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O Twitter pode ser usado para o jornalismo?

A discussão do uso do Twitter para o jornalismo voltou à tona por ocasião dos atentados terroristas em Mumbai, na Índia. Enquanto alguns dizem que o que acontece na ferramenta não é jornalismo (por que muita da informação que circula por lá ainda não foi verificada e pode ser falsa), outros defendem que a velocidade da ferramenta, e multiplicidade de suportes que podem ser utilizados para atualizá-la, permite que as informações apareçam primeiro por lá, e só depois cheguem à mídia tradicional. De acordo com o Techcrunch, “O Twitter ainda não é o lugar para fatos sólidos – a situação é um tanto desorganizada. Mas é onde as notícias são dadas primeiro” (tradução livre).
A discussão percorre o fato de que as atualizações do Twitter não podem ultrapassar o limite de 140 caracteres. Uma notícia pode ser assim tão curta? É possivel fazer jornalismo em 140 caracteres? De certa forma, acho que o jornalismo não depende tanto do suporte utilizado para propagar a informação, ou do tamanho da notícia, e sim do conteúdo da mensagem. E o que as pessoas fazem no Twitter pode não ser exatamente jornalismo, no sentido estrito da palavra, mas não dá para negar que seria ao menos uma informação jornalística, no sentido de que essa informação que pode vir a interessar um determinado grupo de pessoas.
Como disse acima, um argumento contrário apresentado é o fato de que as informações postadas no Twitter não são verificadas. E disso decorreria muita informação falsa. Mas Mathew Ingram defende o Twitter: isso é típico de coberturas ao mesmo tempo em que o fato acontece. Até na televisão e em outros meios acontecem “baleiadas” desse tipo, pelo fato de que ainda não se tem a informação pronta e acabada: o evento ainda está acontecendo.
Isso nos leva de volta à proposta de Paul Bradshaw de diamante da notícia, ainda de 2007. O Twitter é colocado por ele como o primeiro passo da cobertura notícia, como uma espécie de “alerta” de acontecimento, cujas informações devem depois ser retrabalhadas em outras formas de composição noticiosa. Em outras palavras: as atualizações em tempo real pelo Twitter não substituem outras formas de jornalismo, mas podem vir a complementá-las.
Como diz o título de uma postagem de Michael Arrington no Techcrunch, “Não consigo acreditar que algumas pessoas ainda estão dizendo que o Twitter não é uma fonte de notícias” (tradução livre).
No caso do atentado terrorista de Mumbai, não só o Twitter, como também as mídias sociais em geral, desempenharam um papel fundamental na disponibilização de informações em tempo real. E isso foi reconhecido pela mídia tradicional (vide, por exemplo, esta matéria da CNN). Aliás, um aspecto interessante dessa matéria é que ela faz algo que discutíamos como importante em uma das sessões de trabalhos da ABCiber: a criação de espécies de resumos do que aconteceu em um determinado dia no Twitter, para aqueles que perderam as atualizações do dia e queiram reconstruir o caminho da informação. Exceto pela busca por palavras-chave, a característica de memória ainda é pouco explorada no Twitter – de certa forma, fica-se preso a um presenteísmo constante, a um agora renovado a cada segundo. Percorrer arquivos DEPOIS do acontecimento é uma tarefa árdua e demorada. Nesse contexto, resumos noticiosos de coberturas feitas pelo Twitter podem ser uma boa saída para recuperar a informação.
Enquanto isso, no Brasil, salvo raras exceções, os jornais tradicionais continuam a usar o Twitter apenas para reproduzir conteúdos de outras mídias

E um pouco bem mais perto de nós… o que é aquela enchente em Santa Catarina??? Já são quase 100 mortes confirmadas e milhares de desabrigados. Quem puder ajudar, a Defesa Civil de SC tem pedido doações.
As mídias sociais, em especial blogs e redes sociais, também têm sido utilizadas para prestar informações sobre a situação nos municípios atingidos.

