Monthly Archives: May 2007

Universal sem totalidade

“O ciberespaço possui o caráter de sistema dos sistemas mas, por isso mesmo, também é o sistema do caos. Máxima encarnação da transparência técnica, acolhe, no entanto, devido à sua irreprimível profusão, todas as opacidades do sentido. Desenha e redesenha a figura de um labirinto móvel, em extensão, sem plano possível, universal, um labirinto com o qual o próprio Dédalo não poderia ter sonhado. Essa universalidade desprovida de significado central, esse sistema da desordem, essa transparência labiríntica, eu a chamo o «universal sem totalidade». Constitui a essência paradoxal da cybercultura” (Pierre Lévy em “O Universal sem Totalidade, Essência da Cybercultura”*).

Na idéia do autor seria mais ou menos assim: universal e totalidade não são a mesma coisa. O universal se difere da totalidade na medida em que aquele se compõe da possibilidade fática de compartilhar o conhecimento, de modo que cada ser humano possa contribuir para a produção do sentido. Com base nisso, Lévy enumera três grandes etapas na história: cultural oral (na qual se tem uma totalidade sem universalidade, há manifestações isoladas, mas não se partilha o conhecimento em grandes extensões de tempo e espaço), cultura escrita (universal totalizante, quebra-se a barreira do tempo e espaço para a aquisição de conhecimento, mas ainda há predomínio de meios massivos, sem interação) e cibercultura (universal sem totalidade, participação e interação no ciberespaço). É possível relacionar a oposição universal/totalidade também com os direitos humanos (considerá-los como algo totalizante leva à ditadura e aos regimes totalitários; desse modo, os direitos humanos são – ou deveriam ser – sempre universais). Fica mais fácil de entender lendo a transcrição da palestra inteira 😛

* odeio referências não-datadas, mas na Internet já estava assim quando encontrei. Imagino que seja algo escrito em meados da década de 90. Se alguém souber mais sobre o arquivo, a caixa de comentários não está ali por acaso 😛

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Existe vírgula antes do etc.?

Uma dúvida que sempre me perseguia e que não me deixava em paz ao redigir qualquer tipo de texto era quanto à existência ou não de vírgula antes do etc. em enumerações em que mais de dois itens fossem dados em caráter exemplificativo. Claro que essa inquietação não impedia o meu livre exercício dos afazeres diários, mas confesso que me sinto aliviada após ter feito uma pesquisinha básica no Google.

Um pouquinho de gramática, então:

Et cetera é uma expressão latina que significa “e outras coisas”. Sua abreviação de uso corrente é o etc. A regra geral, ao que parece, consiste em usar a abreviação precedida de vírgula, e com um ponto final após – algo como “fui à feira e comprei bananas, maçãs, peras, etc.”
Entretanto, modernamente vem se admitindo o uso do etc. sem a vírgula, como uma forma de evitar a poluição visual, e também porque não faz lá muito sentido colocar a vírgula se se for pensar na tradução literal da expressão (algo como “fui à feira e comprei bananas, maçãs, peras e outras coisas” – nota-se como a vírgula antes do etc. poderia ser dispensável). Assim, a vírgula antes do etc. em enumerações é facultativa.

Algo que não parece ser alvo de controvérsias é a necessidade de se colocar o ponto após o etc. (Como se trata de uma abreviação, o ponto seria sempre obrigatório).
Também acho que cabe aqui ressaltar que absurdos como colocar dois pontos ao lado do etc. só porque ele aparece no final da frase devem ser evitados (não faria sentido dizer, por exemplo, “fui à feira e comprei bananas, maças, peras etc..”).

Em suma:

Forma clássica:

Item 1, item 2, item 3, etc.

Ou

Forma mais moderninha:

Item 1, item 2, item 3 etc.

Para saber mais:
Wikipedia – Et cetera
Etcétera – etc.
Pontuação do etc. (dica da Carla)

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Mundo virtual?

>> Ação terrorista e rivalidade partidária no Second Life.

E depois tem gente que insiste em dizer que o SL é só um joguinho… No máximo pode ser uma simulação e ampliação da vida real (mas com conseqüências reais). Ou o uso da tecnologia como uma extensão de nossas capacidades físicas e mentais (mais ou menos como o ideal proposto por McLuhan lá na década de 60).

(via comentário do w1zard)

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Teria sido interessante

Por um deslize do operador de caracteres, a imagem acima pode ser vista durante 12 segundos segunda-feira na CNN International. Imagina a sensação de alguém que tenha ligado a televisão exatamente neste momento. 12 segundos depois, a palavra Bush foi substituída por Blair. Mas o tempo foi suficiente para que o pessoal da internet, que não perdoa ninguém, captar a tela e o erro não passar despercebido.

