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WordPress poderá ser bloqueado no Brasil

Depois do absurdo de bloquearem o YouTube inteiro por causa de um video, agora, uma decisão da Justiça brasileira poderá levar ao bloqueio do acesso ao WordPress inteiro em função de um blog. O motivo é uma decisão judicial expedida em março, que determina a proibição de acesso a um determinado blog, hospedado no WordPress. O nome do blog e o motivo do bloqueio não foram revelados. O problema é que, segundo a Abranet, para que a decisão seja cumprida, seria preciso bloquear todo o domínio wordpress.com (não é possível impedir acesso a um único blog, visto que o domínio inteiro divide o mesmo IP). Blogs baseados em WordPress, mas hospedados em outros endereços, não seriam afetados pelo bloqueio. 90% dos provedores de internet do Brasil são filiados à Abranet, o que em termos práticos significa que, caso ocorra o bloqueio, quase todo mundo no Brasil ficará sem acesso aos blogs hospedados no WordPress.
A grande questão é: a blogosfera vai permitir que o Judiciário brasileiro ponha em prática mais uma decisão absurda?
Via Monitorando e Forense Contemporâneo.

Atualização — tive uma espécie de sensação de “deja vù ao contrário” ao ler este post do Global Voices Online sobre um bloqueio semelhante realizado ano passado na Turquia:

“Em 17 de agosto de 2007, a 2ª Vara Civil de Fatih na Turquia bloqueou acesso a todos os blogues no wordpress.com como resposta ao processo iniciado pelos advogados de Adnan Oktar com base no fato de que blogues hospedados na plataforma publicam relatos presumivelmente difamatórios e ‘ilegais’ sobre o cliente deles. A decisão judicial resultou nos internautas turcos sendo proibídos de visitar um milhão de blogues hospedados no wordpress.com.”

(Apenas a título de curiosidade… atualmente, o número estimado de blogs brasileiros hospedados no wordpress.com é de 1 milhão)

Outra atualização — alguns detalhes sobre o caso que motivou o bloqueio podem ser encontrados neste post do Pedro Dória. Para variar, parece que tem algo a ver com o YouTube…
E já foi criado um blog, hospedado no próprio wordpress.com, para protestar contra a possibilidade de bloqueio: http://naoaobloqueio.wordpress.com/

Meme: Blogar… uma profissão?

Há vários blogs por aí que falam sobre blogs – de dicas sobre como ganhar dinheiro (com blogs) a sugestões de como começar do zero (um novo blog), passando por discussões que tratam a blogosfera como um grupo socialmente autônomo (apesar da diversidade de blogs, apesar da heterogeneidade de blogueiros) e posts que comentam a realização de eventos (sobre blogs). É tanta metalinguagem que não resta dúvidas de que, ao longo de seus mais de 10 anos de história, os blogs já se consolidaram como um meio de comunicação democrático (há controvérsias) e autônomo em relação ao jornalismo. Mas e quanto aos blogueiros – blogar já virou uma profissão?
O Bruno Cardoso, do Navalha Infame, passou-me um meme intitulado “Blogar… uma profissão?”. A idéia é discutir se o uso intensificado e diversificado dos blogs estaria dando origem a uma profissão autônoma, exercida por blogueiros, e em contraposição ao trabalho exercido pelos jornalistas. Embora eu acredite que seja difícil dizer algo novo sobre o assunto, sem cair na inevitável reverberação de argumentos, segue abaixo a tentativa de escrever alguma coisa sobre o tema.
Antes de tudo, contrapor blogueiros e jornalistas simplesmente não faz sentido. Os dois não exercem a mesma função. O jornalista (ideal) possui uma ética que lhe é própria da profissão, aprende técnicas de reportagem, faz um trabalho investigativo sério e ouve os dois lados da história. O resultado de tanta preparação e cuidado faz com que jornalistas – e jornais – trabalhem para construir credibilidade. Por conta disso, apenas por um fato ter saído em um veículo como Folha de S.Paulo faz com que ele adquira status de verdade. Já os blogs não possuem uma regulamentação – a grande graça da coisa é a liberdade de se poder escrever, do jeito que se quiser, sem se submeter a constrangimentos organizacionais (como no caso de jornalistas que trabalham para veículos de imprensa) ou a pautas impostas verticalmente (blogueiros são auto-pautados). Assim, não se trabalha em termos de busca por credibilidade, mas de busca por reputação. E a reputação é construída pela quantidade e qualidade de seguidores que se consegue atingir, pela capacidade de ser reconhecido pelos pares como “blogueiro”. E, sim, o blogueiro precisa se preocupar com o conteúdo, citar as suas ‘fontes’ (que, veja só, quase sempre são outros blogs), e usar, mesmo que intuitivamente, a noção de “valores-notícia” do jornalismo (sob pena de escrever para ninguém ler). Nessa busca por reputação, o blogueiro pode até começar a ganhar dinheiro (embora a grande maioria dos que buscam lucros prefira abusar da capacidade intelectual de seus leitores – dentro da idéia de que uma maior quantidade de leitores irá render mais dinheiro, ainda que esses leitores precisem ser enganados para que cheguem até o blog), o que nos leva ao segundo ponto.
A possibilidade de se ganhar dinheiro com blogs não significa que blogar tenha se tornado uma profissão. Posso ter como hobby pintar quadros, fazer obras realmente muito boas, e até ganhar dinheiro com isso. Também posso ter o jornalismo como profissão, ser formado, com diploma e tudo, e escrever matérias de graça para o informativo de um projeto social ou de uma ONG. Não dá para ignorar que tem gente vivendo de blogs, mas isso, por si só, não justificaria alçar blogar à categoria de “profissão” – o que nos leva ao terceiro ponto: a regulamentação das profissões.
Você consegue imaginar algo como…
Blogueiro
Norma Regulamentadora:
Lei no 210.746 de 27 de fevereiro de 2017 – Dispõe sobre o desmembramento dos Sindicatos de jornalistas e blogueiros.
Decreto no 123.947 de 31/08 de 2017 – Dispõe sobre a profissão de blogueiro e regula o seu exercício.