Afinal, o que é um microblog?

O que é o Twitter? — Sim, eu sei, é um microblog. Mas e o que é um microblog? Um blog pequenininho?
A primeira vez que tentei definir o Twitter, ainda em 2007, saiu assim:

“O Twitter é um microblog. Um microblog é uma ferramenta que permite atualizações rápidas e curtas e, se possível, a partir de uma multiplicidade de suportes diferentes. É possível atualizar o Twitter, por exemplo, pela web, por instant messaging (IM), ou até pelo celular – por short message service (SMS) ou internet móvel.” (daqui).

Apesar de simplória, essa definição já chegou até mesmo a ser descaradamente copiada, com as mesmas vírgulas, sem referência alguma, em um artigo científico de uma desconhecida numa revista acadêmica (mais detalhes sobre esse assunto em posts futuros; aguarde). Mas, sei lá, dizer que um microblog é qualquer coisa que permita atualizações rápidas e curtas é muito limitado, ou não?
Mais adiante, passei a adotar a definição de José Luis Orihuela, segundo o qual o Twitter seria uma mistura entre blog, rede social e mensageiro instantâneo (parti dessa definição neste trabalho, por exemplo). Tentando ampliar as considerações do autor, pode-se dizer que o Twitter seria blog na medida em que envolve a publicação de conteúdo em ordem cronológica inversa. Seria rede social porque nele cada pessoa é representada por um perfil, há uma lista de contatos, e pode-se interagir uns com os outros. Já o caráter de mensageiro instantâneo decorreria da limitação de tamanho a cada atualização, e do fato de que as pessoas costumam ficar bastante tempo online nele, o que faz com que se possa estabelecer conversações síncronas – como numa espécie bizarra de MSN coletivo.
O interessante dessa definição é que ela não se prende a um ou outro aspecto dos microblogs – e sim faz uma analogia com o pouquinho que o Twitter tem de cada coisa.
Só que aí, quando a gente está quase aceitando que o Twitter é isso, eis que surge algo tipo o Plurk. O Plurk foge completamente à idéia do que se imagina para um blog – as postagens são exibidas em ordem cronológica inversa, mas dispostas numa linha do tempo. Onde já se viu, blog em uma linha do tempo??? Por outro lado, há a possibilidade de se responder plurks, o que de certa forma guarda semelhanças com a relação entre postagens e comentários em um blog.
E nessa situação a gente começa a se perguntar até que ponto os microblogs são “micro” e “blogs” mesmo. Ou será que já se tornaram um gênero autônomo, tão autônomo que de blog só possuem o sufixo no nome? E será mesmo que são tão micro? Claro, não dá para escrever um tratado em 140 caracteres. Mas dá para desdobrar uma informação entre vários tweets, ou então vir a complementá-la por intermédio de links para outros textos.
Também não sei por que cargas d’água fui me preocupar logo com isso. Qual a relevância prática de se discutir a definição de um fenômeno? Realmente importa saber se os microblogs são micro, se os microblogs são blogs, ou que raios é isso? As definições, as categorias, são apenas modos de classificar o mundo: ajudam a melhor compreender as coisas. Por outro lado, toda e qualquer tentativa de definição será sempre necessariamente reducionista (lembrando que generalizar é também sempre uma coisa perigosa).
E que tal se a gente definisse microblogs e Twitter como um bebedouro virtual? Como um bate-papo pós-moderno (aliás, o termo pós-moderno, por si só, mereceria toda uma discussão à parte)? Como a versão pública e via web das mensagens de celular? Como uma forma alternativa de representar as coisas? Como uma ferramenta comunicacional peculiar? Como a democratização das frases curtas? Como uma tentativa forçada de reduzir idéias e pensamentos a 140 caracteres – e, dessa forma, ajudar-nos a melhor compreender o mundo?
Alguém aí tem uma idéia melhor de como definir microblogs e o Twitter?
E, só para complicar um pouquinho: o Tumblr é microblog também?

Meme no Twitter: há seis anos, um ano depois

Há um ano, surgia espontaneamente na twittosfera um dos primeiros memes brasileiros no Twitter. Em 2007, ao relembrar o 11 de setembro de 2001, os usuários do Twitter passaram a usar uma estrutura sintática parecida: iniciavam a frase com “Há seis anos atrás”, “Há 6 anos”, e após contavam o que estavam fazendo no momento em que tomaram conhecimento do ataque às torres gêmeas.
Em 2008, o mesmo fenômeno de recontar o que acontecia em 2001 pode ser observado. Mas, desta vez, com o poder de sistematização propiciado pelas tags (#11set, #11), as participações têm sido bem mais organizadas – inclusive com direito a piadinhas relacionadas ao meme.
O que mudou em um ano? Os usuários do Twitter passaram a ser mais unidos, em maior quantidade, mais propícios a participar em ações coletivas, conhecem mais a fundo o sistema (aprendemos a usar as #tags!)… Mas, mesmo que o tempo passe, permanece ainda marcado em nossas memórias o que fazíamos no fatídico 11 de setembro…

Usos do Twitter

Estive em Porto Alegre ontem para apresentar os resultados de uma pesquisa sobre usos sociais do Twitter em um evento de iniciação científica. Enquanto minha monografia focava no caráter de blog do Twitter, a pesquisa de IC foi mais voltada para o aspecto de rede social do sistema. E o que pude notar, a partir de uma observação participante da ferramenta, é que, além de servir como plataforma para publicação de conteúdos (algo mais voltado para o caráter de blog), o Twitter pode ser usado para diversas formas, digamos, mais “sociais”, tanto para estabelecer (conhecer novas pessoas) quanto para manter laços sociais (reforçar amizades), e esses usos costumam mobilizar diferentes formas de capital social*.
Entretanto, embora tenha encontrado vários exemplos de utilização social da ferramenta, cada vez me convenço mais de que o Twitter se presta mais para difusão de informações do que para conversações. As pessoas parecem usar o Twitter mais para comentar, compartilhar e distribuir informações (notícias estrito senso, ou até mesmo fatos sobre suas vidas) do que propriamente para conversarem umas com as outras. As próprias conversas muitas vezes emergem espontaneamente a partir de informações originalmente compartilhadas pelos usuários. Até surgem conversas, diálogos, mas em geral, pelo que tenho observado, eles rapidamente se dispersam no mar de outras informações no Twitter. O sistema não favorece interações com mais de três usuários, e as trocas comunicativas com mais gente se tornam confusas e difíceis de acompanhar.
Uma apropriação um tanto diferenciada pode ser observada no Plurk, por exemplo; lá, a própria estrutura do sistema favorece que haja mais conversações, mais discussões de determinados tópicos, uma vez que as “conversas” ficam agrupadas debaixo de uma atualização motivadora inicial. Como resultado, tem-se um afastamento ainda maior da idéia de “blog”. (– A Raquel Recuero fez recentemente um post bem interessante sobre as diferenças entre Twitter e Plurk enquanto suportes para conversação.)
E vocês, o que acham? Para que serve o Twitter? Ele estaria voltado mais para a difusão de informações, ou para usos mais sociais? Depois de tantos usos diferenciados que vêm surgindo para ele e para as demais ferramentas similares, ainda faz sentido comparar microblogs com blogs?

* Para uma maior discussão sobre o tema, deixo aqui
um link para o trabalho que produzi com os resultados da pesquisa sobre capital social e usos do Twitter (uma versão mais burocrática desse mesmo texto foi apresentada à UCPel como relatório de pesquisa).