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Sete anos de Gilmore Girls

Sete anos de muito café. Sete anos de madrugadas insones, esperando para atualizar o site (nos idos tempos da conexão discada, limitada a escravizantes 20 horas semanais ops, mensais!)… sete anos de piadas inteligentes, sete anos de humor afiado, sete anos de referências obscuras, sete anos de referências interessantes. Sete anos de dedicação. (Ou pelo menos quatro, que foi o tempo durante o qual o site permaneceu efetivamente atualizado). Nesses sete (quatro) anos aprendi a gostar de escrever, a viver com bom humor, a ter uma vida paralela na Internet. Fiz muitos amigos, conheci muita gente (até hoje meu MSN tem uma categoria para “amigos de Gilmore Girls”; pior: até hoje meu endereço de MSN faz referência ao nome do site sobre a série). Talvez minha vida não teria sido a mesma sem Gilmore Girls. Foram sete (okay, quatro) anos esperando ansiosamente pelo episódio da semana na televisão. Sete anos aguardando a renovação para a temporada seguinte. Sete anos de incertezas e dúvidas quanto ao momento final.
Sete anos. Mas tudo chega a um fim. Amanhã: series finale de Gilmore Girls nos EUA. Algumas horas depois já vai ser possível baixá-lo pela Internet. Depois de amanhã, só restará rever os episódios que passou. E aguardar pelo box em DVD das demais temporadas.

Em off: há rumores que apontam na direção de uma possível oitava temporada – provavelmente abreviada.

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Thinking Blogger Awards

Empaquei na minha lista de cinco blogueiros porque não conseguia passar do quarto. Aí decidi quebrar parcialmente a idéia do meme* (pior do que passá-lo adiante de forma incompleta, é simplesmente não passá-lo adiante) e indicar só quatro. Na minha lista constam apenas blogs que eu lia até a data em que recebi o meme (de certa forma, passei a adotar estratégias de expansão da minha rede social após essa data). Tem ainda muita gente bacana que só comecei a ler depois, como (sob pena de dar apenas um exemplo e apanhar dos outros… deixando claro que se trata de uma amostra totalmente exemplificativa) o Grande Abóbora.

Em ordem alfabética, os indicados são:
(sei lá por que apresentá-los em ordem alfabética, mas todo mundo tem feito assim; e dessa forma também não se tem a obrigação de dispor os blogs em uma ordem de preferência ou algo parecido; também seria possível adotar um critério cronológico, ou algum outro método para determinar a ordem em que os indicados seriam, bem, ahm, indicados. Como não sou lá muito criativa, optei por seguir o modelo pré-estabelecido…)

* Il est communiqué – blog da Alessa. Na verdade não é bem um blog, porque não é mantido atualizado com muita freqüência. Tanto é assim que ela até tirou a data das postagens – consta apenas a hora, como uma referência perdida no meio dos metadados dos posts. Mesmo assim, a Alessa me faz pensar porque produz posts criativos e bem-humorados. Vale a pena ler, esmiuçar os arquivos, enfim, pelo menos passar por lá para conhecer.

* Universo Anárquico – é permitido devolver a indicação? 😛 O blog da Tina é um misto de vários assuntos. Muitos dos posts tratam da própria blogosfera. As postagens fazem com que a gente amplie os assuntos que são objetos da nossa reflexão diária. E como se não bastasse a dedicação diária da Tina para seu próprio blog, ela ainda faz questão de visitar periodicamente um por um dos blogs de seu bloroll, para deixar comentários. Além de fazer pensar ela também dedica uma imensa atenção à blogosfera, e por isso merece receber o meme. De novo. 🙂 (isso seria o quê, a terceira, a quarta indicação? :P).

* w1zard – o Jefferson fala de tecnologia, de internet, de games, enfim, de tudo o que um nerd gosta. E de uma forma descontraída, sem muita preocupação com a forma ou com o impacto que o post irá causar. É essa despretensão no estilo que faz com que a gente tenha que pensar sobre os assuntos abordados, o que torna o blog um merecedor do selo do meme 🙂

* Zipadas – por fim, indico as garotas zipadas, com seus posts emotivos e sensitivos, nos quais a paixão transpira, mas sem perder a racionalidade. Há inquietações, anseios, mágoas que precisam ser esmiuçadas – faz parte da incoerência da idade querer ter um espaço para expressá-los. E ao ler sobre a vida delas, acabamos refletindo sobre nossas próprias vidas…

* Para um olhar mais científico sobre o que seriam os memes em weblogs, vale a pena ler o artigo da Raquel, apresentado no Intercom do ano passado.

Update: achei bacana a idéia do Inagaki de indicar o Atmosfera para o thinking blogger awards. Para quem não sabe, o atmosfera é um blog coletivo que se propõe a falar sobre o clima. Há gente postando a partir de várias cidades do mundo, a partir de vários pontos de vista. E de vez em quando Pelotas também aparece por lá 🙂

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Falácias

Uma falácia é um argumento que tem aparência de verdade, mas no fundo não é. Aprender a reconhecer as situações mais comuns em que pode ocorrer uma falácia é fundamental para aprender a rebater construções ardilosas de discurso, de pessoas mal-intencionadas ou não (até porque uma falácia pode sair sem querer). Ao parar para pensar ou ler sobre o tema, é possível perceber que há muitas situações no dia-a-dia que não sabemos como responder a argumentos que à primeira vista parecem inteiramente lógicos. Entender como funciona essa estratégia de argumentação é, assim, essencial, não para enganar os outros, mas para saber como escapar diante de uma enganação. Um argumento será falacioso sempre que as razões apresentadas não forem suficientes para sustentar a conclusão.

