Twitter e conversações

Na sexta-feira, Paul Bradshaw, do Online Journalism Blog, usou sua conta no Twitter para fazer algo à primeira vista um tanto estranho: narrar, em tempo real, seu progresso e suas impressões na leitura do livro “Here Come Everybody”, de Clay Shirky. E ele não fez isso sozinho. Pessoas de várias partes do mundo participaram, acompanhando a leitura, fazendo críticas, perguntas e sugestões, ou apenas recebendo a avalanche de atualizações sobre um mesmo assunto.
Ainda no mesmo dia, sobre a situação, Dave Lee, do jBlog, fez uma constatação interessante: “Você não pode oferecer uma cobertura ao vivo de algo que, você sabe, não é ao vivo!”. Afinal, qual é o propósito de se contar, minuto a minuto, o que está acontecendo enquanto se faz a leitura de um livro? (ou, indo mais a fundo… qual é o propósito de se contar o que quer que se esteja fazendo para um monte de pessoas, conhecidas ou semi-conhecidas, ao mesmo tempo? – afinal, pra que serve o Twitter???).
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A grande questão é que a idéia de Paul Bradshaw não era fazer uma espécie bizarra de “cobertura ao vivo da leitura de um livro”, e sim experimentar a possibilidade de utilização do Twitter para construir um forum público de leitura. Enquanto contava o que lia no livro, as atualizações dele eram recebidas por várias outras pessoas, que tinham a possibilidade de intervir, de forma síncrona ou assíncrona, no que estava sendo discutido. Mesmo quem não tivesse lido o livro poderia acabar se interessando pela temática da obra, por exemplo, e – por que não? – fazer perguntas.
O que ele fez de certa forma tem menos a ver com a idéia de se usar o Twitter para coberturas ao vivo, e mais a ver com a proposta de se usar o Twitter como uma espécie de ferramenta de gerenciamento de conhecimento, como um instrumento para a construção de uma inteligência coletiva (e aqui cabe uma leve ressalva: até hoje não sei ao certo se entendi a proposta de Lévy para o termo), enfim, como uma gigantesca conversação (as)síncrona e pública.
Não entendeu? Experimente usar o Twitter para fazer uma pergunta, qualquer que seja. Em instantes, alguém irá responder, nem que seja para reclamar que a pergunta é idiota. E nem precisa ser uma pergunta para que se obtenha respostas. Há vezes em que simplesmente resolvemos jogar um pensamento para o alto, fazemos uma pseudoreflexão solta no microblog, e, no mesmo instante – ou então horas depois (no Twitter não se está preso à sincronia) -, quem a gente menos espera nos diz alguma coisa. No fim das contas, o Twitter é útil para que percebamos que não estamos navegando sozinhos…
E não vale argumentar que dá para fazer o mesmo em outros espaços públicos virtuais da web, até mesmo em blogs… a grande graça do Twitter está no fato de que as mensagens precisam ser, obrigatoriamente, curtas! 😛

9 thoughts on “Twitter e conversações

  1. Oi linda!
    Nunca tive a curiosidade de saber o que era o bendito Twitter. Entra então para minha listinha de coisas para fuçar no tempo livre!
    Beijos!

  2. Pode parecer estranho, mas sempre pensei no twitter como um fórum, uma rede social que poderia ser explorada até em nível acadêmico e com grande potencial para fonte pessoal confiável, já que adicionamos pessoas que conhecemos e fazemos perguntas a elas.
    (fontes de informação, especializadas ou não, são a minha paixão na biblioteconomia).

  3. Oi, Gabriela!
    Parabéns pelo post. Olha, esse assunto de interações e inter-comunicações, esse pensamento coletivo pela internet, é um assunto realmente sensacional. Ontem mesmo assisti a um vídeo muito interessante pertinente a esse assunto, no blog da Suzana Cohen (o post com o vídeo está aqui).
    Abraços!
    Gustavo

  4. Embora viva no país das pessoas “pouco bronzeadas”, que é meu país de origem, tenh oque atribuir este amor a mensagens na Net ao medo da interação coletiva ao vivo com gente de carne e osso.
    Aqui na Grande Los Angeles as pessoas se ignoram nas ruas, sistematicamente. E agora acho que passei do meu limite twitter no comentário.
    O quê exatamente te fascina em comuicar-se exclusivamente via Internet, Gabriela Zago?

  5. Eu acompanhei a “leitura coletiva”, mas achei difícil porque: 1)As twittagens deles ficavam meio perdidas em meio ao meu caos pessoas que eu seguia, isso dificultava muito ficar vendo o que estava sendo dito. 2)Era difícil que todo mundo que estava acompanhando seguisse todo mundo – para funcionar como um chat e render a discussão. Acho que isso deixou a coisa toda meio monólogo e meio chata. 3) Acho que os 140 caracteres acabavam limitando o pensamento dos autores e ficava dificil seguir a linha, uma vez que cada um falava uma coisa e a ordem ia sendo perdida.
    Enfim, apesar de ter achado a iniciativa legal, acabei saindo no meio, porque não consegui acompanhar direito. Acho que, para esse tipo de discussão e profundidade, o Twitter não se presta.

  6. Bruno: o Twitter é divertido. Mas, realmente, se fossemos narrar tudo o que acontece em nossas vidas por lá, praticamente não viveríamos 😛
    Clarissa: isso, coloque o Twitter na lista. Vale a pena 😀
    Carla: o Twitter reúne bastante gente, o que o torna um excelente fórum para discussões coletivas 🙂
    Gustavo: vi que finalmente entrasse para o Twitter, legal! E obrigada pela dica do vídeo. Bem interessante mesmo.
    Tina: acho que o que mais me fascina na comunicação digital é que posso “falar” sem gaguejar, ou podendo repensar o que dizer :/ 😛 sou péssima em articular idéias em conversas convencionais 😛
    Raquel: pois é, também tive essa sensação ao acompahar a leitura do livro. É o tipo de idéia que, ao menos por enquanto (ou até que se pense em um formato melhor para executá-la) parece bem mais interessante na teoria do que na prática 😛

  7. [mode chato on]
    Mesmo forçando a barra para dar mais uma utlidade(?) ao hype, verifica-se na prática que é só mais uma “invenção de moda”, só mais uma “marmotagem” como se diz no interior do Brasil 🙂
    [mode chato off]
    Será que esse pessoal já ouviu falar em web-cam e irc (fórum, lista)

  8. Sérgio: realmente, muito do que se pode fazer com as novas ferramentas da web também podia ser feito com ferramentas beem anteriores, lá dos primórdios da Internet. Talvez, removendo o hype em torno do Twitter, reste apenas uma ferramenta boba e sem graça. Mas, por enquanto, a graça da coisa é justamente o hype – é a possibilidade de falar e ser ouvido, aproveitando o fato de que, ao menos por enquanto, há bastante gente usando o serviço 😉

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