Aqui, agora, e em todos os lugares

Há algum tempo atrás, falar sobre uma ferramenta que permite dizer o que se está fazendo no momento em doses de 140 caracteres pareceria insano. Hoje, tem gente que já não sabe mais viver sem acompanhar a vida dos outros e narrar a própria vida através de microblogs.
No artigo “Brave New World of Digital Intimacy“, publicado na NYTimes Magazine deste domingo (cuja leitura me foi sugerida pela Lucia Malla via Twitter – thanks!), Clive Thompson trata de como as ferramentas de streaming (em especial o Twitter e o Facebook) têm modificado o modo como nos relacionamos com outras pessoas. Em sua argumentação, o autor procura relacionar sistemas como o news feed do Facebook (que causou furor na web há dois anos atrás, quando foi lançado) e as microatualizações do Twitter com a idéia de ambient awareness (percepção do ambiente). Essas ferramentas permitem que saibamos o que todo mundo está fazendo a todo momento, o que também leva a questionamentos quanto a aspectos como privacidade e vigilância, e o quanto é possível controlar, ou tentar controlar, as informações que passamos para os demais.
A idéia básica é que, na rede, o compartilhamento de pequenas informações sobre o nosso dia-a-dia faz com que as pessoas tenham acesso a cada vez mais informações sobre a vida de outras pessoas. Como resultado, tem-se novas formas de constituição de laços sociais – relacionamentos que podem se desenvolver a partir do consumo de microatualizações sobre vidas alheias, ou até mesmo “amizades unilaterais”, que é mais ou menos o que acontece quando acompanhamos minuto a minuto a vida de alguém que sequer sabe que existimos (danah boyd, citada no artigo, vai se referir a esse tipo de relacionamento como “relações parasociais”). O autor chega a questionar se esse tipo de constituição de amizades não estaria, enfim, nos levando a extrapolar o Dunbar’s number, na medida em que as pessoas conseguem acompanhar facilmente as atualizações de centenas de contatos em ferramentas como Twitter e Facebook.
O interessante nessas ferramentas de streaming minuto a minuto da própria vida é que, diferentemente do e-mail, por exemplo, que requer 100% de atenção, no Twitter pode-se manter a atenção em baixa: pode-se apenas passar os olhos por cima de tudo e escolher o que ler; não é preciso ler tudo para poder interagir e participar do sistema. (Ou, como no Plurk ou no Google Reader, se há coisas demais por ler, basta “marcar tudo como lido” e seguir em frente.)
Alguns trechos do artigo:

“This is the paradox of ambient awareness. Each little update — each individual bit of social information — is insignificant on its own, even supremely mundane. But taken together, over time, the little snippets coalesce into a surprisingly sophisticated portrait of your friends’ and family members’ lives, like thousands of dots making a pointillist painting. This was never before possible, because in the real world, no friend would bother to call you up and detail the sandwiches she was eating.”

“Merely looking at a stranger’s Twitter or Facebook feed isn’t interesting, because it seems like blather. Follow it for a day, though, and it begins to feel like a short story; follow it for a month, and it’s a novel.”

“Young people today are already developing an attitude toward their privacy that is simultaneously vigilant and laissez-faire. They curate their online personas as carefully as possible, knowing that everyone is watching — but they have also learned to shrug and accept the limits of what they can control.”

Leia o texto completo aqui.

2 thoughts on “Aqui, agora, e em todos os lugares

Leave a Reply to Fred Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *