3 motivos para ler Barthes

1. Comecei a leitura de “Aula“, de Roland Barthes, anotando as frases que mais me chamavam a atenção…

“A língua implica uma relação fatal de alienação.” (p. 13)

“Mas língua, como desempenho de toda linguagem, não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente: fascista; pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer.” (p. 14)

“Hoje creio realmente que, sob a pertinência que aqui se escolheu, língua e discurso são indivisos, pois eles deslizam segundo o mesmo eixo de poder.” (p. 31)

(…mas em seguida interrompi as notas, antes que tivesse copiado o livro inteiro, só em frases :P)

O livro é uma transcrição da aula inaugural da cadeira de Semiologia Literária do Colégio de França, dada por Barthes em 7 de janeiro de 1977, e foi publicada logo em seguida com o singelo e des-pretensioso título de “Leçon“. Trata-se de uma das obras mais polêmicas do autor, tamanha a crítica que ele faz da presença inarredável do Poder de qualquer discurso que se faça. O tom polido e educado que se espera de um professor em seu primeiro dia de aula é intercalado por uma fina ironia e uma crítica ferrenha ao Sistema. Para R.B., a importância da Literatura estaria no fato de que ela exerce uma espécie de “função utópica” (por se tratar de um discurso [[teoricamente] vindo de fora do poder).

“A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa.” (p. 19)

2. Outro livrinho (em tamanho) bastante interessante de Roland Barthes é “O Prazer do Texto“. Nele, o autor discorre caoticamente acerca do relacionamento do leitor com a obra que lê, e das duas diferentes maneiras de se saborear uma leitura: o prazer e o gozo.

“Quem suporta sem nenhuma vergonha a contradição? Ora este contra-herói existe: é o leitor de texto, no momento em que se entrega a seu prazer.” (p. 8)

“O prazer é dizível, a fruição [o gozo] não o é.” (p. 31)

“O enfado não está longe da fruição: é a fruição vista das margens do prazer.” (p. 36)

“E, perdido no meio do texto (não atrás dele ao modo de um deus de maquinaria) há sempre o outro, o autor.” (p. 38)

O escritor é como “o morto do bridge: necessário ao sentido (ao combate), mas ele mesmo privado de sentido fixo.” (p. 48)

3. Durante todo o tempo em que li “Roland Barthes por Roland Barthes” fiquei imaginando como seria se ele estivesse vivo e tivesse um blog… O livro é uma espécie de anti-autobiografia, difícil de descrever. É uma espécie de colagem de fragmentos escritos ao longo de alguns anos da vida do escritor, alguns falando de aspectos pessoais, outros falando de sua obra. Chega a ser bizarro vê-lo escrevendo sobre si mesmo ora em terceira, ora em primeira pessoa: como se assumindo aquilo que disse, logo depois de atribuir a si mesmo aquilo que está prestes a dizer.

“Mas eu nunca me pareci com isto!
— Como é que você sabe? Que é este “você” com o qual você se pareceria ou não? Onde tomá-lo? Segundo que padrão morfológico ou expressivo? Onde está seu corpo de verdade?”
(p. 42, ao lado de duas fotos, em duas épocas diferentes de sua vida)

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