na lista de profissões regulamentadas, ali, logo após Biomédico? Consegue imaginar uma entidade de classe em defesa dos direitos dos blogueiros, com estatuto, regras para o exercício da profissão e até um curso superior para formar profissionais na área (algo como “Comunicação Social – Habilitação em Blogs”)? Como bem colocou Alexandre Inagaki, a graça do blog é a liberdade, tanto editorial como de forma. Dá para ter blogs sobre qualquer assunto. Os posts podem ter qualquer formato. Qualquer um pode ter um blog. Tentar acabar com essa liberdade propiciada pela ferramenta seria insano (até porque os demais blogueiros não deixariam).
Acho que não cabe aqui discorrer sobre o que é uma profissão, e por que blogar não é uma profissão – o Bruno Cardoso já fez isso, inclusive de forma divertidamente ilustrada. Em seu post, o Bruno traz a definição do dicionário Aurélio para profissão e discute por que os blogueiros não se enquadram na situação. Ele vê os blogs como ferramentas de discussão (em essência, a grande graça da coisa estaria nos comentários, e não nos lucros), e não como meio de comunicação, o que nos leva a um quarto ponto: blogs são versáteis – e, como tal, blogs podem ser muitas coisas ao mesmo tempo.
Enquanto ferramentas de discussão, os blogs são espaços de reflexão e de conversação (embora haja notórias dificuldades em se construir as conversações), distribuídos em uma complexa estrutura de rede, baseada em links, comentários, e trackbacks. Voltando à comparação (equivocada) ao Jornalismo, equiparar blogueiros e jornalistas é o mesmo que esperar que um jornalista da Folha cite uma matéria do Estadão, ou convoque outros veículos a abordar um mesmo tema, como num meme ou numa blogagem coletiva. Blogs e jornais são coisas completamente diferentes, embora por vezes ambos se utilizem de um mesmo suporte (a Internet), tratem dos mesmos temas – e, cada vez mais, jornalistas passem a “blogar” em nome de suas organizações (leve ressalva: a maior parte desses ‘blogs’ não passa de uma versão digitalizada das colunas dos impressos – porque ter um blog é muito mais do que escrever em ordem cronológica inversa e abrir para comentários).
Bom, resumo da ópera: blogar não é profissão (talvez uma atividade, uma ocupação) – embora no futuro possa vir a ser (nunca se sabe; imagino como não devia ser a situação do exercício do jornalismo até ser oficialmente regulamentado) – e a grande graça da coisa é poder falar e ser ouvido, é poder postar e receber comentários, é poder escrever sobre o que se gosta, do jeito que se quiser, e quando bem entender (embora a perspectiva de ter 4 leitores às vezes assuste um pouco).

