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O cunhado infiel

Isto é uma história irreal. Qualquer semelhança com pessoas, fatos ou acontecimentos reais poderá não ter sido mera coincidência (mas, mesmo assim, faça de conta que é :P).

Dorisgleison vinha arquitetando seu plano há meses. Estava decidido a matar Tércio desde o dia que o vira sair do bordel acompanhado de duas loiras. Na verdade, nem bem lembrava o motivo que o implantara essa certeza de que o cunhado deveria morrer — se a raiva por saber que sua irmã estava sendo traída por um canalha infiel, ou se pela inveja de vê-lo andar pelas ruas altas horas da madrugada acompanhado de duas mulheres estonteantes enquanto ele bebia cerveja com amigos fracassados na calçada.
Dorotéia estava grávida, e isso pesou bastante na decisão de Dorisgleison de matar o marido da irmã. Mas ele resolveu que seria mais fácil trabalhar e sustentar o nascituro do que ver a moral da família ameaçada. Além do mais, ao invés de estar provendo o sustento da esposa, Tércio estava freqüentando bordéis de madrugada, o que reforçava a cafajestice do rapaz.
A idéia era simples. Como não tinha acesso a armas de fogo (isso mesmo — esta história situa-se no hipotético, utópico e maravilhoso mundo da vitória do SIM \o/), e matá-lo a facadas ou estrangulamento seria óbvio demais, Dorisgleison decidiu que iria envenená-lo. Conseguiu com o Seu Jangão da esquina uma boa quantia de veneno de ratos sob o pretexto de, bem, matar ratos (que outra desculpa usaria? “preciso de um pouco de veneno para que eu possa matar o marido da minha irmã” era impraticável). Aí era só arranjar uma maneira de colocá-lo na comida, e Tércio morreria de forma lenta e sufocante (como dizia em letras garrafais no rótulo do produto, logo abaixo de uma caveira macabra e assustadora).
O problema era conseguir envenenar apenas a comida do cunhado. Não queria cometer o engano de matar a própria irmã, ainda mais estando ela grávida! Um duplo homicídio causaria remorso suficiente para umas três ou quatro vidas.
Dorisgleison era crente. E, para garantir sua entrada no paraíso, doou uma quantidade considerável de seus rendimentos para a Igreja, de modo que o pastor lhe assegurara um terreno no céu. Mas não queria arriscar. Lera no texto sagrado que matar os pais era crime escabroso, que levava direto ao inferno, sem escalas. E quanto a matar irmãs? Por tão caro, não valeria a pena arriscar.
Então ele decidiu que a única forma de executar seu plano seria colocar o veneno diretamente no prato de Tércio (e não na panela de comida, como o concebido originalmente no plano de assassinato, esboçado em um guardanapo de bar durante uma noite de bebedeira). Como não queria que o crime acontecesse depois que seu sobrinho nascesse (e dado o adiantado estágio da gravidez), Dorisgleison passou então a visitar sua irmã em ritmo regular, de modo a captar os detalhes que envolvessem o processo de preparação de alimentos. A irmã passou a desconfiar da presença do irmão quase todos os dias para almoçar, mas não reclamava. Afinal, era família. E família serve para essas coisas.
No começo, Dorisgleison sentia-se incomodado na presença do cunhado adúltero, mas com o tempo acostumou-se. Ao cabo de 2 meses, ele já tinha um esquema mental perfeito de como se processavam as refeições na casa da irmã, que incluíam desde as variantes do começo ao fim do mês (logo depois do pagamento, havia fartura na mesa, e à medida que se aproximava o fim do mês, a comida rareava), nos diferentes dias da semana (domingo era sempre o dia em que a comida era menos farta, em comparação aos demais dias da semana, e quarta-feira era dia de fazer feijão, que era requentado e retrabalhado ao longo dos demais dias da semana, e vinha a acabar novamente só lá na segunda-feira, quando esgotava-se também a criatividade de Dorotéia em fazer pratos com feijão requentado) e nos diferentes horários de refeição (o almoço era mais elaborado, enquanto que o jantar era sempre bem mais simples — muitas vezes havia apenas um prato). Dorisgleison também observou que o cunhado tinha o estranho costume de separar a comida por cores no prato, e comer a salada na ordem das cores do arco-íris (vermelho, laranja, amarelo e verde — e provavelmente seguiria comendo azul, anil e violeta, caso houvessem verduras e legumes com essas cores). E também percebeu que Tércio parava de comer o feijão lá pela terceira ou quarta versão requentada, dando seu prato para o cachorro quando a esposa não estivesse olhando. Isso era importante, pois Dorisgleison não queria correr o risco de desperdiçar uma dose cavalar de veneno para ratos num cachorro bobo e patético como o Bob (onde já se viu, cachorros que gostam de feijão requentado?).
