Efeito bola de neve em escala global

Vamos ver se entendi: alguém ameaça espirrar lá nos Estados Unidos, e, em instantes, uma epidemia de proporções globais atinge todas as partes do mundo – algumas em maior intensidade, outras sofrem menos os efeitos. Mas a intensidade do efeito pouco tem a ver com distâncias geográficas – depende do grau de vulnerabilidade de cada atingido. É isso o que significa viver em um mundo globalizado?
Substitua ‘espirrar’ por ‘possível recessão’, e ‘epidemia’ por ‘queda nas bolsas’. Pronto, você terá um cenário mais ou menos geral do que aconteceu no mundo em termos econômicos nos últimos dias.
Tudo começou A situação se intensificou (vide comentários) na sexta-feira, 18 de janeiro, quando o presidente George W. Bush anunciou um pacote de US$ 145 bilhões para tentar conter a crise no país (há uma ameaça de recessão) e estimular a economia dos Estados Unidos. Os investimentos foram considerados insuficientes — a falta de informações sobre o pacote contribuiu para aumentar o pânico nos mercados globais (o que apenas ressalta o papel central da informação em uma economia em escala global). A partir de então, em efeito bola de neve, as bolsas do mundo todo (e do próprio Estados Unidos) passaram a registrar baixas. O pânico geral foi causado pelo fato de que, se a maior economia do mundo não cresce, ela passa a comprar menos produtos do exterior, o que pode afetar os mercados no mundo inteiro.
Para tentar conter a crise, o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) reduziu a taxa de juros em 0,75 ponto percentual (foi a primeira redução de juros fora do período normal desde 11 de setembro de 2001). Aí aconteceu meio que um efeito reverso: as bolsas do mundo inteiro dão sinais de recuperação (um possível retorno à tranqüilidade na economia?). A Bovespa está em alta. As bolsas norte-americanas, entretanto, estão em queda (!).
Paro por aqui porque não entendo nada de economia – embora reconheça que deveria procurar saber mais (por isso o post). Mas pelo pouco que vi já é possível constatar: viver em um mundo globalizado assusta.

13 thoughts on “Efeito bola de neve em escala global

  1. Gabi, só que tudo isso não começou no dia 18 de janeiro e sim no ano de 2007, quando, principalmente, o setor imobiliário norte-americano confiou demais no povo dos EUA e concedeu crédito demais. Os grandes investidores de lá, que são os detentores do capital que é aplicado mundo afora, prevenindo-se para uma possível recessão em seu país fizeram uma capitação de recursos em todos os outros mercados para poderem capitalizar-se no caso de precisarem arcar com prejuízos nos capitais de seu país. Então, na verdade, a culpa não é exatamente deles e sim nossa, que dependemos dos recursos deles para manter investimentos em nosso país. Mas, não há motivo para se assustar, o Brasil não deve sofrer muito com essa recessão nos EUA e nem o mundo, pois a economia dos países estão mais sólidas, falando dos emergentes, e nossa sustentação econômica deixou de ser baseada em capital estrangeiro para ser no PIB nacional. Principalmente no Brasil, onde a economia tem se sustentado muito na produção primaria e como os estoques de alimentos do mundo estão baixos, não devemos perder com isso tudo que vem ocorrendo. O Brasil é o celeiro do mundo. Sem falar que o que vem ocorrendo na bolsa nesse momento, que tem despencado, são ações tendenciadas por grandes especuladores, que têm muitas ações para venda e saem vendendo um grande volume para que os preços caiam e eles mesmos venham a comprar. Nunca esqueça que no mercado de capitais a regra de soma zero é o que conta. Ou seja, para cada dólar perdido por alguém, há alguém ganhando-o de volta. Para que alguém perca dinheiro por vender uma ação com preço baixo, alguém tem que estar comprando essa ação. Resumindo, para alguém vender, alguém tem que comprar. :p

  2. Só para complementar e não ser tão otimista. Essa questão de celeiro do mundo não pode e deve ser vista como nossa salvação e que isso seja a quinta maravilha do mundo, pois pior que depender do capital estrangeiro, é depender de chuva para que o país vá bem. Se não chover por aqui em janeiro e fevereiro, poderemos ter um grande problema econômico, principalmente no Rio Grande do Sul.

  3. Sim, sim, o buraco é (bem) mais embaixo… mas igual, não deixa de ser surpreendente o quanto a economia de um país interfere na economia dos demais. O que começou no dia 18 foi o ‘estopim’ da crise, a reação (ok, talvez caiba fazer uma ressalva ali em cima; aquele tudo ficou muito forte).
    Quanto às chuvas… dá para fazer uma bela relação entre economia, meio ambiente e globalização… 😛

  4. Gabi,não sei quem disse, mas disse errado ” a melhor pergunta é que tem a resposta em si “……. o que tu falou desarma e sangra o que basicamente é a lei da economia hoje. Que por tabela acaba sendo a lei da vida em sociedade. O dinheiro corre com uma selvageria absurda, logo gera demandas absurdas, o capital gira de maneira rápida e doida não por que apertou por acidente no botão 10 da esteira. Logo, eu posso ser o celeiro do mundo, mesmo que tendo uma infra estrutura que não me permita posicionar como tal, ter a economia do mundo a minha feição, mas infelizmente as regras do jogo nunca vão me fazer crescer. A discussão passa pela balança comercial, pela dívida, pela questão tributária, pela coisa MAIS IMPORTANTE PRA QUEM JÁ SE INTERSSOU POR ECONOMIA…… VALOR REAL DE COMPRA DO CAPITAL…… frase mágica…… VALOR REAL DE COMPRA DO CAPITAL e como isso se insere no contexto da correria, da circulação do capital na sua relação com o mercado, pra ser bem pouco abrangente. Me parece mais que se as regras do jogo não baixarem a bola um pouco, o Estado parar de ser encarado como se fosse uma empresa. Aliás, o novo papel do Estado entra em discussão aqui, é o grande pano de fundo disso tudo, ele não pode ser mais uma empresa, muito menos a mãezona que tanta gente quer. Mas que caralho é o conceito novo de Estado? Sugiro que a gente especule, mas que especule INTELECTUALMENTE……. por favor!

  5. Sérgio, quem disse foi eu, GILBERTO, e não tem problema de citar o meu nome nos comentários. Agora, quanto ao disse errado – Dá uma lida nas últimas edições do Valor Econômico dessa semana que irá perceber que não está tão errado assim – Veja que você mesmo cita a questão da Balança Comercial, que é exatamente ao que me refiro no que diz respeito ao Brasil estar traqüilo, pois ele exporta muito produtos primários para os outros países. Por esse motivo e pelo fato da China absorver o que os EUA não importar, o Brasil tem certa vantagem. Certamente não seria possível em um pequeno comentário explicar toda a lógica do mercado de capitais. Mas, o que é preciso ficar claro é que não é culpa dos americanos que o fato deles tirarem o dinheiro deles daqui que o nosso país irá mal. Pois, faríamos o mesmo.
    Quanto a dívida, se você assistiu o jornal da Globo ontem, pôde ver que o país possui reservas suficientes para saldar suas contas, o que é um cenário bem diferente de 2001, quando o país tinha pouco mais de US$ 30 milhões de reservas e US$ 200 milhões de dívida pública. Hoje, se não me engano nos números, as reservas estão em US$ 160 milhões, enquanto a dívida pública em US$ 90 milhões. Ou seja, qualquer um que entenda um pouco de economia pode perceber que o Grau de Liquidez do Brasil está muito favorável.
    Mas, tudo isso pode ser visto na imprensa, no comentário dos economistas que são muito mais credenciados do que eu para lhe manter informado. Só lhe garanto que não estou especulando em nada. Apenas fiz o comentário para deixar claro de que a coisa é bem mais complexa do que simplesmente um anúncio do Bush e, também, para que fique mais claro ainda de que quem faz seu dever de casa não sofre tanto com a globalização, que, infelizmente, não é sempre o caso do Brasil. Nesse momento, acredito e o crescimento da economia nos últimos anos, o risco Brasil, entre outros índices, comprovam que os setores primários e industriais do país têm feito o seu.
    Também não acho que seja o dono da razão, apenas acho que deveria se informar um pouco mais de economia e das reais causas da má sensação nas bolsas do mundo para sair por aí dizendo que alguém disse errado ou certo. Na economia, por mais que trabalhemos com números, é incrível como os conceitos, muitas vezes, fogem de qualquer lógica de micro ou macro-economia.
    Valeu 🙂

  6. Me contentaria muito se o dólar caísse ainda mais, muito embora, isso causária crise na indústria nacional, vide o que anda acontecendo com o setor calçadista aqui do estado (RS).
    No Brasil, parece que o efeito bola de neve ainda é pequeno, visto às reservas cambiais e todos os esforços que o governo anda fazendo.

