Estudantes 2.0

A Web 2.0 abre potenciais inegáveis para a comunicação. A abertura à participação permite que, ao menos em tese, todo mundo possa se expressar em um mesmo suporte, o que faz com que a fronteira entre emissão e recepção se torne nebulosa. Além disso, o fato de que essas informações estão disponibilizadas na Internet faz com que elas possam ser acessadas e alteradas em qualquer parte do mundo.
Isso acaba abrindo um potencial enorme para os estudantes. Seus atos, anseios, opiniões e reivindicações não precisam ficar restritos a um único curso, a uma única universidade. Pela Internet, é possível mobilizar outros estudantes em prol de uma causa, ou discutir com alguém do outro lado do mundo as políticas estudantis de um determinado país.
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Mas o mesmo meio que permite um potencial democrático, também pode trazer como conseqüência um verdadeiro caos, dependendo do uso que se faça. O João Barreto sugeriu um link para uma matéria da BBC sobre o site JuicyCampus.com. O site tem gerado uma série de protestos nos EUA. Criado originalmente para ser um fórum em que universitários de diversas partes dos Estados Unidos pudessem expressar suas opiniões de forma anônima, a coisa descambou a tal ponto que, atualmente, o que mais se encontra por lá são fofocas e denúncias a respeito da vida privada de estudantes, funcionários e professores de universidades americanas. Como em um típico site de Web 2.0, dá para votar e comentar nas fofocas. E, é óbvio, as mais populares são as mais suculentas, principalmente as que envolvem drogas ou sexualidade. Já há grupos de estudantes buscando barrar o acesso ao site a partir de algumas universidades.
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Entretanto, nem toda rede social para estudante precisa necessariamente virar uma bagunça total. Depende do modelo, depende do uso. No Brasil, há o Descolando. A proposta do site é os alunos avaliarem seus professores – dizendo se costumam faltar aulas, fazer provas difíceis, ou não explicar bem a matéria descolando - prova.jpg (também dá para avaliar coisas felizes e realmente úteis para um estudante, como: se é fácil de colar, se o professor repete provas de um semestre para outro, e se cobra presença). A idéia é permitir que os alunos possam conhecer um pouco dos professores antes de terem aula com eles, até para poder, quando possível, optar por cursar a disciplina em outra turma. Claro que algumas críticas são bem cruéis (como chamar um professor de ‘sonífero’), mas em geral não se parte para agressões pessoais. Avalia-se o tipo de aula. É possível denunciar comentários abusivos, e votar nos comentários mais pertinentes. A comunidade se auto-organiza. Diferentemente do Juicy Campus, o acesso ao Descolando se dá mediante cadastro. Para se cadastrar, todo aluno precisa estar vinculado a uma universidade (óbvio). E o acesso funciona mediante convite (aliás, tenho ainda alguns convites se algum estudante quiser testar; professores são proibidos :P). O site foi criado por quatro alunos da PUC-Rio (não é à toa que a maior parte das críticas disponíveis são sobre professores dessa instituição), mas está aberto a estudantes universitários de todo o país. Problema prático: assim que tiver muitos usuários, é bem provável que acabe tendo o mesmo destino do Classe a Limpo, da Ufrgs (outra sugestão do João), que saiu do ar esta semana, depois de inúmeras críticas que partiram para o lado pessoal.
A idéia do 2.0, a colaboração em tese, é muito boa. Pena que muitas vezes as coisas acabam desandando para a bagunça nas mãos de estudantes mal intencionados (como no caso das fofocas no site norte-americano).

Assunto paralelo: o Daniel Bender iniciou uma campanha interessante com relação à revista Veja: ele propôs uma Googlebombing associando a Veja às denúncias que vem sendo feitas pelo jornalista Luis Nassif. Saiba mais sobre o bombardeio aqui.

7 thoughts on “Estudantes 2.0

  1. Queria falar do assunto paralelo
    Eu não gosto, mas me vejo forçado a colocar minha opinião de uma maneira meio ” eu tenho razão e quem acha que não é um………. ” sobre esse panfletim patético que tem a cara dura de se chamar revista, a tal de Veja. Ela não tem caráter ideólogico algum, é sacanagem do grossa com os adeptos do Liberalismo econômico e do conservadorismo comportamental ( não puritanismo, não confundir, conservador e bundão são sinônimos só na cabeça de quem é bundão ) dizer que esse pedaço roto de papel representa a opinião integral ou de parte da direita. É injusto com quem é de direita a clássica afirmação ” a veja é uma revista de direita ” não é, aliás, eu quando tenho que discutir política sem parecer futebol me valho dos meus bons amigos da ala destra. Quaisquer que sejam as denúncias contra os bandidos dos Civita, o grupelho Abril e por tabela contra a Veja, não devem causar novidade e espanto em ninguém. Sugiro pro pessoal que vá no Nassif e também busquem o blog do Mino Carta, inventor da Veja enquanto ela foi um meio de comunicação sério, não só sobre a veja e suas atividades criminosas ele é bastante justo no que diz respeito ao comportamento, vícios e tacanhices da grande ( no sentido de difusão ) imprensa brasileira. http://www.blogdomino.blig.ig.com.br