Dorisgleison decidiu que poria o veneno em algo vermelho — assim o cunhado morreria mais rápido. Decidiu também que o melhor dia era quinta-feira, de preferência logo no começo do mês — e na hora do almoço! Então Dorisgleison escolheu a data de 9 de março (de 2006, para já estar vigorando o patético resultado do referendo do Desarmamento :P) para dar fim à vida do cunhado. Visitou a irmã, como de costume. Foi-se ficando para almoçar. Falava de política e corrupção, de vez em quando, para disfarçar o nervosismo incipiente. E, por fim, inventou a esfarrapada desculpa de que devia aprender a fazer comida para parar de importunar a irmã, e foi para a cozinha observá-la a cozinhar. Dorisgleison até fingia estar prestando atenção, inclusive fazia perguntas bobas para manifestar interesse (do tipo, “quantas colheres de sopa equivalem a uma xícara de chá?”) e seus olhos brilharam — feito criança que ganha o brinquedo que esperava no Natal — quando viu sua irmã pegar um punhado de tomates para montar a salada. Certo que aquilo seria a primeira coisa que Tércio ingeriria na refeição! Dorisgleisson, a partir de então, observou e analisou cada movimento da irmã meticulosamente, e, por fim, sugeriu que ela já montasse os pratos para servir à mesa, para facilitar a distribuição igualitária dos alimentos entre os que iriam comer (como o irmão era sempre muito justo, Dorotéia não objetou sua interferência, e seguiu a estranha sugestão como um conselho de um sábio irmão mais velho). Tércio chegou em casa no horário de costume (12h17), com um guarda-chuva debaixo do braço e reclamando que não chovera como dissera a previsão do tempo no dia anterior. Sentia-se um verdadeiro palhaço quando carregava o guarda-chuvas em dias de sol (…mas isso não vem ao caso) 😛
Os pratos já estavam prontos, tapados com outros pratos e tinham sido posicionados delicadamente pelas mãos de Dorotéia no forno do fogão, enquanto esperava pelo marido. A idéia apareceu-lhe como um estalo, e Dorisgleisson ofereceu-se para levá-los à mesa enquanto marido e mulher conversavam na sala. Perfeito. Era só colocar a dose de veneno nos tomates de um dos pratos e posicioná-lo no lugar do cunhado à mesa. A única testemunha seria o idiota do cachorro (e, como isto não é um conto infantil, o cachorro não sabe falar). Dorisgleison apressou-se em colocar o veneno no tomate, e cuidou para que o mesmo se dissolvesse antes de dirigir-se à mesa. O tomate perdeu um pouco de sua cor (talvez por conta do efeito cáustico do veneno, mas isso é apenas uma presunção subjetiva), e Dorisgleison disfarçou colocando um pouco de feijão requentado com farofa por cima do tomate, cuidando para que parecesse displicentemente colocado, como uma verdadeira obra do acaso.
Na mesa, Dorisgleison lembrou-se de colocar o prato ligeiramente bagunçado na cabeceira. E então chamou a irmã e o irmão para comerem.
Dorisgleison não tinha muito interesse em comer. Ficou observando o cunhado, que se demorava muito em começar, como se pressentisse que iria morrer naquele dia, ao mesmo tempo que sabia que ele não tinha como sequer imaginar isso. Por um instante, ao ver a cara de sonso do cunhado diante do prato de comida, sentiu um pouco de pena, e q
uase se arrependeu do que estava prestes a acontecer. Mas em seguida a imagem dele saindo com as duas loiras do cabaré lhe voltou à mente, e detestou novamente o marido da irmã com todas as suas forças.
Finalmente, Tércio decidiu-se a comer. Começou pelo tomate, como previra Dorisgleison, que vibrava silenciosamente, aguardando o momento em que estivesse sozinho para poder celebrar.
Após a primeira garfada, Tércio pediu à mulher que fosse buscar sal na cozinha — seus tomates estavam com um gosto estranho. Dorotéia prontamente atendeu. Não se sabe por que cargas d’água Dorisgleison resolveu ir junto à cozinha, mas Tércio ficou sozinho na sala, numa cena deprimente, saboreando seu tomate vermelho esmaecido ao som da TV caquética ao fundo.
E, quando Dorisgleison e Dorotéia estavam na cozinha, ouviram um estrondo muitíssimo alto, como se um avião estivesse caindo logo ao lado. Imediatamente, nuvens de poeira espalharam-se pela cozinha, e tudo de repente ficou cinza. O teto da sala desabou, e Tércio morreu esmagado.