O caminho do meme
Tudo começou em um post da Ana Brambilla. Ou melhor, o buraco é mais embaixo: tudo começou com as “hostilidades” cometidas por blogueiros contra a imprensa no Campus Party – e que na verdade os jornalistas pareciam estar levando numa boa, mas isso não vem ao caso – e no debate que ocorreu por lá entre blogueiros e jornalistas. Ou melhor, o buraco é mais embaixo ainda: a discussão já tem rolado há muito tempo pela blogosfera afora.
O Thalles Waichert, do iBlog, resolveu continuar a discussão iniciada pela Ana Brambilla sobre se blogar seria uma profissão, e transformou o assunto no meme “Blogar… uma profissão?”, convidando outros blogueiros a manifestarem a sua opinião sobre o caso. Aí o Thalles passou o meme para, dentre outras pessoas, o Yuri Almeida, que, por sua vez, passou para o Bruno Cardoso, e através dele o meme chegou até aqui. E como nessas situações nunca sei para quem repassar um meme, fica o convite para quem quiser se manifestar sobre o assunto. Convoco, em especial, o Gilberto, que recentemente fez um post sobre como os jornalistas poderiam aproveitar o potencial dos blogs para se tornarem, eles próprios, verdadeiros veículos de comunicação social.

Pensar pequeno

“It is the small groups of people that have started the revolutions. It is the small companies that become the industry disruptors. And finding your small group to speak to could be the biggest thing you’ve ever done.”
Isso foi dito por Spike Jones, da Brains on Fire, no contexto de mensagens publicitárias. A idéia é de que uma mensagem focada a um grupo pequeno, bem circunscrito, tem mais chances de ser ouvida (assimilada, compreendida e respondida) do que uma mensagem ampla dirigida a muitos de uma vez só – visto que a massa já está acostumada a receber muitas mensagens amplas, o que pode fazer com que mais uma não seja percebida. Em síntese, pensar pequeno pode fazer com que se vá longe.
Spike Jones parte do texto de Seth Godin “Small is the new big“, originalmente aplicado ao contexto das empresas (cuja premissa básica é: pequenas empresas podem ir longe desde que pensem grande). Godin também se refere aos blogs: “Small means you can tell the truth on your blog”.
Spike convoca-nos a pensar pequeno, no sentido de produzir mensagens para pequenos nichos de pessoas, de modo a se fazer ouvido (na verdade, ele só quer vender o seu peixe, mas abstraia o fato de que ele falou isso no blog de uma empresa). Saindo um pouco do mundo corporativo e dos anúncios publicitários, isso talvez possa ser usado para refletir quanto à quem, efetivamente, gostaríamos de dirigir uma mensagem em um blog – a uma massa de anônimos provenientes de sistemas de busca, que entram, interagem minimamente com o conteúdo, e vão embora, sem deixar nada (exceto, talvez, como ocorre em certos blogs, algum rendimento financeiro, advindo muitas vezes da exploração da capacidade intelectual dos visitants), ou a um grupo específico, que, ainda que pequeno, reaja às mensagens, e possa nos permitir iniciar uma conversação?
(quanto a essa discussão, vale a pena conferir os últimos posts de Ana Brambilla sobre monetização).

Assunto paralelo: a possibilidade de criar formulários associados a planilhas do Google parece ser extremamente útil (Jeff Jarvis, do Buzz Machine, mostrou-se particularmente entusiasmado com a idéia). Aliás, aqui vai uma pergunta teste: como você chegou a este blog?

Comentários em blogs e em notícias

Com toda essa onda de Web 2.0 e endeusamento da participação do usuário, de uns tempos para cá, praticamente todos os sites jornalísticos passaram a contar com ferramentas que permitem a expressão de seus leitores. Além de espaços em que se pratica um ainda incipiente “jornalismo cidadão” (vejam o que se tornou o Minha Notícia, usado para autro-promoção de blogs e publicação de releases), em quase todos eles é possível encontrar pelo menos algumas notícias que permitem comentários.
A política de comentários em cada site varia. Há os que possibilitam comentários em toda e qualquer notícia, outros que restringem os comentários a certos temas e certas notícias. Há ainda os que realizam uma moderação prévia, de modo a filtrar os comentários ofensivos ou completamente nada a ver com o tópico posto em discussão (e nisso a Folha Online acaba se saindo bem). Mas, em geral, a quantidade de comentários em notícias de temas parcialmente polêmicos costuma ser bem grande. Entretanto, quantidade de comentários não é sinônimo de conversação.
O que os blogs têm, e que os sites jornalísticos ainda precisarão batalhar muito para atingir, é a característica de serem um espaço pertencente a alguém. Ao comentar, interage-se não só com os demais leitores, mas com um determinado autor, com o dono do blog. Há uma forma de identificação, uma personificação, ainda que mínima.
Nos grandes e frios portais não se tem isso. O texto da notícia aponta um autor, mas esse autor geralmente é um repórter desconhecido, praticamente anônimo. A quem dirigir o comentário? Ao repórter, à empresa jornalística, à fonte utilizada na matéria, aos demais comentaristas? Como construir uma conversação? Não há um jornalista, um repórter para mediar a discussão. Daí o que se vê são opiniões mais ou menos desconexas sobre os fatos, muita repetição de argumento, e um que outro diálogo entre dois ou mais leitores que se disponham a acompanhar a discussão do início ao fim. Fora isso, vocês já viram o jornalista, o editor ou o veículo interagirem com seus leitores? Então, se não for para gerar uma conversação, de que adianta simplesmente abrir para os comentários???
Em um blog é diferente. Há lurkers, fakes, trolls, pára-quedistas, salsinhas, enfim, toda uma variedade típica de visitantes. Com o tempo, aprendemos sobre os comentadores, passamos a prever suas reações – afinal, também comentamos em outros blogs. Ao comentar em um blog, sabemos que o comentário ao menos vai ser lido, e que poderá ser respondido. Falar alguma coisa absurda vai gerar uma reação, senão do blogueiro, de alguém que leia o comentário depois e não aceite o absurdo da declaração. Blogs formam comunidades. Comentamos e voltamos para ver se tem alguma resposta, alguma continuação, algum outro comentário que complemente o que foi dito.
Em um portal jornalístico… bem, o que me faria voltar para ler os demais comentários das notícias? Um texto informativo, seco, pasteurizado, praticamente despersonificado, mesmo que trate de assuntos polêmicos, não gera conversação – como iniciar uma conversa única, fluida, entre centenas de anônimos, como evitar que não se torne um bate-boca descontrolado, com cada um falando algo destoante dos demais? (okay, a dona Folha é uma pseudoexceção, porque aposta na moderação, e na necessidade de cadastro para poder comentar). As pessoas que comentam uma notícia não costumam ser as mesmas que comentam as demais notícias. Não é como em um blog.
Mas há uma saída, pelo menos a longo prazo – formar jornalistas para gerenciar construir comunidades. Imagine a diferença que seria se os leitores tivessem a idéia de que aquele espaço é cuidado por alguém, um jornalista, um editor, que participasse ativamente das discussões, que comentasse junto, que respondesse comentários que sejam passíveis de serem respondidos…
Claro, nem tudo está perdido. Há blogs em sites de notícias (!), e, nesses espaços, os comentários costumam ser mais bem estruturados, mais lógicos, personificados, enfim, gera-se conversação.
Posso ter feito uma interpretação completamente equivocada, mas acho que é mais ou menos isso o que trata o texto “Why newspaper sites will continue to struggle with reader participation“, de Howard Owens. São questões para se pensar…

Como comentar em um blog

Sabemos que as caixas de comentário são espaços democráticos para discussão do tema dos posts (ou qualquer outro assunto que se queira abordar ou discutir). Blogs são revolucionários como veículos de comunicação na medida em que proporcionam um espaço para que seus leitores se manifestem junto ao post.
O problema é que com o tempo aumentou a burocracia em torno da caixa de comentários. Vários fatores fizeram com que se tivesse de reforçar a segurança para se deixar um comentário, de modo a evitar comentários maldosos ou ofensivos, e os temíveis spams.
Confira abaixo o que você precisa fazer para comentar em um blog:

– Tenha em mãos documentos de identificação como CPF e título de eleitor.
– Escaneie um comprovante de residência, por precaução.
– Para cada blog, faça o cadastro, preenchendo seus dados pessoais, para poder comentar. Como todos os nomes de usuários legais já foram tomados, crie um nome de usuário bizarro. Esqueça o nome de usuário toda vez que for comentar, e repita o processo de cadastro a cada tentativa de manifestar sua opinião, em cada blog.
Use um e-mail válido para o cadastro – eles provavelmente vão exigir confirmação do cadastro por e-mail.
Seja breve e sucinto, pois os CAPTCHA geralmente operam com um reduzíssimo período de time-out.
– Efetue a soma exigida.
– Encontre as letrinhas embaralhadas em um fundo confuso.
– Tome cuidado com a escolha das palavras. É preciso provar que se é humano, ou, do contrário, seu comentário irá ser barrado por algum filtro de spam.
– Os comentários são moderados. Volte mais tarde para ver se o comentário foi aceito. Do contrário, repita o processo, e comente (tente comentar) de novo.
– Comemore a democratização propiciada pelos blogs 🙂