Instantaneidade jornalística no Twitter

Na tarde de ontem, aconteceu um terremoto em Los Angeles de 5,4 pontos na Escala Richter. Abstraindo um pouco a parte trágica da coisa (na verdade, só houve danos materiais; ninguém ficou ferido), o interessante foi que, ao menos desta vez, foi possível ter uma boa noção geral do quanto o Twitter pode ser ágil como meio de comunicação nessas situações.
De acordo com o blog do Twitter, as primeiras atualizações sobre o terremoto teriam levado segundos para aparecer no microblog (em contraposição, o despacho da AP sobre o terremoto só foi ser emitido 9 minutos depois do acontecimento). Pouco tempo depois, a conta da Cruz Vermelha no Twitter já enviava dicas de como enfrentar a situação para possíveis atingidos pelo terremoto (um uso bem interessante da ferramenta, como apontou o Tiago Dória, considerando que se pode receber as atualizações pelo celular).
Twitter Earthquake Twitscoop
Twitscoop – busca pelo termo “earthquake” nos últimos 3 dias
A quantidade de atualizações também surpreendeu (vide gráfico acima). Teve até uma mulher que fez, digamos, uma cobertura bem pessoal do terremoto, e acabou virando um meme espontâneo no Twitter.

Curiosidade: a CNN tentou postar 20 minutos após o terremoto, mas a micronotícia acabou sendo atrasada por uma atualização no servidor. E o mais interessante é que pediram desculpas pelo atraso!

Bônus: também há vídeos interessantes do terremoto no YouTube (via newsblog).

Jornalismo em uma nuvem de tags

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Anteontem fiz um post sobre o TwitScoop. Em linhas gerais (para quem tiver preguiça de clicar no link para ler o post em si), trata-se de (mais) uma (dentre inúmeras) ferramenta criada a partir da API do Twitter, cujo diferencial é exibir uma nuvem de tags atualizada em tempo real com as palavras que estão sem mencionadas naquele instante no Twitter. Divertido, não?
Mas foi só depois de fazer o post que percebi o potencial dessa ferramenta para o jornalismo. No mesmo dia, cheguei a comentar no Twitter que fiquei sabendo de um terremoto nas Filipinas a partir do TwitScoop (veja a imagem acima). E hoje o Donizetti comentou que ficou sabendo de um atentado à embaixada norte-americana em Instambul pela mesma via.
O que há de interessante no TwitScoop, então, é que observar as tags aumentando e diminuindo de tamanho em tempo real não só pode nos revelar tendências do Twitter, como também permite acompanhar o estopim de grandes acontecimentos, em um autêntico crowdsourcing. Em síntese, trata-se não só de uma poderosa ferramenta de marketing, como também pode ser usado como uma ferramenta para o jornalismo.

#cnhm impressões sobre o Congresso de História da Mídia

Ontem e anteontem estive em Niterói, RJ, acompanhando, junto com o Gilberto Consoni (amigo e companheiro no mundo cientifico), as discussões do GT de História da Mídia Digital no VI Congresso Nacional de História da Mídia. Além de acompanhar, nós dois também aproveitamos a oportunidade para twittar sobre o evento. Apesar de termos parecido um tanto anti-sociais (muitos não tinham entendido, a princípio, o que tanto a gente fazia digitando no celular o tempo todo, e, por uma questão de tornar a situação mais interessante, optamos por deixar para contar o que estávamos fazendo apenas no dia seguinte), a experiência foi bastante divertida.
#cnhm no Twitter
À esquerda, busca pela tag #cnhm no Tweetscan. Ao lado, alguns dos replies recebidos durante o congresso.
A parte mais interessante de ir contando aos poucos o que acontecia no evento talvez tenha sido, mais tarde, acessar o Twitter pela web e poder ver as respostas (ou questionamentos) que tínhamos recebido de pessoas que estavam acompanhando a cobertura (infelizmente, não conseguimos ver todas as respostas em tempo real – a interface do Twitter móvel é bastante simplificada, e ela só mostra as 10 últimas atualizações – clicar no older vária vezes pode se tornar um tanto inviável economicamente -; mas, na medida do possível, os recados enviados pelo Twitter foram repassados para o pessoal do GT). (As atualizações foram feitas pelo celular porque no prédio do IACS, da UFF, não tem wi-fi).
De qualquer modo, quem quiser acompanhar o que aconteceu nos dois dias do GT, pode refazer o caminho da tag #cnhm no Twitter, no Terraminds, no Summize, no Twemes, no Tweetscan, ou em seu buscador derivado do Twitter favorito 🙂

