Monthly Archives: June 2007

Correria

Cansei de brincar de fazer duas faculdades 😛

Tenho três trabalhos para entregar hoje, dois para amanhã. Não fiz a prova de hoje de manhã porque dormi até meio dia. Dormi até meio dia porque virei a madrugada fazendo um dos trabalhos para hoje à noite. E não vai me sobrar tempo para fazer qualquer coisa hoje de tarde. Alguém tem horas sobrando? Pago um preço bem especial. É só até o final do semestre, depois devolvo 😀

(sim, eu sempre deixo tudo para a última hora)

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O aluno ideal

O aluno ideal é aquele que assiste a todas as aulas, participa ativamente das discussões, sempre tem algo de relevante para dizer sobre qualquer assunto, nunca se atrasa, está sempre de bom humor e leva os estudos a sério.

O aluno ideal compra todos os livros da bibliografia básica de cada disciplina, e ainda se arrisca a ler pelo menos partes das referências que constam na bibliografia complementar. Ele mantém uma biblioteca atualizada em casa com as obras mais importantes relativas às temáticas que lhe agradam – o aluno ideal possui interesses específicos, embora consiga facilmente dominar uma conversa sobre qualquer assunto.

O aluno ideal estuda um pouco da matéria a cada dia, de modo que, quando chega a época de provas, ele só precisa retomar o que já foi apreendido ao longo do semestre.

O aluno ideal dá tudo de si em atividades extras e trabalhos acadêmicos. Ele se dedica ao máximo não pela nota, mas pelo conhecimento que aquela tarefa poderá lhe proporcionar.

O aluno ideal nunca leva dúvidas para casa. Ele sempre as tira diretamente com os professores, aproveitando-se do conhecimento daqueles que já estudam a mais tempo, e, portanto, sabem (ou deveriam saber) mais que seus alunos. O aluno ideal também procura saber antes das aulas um pouco sobre a matéria a ser tratada, de modo que possa estabelecer uma discussão saudável com professor e colegas sobre o assunto. Por conta disso, os professores se dividem entre os que amam e os que odeiam o aluno ideal. Uns odeiam, porque acham que o aluno está tentando competir com o mestre. Outros, mais sensatos, encaram a tarefa de ensinar como um desafio, e aprendem a lidar com a superação diária ao enfrentar os tipos de alunos ideais.

Dentre os colegas, o aluno ideal costuma ser popular. Mas assim como acontece com os professores, também os colegas se dividem entre os que admiram e os que invejam o aluno ideal.

O aluno ideal tem uma memória perfeita e consegue lembrar datas, lugares e acontecimentos com precisão, mesmo que não seja necessário decorá-las. O aluno ideal, aliás, não decora: ele entende. Esforça-se para compreender os conteúdos, de modo que, ao assimilá-los, possa depois retomá-los sempre que for preciso.

O aluno ideal procura conciliar os estudos com atividades de pesquisa e extensão. Ele compreende e atua em prol do papel social da universidade, além de ter a noção exata do quanto o conhecimento científico pode contribuir para o seu crescimento intelectual. Não obstante, o aluno ideal ainda emprega seu tempo para ajudar seus colegas e busca compartilhar seu saber com a comunidade.

O aluno ideal, idealmente, deveríamos ser todos nós. Entretanto, por conta dos prazos, da correria, das outras atividades do dia-a-dia, enfim, por vários motivos, um aluno ideal não existe – mas nem por isso deixa de ser um ideal a ser perseguido. Ele é como o horizonte ou a utopia: algo que buscamos, mas que nunca atingimos.

* Em clima de … várias provas, vários trabalhos, poucos dias, e a perspectiva de que não vai dar tempo de fazer tudo sem explodir!

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Bacharelado em Fatos

Em qualquer ação ou peça processual, os advogados costumam ter que alegar questões de fato e de direito. As questões de fato correspondem a narrar o que aconteceu, quando, em que circunstâncias, onde, quem fez o quê e como (narrar os fatos tem mais ou menos os mesmos requisitos para se contar uma notícia, com a diferença de que não se pode inovar no lead :P). Já as questões de direito dizem respeito às normas jurídicas que amparam o pedido, ou aquilo que se quer com a ação que se está movendo. Por exemplo, se alguém bater no seu carro, nos fatos vai a descrição do acidente, e no direito vem a possibilidade de se ingressar por ação por dano material, prevista no Código Civil.

