Sobre a Tina

Demorei um pouco para aceitar a morte da Tina. Vi o post do marido dela assim que ele apareceu em meu Google Reader, mas esperei algum tempo para me manifestar. Vai ver eu tinha entendido mal ou algo parecido. Como assim a Tina tinha falecido dois dias antes de seu aniversário? Simplesmente não fazia sentido.
Quando apareceram os primeiros comentários ao post, vi o quanto a situação era séria. Ontem no Twitter, em um momento de catarse coletiva, diversos tipos de sentimentos afloraram com relação ao acontecido. E embora alguns tenham tido reações infantis, muitos lamentaram o ocorrido.
Pelo fato de ela freqüentar vários blogs, ela era odiada por uns, tolerada por outros, e amiga de muitos. Nesses últimos anos, a Tina Oiticia Harris constituiu uma parte importante da blogosfera. Era incrível como alguém conseguia comentar diariamente em tantos blogs, relacionar-se com tanta gente. A Tina era alguém que, apesar de conviver com diversos problemas de saúde, via na blogosfera uma válvula de escape e uma maneira de se socializar, de se sentir entre iguais. E sua participação não se limitava só a comentar em blogs. Ela enviava mensagens pelo Twitter, e-mails com recomendações de posts, também trocávamos links no del.icio.us (era a Rede Anarchic_Universe no del.icio.us, como ela gostava de frisar), chegamos a conversar pelo telefone algumas vezes. Em uma dessas ocasiões, ela me ligou porque achou que eu estava de mal com ela porque a tinha removido como contato no del.icio.us. Conversamos por horas até ela ver que não tinha nada de errado entre nós. Depois que a adicionei de volta, ela me enviou um cartão virtual em agradecimento – um gesto bastante simpático de sua parte. Até hoje tenho esse e-mail marcado com uma estrela no Gmail (o que significa e-mails lidos, mas não respondidos). Senti-me mal ao constatar que não havia respondido não só este como mais de metade dos e-mails que recebi dela ao longo desses últimos anos. Agora é tarde demais.
Na época da “treta” com o Kid, ainda não conhecia a Tina. Mas acompanhei de perto a confusão com o Marcus – e embora tenha achado que, na ocasião, nenhum dos dois tivesse total razão (sorry, Marcus), foi a partir daquela situação que passei a compreender melhor a Tina – como um ser único, peculiar, com uma baita bagagem cultural, e que levava muito a sério os relacionamentos que mantinha na blogosfera (e talvez por isso ela acabasse se metendo em tanta confusão). Foi ela quem me apresentou a muitos dos blogs que acompanho atualmente. E aposto que muitos chegaram aqui a partir das recomendações insistentes dela.
Ela me perguntava várias vezes sobre as faculdades, sobre quando eu iria me formar, e chegou até mesmo a ler um dos meus trabalhos, dando-me sugestões de estilo e formatação. O último comentário que recebi dela neste blog, no próprio dia de sua morte, foi esse, me parabenizando pela formatura:
“Meus parabéns, Gabriela!
Passarei aqui daqui a 18 meses para dar parabéns de novo!
E agora, em que área você atuará?
Beijos e felcitações, uma vez mais.”
Infelizmente, ela não retornará daqui a 18 meses 🙁
Lamento pela morte, e espero que sua família – ela deixou marido e filho – consiga superar a perda.
A Tina, sem dúvida, fará muita falta para a blogosfera.
Finalizo o post com a frase com a qual ela me respondeu quando disse que não tinha tempo para fazer o mesmo que ela (comentar em seu blog diariamente):
“Você é responsável por aquilo que que cativa”.
Obrigada por tudo, Tina! E peço desculpas, ainda que tardias, por não ter dado em vida toda a atenção que merecias.

A Luciana, do Cintaliga, fez uma bela homenagem à Tina. O post do Doni também é belo – e critica aqueles que só se limitaram a falar mal da Tina, mesmo sem conhecê-la.
Mas também há o outro lado. Não dá para deixar de mencionar as tão aguardadas manifestações do Kid e do Marcus.

6 thoughts on “Sobre a Tina

  1. Oi, Gabriela. São 2h12 da madrugada deste sábado e estou de queixo caído. Como assim? A Tina me enviou um e-mail dia desses… há algum tempo eu não falava com ela por telefone, mas pelo que eu achava que sabia, ela estava melhor e… ainda não li o post do marido dela que você linkou.. não é mais um caso MEG? Inacreditável.

  2. Acho que a única coisa que posso acrescentar a este texto é que, se não me engano, foi ela que apresentou teu blog para mim, ainda na época do blogspot.
    De fato, ela dava muitas bolas dentro, mas a quantidade de bolas fora, pelo menos para mim, não compensava.

  3. Apenas com a web, fica mais difícil acreditar/aceitar que alguém efetivamente morreu – o perfil dessa pessoa continua lá, em vários pontos do ciberespaço. o.0
    Marcus: acho que também cheguei ao teu blog por recomendação da Tina. E ao do Ed também.

  4. É a lógica da vida.
    O teu final foi um momento totalmente pós-humano e por conseqüência 100% humano.
    “As relações do pós-vida em redes sociais na internet”
    Dá tempo ainda

  5. Não me levem a mal, mas uma pessoa morreu…..
    Que importa se houve um desentedimento pra cá e outro pra lá?! Que coisa mais sórdida, baixa e vil vejo gente que usa como parâmetro da sua própria comoção
    ” a importância na blogosfera ” que teve a pessoa ou ainda por parte de quem não gostava ” pelas bolas foras dadas…. foi ela quem apresentou o teu blog pra mim, mas…… “. Mas o que? Um ser humano morto é maior que a vaidade no mundinho virtual patético de vocês, sempre desconfiei de quem vive, não por que vai ser pago mas por que ” gosta ” de morar num computador. VIDA SOCIAL, CAPACIDADE DE SE COMOVER COM O QUE ACONTECE COM UM SER HUMANO DE CARNE, OSSO E SANGUE, sabem o que é isso? Que tipo de pessoas são ( alguns ) de vocês?
    Vão viver a vida de vocês, já se abitolaram tanto que nem a morte de alguém é capaz de despertar um pingo de humanidade em muitos de vocês.
    A grossa maioria de vocês me dá pena, muita.
    Um espaço que deveria ser usado como uma instrumento de troca de idéias no fim serve pra um sujeito que o mundo que o chão tem concreto, as pessoas reagem sem apertar botão, acabou virando escape pra gente que é tão ressentida, tão desprovida de qualquer contato humano que tem nem capacidade de respeitar um falecimento tem, que importa se a Tina gostava ou desgostava de fulano ou beltrano? Que lástima, de verdade.

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