O Twitter pode ser usado para o jornalismo?

A discussão do uso do Twitter para o jornalismo voltou à tona por ocasião dos atentados terroristas em Mumbai, na Índia. Enquanto alguns dizem que o que acontece na ferramenta não é jornalismo (por que muita da informação que circula por lá ainda não foi verificada e pode ser falsa), outros defendem que a velocidade da ferramenta, e multiplicidade de suportes que podem ser utilizados para atualizá-la, permite que as informações apareçam primeiro por lá, e só depois cheguem à mídia tradicional. De acordo com o Techcrunch, “O Twitter ainda não é o lugar para fatos sólidos – a situação é um tanto desorganizada. Mas é onde as notícias são dadas primeiro” (tradução livre).
A discussão percorre o fato de que as atualizações do Twitter não podem ultrapassar o limite de 140 caracteres. Uma notícia pode ser assim tão curta? É possivel fazer jornalismo em 140 caracteres? De certa forma, acho que o jornalismo não depende tanto do suporte utilizado para propagar a informação, ou do tamanho da notícia, e sim do conteúdo da mensagem. E o que as pessoas fazem no Twitter pode não ser exatamente jornalismo, no sentido estrito da palavra, mas não dá para negar que seria ao menos uma informação jornalística, no sentido de que essa informação que pode vir a interessar um determinado grupo de pessoas.
Como disse acima, um argumento contrário apresentado é o fato de que as informações postadas no Twitter não são verificadas. E disso decorreria muita informação falsa. Mas Mathew Ingram defende o Twitter: isso é típico de coberturas ao mesmo tempo em que o fato acontece. Até na televisão e em outros meios acontecem “baleiadas” desse tipo, pelo fato de que ainda não se tem a informação pronta e acabada: o evento ainda está acontecendo.
Isso nos leva de volta à proposta de Paul Bradshaw de diamante da notícia, ainda de 2007. O Twitter é colocado por ele como o primeiro passo da cobertura notícia, como uma espécie de “alerta” de acontecimento, cujas informações devem depois ser retrabalhadas em outras formas de composição noticiosa. Em outras palavras: as atualizações em tempo real pelo Twitter não substituem outras formas de jornalismo, mas podem vir a complementá-las.
Como diz o título de uma postagem de Michael Arrington no Techcrunch, “Não consigo acreditar que algumas pessoas ainda estão dizendo que o Twitter não é uma fonte de notícias” (tradução livre).
No caso do atentado terrorista de Mumbai, não só o Twitter, como também as mídias sociais em geral, desempenharam um papel fundamental na disponibilização de informações em tempo real. E isso foi reconhecido pela mídia tradicional (vide, por exemplo, esta matéria da CNN). Aliás, um aspecto interessante dessa matéria é que ela faz algo que discutíamos como importante em uma das sessões de trabalhos da ABCiber: a criação de espécies de resumos do que aconteceu em um determinado dia no Twitter, para aqueles que perderam as atualizações do dia e queiram reconstruir o caminho da informação. Exceto pela busca por palavras-chave, a característica de memória ainda é pouco explorada no Twitter – de certa forma, fica-se preso a um presenteísmo constante, a um agora renovado a cada segundo. Percorrer arquivos DEPOIS do acontecimento é uma tarefa árdua e demorada. Nesse contexto, resumos noticiosos de coberturas feitas pelo Twitter podem ser uma boa saída para recuperar a informação.
Enquanto isso, no Brasil, salvo raras exceções, os jornais tradicionais continuam a usar o Twitter apenas para reproduzir conteúdos de outras mídias

E um pouco bem mais perto de nós… o que é aquela enchente em Santa Catarina??? Já são quase 100 mortes confirmadas e milhares de desabrigados. Quem puder ajudar, a Defesa Civil de SC tem pedido doações.
As mídias sociais, em especial blogs e redes sociais, também têm sido utilizadas para prestar informações sobre a situação nos municípios atingidos.

7 thoughts on “O Twitter pode ser usado para o jornalismo?

  1. Gostei do comentário, da reflexão. Entendo que devemos aprofundar a questão. E, fundamentalmente, trazer o twitter para as escolas de jornalismo. Parece-me que ainda é um ilustre desconhecido de muitos professores e estudantes.

  2. Guta: obrigada pelo link no blog, e pelo link para a matéria d’O Globo (aliás, que legal, tem um link para o Twitter Brasil ao final da matéria :DDD).
    Gerson: aos poucos o Twitter e outras ferramentas vão sendo incorporadas ao dia-a-dia das redações, e à sala de aula. 🙂

  3. Se trata de um meio pelo qual se passa a informação. E cumpre sua missão, tem tudo pra se massificar. Vai agradar por que é curto, essencialmente por isso. Me parece também que esse vai ser o motivo que depois de triunfante vai ser grande alvo pros críticos desavisados…. ” Ah é curto, vazio demais “. Quando na verdade justamente o que busca é informar e rápido. Pelo que eu noto, o Twitter é a informação, pronta e na cara, não me parece que a palavra democrático cabe pelo fato de todos terem o mesmo número de carácteres pra passar seu recado. A verdade é que se trata quase de uma consequência, dessa vez sã do mundo da velocidade extremada, do resultado pra ontem. Não é plataforma de aprofundamento tampouco de análises, informação chega e é publicada. E aqui a questão do tempo entra em toda santa abrangência que ela alcança, não cabe a mim extender ela toda, mas o Twitter maneja com esse problema bem demais.

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