  7. Gilberto tu que sabes de economia muitíssimo mais que eu, vamos lá. Claro e simples….. mais uma vez, o dinheiro corre e corre rápido por que o capital tem que girar, pra ir girando, lucro e renovando, renovando e renovando, quando esse sistema falha, temos recessão já que oferta e demanda ficam fora de sintonia certo?
    O que eu quis dizer, e estava de acordo com o que foi dito pela Gabriela e não por ti, fica tranquilo, que terás o teu crédito, quando disseres algo que a mim pareça relevante e eu prontamente te repsondo.
    Falei do valor de compra real do dinheiro, sem tecnicismo, insisto com isso, do dinheiro que corre na mão do cidadão médio ser propositadamente curto e pra ser usado em curto gasto, qual seria o problema? Os meandros da economia ou o sistema no qual se encontra a economia? A discussão salta e vai um pouquinho além de ensimesmar a economia, nada existe pro si só. Agarremos aqui no meu exemplo, cheio de dúvidas, e sem nenhum apego a certezas e verdades absolutasm a economia colocamos dentro de um contexto, no qual ela é instrumentalizada, não pela malévola força estadunidense, que aliás com o esse governo é bastante simpático ao governo atual. Um governo democrata-hillarista vai jogar duro com o atual governo brasileiro. Mas nada é tão simplório, tu sabe muito bem e faz questão de demonstrar que sabe das coisas, essa parte todos que puderam te ler entederam. Se me fiz entender tão mal aqui a ponto de receber dicas de que deveria ler o Valor Economico com mais frequencia, agradeço pela dica, vou ficar mais ligado mesmo. Mas prefiro o duranguismo até dos ” pataduras ” argentinos do La Nación, quando analisam economia internacional, vejo ali um texto mais cheio, mas esse sou eu, leigo em economia e que sempre tá disposto a aprender de quem sabe. Quanto a ver o jornal da globo…. Não me esqueço nunca que a Rede Globo tem nos seus quadros de comentário economico uma figura como a Miriam Leitão e o Sardenberg, entramos aqui na área do caráter, na verdade da FALTA dele, te confesso ser meio seguidor do Mino Carto e do Hélio Fernandes no que diz respeito a toda mídia brasileira……
    Evito, especialmente a Tv Globo.

  8. Sérgio, deves ter compreendido mal do que falei do Valor Econômico. Apenas fiz referência a tal veículo por ele tratar dos temas econômicos com mais profundidade, no sentido de ser uma informação longe da de veículos de massa que tentando, propositalmente, simplificar acabam por passar uma má impressão da atual conjuntura econômica.
    Sem ressentimentos, concordo contigo de certas críticas à Rede Globo. No entanto, é importante destacar que em muitos momentos os comentaristas deles costumam acertar em suas previsões. Não acho que podemos afirmar que as informações por eles passadas sejam de alguma forma imprecisas. Pelo contrário, devemos ouvir diversos lados para que possamos ter um senso crítico e fico contente por buscar outras informações. Isso é muito importante e é o que realmente falta em nossa população. Se mais pessoas buscassem por veículos alternativos e espaços como esses blogs para colocarem temas em discussão e até mesmo arriscar a opinar, certamente o nosso cenário político seria bem diferenciado.
    Apenas pediria que desses uma retomada na postagem da Gabi e o meu primeiro comentário e irás perceber que só discordo por completo na gênese da crise que abalou as bolsas. O restante que comentei foi apenas para compartilhar com ela a visão que os economistas estão tendo quanto a esse ocorrido e ressaltar de que a culpa de a nossa economia não ir tão bem em alguns momentos é por causa de ações mal tomadas em nosso próprio país.
    O mercado de capitais não pode ser o único culpado pela falta de dinheiro no bolso da população quando na verdade o que falta são oportunidades de emprego e educação. Certamente sabemos que as bolsas influenciam diretamente nisso também, quando seus resultados agem sobre as empresas que acabam por demitir. Mas, no momento a situação está um pouco diferenciada.
    O custo do dinheiro no mercado interno pode ser atrelado ao juros que o nosso país impõem e que são realmente muito altos. O custo do nosso crédito e dinheiro não está diretamente atrelado ao movimento das bolsas e a cotação do dólar (referindo-me a esse povo que consome produto nacional e não viaja ao exterior). Mesmo que ele seja indiretamente atingido pela alta do dólar, o que vem antes é o juros que é determinado pelo Governo Federal e, também, é importante lembrar que isso seria facilmente contornado com a grande alta nas exportações que teríamos.
    Vendo a postagem do Henrique logo acima, também podemos ver um outro ótimo exemplo de que essa recessão nos EUA pode até ser benéfica ao país. Essa questão do dólar ganhar força frente à nossa moeda é também de grande valia à nossa economia em certos aspectos. Um perfeitamente citado pelo Henrique que é o estímulo às exportações e outro, muito importante a ser salientado é de que a nossa dívida pública deve ser paga em reais, enquanto as nossas reservas são em dólares. Então, até o governo ganha com isso. Realmente pode ser difícil de aceitar que uma recessão faça bem a alguém. Confesso que também fico muitas vezes receoso quanto a isso, mas nesse caso devemos aceitar.
    Mas tchê, na boa, deixemos os rancores de lado e continuemos tentando compreender essa economia globalizada. Por, provavelmente não iremos muito além do que já foi dito aqui. Até porque se um de nós dois pudéssemos afirmar tudo isso com toda certeza, estaríamos resolvendo o problema do capitalismo. O que, particularmente, não acredito que tenha uma solução tão breve.
    😀