Leve sátira para entrar em clima de domingo… O CAPTCHA é malvado, sim. Mas é só aprender a domá-lo que tudo se torna mais simples. Dica do dia: aperte ‘Preview’ antes de enviar um comentário. Aparecerá um novo CAPTCHA, com o prazo de time-out restabelecido 🙂

Direitos humanos e blogs

O Dia Internacional dos Direitos Humanos é celebrado (talvez celebrar não seja o termo mais adequado) acontece, todos os anos desde 1950, no dia 10 de dezembro. A data não foi escolhida por acaso: 10 de dezembro assinala o aniversário da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ocorrida em 1948, na França. Mas mais do que propriamente ‘comemorar’ alguma coisa, a data é marcada pela realização de eventos em todo o mundo, dentro e fora do âmbito da ONU, que procuram, além de ‘comemorar’ os avanços obtidos, também refletir sobre a temática dos direitos humanos.
No ano passado, um grupo de blogueiros organizou uma campanha em prol dos direitos humanos. O objetivo do desafio “Um Mundo, Uma Vida” era usar o dia 10 de dezembro de 2007 para refletir sobre os direitos humanos em blogs. Sob a forma de uma blogagem coletiva, a ação foi organizada por Sam Cyrous, de Portugal, e, ao todo, contou com a participação de 101 blogs, a maior parte deles do Brasil. [se cada texto tiver sido lido por pelo menos 10 pessoas – alguns foram lidos por menos, outros blogs possuem maior visibilidade – são pelo menos 1.000 pessoas convocadas a refletir sobre a temática]
Confira abaixo a entrevista que fiz por e-mail com Sam Cyrous sobre a campanha. As informações foram utilizadas para fazer esta matéria, sobre direitos humanos.

Como você teve a idéia de iniciar a campanha Um mundo, Uma vida? De onde vem a preocupação com os direitos humanos?
Sam – A minha preocupação pelos Direitos Humanos vem da minha infância. A minha religião é a Fé Bahá’í e fui educado com esse amor à Humanidade, à diferença e aos valores humanos. E, na minha infância, lembro de ter lido ou ouvido nalgum lado as palavras de Bahá’u’lláh (o Fundador da Fé Bahá’í) comparando a Humanidade ao corpo humano, perfeito em potencial mas afligido por doenças diversas. Ele admoestava as pessoas dizendo: “Sede como os dedos de uma só mão, os membros do mesmo corpo” e, desde então, essas palavras ficaram em minha mente. Entendo-as pensando que se tenho dor num braço, o equilíbrio de todo o corpo será alterado e o outro braço faz um esforço acrescido para manter o equilíbrio, como que ajudando o primeiro até que ele se recupere; e, por isso, será igual para o género humano! Com uma diferença: enquanto houver pessoas, mundo afora, que sofram por alguma forma de opressão, preconceito, ódio, genocídio ou qualquer outra dessas doenças que afligem o nosso mundo, não só é nossa função ajudá-los até que se reestabeleça esse equilíbrio, como deveria ser o nosso objetivo diário ajudar, de alguma forma, a que esse equilíbrio se reestabeleça.
Por que uma blogagem coletiva?
Sam – As blogagens coletivas existem, há pelo menos, um ano. Quando pela primeira vez ouvi falar do tema foi através do Lino Resende (outro blogger) e achei que isso só poderia ser a prova que a internet tem um impacto incomparável. Quando há cento e cinquenta anos atrás chumbo derretido era derramado garganta abaixo dos bábís, na Pérsia, ou há cinquenta anos atrás o nazismo começava a dizimar em câmaras de gás judeus, ciganos e pessoas rotuladas com “inútil”, não havia Internet! Imagine o que teria acontecido se houvesse Internet e se houvesse blogs! Os povos do mundo teriam bradado pelos direitos dessas pessoas: o genocídio arménio na Turquia ou a morte de milhões de pessoas nos campos de concentração poderia ter sido impedido se uma pessoa tivesse anunciado em seu blog o que estava acontecendo. Imagine então a força que teriam cem pessoas juntas, em blogs de diversos países e em diversos idiomas. Imagine a força que essas pessoas juntas poderiam ter. Esses dedos da mesma mão, trabalhando juntos…
Quantas pessoas participaram da iniciativa, em quantos países? A campanha atingiu a repercussão esperada?
Sam – Eu decidi não criar expectativas, mas estabeleci uma visão, uma meta: o limite mínimo de cem pessoas. Confesso que houve momentos que achei difícil chegar lá, mas o Lino e outros bloggers iam me encorajando e a campanha, naturalmente, foi avançando, até ao próprio dia, no qual, de repente, houve uma explosão e mais umas quarenta ou cinquenta pessoas anunciaram presença. Entretanto, através de motores de busca fui descobrindo que havia pessoas que participaram, mas que, por algum motivo, não estavam inscritas. Ou seja, apesar do número oficial ter sido 101 blogs, de 12 países, e três idiomas, acredito que houve mais participantes que eu posso nem ter notado. É assim que a informação funciona: houve quem simplesmente participasse da campanha, sem saber que era uma “blogagem coletiva”. Mas o importante é mesmo isso e, infelizmente, é só isso que se poderia fazer: aumentar o nível de consciência das pessoas. Se a campanha atingiu a repercussão esperada? Havia quem nunca tivesse lido a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ou quem nunca tivesse pensado que direitos, deveres e oportunidades deveriam ser coadunados, ou quem nunca sequer ponderasse a necessidade de apoiar determinados grupos ou pessoas. Só o fato de se ter levantado a ponta do véu e ter feito algumas pessoas pensarem sobre algumas coisas já foi para além de tudo que eu pudesse esperar.
A campanha já foi realizada em algum outro ano, ou será realizada novamente este ano?
Sam – Não, é a primeira vez que o fizemos. A blogagem surgiu este ano, depois de muito pensar sobre a sua viabilidade. Eu sou aquilo que se pode chamar “verde” nos blogs. Tenho um amigo (Vítor Sousa) cujo blog conseguiu impulsionar a candidatura da pessoa que ficou em segundo lugar nas últimas eleições presidenciais portuguesas, mas eu, com um blog com pouco mais de um ano de vida, não poderia sequer esperar eleger uma caixa de cereais como a melhor da mercearia do lado (risos).
Mas, entretanto, notei a nobreza das pessoas no exemplo do Blog Action Day, organizado por um australiano com quem partilho uma visão bastante semelhante do mundo, vi que há temas que movem e motivam as pessoas, há temas que nos tocam a todos! No caso do Blog Action Day o tema era o ambiente, e no caso Um Mundo, Uma Vida eram os Direitos Humanos.
A experiência deste ano provou que as pessoas se interessam pelos seus Direitos. Por isso mesmo, pondero seriamente experimentar uma nova campanha neste novo ano. Em que moldes? Ainda não sei, mas muito provavelmente, se for o caso, será revisto.