[modo entusiasmo acadêmico on] Além de twittar freneticamente o tempo todo e floodar os amigos com repetidas mensagens com a mesma tag, também fomos a Niterói para apresentar trabalhos no GT. O interessante é que o evento aceita trabalhos de todos os níveis – de iniciação científica a pós-doutorado, de trabalhos científicos a relatos profissionais – e todos apresentam em sessões conjuntas, sem aquelas frescuras a la Intercom de separar as apresentações pelo nível de formação do apresentador do trabalho. Digamos que apresentar trabalho pela primeira vez para uma platéia que não era majoritariamente constituída apenas por outros graduandos foi uma experiência extremamente interessante. Mas mais legal ainda foi poder acompanhar as discussões de (quase) todo o GT (tivemos de sair um pouco mais cedo no último dia, em função do horário do vôo).
Foi ótimo poder conhecer e assistir às apresentações de trabalhos de pesquisadores como Adriana Amaral, Sandra Montardo, Walter Lima Jr. (coordenador do GT), do pessoal do curso de graduação em Jogos Digitais da Feevale, o relato do (in)sucesso do CD produzido pelo Roberto Tietzmann lá em 1996/1997… Não tem como não sair de um evento desses sem se sentir em um turbilhão de idéias e inquietações. [modo entusiasmo acadêmico off]

Update 21/05 — aí vai um link para baixar o trabalho que apresentei lá em Niterói, para caso alguém tenha interesse em acessá-lo:
>> Dos Blogs aos Microblogs: Aspectos Históricos, Formatos e Características [PDF]

Jornalismo e Twitter

Image Hosted by ImageShack.us Em um post recente no ReadWriteWeb, Marshall Kirkpatrick discute, em linhas gerais, a idéia de se fazer jornalismo através do Twitter. Na verdade, o post enumera as formas com o próprio RWW vem usando a ferramenta. E o resultado acaba sendo um apanhado bem útil do que se pode fazer com o Twitter:
ficar sabendo das últimas notícias – seja através de feeds de jornais online, seja a partir de comentários de amigos – o que, no caso de um blog sobre novidades na área de tecnologia, como é o caso do RWW, acaba sendo algo bastante útil. Muitas vezes, postar primeiro que os demais acaba sendo um fator crucial para conseguir um maior número de visitas.
realizar entrevistas – o RWW tem pedido direto através do Twitter sugestões de perguntas para seus leitores, e essas perguntas são depois selecionadas e usadas em entrevistas realizadas pela equipe do site.
controle de qualidade – além de se poder usar o Twitter para fazer perguntas rápidas (e, na maior parte das vezes, obter respostas), ele também serve como um canal para obter feedback rápido sobre determinados assuntos – por exemplo, ao se postar o link para um post de blog no Twitter, tem-se mais chance de receber comentários e correções/complementos das pessoas do Twitter pelo próprio Twitter do que junto ao post do blog.
divulgação – a criação de um feed para notícias é citado no post do RWW como o uso jornalístico mais óbvio do Twitter. Há inúmeros feeds de notícias espalhados pelo Twitter. E a maior parte deles não é oficial. Entretanto, no Twitter vige uma espécie de regra não escrita segundo a qual fica chato usar a ferramenta o tempo todo para se auto-promover – talvez por isso muitos blogueiros optem por linkar apenas alguns dos seus posts, ou então criar contas no Twitter em separado para servirem como feeds de seus blogs.
Os usos que o RWW faz do Twitter dão uma boa idéia do potencial que a ferramenta tem para ser usada para assuntos sérios. Ou seja: há muita coisa para além da pergunta “O que você está fazendo?”. O Twitter não é só o que deixa transparecer o hype em torno dele.