Moral da história: em virtude de causa absolutamente independente e superveniente, Tércio morreu, mas Dorisgleison foi inocentado 😀

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Conto em homenagem à semana oficial de recuperar aulas perdidas de Direito Penal: terça, quarta, quinta e sexta-feira \o/

P.S.: Para refletir:
– O cachorro sobreviveu?
– Tércio come beterraba?
– Alguém é fiel hoje em dia? 😛
– Se Dorisgleison matasse a irmã por engano ele mereceria ser preso (erro sobre o agente não exclui a tipicidade), ou bastaria o remorso como pena para o resto da vida?
P.P.S.: Não sei escolher nome de personagens.
P.P.P.S.: O excêntrico exemplo “colocar veneno na comida de alguém e essa pessoa morrer em virtude de um desabamento exclui a imputabilidade” foi dado pelo professor hoje em sala de aula 😛 (A conduta de “A”, embora ilícita, não é condenável, pois não foi causa direta do resultado morte em “B”)
P.P.P.P.S.: Encare o texto também como uma leve crítica à fofíssima campanha do Sim pelo Desarmamento. Vai dizer que não é meigo um mundo onde as pessoas, ao invés de se matarem com armas de fogo, utilizem-se de meios alternativos felizes — como mesas, garrafas de vidro, facas, rojões, arco-e-flecha, pedaços de pau e tomates envenenados — para se ferirem uns aos outros?! 😀
P.P.P.P.P.S.: Viva o post scriptum! \o/

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“Mas os textos nem sempre são tão maldosos e, em geral, tendem a conceder ao leitor o prazer de fazer uma previsão que se revelará correta.” (Umberto Eco, em “Seis Passeios pelos Bosques da Ficção“)

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Nota rápida sobre o horário de verão

Eu estava achando que o tempo estava passando muito devagar [don’t you hate the gerund?! :P], até me dar conta que hoje começava o horário de verão — e tudo de repente ficou uma hora mais tarde.
Quero meus 60 minutos de volta!!

Eu vi um coelho branco!

“Sentada, com os olhos fechados, quase acreditou estar ela mesma no País das Maravilhas, mesmo sabendo que quando abrisse os olhos novamente tudo voltaria a ser a chata realidade de sempre…”

Cheguei à conclusão que eu devia ter lido Alice no País das Maravilhas antes.

Como?