Você acha que a blogosfera se preocupa o suficiente com a situação dos direitos humanos, ou ainda há muito o que fazer com relação à temática?
Sam – Dói-me saber que ainda há um longo caminho a seguir! Ainda não aprendemos a nos preocupar com o nosso irmão humano que é preso e torturado no Irã por ser bahá’í, morto na Somália, aquela nossa irmã injustiçada na Arábia e por aí em diante… Ainda não chegamos àquele ponto em que nos vemos como gotas do mesmo oceano…
Parece-me que a blogosfera — e refiro-me apenas àquela que é dotada de uma real blogoconsciência — é, como quase tudo, um mundo de modas: as pessoas querem seguir o rebanho e discutir a democracia na Venezuela, os erros cometidos no Iraque, a liberdade de imprensa na Rússia; mas quando o Egito, que é um dos responsáveis pela manutenção dos DH em sede das N.U., tem comportamentos miseráveis nesse campo, me pergunto: quantos blogs de língua portuguesa falam disso? Ou, quando houve a cimeira entre a União Europeia e a África, em Lisboa, e se debateu a polemizada vinda de Qadafi, quem se levantou para falar da situação na Somália? Falou-se do Darfur, o que já é um excelente passo, mas o Darfur é a segunda maior tragédia humana do nosso século e poucos de nós sabemos qual é a primeira! Fala-se do Paquistão agora, por causa das eleições e da morte de Bhutto, mas e antes? Fala-se agora no Burma, por causa das manifestações, mas e antes? Os povos dessas nações estão oprimidos há anos, mas só hoje as pessoas mostram interesse; aliás, nem sei se interesse ou curiosidade…
O que essa campanha pelos Direitos Humanos, através da internet e dos blogs, mostrou foi que há, algumas pessoas que se interessam. Pessoas que demonstram ter uma consciência para além das suas realidades pessoais, que pensam para além da política local, regional ou nacional, e que acreditam que a Terra é, deveras, um só país e que nós todos podemos ser cidadãos ativos e conscientes desse único país. Acredito que para além dessas cem pessoas, haja outras mais e que nós todos juntos, unidos na diferença, poderemos mudar o mundo. Passo a passo isso poderá acontecer, dentro e fora da Internet.

