Três livros

Ponto de ImpactoDan Brown

O livro é muito superficial, a história é completamente fragmentada (138 capítulos em pouco mais de 400 páginas!!), as personagens são estereotipadas, e o autor recorre a inúmeros clichês para reforçar seus pressupostos. Apesar de tudo, é um excelente romance para se ler em momentos de descontração e tédio (basta não levá-lo a sério!).
A trama gira em torno de uma incrível descoberta da NASA, e envolve diversos renomados cientistas (fictícios) que precisam arriscar a vida em nome da ciência. Muitos deles acabarão morrendo ao longo do livro — mas, como em todo livro de Dan Brown (generalizar é sempre uma coisa perigosa; considere que minhas conclusões advêm apenas desta leitura e da do incriativo ‘O Código da Vinci‘) o casal de personagens principais saem ilesos da perseguição, e, ainda por cima, terminam juntos no final (algo totalmente previsível, desde a primeira menção dos dois nomes em um mesmo parágrafo, logo no começo do livro).
A história envolve a corrida pela sucessão à presidência da república (norte-americana, é claro), uma crise política sem precedentes na agência espacial, e neve, muita neve. Teria potencial para ter um desfecho completamente diferente. No entanto, o autor preferiu terminar o livro de forma simples, previsível e sem graça.

O Nome da RosaUmberto Eco

Confesso que subestimei durante muito tempo o “poder das palavras” deste livro. Demorei para conseguir encará-lo de início ao fim, e apenas me arrependo de não tê-lo lido antes. Apesar de um resumo do livro ser capaz de afugentar a maior parte dos leitores em potencial (a história se passa numa abadia do século XIV, mais precisamente na biblioteca da mesma, e envolve a quebra da rotina dos monges por conta de alguns assassinatos misteriosos), a trama tem um aspecto policial e investigativo, que envolve o leitor do início ao fim. O desejo de saber quem é (ou o que é) responsável pelos assassinatos faz com que até seja interessante o efeito provocado pelas descrições pormenorizadas dos cenários e ações. É como se todo aquele detalhamento se fizesse necessário para afastar o início do livro de seu final, para tornar o desfecho ainda mais aguardado, e, finalmente, para transformar a história em algo especial. Além disso, o autor consegue incluir alguns preceitos básicos de sua teoria de semiótica em algumas passagens do livro (um subterfúgio muito interessante, que contribui bastante para enriquecer a história), e cita inúmeros autores contemporâneos aos personagens do livro como argumento de autoridade (o resultado é um efeito interessante, pois embora o leitor saiba tratar-se de uma ficção, a história se torna um tanto mais verossímil). A única coisa que deixa a desejar é o excesso de citações em latim, sem tradução. Mas com o tempo a gente já não se sente tão mais culpado em ter de saltá-las, ou então em lê-las sem nada compreender. (Ainda mais após ter lido “Seis Passeios pelos Bosques da Ficção“, do mesmo autor, no qual ele diz que inserir partes “puláveis” na história faz parte da técnica dos grandes autores.)
Um bom livro, afinal.

Quando Nietzsche ChorouIrvin D. Yalom

O livro é um desses romances psicológicos exageradamente intimistas, mas que tem o diferencial de desenrolar longos diálogos fictícios com personagens verdadeiros. O personagem principal é Nietzsche (sim, o filósofo) que se vê envolto em problemas de natureza física e psicológica, e, por insistência dos amigos (sem saber que se trata de um plano proposto por uma pessoa em específico) vai à procura de (mais) um médico para tratar-lhe as enxaquecas. Seu médico é Dr. Josef Breuer, mentor e amigo de Freud, que conta com a ajuda deste (ainda com vinte e poucos anos e começando a formular suas primeiras hipóteses e teorias acerca da psique) para desvendar os mistérios de como penetrar na mente do reservado e frio ‘Fritz’. Entretanto, o que acontece é uma verdadeira inversão de papéis entre médico e paciente, pois de tanto Nietzsche esquivar-se de ajuda e cura, é Dr. Breuer quem acaba se beneficiando por aconselhamentos filosóficos.
Um fato interessante é o misterioso caso dos personagens que simplesmente “trocam” de nome. Talvez por um erro de tradução ou de atenção (afinal, tratava-se apenas da 19ª edição do livro!), havia vezes em que Rachel virava Raquel, e que Bertha aparecia como Berta. E não, não enlouqueci – a confusão ocorre mais de uma vez. Okay, é apenas um dos pequenos deslizes da mais-que-bizarra tradução. Somente um leitor bem atento será capaz de perceber. Mas, mesmo assim, isso não é capaz de mudar a realidade do livro: ele é, com ou sem erros, morno, muito morno. Nem quente nem frio. Nem bom nem ruim. Apenas ‘médio’.

Se eu tivesse que colocar os livros acima em uma ordem de preferência, em primeiro viria O Nome da Rosa, seguido de Quando Nietzsche Chorou, e, por último, Ponto de Impacto. Mas ainda bem que ninguém me pediu para elaborar tal lista 😉

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