Tudo começou numa tarde ensolarada (sempre são ensolaradas as tardes das estórias! [oh!]) com uma inocente pesquisa sobre o que é Análise do Discurso. Aí no site onde obtive a resposta, encontrei um artigo legal, intitulado “Do Texto ao Hipertexto” de Alberto Lins Caldas (o blog dele é muito legal também… fala da liberdade de expressão e outros assuntos que também me interessaram). A epígrafe do artigo continha um trecho do livro Alice no País das Maravilhas, e ao longo do texto o autor retomava a análise do excerto apresentado.
Saí de lá com destino ao Google, onde procurei por sites que tivessem o livro “O Príncipe“, de Maquiavel, para download. Acabei caindo no site da Biblioteca do Futuro da USP (que é bem legal, tem de tudo, até livros em áudio — mas não tinha o livro que eu queria, ironicamente) e por curiosidade dei uma espiada na seção de livros traduzidos. Uma das poucas tradições disponíveis era Alice no País das Maravilhas, e, lembrando do artigo que eu tinha lido antes, resolvi baixar o livro e ler. Aí percebi que nunca na minha infância eu tinha lido essa versão (a original) do livro, e sim meras adaptações toscas, em desenho animado, filmes, livrinhos com figurinhas e tudo o mais. Aí me arrependi por ter crescido (longitudinalmente) tão depressa e quase saí correndo e gritando desesperadamente aos quatro cantos na esperança doida de que o grande maquinista dessa piada (a vida só pode ser uma piada!) me ouvisse e parasse essa roda gigante que é o mundo para que eu pudesse descer, voltar um pouquinho no tempo, apreciar a paisagem, e depois continuar rodando. Mas tudo bem. Ainda vou superar isso 😛
Daí fui pesquisar sobre pensamento lateral para postar aqui no blog, e indo de site em site, parei num que recomendava o acesso ao site de um autor de livros de lógica (famoso por dar dicas para exames psicotécnicos) em cuja página inicial me deparei com frases e cenas do filme/livro Alice no País das Maravilhas, incluindo o gato do sorriso e o sorriso do gato.
O mundo dá voltas — e eu estou tonta.

—-

Enfim… Alice no País das Maravilhas.

A história original é alegre, divertida. Pinta um mundo infantil bastante utópico, uma terra onde agir ainda não traz conseqüências. Você chega num lugar estranho, bebe uma garrafa de um líquido esquisito, e fica em tamanho reduzido. Mas aí é só dar-se conta que, se comer o bolo que estava no chão, você pode voltar a crescer. Mas cuidado! Se você não se controlar (porque o bolo é muito bom!) você pode crescer demais e bater com a cabeça no teto. E não adianta chorar, pois então você vai produzir um rio de lágrimas, e, quando voltar a diminuir de tamanho após pegar o leque e as luvas de coelho que passou correndo, terá de nadar muito para encontrar a saída. Não é um mundo perfeito? Não seria legal se tudo isso fosse possível? E é. A lição de Alice no país das maravilhas é que, na imaginação e nos sonhos, tudo pode acontecer! 😀 E Alice sente-se tão envolvida na história que chega a achar estranho quando as coisas acontecem de modo natural 😛
Além disso, o livro é cheio de reflexões filosóficas, como na conversa de Alice com a lagarta roxa:

” Quem é você?”, perguntou a Lagarta.
Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: “Eu – eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento – pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.

Ou no papo toscamente ambíguo com o Gato:

“O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui?”
“Isso depende muito de para onde você quer ir”, respondeu o Gato.
“Não me importo muito para onde…”, retrucou Alice.
“Então não importa o caminho que você escolha”, disse o Gato.
“…contanto que dê em algum lugar”, Alice completou.
“Oh, você pode ter certeza que vai chegar”, disse o Gato, “se você caminhar bastante.”

Alice é arrogante, e como toda historinha infantil, o livro tem músicas toscas e personagens bizarros antropomorfizados (coelho branco, falsa tartaruga, duquesa, rainha e rei de copas, chapeleiro, lebre de março :P). Mas, mesmo assim, o livro é muito legal — do tipo que eu gostaria de ter lido na infância (*suspiro*) 😛

E, como diz um outro artigo [tosco, mas legal] que encontrei por aí, sobre criatividade e inovação, “talvez seja essa uma alternativa, voltarmos a pensar como crianças para termos de volta o lado lúdico perdido.”

Antes que eu enlouqueça… alguém tira do meu alcance a possibilidade de acessar sites altamente contagiantes como Wikipedia e Google?


Obs.: Dica — mais uma “maravilha tecnológica” descoberta via StumbleUpon… se você vai ao Google em busca de uma simples definição de algo pode pesquisar mais rapidamente usando o comando “define:” antes do termo a ser pesquisado. Isso poupa bastante o tempo perdido, porque pelo método de pesquisa tradicional você precisaria abrir vários sites até encontrar exatamente aquilo que busca. Ainda são poucas as definições disponíveis em português, mas sempre que procuro em inglês encontro o que necessito. Exemplo: pesquisa de “define:ASCII” dá como primeiro resultado “American Standard Code for Information Interchange” (Yes, nós temos bananas — seguido de definições em português :P).
E o mais legal de tudo é que ele procura definições também dentro da Wikipedia 😀

Três vivas para o Google! \o/ \o/ \o/

Obs.: Nenhum animalzinho foi sacrificado ou entrou em extinção para a elaboração deste post, mas foram acessados e lidos pelo menos vinte e três sites 😛

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Pensamento lateral

Num dia entediante qualquer cliquei no botãozinho do StumbleUpon e caí num site sobre Lateral Thinking (Pensamento Lateral). Lá havia uma breve explicação do que se trata, seguido de 20 probleminhas para serem resolvidos, com solução.
Segundo Edward de Bono, o pensamento lateral é a geração de soluções novas para problemas antigos. É a capacidade de adotar perspectivas diferentes para resolver os impasses do dia-a-dia. Enfim, é pensar diferente, mesmo diante de coisas comuns 🙂
Como na página que visitei já constavam as soluções dos problemas apresentados, não perdi muito tempo pensando em cada uma, e corri logo para ver a resposta — por isso que das 20 só acertei 1. Mas como vocês que visitam este blog têm todo o tempo do mundo para pensar e refletir num domingo cinza e nublado como hoje… vou colocar as duas primeiras questões, sem resposta (e sem o link para a página que contém as respostas… 😛 rá!). Aí se alguém tiver interesse é só entrar em contato via comentário, scrap, sinal de fumaça [em dia nublado?], ou, sei lá, código morse [?], que forneço a respota correta… 😀

1. Um homem mora no décimo andar de um prédio. Todo dia ele usa o elevador para descer até o térreo e ir trabalhar, ou fazer compras. Quando ele volta para casa, ele pega o elevador até o sétimo andar, e sobe de escada até seu apartamento no décimo andar. Ele odeia subir escadas, então por que ele faz isso?

2. Um homem entra num bar e pede para o atendente um copo d’água. O atendente aponta uma arma para o homem. O homem diz “obrigado” e sai. Explique.

[Obs.: Ri muito com a resposta da primeira. E a segunda, apesar de parecer absurda, tem uma resposta tremendamente lógica.]