Até aí tudo bem. Mas há um autor, William Twining, que acha que os estudantes de Direito estão fazendo o curso errado. Para ele, é mais importante descrever bem os fatos que aconteceram (para poder comprovar que se tem o direito alegado) do que propriamente descrever o que a lei prevê para aquele caso (até porque é obrigação do juiz conhecer a lei, e não o contrário). Daí então ele sugere que deveríamos levar os fatos a sério e passar mais da metade da faculdade estudando fatos (e como narrá-los) ao invés de passar tanto tempo debruçados sobre o direito. Em suma: para Twining, deveríamos nos formar Bacharéis em Fatos, e não Bacharéis em Direito.

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Crimes contra a honra em blogs

Os usuários de Internet podem e devem se proteger contra ofensas à honra realizadas na blogosfera, ou em qualquer outro ponto do ciberespaço. Há inclusive a possibilidade de responsabilização penal para esses casos.

Antes de falar dos crimes contra a honra em espécie – calúnia, injúria e difamação – é útil dizer alguma coisa sobre os tipos de honra. Em termos jurídicos felizes, tem-se a honra objetiva e a honra subjetiva. A honra objetiva é quando a ofensa é dirigida à reputação do indivíduo, ou seja, à opinião que os outros tem sobre essa pessoa. Nesse caso, é imprescindível que outras pessoas fiquem sabendo que houve a ofensa (do contrário, não houve crime). Já a honra subjetiva é quando se ofende atributos pessoais que o indivíduo acha que possui. Nesse caso, não é preciso que ninguém mais fique sabendo: basta que a vítima se sinta ofendida.

Em termos práticos, a calúnia e a difamação ofendem a honra objetiva – e na Internet esses crimes podem ser praticado em blogs, comunidades do Orkut, ou qualquer outro meio capaz de atingir outras pessoas. Já a injúria ocorre quando há ofensa à honra subjetiva. Nesse caso, até um xingamento por e-mail pode ser assim considerado. Mas nada impede que a injúria ocorra também em blogs, redes sociais, ou em qualquer outro espaço virtual público.

Para provar que houve o crime contra a honra, basta um printscreen. O ideal é que a página não tenha sido tirada do ar (isso facilita a identificação do autor, nos casos em que a ofensa seja anônima). Mas, na maior parte das vezes, os comentários ou posts ofensivos são tirados do ar em pouco tempo (até porque no absurdo sistema jurídico brasileiro, o próprio blogueiro pode ser responsabilizado por comentários ofensivos de um visitante contra terceiros, principalmente quando é avisado do fato e não retira o comentário do ar em tempo hábil), e o único meio de provar será ter tirado uma “foto” da página quando a ofensa ainda estava por ali (ou quando a página ainda existia – deletar uma comunidade no Orkut ou um blog inteiro é uma operação extremamente simples, por exemplo).

A calúnia se configura quando alguém imputa a outrem um fato criminoso. É mais ou menos como dizer que o fulaninho furtou dinheiro de outra pessoa. O fato em si tem que ser criminoso. Já a difamação ocorre quando há a imputação de um fato não criminoso – algo como acusar o outro de ter praticado adultério (já que o adultério não é mais considerado crime no Direito brasileiro).

Esses dois crimes ofendem a honra objetiva, e costumam ocorrer em conjunto com o crime de injúria (que é ofender os atributos físicos, morais ou intelectuais de outro indivíduo). Uma injúria com calúnia, por exemplo, pode ocorrer quando um indivíduo chama o outro de ladrão, e depois acusa de ter roubado dinheiro de outra pessoa. Ter chamado de ladrão já configura injúria (mesmo que ninguém mais ouça o xingamento). E a acusação de roubo, se chegar ao conhecimento de mais alguém (do contrário, não fere reputação nenhuma), é um crime de calúnia.

A única dúvida que tenho é se a pessoa que pratica o crime em um blog responde pelo crime comum do Código Penal (para o caso de ser considerada uma espécie de divulgação de crime contra a honra) ou pela Lei de Imprensa (nesse caso, ter-se-ia que considerar o blog como meio de comunicação). Pela redação do parágrafo 4º do artigo 3° da Lei de Imprensa, “são empresas jornalísticas, para os fins da presente Lei, aquelas que editarem jornais, revistas ou outros periódicos. Equiparam-se às empresas jornalísticas, para fins de responsabilidade civil e penal, aquelas que explorarem serviços de radiodifusão e televisão, agenciamento de notícias, e as empresas cinematográficas”. Será que (alguns) blogs não possuem um alcance tão grande que poderiam ser incluídos nessa categoria?

Por fim, cabe ressaltar que os três crimes contra a honra funcionam mediante queixa. A ação penal é privada, e só começa se o próprio ofendido procurar a autoridade judiciária.

Para compreender o outro lado: este texto do Observatório da Imprensa apresenta dicas de como um blogueiro deve proceder para evitar acusações (ou o que fazer quando já se foi acusado).

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Termos jurídicos absurdos, parte 6

Imputação – não, não é palavrão. Apesar de conter um em seu núcleo central. Imputação é um termo usado em juridiquês arcaico-rebuscado para significar o fato de que um fato criminoso é suscetível de ser enquadrado em uma lei que o define como crime. Confuso ainda? É mais ou menos assim: Crime é o que está definido em lei como tal. Imputável é aquele a quem se pode imputar um crime. Imputar é a ação ou efeito de, ahm, enquadrar a conduta como crime (não confundir com “emputar”, que, se existisse, teria tudo para ser o verbo associado ao palavrão do núcleo da palavra). E a imputação é o resultado disso tudo.
Tem outras variações, como inimputável, que é aquele a quem não se pode imputar crime algum (exemplo: menores de idade são inimputáveis frente ao Código Penal; mas isso não impede que não possam ser imputados nas infrações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente).

Sintetizando…
Imputar – atribuir uma conduta criminosa a alguém

Aplicações na vida cotidiana:

– Não me imputa assim nesse tom! Eu não fiz nada!

– Você precisava ter ido àquele jantar. Era uma imputação atrás da outra, com todos se xingando uns aos outros.

– Pára de me xingar, se não vou te imputar!

– Não tem graça brigar com o Carlinhos. Ele é inimputável.

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Sobre a luta de egos na blogosfera

Não sou uma blogueira lá muito experiente – basicamente, tudo que sei vem de observar outros blogs, porque meu blog é quase um nada frente à imensidão da blogosfera. Mas vou me arriscar a falar sobre um assunto espinhoso: o ego dos blogueiros.

Partindo-se do pressuposto de que todo mundo bloga por algum motivo, vou me ater a um único aspecto: quem bloga, busca fama ou reputação?

Fama é associado a celebridades, tem a ver com ser reconhecido pelo público em toda e qualquer circunstância da vida social. Para ter fama, é preciso ter presença ativa na mídia de massa tradicional.

Na Internet, o que se tem é uma espécie de ciberfama. Alguns conseguem se destacar dos demais, mas no geral essa fama só existe na Internet. Experimente falar sobre um blogueiro famoso para alguém que nunca leu um blog. A pessoa vai fazer uma cara de “quem é esse ser?” e você vai se sentir extremamente idiota tentando explicar de quem se trata (sim, eu já tentei fazer isso antes).

Mas se você falar sobre a moça que dormiu com o jogador de futebol do Flamengo e que apareceu no programa de domingo na tevê, pode ter certeza que a probabilidade de alguém saber de quem se trata é bem maior, dentro ou fora da Internet. Aí é fama. Fama instantânea, ninguém vai saber quem é essa moça daqui uma ou duas semanas, mas é fama. O que importa é que ela é passível de ser reconhecida na rua. É mais ou menos isso que define o que é ou não fama.

A fama é o que move celebridades da mídia tradicional. É aquilo que levou Andy Warhol a dizer que todo mundo terá seus 15 minutos de fama. É querer aparecer na tevê, no rádio, no jornal impresso, ou em qualquer outra manifestação da mídia de massa.

Entretanto, nem todo blogueiro quer fama. Fora alguns que possuem um ego quase lá na Lua, a maior parte das pessoas que posta na Internet procura reputação. A reputação é um conceito um tanto mais vago, que se refere à capacidade de ser reconhecido por seus pares (ou seja, outros blogueiros) como uma autoridade em um determinado assunto (aquele que é objeto do blog), mesmo que seja ser reconhecido como o maior especialista do mundo para falar sobre a sua própria vida (no caso, em blogs pessoais). A reputação do blogueiro seria uma espécie de “fama” que se estende dentro de sua própria rede social. O tanto que alcança sua própria blogosfera determinará o alcance de sua fama. Fora disso, ele é um ser comum, que tem uma vida comum, e pode andar na rua sem um monte de paparazzi na volta.

Adquirir reputação entre outros blogueiros não é fácil. É preciso visitar outros blogs, comentar outros posts, escrever sobre outros assuntos… Enfim, é preciso penetrar em todo um universo próprio em que page rank, technorati, feeds, trackback e tags são termos corriqueiros. Dependendo do alcance que se quer dar a um blog, construir uma reputação demanda tempo e dedicação.

Como se vê, a distinção entre fama e reputação é por vezes sutil. Mas, ao menos em termos gerais e extremamente vagos, a fama seria a opinião dos outros sobre você, ao passo que na reputação vale o que você acha que os outros pensam sobre a sua pessoa. Tem gente que pode se contentar em ter um blog com alcance de dois, três leitores (e terão de trabalhar para construir sua reputação perante eles). Mas tem outros que vão procurar dar vôos maiores. Só uns tantos felizes irão buscar a fama com um blog. E a maior parte acabará tendo que se contentar com um simulacro de ciberfama.

Seja em busca de fama, ciberfama ou reputação, o que importa é que todo e qualquer blogueiro, por mais que negue, por mais que esperneie e bata o pé, sempre bloga em busca de status social. E é mais ou menos isso que o faz tratar os outros cordialmente, responder a todos os comentários e e-mails e fazer de tudo para ter uma boa imagem frente aos demais. Também pode ser isso o que faz com que as pessoas pensem várias vezes antes de deixar um comentário não concordando com a opinião de um blogueiro que supostamente tem uma reputação maior (ou não). E esse medo de discordar acaba fazendo com que o blog não cumpra sua função de gerar conversação. E, ao não gerar conversação, ficamos condenados a um eterno embate vazio de egos, em que uns elogiam os outros e se colocam, uns aos outros, em pedestais. A blogosfera acaba sendo um ambiente em que todos se amam, ou fingem que se amam, quando, por dentro, o sonho de todo blogueiro é eliminar o próximo para poder, sozinho, triunfar.

Espero não perder minha micro-reputação por conta desse post 😛 A caixa de comentários está aberta para quem queira discordar, ou contribuir, de alguma outra forma, para o debate 🙂

Disclaimer: como, infelizmente, nem toda idéia é original, a discussão original entre fama e reputação em blogs surgiu em uma mesa redonda sobre Internet no Celacom, em maio deste ano.

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A eterna crônica da viagem de ônibus

Não deixa de me surpreender a quantidade de pessoas que mora na beira da estrada. (Se bem que, no dia em que eu deixar de me surpeender com algo neste mundo, o próprio viver perderá o sentido.) Sempre que pego o ônibus semi-direto no trajeto Pelotas-Bagé de dia fico totalmente impossibilitada de fazer qualquer coisa de útil (como ler, ou algo parecido), pois o ônibus precisa parar pelo menos uma vez a cada minuto, para subir ou descer alguém. Como conseqüência, ou faço uma leitura muito superficial (algo como um parágrafo do texto a cada parada brusca do ônibus, ou leitura durante o movimento, o que na prática dá no mesmo, porque a gente passa mais tempo parado do que em movimento durante o trajeto), ou então aproveito as três horas de viagem para ter uma convivência forçada comigo mesma.
Nessas horas de convivência forçada, tenho muitas e muitas idéias. Mas não tenho como salvá-las ou armazená-las para posterior consulta. O ideal seria ter a possibilidade de se poder gravar pensamentos em tempo real. Eu não iria me importar em levar o tempo que fosse para degravar três horas initerruptas de pensamentos férteis e criativos, no mais legítimo estilo fluxo de consciência 🙂
Triste sina: as melhores idéias surgem por acaso – e, infelizmente, elas costumam brotar quando estamos longe de um computador ou de um pedaço de papel com caneta.

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