Retrospectiva e previsões

Não sei o que é pior nessa época de final de ano: as inúmeras retrospectivas do ano que passou, ou as intermináveis listas de previsões para o ano que se inicia. Todo final de ano é sempre assim – revisita-se o passado recente e traçam-se metas, planos, promessas em vão. É como se projetássemos no ano prestes a se iniciar todas aquelas vontades que gostaríamos de concretizar, mas que por algum motivo ou outro (preguiça, inviabilidade técnica, ou pura incompetência mesmo) não conseguimos realizar no ano que se finda.
Abstraindo-se todo e qualquer ritualismo ou superstição em torno do ano novo… resta o quê? Uma mera mudança numérica? Porque o ano novo nada mais é do que uma metáfora para nos reinventarmos a cada dia, um mero rito de passagem, com mais convencionalismos do que propriamente mudanças. O que me impede de tentar mudar nos demais dias do ano? Por que tenho que esperar até depois de amanhã para começar a mudar, se posso mudar a partir de agora? Qual a diferença? — A diferença é que há toda uma mística em torno do ano novo. A mudança no calendário traz uma série de pequenas superstições e pequenos rituais bobos e sem graça, como usar branco, vestir roupas novas ou pular sete ondas. O problema é que são os rituais bobos e sem graça que dão sentido à vida.
Sob pena de invalidar tudo o que acabei de dizer (e o que disse em outros anos), fiquem abaixo com uma breve retrospectiva 2007 e uma pequena lista de previsões para 2008.

“Retrospectiva” 2007
Acompanhe abaixo alguns dos posts deste blog em 2007 (em escolha completamente arbitrária e não representativa):
Espetacularização da Tragédia – reflexões aleatórias a partir da cobertura midiática da cratera no metrô em São Paulo.
Como se tornar imortal – post surgido a partir de um comentário de Lynz sobre a imortalidade a partir da quebra de espelhos (sete anos de azar = mais sete anos de vida?).
Crimes contra a honra em blogs – e toda a série de termos jurídicos absurdos.
Sobre a luta de egos na blogosfera – a parte mais legal do post são os comentários 🙂
Identidade revelada – sobre o imbróglio Estadão X Blogs.
Excesso de informação – fruto de uma leve crise existencial.
Protestos em Myanmar – blogueiros unidos no mundo inteiro podem fazer a diferença.
Explorando o Twitter – tentativa de convencer a mim mesma de que o Twitter tem alguma utilidade.
Para mais posts.. er, é para isso que existe o arquivo.

Previsões 2008
Algumas previsões do que talvez (muito provavelmente) veremos na blogosfera em 2008 (inspirado na tag/meme #previsões2008 do Twitter):
– 748661719 novos tipos de rankings aparecerão para classificar os blogs.
– Inspirado nos rankings anteriores, será criado uma versão de tabuleiro de Banco Imobiliário para Blogs, baseada nos rendimentos de cada blog (já tem até War!)
– A monetização será largamente discutida ao longo do ano, junto com um debate ético sobre a questão dos posts pagos (ou isso é uma espécie de retroprevisão do que já aconteceu em 2007?)
– Realizar-se-ão diversos eventos do tipo BarCamp, BlogCamp, e alguma-outra-coisa-camp. Como tendência, os eventos passaram a ser cada vez mais localizados, atingindo o interior dos estados (aliás, que tal um BlogCamp Pelotas?).
– Pelo menos um meme de classificação de blogs, com direito a selinho, tomará conta da blogosfera brasileira.
– Algum blogueiro convencional irá se tornar problogger.
– Algum blog popular encerrará suas atividades – e todo mundo irá lamentar o fim desse blog em seus blogs.
– Alguém será processado por comentários de terceiro em blog.
– O Judiciário vai continuar não entendendo os blogs.
– A mídia de massa também não vai entender os blogs.
– Alguma celebridade irá criar um blog miguxo.
– Algum blogueiro famoso (fama é um conceito relativo na blogosfera) irá substituir seu blog pelo Twitter.
– Um embate de egos em blogs acabará em briga feia entre blogueiros.
– Os blogueiros se unirão em mais uma GoogleBomb de cunho político (possivelmente relacionada às eleições locais).
– Os plágios descarados continuarão a acontecer, apesar dos protestos.
– No final do ano, todo mundo irá criar listas de retrospectivas 2008 e previsões para 2009.
Ou seja: tudo vai mudar, mas, ao mesmo tempo, tudo vai continuar absolutamente igual…

Acreditem ou não que o ano novo vai mudar alguma coisa… desejo a todos um Feliz 2008! 🙂

Update 31/12 — And we’ve got a winner… a pior coisa do final de ano são as inúmeras simpatias para o ano novo!