O plano malévolo da biblioteca da UCPel

É incrível o descaso da Universidade “Caótica” de Pelotas (UCPel) com relação aos livros. Antes eu achava que a Biblioteca de lá tinha um bom acervo de obras, e apreciava o fato de elas serem relativamente atualizadas (se comparadas às da pré-histórica Biblioteca da Faculdade de Direito/UFPel). Mas foi só eu resolver começar a ler esses livros para perceber que a realidade não é bem assim.
Como se não bastasse o fato (já bastante desencorajador) de a esmagadora maioria dos livros vir com anotações, trechos sublinhados, orelhas, marcas as mais diversas e manchas voadoras não identificadas, há uma lei de Murphy que diz que a vontade de ler um livro é inversamente proporcional às chances de encontrá-lo disponível para locação.
Hoje depois da aula de Perspectiva Ético-Antropológica fui com a Alessa na Biblioteca Central procurar alguns livros sugeridos pela minha mãe, e outros tantos que estavam na minha interminável lista de leituras. De todos que procurei (e não foram poucos!), só encontrei 3. Um deles só estava disponível na biblioteca de Jaguarão! (arrã… quem sabe eu vou lá buscar??), outro não foi localizado nas estantes (incompetência dos atendentes ou negligência dos alunos? :P), e o terceiro era o menos favorito da lista de “prováveis leituras de final de semana”, mas tudo bem: ao menos ele existe. Peguei também um livro de um autor sugerido por minha mãe, mas não exatamente o livro que ela disse para eu ler (porque não tinha, é óbvio).
Mas o que mais chama a atenção é que não são livros raros, ou absurdos. Há falta de livros-chave para um curso de Comunicação Social! “1984” é um clássico de George Orwell. “Obra Aberta” do Umberto Eco está até na relação de bibliografia básica da disciplina de Semiótica!! “Admirável Mundo Novo“, de Aldous Huxley, é outro clássico! Aliás, dias desses digitei na telinha localizadora de livros da biblioteca todos os títulos das bibliografias básicas de Semiótica e Teoria da Comunicação II. Não encontrei nem metade dos livros! E, pela lei de Murphy, os que não encontrei eram exatamente os que eu mais tinha interesse em ler. Estou começando a achar que isso é um plano maligno e malévolo para me fazer enlouquecer a partir da tentativa de me obrigar a ler livros com títulos sem graça e que nunca teria interesse em locar, mas acabo pegnado por total falta de opção… (Conspiração pura! :P).

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Ideologia nos meios de comunicação de massa

Um livro interessante que terminei de ler no feriado foi “Ideologia e Cultura Moderna“, do sociólogo inglês John B. Thompson. Em uma linguagem simples, o autor esboça uma teoria social crítica, na qual coloca os meios de comunicação de massa numa posição central da vida moderna, dando especial ênfase à ideologia, presente tanto na mídia quanto nas relações intersubjetivas.
A ideologia aparece como algo que “serve para estabelecer e sustentar relações de dominação e, com isso, serve para reproduzir a ordem social que favorece indivíduos e grupos dominantes”. Nesse sentido, “interpretar a ideologia é explicitar a conexão entre o sentido mobilizado pelas formas simbólicas e as relações de dominação que este sentido ajuda a estabelecer e sustentar”. Comunicação de massa, por sua vez, aparece como “a produção institucionalizada e a difusão generalizada de bens simbólicos através da transmissão e do armazenamento da informação/comunicação“. “Com o surgimento da comunicação de massa, o processo de transmissão cultural torna-se cada vez mais mediado por um conjunto de instituições interessadas na mercantilzação e circulação ampliada das formas simbólicas.”
O que mais gostei na obra é que o carinha repete tudo tantas vezes que a gente acaba entendendo pelo cansaço. Isso é bom porque não há necessidade de ficar indo e voltando para tentar entender e associar o que foi dito em capítulos anteriores com o que está sendo explicitado no momento. Claro que isso faz com que o livro tenha lá suas mais de 300 páginas, mas quem se importa? 😛 O importante é finalizar um livro com o sentimento de que se aprendeu alguma coisa, independente do tempo que se levou para lê-lo… 😉
Ironicamente, o livro dá ênfase aos três dos meios de comunicação que eu mais odeio (rádio e televisão, na questão da comunicação de massa, e telefone, no tocante a comunicação intersubjetiva). Basicamente, de tudo o que o autor fala no livro, só me interesso realmente pela imprensa escrita. E em todo o tempo de leitura reinou aquele sentimento de “tá, mas e a internet?” (o livro foi escrito num período em que a Internet como meio de comunicação de massa ainda estava no plano das idéias — 1990). Mesmo assim, o livro é muuuito bom.
Atualmente, o autor está pesquisando sobre as inovações na indústria de publicação de livros nos Estados Unidos e Inglaterra — meio viajante, mas parece legal 🙂 Fiquei com vontade de ler “Books in the Digital Age”, obra dele publicada este ano, mas garanto que vai levar ainda uns bons mil anos para chegar aqui no Brasil… :/