Paul Bradshaw também fez, recentemente, uma espécie de texto guia sobre jornalismo no Twitter, voltado para jornalistas, com várias sugestões de usos interessantes que estão sendo feitos do sistema ao redor do mundo. Vale a pena conferir.

Falando em usos interessantes do Twitter, em um dos comentários ao post sobre jornalismo no Twitter do RWW, cheguei até o Crowdstatus, uma ferramenta criada por Darren Stuart a partir da API do Twitter que possibita a criação de páginas com grupos de usuários do Twitter que permitem que se visualize a última atualização desses usuários de uma forma amigável em um mesmo endereço. Dá para criar manualmente os grupos (criei um lá, como teste, com alguns exemplos de usos jornalísticos do Twitter), ou então entrar com seu nome de usuário e acompanhar as atualizações dos seus contatos nesse formato diferente.

Twitter e conversações

Na sexta-feira, Paul Bradshaw, do Online Journalism Blog, usou sua conta no Twitter para fazer algo à primeira vista um tanto estranho: narrar, em tempo real, seu progresso e suas impressões na leitura do livro “Here Come Everybody”, de Clay Shirky. E ele não fez isso sozinho. Pessoas de várias partes do mundo participaram, acompanhando a leitura, fazendo críticas, perguntas e sugestões, ou apenas recebendo a avalanche de atualizações sobre um mesmo assunto.
Ainda no mesmo dia, sobre a situação, Dave Lee, do jBlog, fez uma constatação interessante: “Você não pode oferecer uma cobertura ao vivo de algo que, você sabe, não é ao vivo!”. Afinal, qual é o propósito de se contar, minuto a minuto, o que está acontecendo enquanto se faz a leitura de um livro? (ou, indo mais a fundo… qual é o propósito de se contar o que quer que se esteja fazendo para um monte de pessoas, conhecidas ou semi-conhecidas, ao mesmo tempo? – afinal, pra que serve o Twitter???).
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A grande questão é que a idéia de Paul Bradshaw não era fazer uma espécie bizarra de “cobertura ao vivo da leitura de um livro”, e sim experimentar a possibilidade de utilização do Twitter para construir um forum público de leitura. Enquanto contava o que lia no livro, as atualizações dele eram recebidas por várias outras pessoas, que tinham a possibilidade de intervir, de forma síncrona ou assíncrona, no que estava sendo discutido. Mesmo quem não tivesse lido o livro poderia acabar se interessando pela temática da obra, por exemplo, e – por que não? – fazer perguntas.
O que ele fez de certa forma tem menos a ver com a idéia de se usar o Twitter para coberturas ao vivo, e mais a ver com a proposta de se usar o Twitter como uma espécie de ferramenta de gerenciamento de conhecimento, como um instrumento para a construção de uma inteligência coletiva (e aqui cabe uma leve ressalva: até hoje não sei ao certo se entendi a proposta de Lévy para o termo), enfim, como uma gigantesca conversação (as)síncrona e pública.
Não entendeu? Experimente usar o Twitter para fazer uma pergunta, qualquer que seja. Em instantes, alguém irá responder, nem que seja para reclamar que a pergunta é idiota. E nem precisa ser uma pergunta para que se obtenha respostas. Há vezes em que simplesmente resolvemos jogar um pensamento para o alto, fazemos uma pseudoreflexão solta no microblog, e, no mesmo instante – ou então horas depois (no Twitter não se está preso à sincronia) -, quem a gente menos espera nos diz alguma coisa. No fim das contas, o Twitter é útil para que percebamos que não estamos navegando sozinhos…
E não vale argumentar que dá para fazer o mesmo em outros espaços públicos virtuais da web, até mesmo em blogs… a grande graça do Twitter está no fato de que as mensagens precisam ser, obrigatoriamente, curtas! 😛

1 milhão de usuários no Twitter?

O TwitDir mostra em sua página inicial o total de usuários do Twitter que ele consegue detectar. Esse número, ao menos em tese, corresponderia ao total de contas públicas do Twitter – se a pessoa opta por manter sua conta privada (aquelas, com o cadeadinho), essa conta não é indexada pelo sistema do TwitDir.
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Se você olhar lá por agora (ou ali, na imagem acima), verá que há 954.202 954.235 usuários no Twitter (até terminar de escrever o post, o número mudou) – lembrando que esse número representa apenas os usuários que mantêm seus perfis públicos. Já este post do Twitter Facts comenta que o ritmo de crescimento do Twitter tem diminuído, o que demonstraria um caminho rumo a uma certa estabilização do sistema. Mas o post também apresenta a estimativa de que cerca de 15%* das contas do Twitter poderiam ser privadas, o que em termos práticos significaria que é bem possível que o número total de usuários do Twitter já tenha ultrapassado a marca de 1 milhão.
Mas será que não estaria havendo uma espécie de onda de privatização das atualizações, ou algo do tipo? (o que faria com que o crescimento do Twitter, ao menos aparentemente, estivesse diminuindo, visto que o TwitDir é incapaz de contabilizar as contas privadas). Já tem gente reclamando do excesso de informação provocado por seguir muita gente ao mesmo tempo no Twitter. Será que, passada a apropriação inicial do sistema, os usuários não estariam modificando seus hábitos, e passando a restringir suas atualizações a um número reduzido de contatos, como uma forma de controlar o excesso de informação?
Mais adiante, outro post no Twitter Facts chama a atenção para o fato de que também se pode especular sobre o total de usuários do Twitter a partir do número atribuído a cada novo usuário no momento do cadastro (para saber o seu número, veja o endereço do seu RSS feed; é esse número seqüencial que determina a posição que as pessoas vão aparecer na lista de seguidores em outros Twitters). Até novembro de 2006, esse número era atribuído em seqüência. A partir de então, ele passou a ser aleatório, embora continuasse em ordem crescente. De qualquer modo, se considerarmos os dados fornecidos pelo Twitterholic, então já teríamos cerca de 12 milhões de usuários no Twitter. Como exemplo, a minha página por lá acusa que fui a pessoa de número 5.789.092 (!) a entrar no Twitter.
Toda essa confusão quanto ao real número de usuários no Twitter se deve ao fato de que a empresa não informa as estatísticas oficiais. Tudo o que se tem são meras estimativas, baseadas no número de usuários públicos que se consegue rastrear (TwitDir), ou no número seqüencial atribuído a cada novo usuário no momento de seu cadastro (Twitterholic). Uma maneira – nada prática – de se verificar isso seria digitar, manualmente, cada um dos endereços de feed para os supostos 12 milhões de usuários no Twitter. (Alguém se habilita? :P).

Para quem não quiser se perder no caos informacional do Twitter, uma dica é criar feeds com filtros, através do Yahoo! Pipes. O Mike Sansone, do ConverStations, criou um pipe que reúne apenas as atualizações que contenham links de seus amigos no Twitter (veja passo a passo em português no Twitter Brasil). Também dá para criar pipes derivados restrigindo a determinadas informações (como ‘apenas as atualizações dos amigos que contenham a palavra blog’, por exemplo). É um tanto mais específico que a ferramenta track (porque permite acompanhar apenas o que diz os seus amigos, e não o que dizem todos os usuários do Twitter). A solução ideal meeeesmo seria o Twitter permitir organizar as informações – com tags, talvez? – ou algo do tipo. Mas, enquanto esse tipo de função não surge, o jeito é se contentar com paliativos para não se afogar no mar diário de tweets.

* Fiz um levantamento rápido, e constatei que, de 100 dos meus amigos no Twitter, apenas 1 mantém as atualizações privadas, o que, estatisticamente… não quer dizer absolutamente nada 😛