Eis alguns exemplos:

Argumento de misericórdia

“Ele não tirou uma boa nota na prova, mesmo sendo um bom pai de família”.

Defeito do argumento: uma coisa não tem nada a ver com a outra. Uma pessoa pode ser um bom pai de família e mesmo assim ir mal em uma prova.

Argumento à novidade, argumento à antigüidade

“A Igreja sempre foi contra o aborto, e se foi assim desde o princípio, deve continuar por mais tempo”.
“O celular é mais moderno; portanto, ele é melhor que o telefone convencional”.

Defeito do argumento: não necessariamente algo é bom por ser novo, ou bom por ser velho. Depende do uso, depende da situação.

Falso dilema

“Ou você está comigo, ou você está contra mim”.

Defeito do argumento: só são dadas duas opções quando há várias outras alternativas possíveis.

Generalização

“Todo mundo deve praticar esportes”.

Defeito do argumento: nem todo mundo. Tem gente que não tem saúde suficiente para praticar o esporte, e depende também do esporte a ser praticado.
(lembre-se que “generalizar é sempre uma coisa perigosa”, sendo esta própria frase uma terrível generalização :P)

Falha na relação causa e conseqüência

“Sempre que me atraso para a aula, chove. Hoje me atrasei. Logo, irá chover.”

Defeito do argumento: apresenta-se uma seqüência forçada de causa e efeito como se houvesse relação lógica entre os elementos.

Argumento da Ignorância

“Ninguém conseguiu provar que os discos voadores existem. Portanto, eles (não) existem”.

Defeito do argumento: ora, se ninguém conseguiu provar tanto a existência quanto a não existência, não se tem como afirmar que eles existem ou não existem. Substitua discos voadores por deus na frase acima (fazendo as devidas adaptações gramaticais) e terá uma visão mais precisa do quanto falacioso esse argumento pode ser.

***

Mais falácias podem ser consultadas no Guia de Falácias de Stephen Downes. Também é interessante ler o conto “O Amor é uma Falácia”, de Max Shulman.

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Repouso forçado

Não agüento mais enxergar meu próprio quarto. Também não suporto mais este computador. Estou sendo obrigada por minha irmã-médica-particular a ficar de repouso total, até voltar a respirar por conta própria sem a ajuda de broncodilatadores. Praticamente não saio de casa desde sábado de tarde. Ontem saí de casa para almoçar, e voltei pior. Hoje de manhã inventei de ir para uma das aulas da faculdade – mas, pela lei de Murphy, não teve aula. E a minha falta de ar aumentou. Acho que vou ficar parada, na sala, encarando a tevê desligada (ela só serve de enfeite), talvez acompanhada de um livro, e fazendo nebulização, o dia todo. Talvez assim eu lembre os horários da medicação. E também me livro de ficar o dia todo olhando para esta tela pateticamente quadrada e ridiculamente branca. Usar a Internet é bom. Ficar em casa é bom. Mas ser obrigada a ficar em casa por mais de quarenta e oito horas não é nada divertido. Já vi todos os episódios atrasados de Gilmore Girls e Heroes. Reescrevi pelo menos três histórias que nunca serão lidas. Li os jornais atrasados de toda a semana. Visitei blogs que nem sabia que existia. Mandei e-mails chatos e inoportunos para todo mundo. Fiz um backup de todos os arquivos do computador (eu sempre dizia que nunca tinha tempo para isso; pronto, encontrei uma oportunidade ímpar). Enfim, estou tentando ao máximo não usar o tempo livre para colocar a vida acadêmica em dia – a vida perde um pouco da graça sem a correria normal do dia-a-dia. O ideal seria poder canalizar todo esse espírito auto-destrutivo na prática de algo produtivo. Vale qualquer coisa, desde que seja possível fazê-la sentada, parada, quietinha, no sofá da sala. Alguma dica? 😛

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Termos jurídicos absurdos, parte 3

Turbação – impedir o livre exercício da posse alheia a partir da prática de atos que não permitam que a posse de outrem seja exercida de forma plena. Não confundir com esbulho, que ocorre quando a posse de um é tomada por outro. Pelo menos turbação tem uma origem etimológica perfeitamente lógica. Ou acaso alguém nunca ouviu falar do verbo perturbar?

Utilidades práticas:

– Se você não me emprestar a pecinha de Lego que falta para completar minha torre, vai haver turbação!

– Diferentemente da organização de ontem, hoje o evento estava a maior turbação, com uns interferindo nas atividades dos outros.

– Esse cachorro que não pára de latir está provocando a maior turbação no meu livre exercício de escolher o que ouvir.

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