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Google Alerts

Servicinho interessante esse do Google Alerts. Você inclui temas que gosta e todo dia/semana o Google te envia e-mails contendo excertos de notícias que incluam a palavra desejada… Bastante útil.
No meu resumo de Technology de hoje vieram várias notas falando sobre a futura fusão dos MSN e Yahoo! Messenger. Até que ponto a união de empresas virtuais em gigantescos “conglomerados” pode ser prejudicial para o desenvolvimento da internet?? Ah, enfim… vai ser útil a união dos dois 😛 Pra que ter um monte de parafernália comunicativa se a gente no fundo acaba usando só uma? 🙂

P.S.: 100° post… Yay! *<:P~

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Fragmentos

Sabe quando você está fisicamente em uma festa, mas sua cabeça passa longe, bem longe? Sabe quando todos à sua volta bebem e você só consegue pensar em dormir? E, ironicamente, eu cheguei em casa agora e liguei o computador. Vá entender o que se passa nas minhas camadas internas de pensamento ¬¬
Estou notando que meu blog está se desvirtuando cada vez mais de seu caminho. O que há de jurídico ou jornalístico em postar sobre mim ou sobre sofás? 😛
Aliás, até ius communicatio é um título equivocado. Eu não sabia que isso era uma expressão latina que quer dizer “comunicação de direitos” — minha intenção era significar exatamente o oposto — Direito de comunicar.
Antes que eu comece a postar receita de bolos (ou algo mais meloso ainda), vou começar a restringir o quantidade de textos. Afinal, a escolha dos assuntos a serem tratados aqui no blog merece contar com os requisitos do due process of law (aquele que assegura o direito à ampla defesa e ao contraditório). A regra é simples: um menor número de posts para uma maior qualidade dos mesmos. Nem vou submeter minha decisão a referendo (já que tá na moda usar dispositivos constitucionais sérios para consultas inúteis) porque minha única leitora assídua pode ser facilmente influenciável (é fácil ganhar uma eleição quando só se tem um único eleitor para convencer). 😛

Se nem eu mesma consigo ser fiel ao que proponho, como posso pretender influenciar as pessoas na futura e hipotética profissão de jornalista ou advogada? É, está na hora de rever meus conceitos… 😛

Falando em influenciar pessoas… a aula de hoje de Filosofia Geral e Jurídica estava bastante interessante (nunca pensei que eu fosse dizer isso um dia!)… O tema era a liberdade psicológica. Tipo, como podemos ser livres para pensar se nosso próprio cérebro, atuando por intermédio do superego, já cerceia nosso direito de pensar e expressar-se? Ele atua como uma espécie de censor moral, filtrando aquilo que pode emergir do inconsciente em direção à nossa consciência. Assim, a liberdade de expressão precisa se submeter ao jugo não só dos demais seres vivos em sociedade (regras de convivência apenas — já que, tecnicamente, não há censura formal no Brasil), mas também de um dos próprios componentes de nossa psique!! De acordo com o professor de Filosofia (e com as teorias freudianas), basta que entendamos como funcionam os mecanismos da psique humana (em especial, os do superego) para que possamos pensar mais livremente (ao menos pensar — a decisão de expressar-se, entretanto, ficará ainda submetida aos juízos de valor do ego (consciente). Também não dá para extrapolar e sair por aí postando em blogs anônimos 😛 É preciso ter coragem para afirmar aquilo que se diz!! Não basta a criatura se sentir livre para pensar, e depois não ter coragem de assumir aquilo que exteriorizou. Se não for para ser assim, então não tem por que se preocupar em driblar os censores morais naturais do superego…

Blogs anônimos

Site idiota que explica como entrar para a blogosfera e postar anonimamente. Um dos princípios da liberdade de expressão é poder dizer o que pensa (mas requer também que se tenha a capacidade de assumir aquilo que se diz…) Qual a graça de postar sem assinar? A liberdade de expressão termina onde acaba a coragem de se expressar de forma não-anônima.
Além disso, postar de forma anônima parece tão trabalhoso que o melhor mesmo é só dizer aquilo que se tem coragem de assinar (e guardar para si aquilo que não se tem envergadura moral para assumir publicamente)… 😛

Obs.: encontrado via StumbleUpon.com.

Propostas de referendos

Com a aproximação do utilíssimo referendo do desarmamento, passei a refletir sobre a urgência da realização de consultas populares acerca de temas igualmente relevantes para o interesse nacional… Pena que os governantes não se dão conta disso…

O referendo de armas de fogo deve ser realizado no Brasil?
Porque ninguém se questionou sobre a relevância de fazer uma pergunta cretina dessas à população nacional.

O comércio de veículos automotores deve ser proibido no Brasil?
Dizem que mata menos que as armas de fogo, mas quem acredita? Todos têm o direito de andar nas ruas sem ter medo de ser atropelado por algum motorista inescrupuloso! Nem que isso signifique ter de voltar a períodos pré-históricos onde o único meio de transporte eram os cavalos (e torcer que ninguém promova campanhas contra o maus tratos aos animais!)…

O comércio de CDs de Funk deve ser proibido no Brasil?
É preciso acabar com esse desserviço à moral pública do país! Abaixo a popularização de músicas que desmoralizam os indivíduos em letras totalmente promíscuas!

A exibição de programas idiotas deve ser proibido na televisão brasileira?
Estou sendo forçada a ouvir Zorra Total neste exato momento, por maioria absoluta (família reunida na sala). Ninguém merece!

A existência de professores medíocres que fingem dar aulas deve ser proibida nas instituições públicas e privadas do país?
Sem comentários. Tem gente que simplesmente não tem vocação (para usar um eufemismo) para o Magistério.

A existência de segundas-feiras com chuva deve ser proibida no Brasil?
Segunda fui para a aula com dois guarda-chuvas. Um quebrou e o outro virou. Grrr.

O comércio de passagens de poltronas de ônibus muito próximas ao banheiro deve ser proibido no Brasil?
Sexta-feira viajei de guardiã do WC. Fui comprar a passagem e me restavam as melhores opções possíveis — poltronas 44, 45, 46, 47 e 48. Escolhi a 45 porque, ao menos, era uma janela. O ruim dos ônibus é que os últimos lugares — além do fato já suficientemente trágico de ser em frente, ao lado ou na diagonal do banheiro — não possuem ar condicionado. De fato, eles ficam situados abaixo da central de refrigeração do ônibus e, por uma ironia viária, não dispõem de buraquinhos de saída de ar. Talvez porque aí teriam que furar o próprio ar condicionado, o que seria algo completamente tosco (mas creio que possível). Aí o ar “puro” (reciclado, aquele ar que passa por todos, mistura todos os tipos de gripes existentes e imaginárias, e retorna geladinho) vinha dos bancos da frente em baforadas inconstantes, mas revigorantes. O ruim era quando alguém abria a porta do banheiro. Aí era preciso esperar mais uns 2 ou 3 minutos para que se fosse possível respirar novamente.

O comércio de sofás pesados deve ser proibido no Brasil?
E o meu sofá segue sem os seus pézinhos…

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