O ócio criativo

O Ócio Criativo”, de Domenico de Masi é um livro-entrevista no qual o sociólogo italiano, que estuda as relações de trabalho na sociedade pós-industrial, fala sobre o crescimento do trabalho criativo, o aumento do tempo livre, e a necessidade que se tem de saber lidar com essas mudanças.
O livro traça uma evolução histórica da distribuição entre trabalho e tempo de ócio, de forma a situar a idéia de De Masi do ócio criativo. Em linhas gerais, a evolução teria se dado da atividade física à intelectual, da intelectual repetitiva à intelectual criativa, do trabalho separado do tempo livre ao ócio criativo. Para ele, o ócio criativo corresponderia à intersecção cada vez mais freqüente entre estudo, trabalho e lazer. Cada vez mais as horas de trabalho tendem a se confundir com estudo e jogo, na medida em que as atividades burocráticas (deveriam ser) passam a ser substituídas por trabalhos criativos. Para o autor, “a plenitude da atividade humana é alcançada somente quando nela coincidem, se acumulam, se exaltam e se mesclam o trabalho, o estudo e o jogo; isto é, quando nós trabalhamos, aprendemos e nos divertimos, tudo ao mesmo tempo”.
As máquinas podem desempenhar muito bem – e com uma precisão superior à do homem – serviços técnicos e meramente executivos. Entretanto, “as máquinas, por mais sofisticadas e inteligentes que sejam, não poderão jamais substituir o homem nas atividades criativas”. Ao se delegar funções monótonas e repetitivas às máquinas, o que sobra para os seres humanos é o trabalho criativo, bem mais interessante, bem mais revigorante, enfim, bem mais humano do que executar sempre a mesma coisa, sempre da mesma forma.
“Uma vez delegadas à máquinas as tarefas executivas, para a maioria das pessoas sobra só o desempenho de atividades que, pela sua própria natureza, desembocam no estudo e no jogo. O publicitário que deve criar um slogan, o jornalista em busca de uma ‘dica’ para um artigo, o Juiz às voltas com a vista de um crime têm todos maior chance de encontrar a solução justa, passeando ou nadando, ou indo ao cinema, do que se ficarem trancafiados nas corriqueiras, tediosas e cinzentas paredes dos seus respectivos escritórios.”
Exemplos de trabalhos que estimulam a criatividade são os trabalhos científicos e artísticos. Segundo o autor, o jornalismo seria uma das “profissões do futuro” (pois envolve criatividade na sua realização).
Assim, a principal inimiga da criatividade é a burocratização. E o cérebro precisa de ócio para criar, para poder produzir idéias. “Existe um ócio dissipador, alienante, que faz com que nos sintamos vazios, inúteis, nos faz afundar no tédio e nos subestimar”. Mas existe também “um ócio criativo, no qual a mente é muito ativa, que faz com que nos sintamos livres, fecundos, felizes e em crescimento”.
Ou seja: é feliz aquele que sabe aproveitar o tempo livre e tem uma profissão na qual possa desempenhar um trabalho criativo.

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4 thoughts on “O ócio criativo

  1. -> uma profissão na qual se possa vislumbrar um retorno não só financeiro, mas inovador. É o que aconteceu com os criadores do Google. Eles usaram seu tempo livre inventando ‘apenas’ o maior e mais eficiente site de busca da internet. E hoje a política que eles aplicam com relação a seus funcionários é meio que essa: o ócio que cria, o tempo livre com qualidade. “Os funcionários do Google precisam dedicar 70% de seu tempo à atividade principal da empresa, 20% do tempo a projetos correlacionados e 10% a um projeto pessoal.”

    fora trabalhar sem uniforme, o que deve dar a sensação de ‘vida’, e não ‘escravidão’. 🙂

  2. eles têm até piscina nas instalações da empresa, além de restaurantes que servem comida grátis… 😛
    trabalhar no google deve ser mto mto massa 😀
    O Orkut criou o orkut (!) nos seus 20% livres na empresa 🙂

  3. Hey! Que bom que vc leu esse livro! Uma vez, não sei quando exatamente, eu indiquei ele pra ti!

    =D

    Livro que te faz repensar mtas coisas e ficar com cara de conteúdo por 1 mês pelo menos!

  4. Pois e, esse livro realmente nos faz pensar… 😛

    Li por indicação sua. Lembro que na época uma professora minha tbm tinha comentado em sala de aula. Daí incluí na minha lista de leituras futuras, e agora nas férias encontrei uma versão pirata para baixar da Internet (sou ré confessa 😛 hehe). Apesar do “crime”, valeu a pena 😀

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