  9. É muito pra minha cabeça, opinar sobre economia, embora esteja ela no nosso dia-a-dia em cada passo que damos em nossas relações diárias; mas minha mania de analisar sempre o elemento humano acaba me fazendo não querer ver esse lado prático, estipulado em números. Não que não signifique muito pra mim, o problema é que a dimensão com que a economia afeta nosso cotidiano é tão descomunal, como você mesma disse, efeito bola de neve, que o infindável e o nada acabam se confundindo, não fazendo sentido algum pra mim tentar entendê-la. Li um livro uma vez que considero dos melhores que já li, “História da riqueza do homem” do Leo Hubermann. Fala muito dos primórdios da economia sob um ângulo mais humano. Adorei!

  10. Interessante a conversação nos teus comentários!
    Eu não entendo nada de economia, mas estou preocupadíssima. Desde o início do 2007, estou esperando por um novo crash de 29. Explico: meu pai transita no mundinho da bolsa e fala em recessão norte-americana há tempos…
    Eu não me surpreendi, mas esperava estar numa fila em busca de sopa ou sem um tostão no banco, hoje.
    Acho que não será nada tão grave, hehe.
    Ah, acabei de te passar um meme bobinho, mas não se sinta obrigada a respondê-lo.

  11. Eba, conversação! 😀 E com direito a comentários mais longos que o próprio post 😛 Vamos lá, por partes:
    Henrique: teu exemplo reforça a idéia de que as economias dependem uma da outra. Uma pequena mudança em um ponto afeta setores lá do outro lado do mundo. Bem teoria do caos…
    Sérgio: a economia é um campo fascinante – principalmente se analisada a partir de suas implicações políticas e das relações de poder que dão origem a ela.
    Gilberto: realmente, consultar várias fontes (das mais comuns às mais especializadas) ajuda a tentar compreender melhor a complexa teia das relações econômicas entre os países. E estou precisando consultar muitas para conseguir entender direitinho isso tudo.
    Gilberto e Sérgio: vocês são livres para discordar do que eu digo 😛 hauhaua eu não vou ficar de mal ou algo do tipo, até porque cheguei a afirmar no post que não entendo nada de economia… 😛
    Fernanda: o elemento humano é sempre algo interessante a ser analisado – ainda mais em termos de economia, em que a situação nos afeta no macro e no micro (dá para perceber os efeitos em nossas relações diárias). Mais um livro para entrar na minha interminável lista de livros… 🙂
    Carla: pois é, se isso for a tal esperada recessão dos EUA… bom, ainda bem que as economias dos países estão bem mais fortes que em 1929 e por enquanto estão conseguindo agüentar muito bem a questão 😀
    Haha, e gostei do meme. Pretendo respondê-lo depois.

  12. Vamos acertar uma coisas aqui, por favor….
    A aspereza e a defesa forte das idéias e fazer ela chocar feito dois caminhões faz parte da discussão boa e saudável, como foi essa 😀
    Eu só quis dizer que a economia tem, pra mim, no seu grosso da sua teoria a idéia que diz a grossérimo modo… o povo terá dinheiro, mas nós estado-iniciativa privada-donos do dinheiro, vamos encarecer o custo de vida com produtos descartáveis e de fácil produção. Pois, sendo a produção barata o povo segue nos pagando caro e nós produzimos por centavos coisas que os consumidores pagam com muitos reais a famosa e popular Teoria da Mais Valia. Agora, o povo com pouca grana, cada vez pagando mais e mais pra quem tem grana acaba criando a situação que, povo sem grana X produtor com grana não tem demanda mas tem oferta. Essa é só uma das mil maneiras de se chegar numa recessão economica.
    Adoro poder trocar uma idéia com alguém bem esclarecido e que se faz entender bem e que sim, no campo das idéias “haja o que hajar”, tem a mais perfeita consciência e bom senso que a colocação de argumentos sempre pode e deve ter a chance de ser forte, rude mas nunca desrespeitosa. E aqui, não foi desrespeitosa em momento algum, pelo contrário, foi provocadora, um dos melhores jeitos de se discutir. Argumentos nem sempre vão se impor de uma maneira sem sal e lacônica como no faz no chá das cinco.
    Ah, quando a buscar e buscares, nem notei. Alfabetizado em castelhano e falo em português, sou quase que um ” biglodita ” então a concordância mais pormenorizada me é uma inimiga.

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