  2. Parece que o pessoal da UFRGS tem um site parecido e que eu estava justamente comentando com o Ricardo que tipo de processo jurídico esse tipo de ferramenta é passível de sofrer.
    Apesar de eu achar a idéia legal, não sei o quanto ela é realmente utilizável. Nas avaliações que a gente recebe na universidade, por exemplo, é comum encontrar agressões gratuitas, invenções e comentários ofensivos, muito mais do que elogios, comentários positivos ou críticas construtivas(essas sim, muito raras). O que é óbvio e esperado, dado que em sala de aula temos uma relação de poder entre professor e aluno. Mas a impressão que eu tenho é que a maioria das pessoas que se interessa por avaliar essa relação, usa isso como forma de vingança. Portanto, já fico pensando o quanto esse tipo de ferramenta seria útil para um aluno realmente interessado.
    Depois vem o ponto que eu acho mais complicado, as conseqüências legais: colocar as pessoas (sem sua autorização ou expressa concordância) para serem publicamente avaliadas (e, muitas vezes, execradas, como no site da UFRGS) entra na parte da injúria e difamação, sem falar no dano moral e nas possíveis calúnias. (Deve ser por isso que o site exige cadastro.)

  3. Sérgio: pois é, foi-se o tempo em que a Veja era uma revista séria e respeitável… :/
    Experimentasse clicar no link “Veja” ali do post? 😛 A idéia da Google bomb é associar a palavra Veja com as denúncias do Luis Nassif, de modo que ao se procurar por “Veja” no Google, apareça o Luis Nassif nos resultados.
    Raquel: o site da Ufrgs não é o Classe a Limpo, citado no finalzinho ali do post? Se for… já saiu do ar, devido às inúmeras críticas ofensivas…
    O modelo do Descolando parece funcionar bem porque tem poucos usuários, exige cadastro/convite, e a avaliação é feita principalmente por medidores (como na imagem que ilustra o post) do que por comentários. E os comentários que observei são todos na linha do tipo “apesar da prova difícil, é um ótimo professor”, ou “não sabe passar muito bem a matéria, mas cobra bem”. E também dá para filtrar a avaliação de quem passou, está cursando, e de quem rodou ou trancou a matéria. Por enquanto, os alunos ainda não partiram para ataques pessoais. Mas não duvido que este site também irá sair do ar por conta das ofensas no futuro :/
    Mas acho que é bem isso… a idéia é tese é legal. Mas na prática usar a Internet (um espaço público) para falar sobre professores vira um caos total (sem falar nos processos judiciais que o mal uso da rede pode acarretar).
    Bom, e o WordPress não comeu o teu comentário porque a Verbeat usa Movable Type :PPP E no MT às vezes demora para aparecer um comentário novo, mas ele sempre aparece 🙂

  4. a impressão que tenho é que as pessoas, na maioria das vezes, não sabem o que fazer da liberdade que possuem. aí, tudo descamba. e por isso é que as ditaduras nascem; sempre se usa o “argumento” de que “o povo não sabe ser livre” e, portanto, “é necessário controle”.
    puxa, não vi que o Classe à Limpo tinha fechado!! eu gostava do projeto. é uma pena que a comunidade de estudantes da UFRGS não atentou para o verdadeiro potencial da ferramenta… e quero dialogar com a Raquel sobre uma coisa: existem também os professores que não sabem como lidar com o debate crítico, que não sabem receber uma crítica.
    ficou bacana o post, Gabi! bjs

  5. Quando trabalhei na University of Southern California no fim do ano lá vinha um questionário para os alunos sobre as aulas. Recebia as cópias sem os nomes deles.
    Tive muito medo porque ainda er a muito informal, fumava tabaco em sala de aula, mas as avaliações forma muito positivas. Nas da turma de redação era covardia porque sabia como era a letra de todos, inclusive a do meu marido, na época aluno. Concordo com todos os comentaristas, principalmente a última e com o Sérgio.

  6. O classe a limpo da UFRGS tinha até ameaças…
    Sou aluna, mas infelizmente concordo com os professores que processaram o site, muitos alunos se escondem no anonimato para ofender e não avaliar.

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