Mais Twitter como fonte de informações

Matthew Hurst, do blog Data Mining, diz estar esperando ainda por um estudo definitivo que compare o tempo que uma novidade leva para aparecer no Twitter e em outras mídias sociais (ele fala em tempo de latência). O seguinte caminho é proposto:

1. Pegar alguns dados do Twitter e extrair algumas URLs.
2. Usar a busca do Twitter para encontrar a primeira menção a essas URLs.
3. Usar um sistema de busca de blogs para encontrar a primeira menção na blogosfera.
4. Vice versa.

Antes de mais nada, eis que surge a pergunta: é tão relevante assim saber quem disse primeiro algo, ser o primeiro a dizer alguma coisa… ou o que realmente importa é onde primeiro as pessoas ficaram sabendo das coisas? (Ou, quem sabe, indo mais longe ainda… será que no fundo o que importa mesmo não seria simplesmente ficar sabendo de algo, independentemente de quando?) Nesse caso, importa realmente se um blog ou se um Twitter noticiou primeiro um fato, ou quem sabe seria bem mais interessante fazer o estudo ao contrário, perguntando por que meio as pessoas ficaram sabendo daquilo?
Além do mais, mesmo que os blogs, os jornais, ou seja lá o site ou meio que for, tenha dado a informação antes, se a pessoa viu primeiro no Twitter, por estar permanentemente lá, isso já não bastaria para dar primazia ao Twitter como fonte de informações?
Mas, enfim, tentando seguir os passos propostos por Hurst, primeiro tive dificuldade em entender os trending topics do Twitter – muitas vezes se tratam de palavras soltas, ou siglas. Nesse sentido, o What The Trend ajudou bastante. Como não achei nenhum tópico potencialmente interessante, e também não faria sentido tentar refazer o caminho de informações distantes da nossa realidade, resolvi pegar um exemplo brasileiro.
Tentei seguir o roteiro apresentado por ele, porém esbarrei em questões de ordem prática: nem sempre blogs possuem timestamp em seus posts. Claro, tem o RSS para buscar a hora aproximada da publicação, mas a busca pela hora se torna mais trabalhosa ainda. Também não achei um link recente cuja URL pudesse usar para poder comparar entre blogs e Twitter (as pessoas do Twitter falam muito de coisas sobre o próprio Twitter, presos numa metalinguagem e auto-referenciação ad nauseum que raramente se espalha para outras redes – ok, isso é tema para outro post). Mas para não ficar sem ao menos tentar o experimento, tentei localizar na busca do Twitter e no Google Blog Search a primeira menção à morte do cientista Crodowaldo Pavan. Em ambos os sistemas, busquei apenas pela palavra “Pavan”, em todos os idiomas. No Twitter, a primeira menção parece ser este tweet, cuja hora (via Twitter) é 1:15PM do dia 3 de abril. No Google Blog Search, a primeira menção vem da Agência de Notícias da USP, com 1:50PM como horário de publicação (aliás, não me pergunte por que o Google Blog Search procura também em agências e portais de notícias). No começo da tarde do mesmo dia vários blogs de ciência passaram a comentar o ocorrido, mas em geral todos eles citam a própria USP, ou outros jornais, como fonte. Isso quer dizer que o pessoal do Twitter ficou sabendo antes? Não necessariamente. Quem segue a usuária que fez o tweet, e, dos que seguem, quem estava online na hora da atualização, pode ter ficado sabendo antes. E os demais? Mais comentários no Twitter sobre o caso só foram aparecer por volta das 3 da tarde, quando outros sites passaram a noticiar o ocorrido – foi por volta dessa hora, também, que o link da própria USP apareceu no Twitter.
Não é preciso ir tão longe para saber que o Twitter pode ser mais ágil. O próprio blog do Twitter, no ano passado, já nos mostrou um gráfico com o tempo que o terremoto na California levou para sair no Twitter e em agências de notícias. Ok, o Twitter é mais rápido. Mas será que mais gente ficou sabendo pelo Twitter mesmo, ou minutos depois pelo despacho da AP? E como fica no caso daqueles que eventualmente twittaram depois de ver o despacho da AP?
Aí retomo a pergunta: importa saber quem falou primeiro sobre o caso, ou o que nos interessa reter, seja porque vimos no Twitter, em blogs, em jornais, ficamos sabendo na Internet, no rádio, na TV, pela vizinha, pelo colega, por um parente, enfim, é que determinado fato aconteceu? E, nesse caso, importa mais a informação em si, ou também seria interessante observar como se chegou a essas informações – por que meio, de que modo, em que condições?
Tenho cada vez mais perguntas do que respostas. Dois anos *de mestrado* vai ser pouco tempo para resolver essas inquietações…

Só pra constar: eu fiquei sabendo pelo Plurk…

4 thoughts on “Mais Twitter como fonte de informações

  1. É uma análise realmente complicada.
    Creio que a velocidade de propagação de notícias (ou memes pois nem tudo que se propaga é notícia) está diretamente associada à sua relevância percebida.
    Um terremoto ou sério desastre se propagará quase imediatamente pelo Twitter e a maioria das pessoas ficarão sabendo do ocorrido antes através dele.
    Em muitos casos a primeira notícia surgirá no Twitter (e outros serviços fronteiriços entre online e offline como ele) já que as testemunhas tem poder de publicação.
    Tudo isso é muito novo e difícil de compreender, mas creio que são mudanças que vieram para ficar. Resta saber como elas vão interagir com outras formas de mídia e comunicação.
    É fantástico poder presenciar tudo isso!

  2. Gabriela
    Esse tipo de busca é simplesmente o “pulo do gato” do twitter e é o que eles estão tentando ajeitar. Tudo isso que você tentou fazer é justamente o que os programadores do Twitter estão correndo pra resolver. Saiu nesses dias a notícia (realmente não me lembro onde) de que o Google tá atrás desse tipo de pesquisa, já que eles não conseguem hoje fazer. Será um grande avanço.
    Por outro lado, a pesquisa em tempo real funciona e muito. Também pesquiso twitter (pós-graduação)e, por sorte, sexta-feira pela tarde estava em casa e pude acompanhar em tempo real os desdobramentos do caso do assassinato de 13 pessoas nos EUA. Foi incrível, do ponto de vista do jornalismo, das redes sociais e da potencialidade do twitter. O Twitterfall funcionou muito bem, assim como outras ferramentas. Pude ter acesso a informações diretas do local, vi jornalista louco atrás de fonte, notícias desencontradas e, pelo que consegui constatar, a primeira notícia saiu na CNN, mas na internet o twitter deu primeiro (na conta do NY Times e do @breakingnews praticamente ao mesmo tempo). Dei pra ter uma bela ideia do que o twitter é capaz. Outro caso interessante foi nas manifestações do G20.
    Parabéns pelo seu TCC. Muito bom.

  3. Questionamentos interessantes e relevantes para quem quer entender a mídia.
    Eu fiquei sabendo por email, apesar de estar em um congresso da Sociedade Brasileira de Genética, que deveria ser uma das primeiras a anunciar a morte do Dr. Pavan.
    O email veio de uma lista de discussão de ex-alunos da Biologia USP, uma vez que o acesso à inetrenet lá era precário e nenhuma fonte “ágil” de comunicação me atingia. Foi no boca-a-boca mesmo…

Leave a Reply to Roney Belhassof Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *