Monthly Archives: September 2005

George Orwell

Li dois ensaios de George Orwell neste fim de semana. Ambos falam de aspectos formais da escrita, aplicados a diferentes áreas. Ambos foram escritos em 1946. Ambos permanecem atuais até hoje. Ambos me fizeram ficar com ainda mais vontade de ler a obra “1984” (mas a leitura vai ter de ser adiada por conta das zilhares de provas cruéis marcadas nas faculdades para as próximas semanas!).

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O primeiro ensaio é “Politics and the English Language“. Nele, o autor discorre acerca do fato de que o discurso político da época era impregnado de vagueza. Algumas passagens interessantes:

“This mixture of vagueness and sheer incompetence is the most marked characteristic of modern English prose, and especially of any kind of political writing.”

“It is easier — even quicker, once you have the habit — to say In my opinion it is a not unjustifiable assumption that than to say I think.”

“You can shirk it by simply throwing your mind open and letting the ready-made phrases come crowding in. They will construct your sentences for you—even think your thoughts for you, to a certain extent—and at need they will perform the important service of partially concealing your meaning even from yourself.”

“The great enemy of clear language is insincerity.”

“But if thought corrupts language, language can also corrupt thought.”

“One can cure oneself of the ‘not un-’ formation by memorizing this sentence: A not unblack dog was chasing a not unsmall rabbit across a not ungreen field.” (:P)

E ele conclui, enumerando algumas regrinhas para quem pretende se aventurar no discurso político:
(i) Never use a metaphor, simile or other figure of speech which you are used to seeing in print.
(ii) Never use a long word where a short one
(iii) If it is possible to cut a word out, always cut it out.
(iv) Never use the passive where you can use the active.
(v) Never use a foreign phrase, a scientific word or a jargon word if you can think of an everyday English equivalent.
(vi) Break any of these rules sooner than say anything outright barbarous.

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Já no segundo ensaio, intitulado “Why I Write” (versão traduzida para o português), o autor faz um relato de como surgiu sua paixão pela escrita. Orwell apresenta os motivos que levam um autor a escrever (completo egoísmo, entusiasmo estético, impulso histórico e propósito político) — o autor admite escrever pelos 3 primeiros motivos –, e conclui dizendo que “Escrever um livro é uma luta horrível e cansativa, e o processo se parece com uma batalha contra uma doença longa e dolorosa. Ninguém embarcaria em tal jornada se não fosse impulsionado por algum demônio que ele não pode resistir nem entender.

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Enfim, recomendo a leitura de ambos os ensaios 🙂 E aceito doação de horas para ler 1984 😛

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Por que qualquer coisa parece ser mais interessante do que estudar Direito Financeiro?

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Tempo malvado 2

Pois bem. Sábado acordei 7h30 para [tentar] tirar fotos, na santa inocência, achando que o tempo fosse melhorar da noite para o dia. Vi-me diante de um temporal que durou um dia inteiro, e a única solução encontrada foi voltar a dormir.
Por uma simples abdução [?] imaginei que no domingo as coisas fossem ser iguais (inferi o caso a partir da regra e do resultado do dia anterior…), e simplesmente dormi até tarde. E não é que hoje o dia amanheceu lindo? Apesar do frio e do vento, é um dia bastante ensolarado. Grrr. Que raiva!
Ainda não me decidi se amanhã vou matar aula para tirar fotos (a idéia é tentadora :P), ou tirar fotos de hora em hora na própria facul… :}

Ah.. mais tarde volto aqui para postar algo mais, digamos, de acordo com a temática (!) do blog 😛

Ganhei meu dia depois de ler isto:

Último a saber

Como ontem, há quatro anos um ainda quase anônimo Severino Cavalcanti também representava a Câmara na ONU quando houve o ataque às torres do World Trade Center.
Monoglota, trancado no hotel nos dias seguintes ao atentado, Severino conseguiu embarcar no primeiro vôo da Varig a sair de Nova York. Alojado na classe executiva, o deputado virou-se para um atônito vizinho de assento e perguntou:
– O senhor pode me explicar o que aconteceu?

(Zero Hora, 10/09/05, pg. 3)

😛

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Hoje é o “aniversário” (a comemoração, a repetição da data que assinala? falta-me o termo agora…) do ataque às Torres Gêmeas… O que há de melhor no mundo desde então?
Terrorismo global, catástrofes naturais por todo lado, aviões que caem, corrupção no Brasil, alagamentos em Pelotas… Será que este mundo ainda tem conserto? (agora estou me sentindo culpada por ter rido da notícia acima :P…)

Culinária

Tenho um liquidificador. Torradeira remendada. Dois fornos (o elétrico e o convencional). Quatro bocas de fogão (mas só uso uma, a mais perto do balcão). Geladeira, pia, etc. Tenho até uma cafeteira! — O que falta para eu aprender a cozinhar? :}
Meu arroz fica uma droga (na imensa maioria esmagadora das vezes, eu esqueço do sal :P), as pizzas congeladas queimam (forno malvado!!), as sopas ficam com uma consistência tosca (nem líquidas, nem “sopas”), o café instantâneo fica amargo (nunca acerto a quantidade de açúcar), a torrada fica mal tostada (a torradeira está toda remendada, porque quebrei ela esses dias… a pressa era tanta que nem sei por que… ela simplesmente caiu :P), hambúrgueres já desisti de [tentar] fazer há quase um ano (ou ficavam crus, ou queimados, ou engordurados…)… nem miojo eu acerto! Qual o segredo da boa cozinha? Ou melhor, já me bastaria o segredo da cozinha razoável. (tipo poder fazer um prato de arroz com frango desfiado congelado com gosto de risoto :D)
Alguém aí tem a receita mágica para se aprender a cozinhar?

Tempo malvado

Ahhh… droga de chuva! Não era para chover neste fim de semana!
Em sã consciência [!?] eu ia adorar passar um fim de semana véspera de época de provas sozinha em Pelotas e com chuva! (aí eu não teria outra opção do que fazer senão estudar; não ia ser preciso resistir a tentação alguma de sair de casa, de ir ao cinema, de usar a internet, etc.)… Mas, convenhamos, não precisava chover logo no fim de semana que decido pegar a câmara para fazer a prova de Foto!! Leis de Murphy sabem ser sacanas quando querem…
Preciso bater 3 fotos a cada hora, de um mesmo objeto, para testar as variações de luz ao longo de um dia (e suas influências nas cores, tonalidades, luminosidades e etc. das coisas). São no mínimo 24 fotos (se se considerar um período de “dia” de 8 horas). O ideal seria que eu fizesse no fim de semana, porque daí posso ir de hora em hora na portaria do prédio bater as fotos, e isso não atrapalharia em nada minha vida. (\o/)
Durante a semana, passo as 5 primeiras horas de luz do dia na rua (8h, 9h, 10h, 11h e 12h!!!), e as outras 3 sempre em casa (13h, 14h, e 15h). Então, o que seria menos tosco (caso o tempo não colabore e eu precise tirar as fotos durante a semana): tirar as fotos na faculdade (e ter de me deslocar até ela três vezes durante a tarde), ou tirar as fotos em casa (e a) matar aula [yay!], ou b) ficar vindo de hora em hora bater as fotos)???

Como o objetivo desse trabalho prático de foto é verificar as variações da luz do Sol ao longo de um dia (em dia de chuva, bem… cadê a luz do sol? :P), tenho que torcer para o tempo melhorar!
Bom, ainda tenho esperanças de acordar amanhã diante de um radiante sol de setembro… 🙂 Do jeito que o tempo anda maluco, tudo pode acontecer… 😛

Mitologias

Aproveitei o feriado para [terminar de] ler o livro Mitologias, de Roland Barthes. Já havia lido, anteriormente, o capítulo final da obra, que fala dos aspectos formais de um mito (“Barthes’s understanding of myth is the notion of a socially constructed reality which is passed of as `natural’“*). O que me faltava era ler a primeira parte do texto, que é composta por diversas análises feitas pelo autor, no formato de artigos jornalísticos, acerca dos mitos que rondavam a sociedade francesa no período pós-2ª guerra mundial.

A obra está totalmente vinculada à realidade histórica vivida pelo autor (e, por vezes, sua leitura torna-se bastante cansativa, quase enfadonha). Alguns capítulos tratam de questões muito específicas, que possam não interessar a um leitor do século XXI. Entretanto, a grande parte dos textos é bastante interessante, apresentando assuntos ainda de relevância para os tempos atuais…

Um dos capítulos que mais me chamou a atenção é intitulado “Brinquedos“. Barthes faz uma análise bastante realista dos brinquedos com que as crianças brincam à sua época: “O adulto francês considera a criança como um outro eu; nada o prova melhor do que o brinquedo francês.” (…) “o brinquedo francês, de um modo geral, é um brinquedo de imitação [do mundo dos adultos], pretende formar crianças-utentes e não crianças criadoras.
Brinquedos assim fazem com que a criança perca a capacidade de abstração (altamente produzível com objetos arcaicos, como bonecos de madeira e argolas de metal), e com que sua hora de brincadeira acabe se tornando em uma verdadeira escola de “como ser adulto” (quem nunca brincou de cabeleireiro das bonecas, se menina, ou vivenciou o mundo dos transportes, se menino?). De certo modo, até mesmo brincando as crianças estão aprendendo a lidar com a vida adulta — ao invés de estarem desenvolvendo seu intelecto, o que seria importante para que essa mesma criança pudesse um dia resistir aos modelos pré-estabelecidos. A criança é preparada para aceitar a realidade futura, sem pensar em transformá-la. Aí reside o mito.
O mais curioso disso tudo é que o livro foi escrito entre 1954-1956. E até hoje, aparentemente, ninguém fez nada para mudar isso. Os brinquedos seguem sendo meras cópias miniaturizadas do mundo dos adultos, dando margem a pouca — ou nenhuma — capacidade de reflexão por parte das crianças.

Há outros capítulos interessantes na obra, como “Saponáceos e Detergentes“, “Marcianos“, “Gramática Africana“, “Conjugais” e “O Vinho e o Leite“.
À propósito de Conjugais, há uma passagem bastante curiosa. Ao falar de um casamento, Barthes descreve a noiva como “(…) bem sucedida, visto que tem o diploma do curso secundário e fala inglês fluentemente.” Hoje em dia, essa mesma moça teria que ter no mínimo o título de Mestre, 2 ou 3 empregos e falar uns 3 ou 4 idiomas para ostentar o título de “bem sucedida”… É… coisas dos tempos modernos…

* Obs: citação de Tony McNeill, em “Roland Barthes: Mythologies (1957)” — recomendo a leitura 😛

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Duas soluções para o Brasil

I.

Muitos sustentam que já é hora de jogar 17 anos de conquistas no lixo e elaborar uma nova Constituição no Brasil, de modo a acabar com a corrupção. Mas será que a mera inclusão de uma ou outra palavra é capaz de resolver um problema histórico no país?
Se for para fazer uma nova Constituição, então que se faça alguma alteração drástica, algo como mudar o regime político para uma Monarquia Presidencialista (Democrática e Federativa!). Ora, a justificativa seria simples: um Rei não depende de mensalão para se manter no poder, muito menos de uma base aliada, ou de qualquer tipo de partido político — apenas de “sangue azul”.
A separação dos cargos de Chefe de Governo e Chefe de Estado (que no Presidencialismo convergem na figura do Presidente) já acabaria com metade da burocracia no país (enquanto o Rei fica viajando pelo mundo, o Presidente fica em Brasília, editando Medidas Provisórias, sancionando leis, vetando projetos, enfim, fazendo toda aquela parte chata e monótona de ser Presidente de uma nação).
Dependendo do grau de abstração que se pretenda, dá para imaginar um projeto social de iniciativa do gabinete da Primeira Dama, mas com apoio de Sua Excelência, a Rainha de Terra Brasilis (depois de tanta transformação, mudar o nome do país será mera conseqüência…). Já temos o ouro estampado no amarelo de nossa bandeira, como que num prenúncio subliminar do que estaria por vir. É só incluir um capítulo sobre o regicídio na lei de crimes hediondos, separar parte da verba pública para sustentar a família real, escolher quem vai ser o primeiro Rei, e deixar que a sucessão hereditária acabe com as mazelas do país.
A partir daí, as grandes preocupações da imprensa passariam a ser outras. Nada de depoimentos intermináveis em CPIs incontáveis. As grandes fofocas seriam quanto a quem pertence o coração da princesa, a rebeldia do jovem príncipe, e as extravagâncias da rainha. Não teríamos nem tempo de pensar em corrupção!
Mas não é preciso ir tão longe para salvar o país: basta uma reforma na Constituição atual para aplicar os dispositivos que ainda requerem legislação complementar. A chave para a democracia está aí. Não basta chamar o Presidente pelo apelido, liberar geral a criação de partidos e meter meio milhar de deputados dentro de uma sessão. É na efetiva aplicação da lei que tudo se resolve!

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II.

E tem também a proposta do Luis Fernando Veríssimo, da Zero Hora de ontem (05-09-05):

“A idéia de um recomeço é atraente. A gente podia devolver o Brasil aos índios, desde que eles concordassem em devolver os espelhinhos, e fundar outro Brasil – onde? Sugiro Paris. Já tem até praia no Sena.”

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Enfim.. o que não dá para admitir é que as coisas continuem do jeito que estão… 😛

Para refletir

“O Direito não pode parar.”

Frase dita pela Carol hoje em sala de aula, a respeito da greve dos professores na Universidade Federal de Pelotas.
Quantos níveis de significados são possíveis de se captar a partir dessa singela e inocente frasezinha? 😛

Liberdade de Expressão

Da página 3 da Zero Hora de sábado, 03/09/05:

ANJ protesta contra censura

Em nota divulgada ontem, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) protestou contra a decisão judicial que impôs censura prévia ao jornal A Tribuna, de Santos, em São Paulo.
Por decisão do juiz José Alonso Beltrame Júnior, da Décima Vara Cível de Santos, o jornal foi proibido de divulgar informação relativa a processo administrativo que envolve funcionária da prefeitura daquela cidade. A servidora é acusada de desvio de dinheiro público. A decisão judicial ainda prevê multa de R$ 50 mil por “divulgação indevida”.
O presidente da ANJ, Nelson Sirotsky, observa que “essa violência não atinge apenas o jornal, mas é uma afronta ao direito de informação de todos os cidadãos”. A entidade acredita que o Poder Judiciário vai “corrigir mais esse atentado à liberdade de expressão”.

Sinceramente, acho que essa decisão foi muito bem feita. Tá certo que censurar matérias jornalísticas vai contra a liberdade de expressão, apregoada pela Constituição Federal e tudo mais, mas também não dá para aproveitar esse princípio para começar a comprar denúncias por fatos. Não se pode atropelar as fronteiras da ética e do bom senso, em nome de um simples furo jornalístico. A servidora está sendo acusada, em processo administrativo (ou seja, ainda interno)… Nada está comprovado ainda. Por que o jornal tinha que se meter e sair publicando o fato antes que ele pudesse ser devidamente verificado?
Liberdade de expressão, sim. Mas com limites! Pois “censurante é tanto a proibição de dizer como a obrigação de dizer”, na medida em que “a plenitude do dizer e do fazer equivaleria à própria negação da linguagem, à morte da palavra, ao silêncio total”. (Adriano Duarte Rodrigues, em Figuras das Máquinas Censurantes Modernas).
Essa tal liberdade precisa (e deve) ser ponderada por outros princípios constitucionais, como o da dignidade humana e o da presunção de inocência. A liberdade de expressão, que é um direito fundamental, mas que não é absoluto, também não pode ser usada para justificar a violência, a difamação, a calúnia, a subversão, e a obscenidade. É preciso buscar um equilíbrio: defender a liberdade de expressão, mas ao mesmo tempo impedir o discurso que incita à violência, à intimidação, ou à subversão (Princípios da Democracia, da Embaixada Americana)
Não sei exatamente os reais motivos que levaram o juiz que decidiu o caso a tomar essa decisão, mas acho que foi muito bem feito! 😛 (Isso quer dizer que, ao menos tacitamente, eu prefiro o Direito? Nãããão!!)

Da Constituição Federal de 1988:

CAPÍTULO V – DA COMUNICAÇÃO SOCIAL
Art. 220.
A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 1º. Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º. É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

Na versão comentada pelo STF (mais uma das maravilhas/porcarias da tecnologia virtual), há dois trechos interessantes:
– Sobre o caput do artigo, fala-se em “polêmica — ainda aberta no STF — acerca da viabilidade ou não da tutela jurisdicional preventiva de publicação de matéria jornalística ofensiva a direitos da personalidade”.
– E sobre o parágrafo 2°, lê-se “A Constituição de 1988 em seu artigo 220 estabeleceu que a liberdade de manifestação do pensamento, de criação, de expressão e de informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerá qualquer restrição, observando o que nela estiver disposto. Limitações à liberdade de manifestação do pensamento, pelas suas variadas formas. Restrição que há de estar explícita ou implicitamente prevista na própria Constituição.”
Este último comentário fala da questão da divulgação de nomes de crianças e adolescentes em processo por ato infracional, mas acho que também se aplica à questão. A liberdade de expressão não pode ser total, sob pena de sermos “censurados” a falar tudo o que pensamos!

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