Ma français est trés bizarre

Seguindo a doutrina da comunidade homônima do orkut, e com base nas minhas parcas aulinhas do idioma, eis um….

Guia prático para falar francês em 3 minutos:

Regras gerais

     Na hora de ler uma palavra, desconfie de todas as vogais, desconfie de todos os acentos (desconfie de tudo!). Onde está acentuado, não acentue. Onde há u, leia i. Onde há i, leia a. Se for e, leia i. Duvide de toda e qualquer vogal, SEMPRE. No término das palavras, ignore a leitura de toda consoante que parecer que está sobrando na história (exemplo: petit — a palavra indiscutivelmente termina no i; est — o s e o t finais são meras letrinhas simpáticas que acompanham o e onde quer que ele vá)… E, o mais importante de tudo: faça o biquinho. (Como fazê-lo? Simples… engane os outros fingindo que vai dizer um u, faça toda a inflexão vocal de u, mas no fim, diga i…).
     Outra regra interessante é a dos esses.. Onde você acha que não tem s, tem s… e onde é bem provável que tenha, não há… O s do final de uma palavra é tão inútil que, se fosse humano, seria a alegria da psicanálise.
     Entretanto, a desbanalização do som do s sofre uma exceção. Os franceses são fanáticos por juntar uma palavra na outra, sempre que possível (quando a anterior termina por consoante impronunciável e a seguinte começa por vogal). Então, diante de uma palavra iniciada por vogal, a letra s, que seria uma espécie de Valdemort potterniano (aquele-que-não-é-nomeado), perde temporariamente seu caráter de planta pequena que não fala (mudinha) e faz elisão com a palavra seguinte.. Aí originam-se construções toscas, como “vous êtes” (vuzéti — aliás, preste atenção no caráter falacioso do acento da palavra…). Quando ocorre um encontro de vogal ao final de pronome com vogal no começo de verbo ou palavra, os franceses entram em pânico, e tratam de eliminar uma das vogais, o que dá origem, por exemplo, à construção “j’aime” (vide explicação infra) e ao felicíssimo “l’été” (‘o verão’ — ou ‘o extraterrestre’, como preferir :P).

Casos particulares

     O questionamento “Qu’est ce que c’est?”, além de ser um verdadeiro desperdício de letras (tinta, pixels, inflexões vocais, impulsos luminosos, caracteres, bytes, ou o que você preferir), é também uma frase muito útil (mas qual o sentido de tanta parafernália textual para perguntar simplesmente “o que é isto?”). Para pronunciar a expressão, aliás, vale a regra de ouro que diz que toda consoante sobrando no final da palavra é inútil (a pronúncia ficaria algo tosco como… “quêsquecê?”).
     E se alguém quiser te intimidar com um quêsquecê, não tenha dúvidas: a melhor saída é sempre dizer que não sabe “Je ne sais pas” (genecepá)… Na pior das hipóteses, apele para o “je ne parle pas français” (geneparlepá-francê).
     Quêsquecê? Genecepá! Geneparlepá-francê!
      (O que é isto? Não sei! Eu não falo francês!)

     Para dizer allemand, imagine-se engolindo um alemão (tanto faz se em francês ou português). Sua pronúncia sairá tanto mais perto do real quanto mais você for capaz de pronunciar a palavra engolindo-a.

     Contar de 1 a 100 é muito fácil. Você só precisa saber os números de um a dezesseis, e as dezenas do vinte ao sessenta. Un, deux, trois, quatre, cinq, six, sept, huit, neuf, dix, onze, douze, treize, quatorze, quinze, seize… vingt, trente, quarante, cinquante, soixante. O resto você inventa. E é capaz de parecer bem mais verossímil que na realidade! Abuse dos hífens. 88, por exemplo, se diz “quatre-vingt-huit” (sim, isso mesmo, “quatro vintes” oito!). Exercício: como se diz 99?
a) quatre-vingt-dix-neuf (“quatro vintes” dezenove)
b) trois-trente-neuf (“três trintas” nove)
c) novante-neuf (noventa nove)
d) trois-trente-trois-trois (“três trintas” “três três”)
e) deux-quarante-dix-neuf (“dois quarentas” dezenove)

     Há palavras que, ao serem pronunciadas, colocam a pessoa em situação tremendamente embaraçosa. Um exemplo menos leve é falar sobre o “lac Titicaca” (observação: é uma proparoxítona!). Outra situação bizarra é usar o pronome ‘pornográfico’ “nous” (nós) (considere a existência da eliminação compulsória de toda consoante que esteja sobrando no final de uma palavra, combinada com a regra de que todo s é inútil… isso sem falar que “ou” = ú)
     Brincadeira de primeiro grau: repita j’aime várias vezes seguidas (hihihi). Tanto faz se com a pronúncia certa ou a errada (em francês, a pronúncia é bastante similar com a da sigla da montadora de carros “GM”).

Considerações finais

Parabéns! Agora você está apto a dizer que ama tudo (GM), a contar de 1 a 99 e a pronunciar coisas vagas e toscas, como allemand, lac titicaca, e petit — não que com isso não seja válida a frase “GM un petit allemand du lac titicaca”… E se ao perguntar “quêsquecê”, você obter como resposta “genecepá”, não adianta nem querer mandar a pessoa a “la mer” (lá mér…), porque mer é mar… 😛


(brincadeiras à parte… vai dizer que o francês não é um idioma toscamente afrescalhado? :P)

P.S.: para caso alguém leve a sério esta bobagem toda, a resposta do “exercício” é a letra a)

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