavelmente esse será o assunto do dia no Twitter.
Análises da Forbes indicam que a compra não vai resolver o problema da Microsoft.
– Será que a aquisição, se confirmada, fará com que as pessoas mudem a imagem que têm, atualmente, da Microsoft? (Difícil…)
** Atualização, 22:25 — e parece que já tem usuários do Flickr protestando contra a possível aquisição.