Futuro 2.0: um mundo sem advogados?

Richard Susskind, professor e consultor britânico na área de tecnologia da informação, autor do livro “The future of Law“, lançou a hipótese polêmica de que, em um prazo de 100 anos, a profissão de advogado já não existirá mais. A idéia é a de que a mercantilização da função, aliada à popularização das tecnologias de informação e aprimoramento das redes colaborativas online, estariam fazendo com que a profissão caminhe rumo à obsolescência e à desnecessidade.
Muitos advogados têm criticado a previsão de Susskind de que a advocacia está com seus dias contados. Entretanto, como aponta Suzana Cohen, no Bricolagem High Tech, “O que grande parte das pessoas não leva em conta, no entanto, é que essa previsão a respeito do “fim do advogado” deve ser vista como a profissão em seus MOLDES ATUAIS”. Ou seja: o advogado não vai desaparecer, sumir do mapa. Mas sua atuação tem grandes chances de sofrer transformações drásticas por conta do potencial de colaboração advindo da Web 2.0.
Por motivos parecidos, já se argumentou que os jornalistas estariam com seus dias contados, e com uma morte prevista para ainda mais breve (para daqui 6 anos, para ser mais exata – isso sem entrar no mérito da discussão sobre a necessidade de diploma). Apesar das previsões apocalípticas, o que se tem observado é que, ao invés de se extinguirem, as profissões estão se transformando. Vejamos o caso dos jornalistas. Com a onda de colaboração e participação, o jornalista pode deixar de ser aquele que coleta e produz a notícia, para se tornar o que confere, seleciona e hierarquiza as informações. Mesmo aqueles que ainda produzem conteúdo, também passam a receber a nova tarefa de lidar com comentários, com opinião dos leitores (co-autores?) no mesmo espaço e praticamente ao mesmo tempo da emissão. Em síntese, jornalistas precisam aprender a administrar comunidades.
Com advogados também poderá ser assim, mas com um pouquinho mais de tempo para a reformulação da profissão. Em entrevista à Revista Época de 04 de fevereiro, Susskind afirma que “A internet encoraja a comunicação e a colaboração. No futuro, teremos comunidades de clientes dividindo os custos de serviços jurídicos similares. Também haverá na rede roteiros gratuitos sobre as leis”. Desse modo, assim como os jornalistas 2.0, o advogado do futuro também deverá aprender a gerenciar comunidades (aquelas, nas quais, por exemplo, os consumidores lesados discutirão a melhor solução para seus problemas similares, com base em leis, que já se encontram na Internet, e nos roteiros didáticos ainda a serem criados). E não é algo para um futuro remoto, para daqui 100 anos. É algo para agora.
O questionamento de Richard Susskind sobre o fim dos advogados virá na obra “The End of Lawyers?”, prevista para ser lançada ainda este ano. Enquanto o livro não fica pronto, é possível acompanhar um suplemento especial do Times Online para discussão do tema. Sínteses de trechos da obra podem ser conferidos no espaço, além da opinião de outros profissionais – advogados ou não.
Via Bricolagem High Tech.

Assunto paralelo: realizou-se hoje uma blogagem coletiva contra a pedofilia, organizada por Luma Rosa, do Luz de Luma. Vários blogueiros participaram da iniciativa (a lista completa pode ser acessada aqui). Tomei conhecimento da iniciativa um tanto em cima da hora, a partir de um post do Gustavo D’Andrea (aliás, ele próprio um autêntico advogado 2.0), e não deu tempo para participar. De qualquer modo, vale a pena conferir as discussões levantadas sobre a temática blogosfera afora.

9 thoughts on “Futuro 2.0: um mundo sem advogados?

  1. Os profissionais do Direito e da Comunicação, assim como de várias outras áreas, precisam mesmo se ajustarem a essa nova era da informação. Pois, com a Internet, as profissões estão realmente se moldando e vejo tais profissionais num futuro bem próximo como os moderadores que falas ou consultores que seria adequado para outras áreas.
    E sai um post que justifica o nome do blog 😀 – Muito bom 🙂

  2. Interessantíssimo. Embora eu me estranhe com um sentimento meio apocalíptico, concordo que os profissionais destes campos tirarão proveito se preverem a iminente transformação de sua profissão.

  3. Eu acho ridículo fazer isso, mas é inevitável… Ontem, quando postei – apenas 49 minutos antes de ti – uma pequena parábola de Kafka de ontem, estive muito perto de um inflamado discurso contra a justiça e os advogados.
    Acho que todas as profissões mudarão muito nos próximos 100 anos. Um dia, seria legal escrever um post sobre os cursos oferecidos pelas universidades há 40 anos e agora.
    Beijo.

  4. Susskind está ficando velho. Está incapaz de analisar as mudanças com a mentalidade focada no modo como as transformações sociais modificam o indivíduo.
    Se fôssemos seguir esssa linha de raciocínio construída por ele para decretar o fim de uma profissão, estão em exintinção também os médicos, os professores, o engenheiro, etc. Ou seja, não mais será necessária a especialização para a realização de tarefas. Basta acreditar em opiniões que se lêem em blogs e comunidades virtuais.

  5. Pois é, as profissões estão se modificando, mas estão longe de desaparecerem por completo.
    Aliás, bem lembrado, Roger — pela mesma linha de raciocinio de Susskind, os professores já deveriam ter sido extintos há algum tempo, tendo em vista que o conhecimento está disponível em uma enciclopédia colaborativa online em formato wiki… 😛

  6. Não acredito num mundo que não precise de advogados 🙂 concordo em vários pontos, quando ele diz, por exemplo, que as pessoas se organizam mais através da web colaborativa e por isso acabam por encontrar alternativas mais baratas para a resolução de seus conflitos (inclusive DEIXANDO de provocar o judiciário). Mas é um grande exagero dizer que no futuro advogados terão de se esforçar pra sobreviver. É o contrário: cada vez mais o mundo precisará de advogados; as pessoas estão cada vez mais cientes de seus direitos, seja ele da natureza que for. A profissão se adaptar aos novos rumos da sociedade é uma coisa; a profissão ser posta em risco de extinção em detrimento de novos rumos é folclorizar demais.

  7. Gabriela, obrigada pela citação aí. Fico feliz que o meu post esteja repercutindo e gerando debate. Esse era justamente meu objetivo!
    Muito bom seu blog, os assuntos me interessam demais. Inclusive esse outro assunto “profissão: blogueiro”.
    Abraço!

  8. Fernanda: também acho que há um pouco de exagero na idéia de que os advogados irão acabar. De qualquer forma, não deixa de ser interessante colocar o tema para discussão, até para se poder iniciar uma busca por uma reformulação da profissão 🙂
    Suzana: obrigada pela visita, e por ter feito o post que acabou gerando este post 😛 🙂

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