Os 10 anos do termo ‘weblog’

Há 10 anos, em 17 de dezembro de 1997, Jorn Barger criou o termo ‘weblog’. A abreviação ‘blog’ teria surgido apenas em maio de 1999, quando Peter Merholz decidiu passar a pronunciar weblog como ‘wee-blog’, ou apenas ‘blog’. O blog mais antigo ainda na ativa é o Scripting News, de Dave Winer – no ar desde abril de 1997 (antes mesmo de weblogs serem chamados de weblogs, portanto). E Winer considera como o ‘primeiro blog de todos os tempos’ o primeiro site que surgiu na web, o http://info.cern.ch/, criado por Tim Berners-Lee, no CERN.
Para comemorar os 10 anos do termo ‘weblog’, a Wired traz 10 dicas para novos blogueiros, sugeridas pelo próprio criador do termo, Jorn Barger. Para Barger, blogs deveriam ser usados mais para listagem de links (o sentido original dos blogs, como um diário de bordo do que se faz na web) do que para produções próprias (no estilo ‘diário virtual’, a forma como os blogs se popularizaram).

Para ‘comemorar’, façamos uma espécie de diário de bordo de navegação (eis o caminho percorrido para formular os dois singelos paragrafozinhos acima):
Primeiro weblog
Nesta página, você encontra o que é considerado o ‘primeiro blog’, de acordo com Dave Winer. A página é de 1992.
Weblog resources FAQ
Neste endereço, você confere a definição dada por Barger para weblog. A página é de 1999.
“De ‘weblog’ para ‘blog’”
Arquivos do blog de Peter Merholz, de 1999. Veja no menu à esquerda a opção “For What It’s Worth”, onde Merholz conta que passou a chamar ‘weblog’ de ‘blog’. Via Internet Archive.
weblogs: a history and perspective
Texto de Rebecca Blood (uma das pioneiras na blogosfera, e também pesquisadora de blogs) sobre a história dos weblogs.
The History of Weblogs
Texto de Dave Winer (do Scripting News, o blog há mais tempo em funcionamento) sobre a história dos blogs. Via Internet Archive.
Top 10 Tips for New Bloggers From Original Blogger Jorn Barger
Essas são as 10 dicas para novos blogueiros, dadas por Jorn Barger, anteontem, na Wired.
Robot Wisdom
Site de Jorn Barger. Tem também este outro blog, citado na matéria da Wired.
Scripting News
Blog de Dave Winer, no ar desde abril de 1997.

Assunto paralelo: nova verbeatnik na área: Larissa Bueno, com o seu le bazar.

Nova casa: Verbeat

Este é meu primeiro post aqui na Verbeat . E como em todo primeiro post de um blog (que na verdade significa post n° 805, mas vocês podem abstrair os demais posts importados do outro blog e considerar este como o #1), é nessa hora que a gente tenta resumir toda a expectativa com a criação de um novo blog. Também é no primeiro post que se faz algumas considerações sobre o drama da escolha do template (a escolha de cores, a bagunça feita no CSS). Mas achei mais interessante sugerir a leitura de primeiros posts de blogs de dois conhecidos que estão começando agora. De certa forma, as preocupações iniciais deles são as mesmas preocupações de todos os que se iniciam na aventura de um novo blog: a Karina, com sua neura, e o Sérgio, com seu ganha, perde… [Haveria um link para o blog do Jandré, se ele já tivesse criado o dele :P]
Criar um blog é muito mais do que clicar em “create a new blog” na página inicial de uma ferramenta qualquer de blogagem. Criar um blog é assumir o compromisso de participar de conversações na web – escrever, comentar, ser criticado, tentar se superar a cada dia. Criar um blog é um desafio. [E vocês podem esquecer logo toda essa ladainha, porque este blog continua o mesmo. Só mudou de endereço :P]
Enfim, atualizem seus blogrróis e bookmarks para http://www.verbeat.org/blogs/gabrielazago

Agradecimentos especiais ao Tiagón, pelo banner, e pela ajuda no template 😀

Recadinho para o pessoal do feed: para vocês, não muda nada. Mesmo nome de blog, mesmo endereço do feed… 🙂

Deu primeiro no Twitter! [sim, eu sempre quis poder dizer isso!]

E não esqueçam de dar uma olhada no condomínio, que tem um monte de blog muito massa! 😀