Monthly Archives: November 2005

Feriados

— E aí, como foi o feriado?

— Que feriado????

É impressão minha ou essa história de renegar o feriado do aniversário da proclamação da República foi uma coisa generalizada? De minha parte, confesso que não parei em nenhum momento para refletir sobre os valores de se viver numa nação pautada por valores [ditos] democráticos e republicanos, e que também não refleti sobre o quanto a imagem de nossa República encontra-se manchada pelos escandalosos acontecimentos recentes no âmbito político. Mas será que isso também aconteceu com todo mundo?
Particularmente, eu tinha motivos de sobra para nem sentir a passagem do feriado: três provas e um trabalho. Como passei o dia de “folga” inteiro estudando, é como se fosse simplesmente um dia em que não se fosse à aula. Um dia como outro qualquer. Um dia qualquer. Um dia.
Mas, convenhamos, dos feriados dedicados à nação, o da república é o mais inútil de todos. No 7 de setembro ao menos há desfiles. Responda rápido: o que se faz para comemorar a República? Fala sério… dava para fazer um referendo (já que virou moda!) propondo acabar com o feriado da república e transportando-o para um mês que já não tenha outro feriado (2 de novembro – 15 de novembro.. para que dois feriados no mesmo mês e em menos de quinze dias?). Para não perder o cunho político, dava para comemorar algo mais concreto e objetivo, como, sei lá, a abolição da escravatura (embora já haja outro feriado em maio… o problema é que feriado em fim de ano não tem a mínima graça! Qual a utilidade de um feriado a duas semanas das férias? :P), ou a data de edição da Constituição atual (aí teríamos um feriado relativamente móvel, visto que uma Constituição no Brasil não costuma durar mais do que 50 anos… mas num país com uma data tão móvel quanto o Carnaval, o que significa mudar a data de um mísero feriadinho de tempos em tempos?) ou a reconquista da democracia (bem mais interessante que comemorar a República! E dava até para fazer desfiles comemorativos felizes, simulando o dia em que os jovens foram às ruas clamando por eleições diretas)…
O que não dá é para seguir comemorando uma mera decisão arbitrária de meia dúzia de generais de transformar o país de monarquia para república. Tudo bem que esse ato simboliza a passagem do poder político das mãos de portugueses para brasileiros, mas não passa disso. Não reflete os anseios de um povo. Não houve revolta. Não teve a mínima graça. (mas aí poderíamos cair também no desvalor da comemoração da independência; ao menos a independência assinala algo relativamente concreto — o país passou das mãos de Portugal para… os portugueses…?). Ah, enfim, para que feriados? Abole tudo de uma vez e aumenta as férias no fim do ano! 😀

[P.S.: Nunca leve a sério nada do que escrevo no período pós-24h :P]

Internet of Things

O relatório deste ano da International Telecommunication Union (ITU) da ONU, entitulado “Internet of Things“, chama atenção para o crescente aumento do número de dispotivos, máquinas e chips que está tomando conta da internet e que poderão provocar transformações radicais nas relações da rede nos próximos anos.

“Machines will take over from humans as the biggest users of the Internet in a brave new world of electronic sensors, smart homes, and tags that track users’ movements and habits, the UN’s telecommunications agency predicted.”
(mais informações…)

Sobre a mídia

O livro “Sobre a Televisão“, do sociólogo francês Pierre Bourdieu, é de fato uma crítica ao campo jornalístico em geral, cada vez mais submetido às leis da concorrência e às exigências do mercado. A competição entre os canais de televisão, ao invés de promover a diversificação de ofertas, tem levado a uma verdadeira homogeneização do que é transmitido, porque os outros canais tendem a copiar fórmulas de sucesso, em busca de audiência e maior número de anunciantes (que, na maior parte das vezes, são os mesmos a financiar os mais diversos canais).
Na obra, o autor desenvolve conceitos bem interessantes, como fatos-ônibus (“são fatos que, como se diz, não devem chocar ninguém, que não envolvem disputa, que não dividem, que formam consenso, que interessam a todo mundo, mas de um modo tal que não tocam em nada de importante.” Os assuntos-ônibus seriam as notícias de variedade de um jornal, que preenchem o tempo útil com o vazio — é impossível causar polêmica tratando de assuntos como a previsão do tempo!), a chamada “mentalidade-índice-de-audiência” (que induz à produção voltada para o consumo), e as ilusões do “sempre assim” e “nunca visto”. Talvez o livro não devesse se chamar sobre a televisão (a despeito do fato de tratar-se da transcrição de algo que passou na televisão e falar sobre ela — o que aliás já se constitui numa bela quebra de sintagma!) mas a crítica é tão descaradamente destinada à pessoa do jornalista que é como se o culpado de tudo fosse sempre aquele que produz, (des)considerando as influências do meio em que se veicula a mensagem. Na verdade, o autor ressalta que os jornalistas são tão manipulados como manipuladores. O próprio veículo de informação pode impor limites ao agir individual do jornalista, mas mesmo assim, é ele próprio quem seleciona e constrói o que vai ser mostrado pela mídia. Ou seja, o profissional da mídia coloca uma espécie de “óculos” sobre a realidade, e impõe aos outros sua visão de mundo, exercendo uma espécie de censura prévia ao que vai ser veiculado pela televisão. E são essas “censuras” que fazem da televisão “um formidável instrumento de manutenção da ordem simbólica“. O resultado disso tudo é uma verdadeira despolitização do mundo.
E o pior é que parece que o autor tem razão! Ele faz alusão a uma espécie de círculo vicioso que reina no universo jornalístico, do qual não se consegue nunca escapar, e acaba sustentando as idéias dominantes. Um exemplo é o que acontece com a busca ensandecida dos noticiários pela urgência e pelo furo. Para o espectador, é irrelevante saber que uma determinada informação está sendo veiculada pela primeira vez por determinado veículo — porque, salvo raras exceções, ele só assiste ao jornal de um único canal mesmo. Na verdade, são os próprios jornalistas que vivem a se observar e se auto-exigir tal incumbência (pois quem mais além de um jornalista iria querer ver todos os noticiários de todos os canais, para compará-los e perceber que o seu jornal deveria falar também sobre aquilo que o outro falou?? :P)..
O autor também destaca o fato de a mídia (e em particular a televisão, por ser de fácil acesso) influir na elaboração de leis (no Brasil há exemplos contundentes, como o caso de uma onda de seqüestros que houve no país ao final da década de 80, bastante noticiados pela mídia, e que levou à edição da lei de crimes hediondos, tendo como carro-chefe a inclusão nessa categoria do crime de seqüestro mediante extorsão… outro exemplo, envolvendo praticamente a mesma situação, é o caso Daniela Perez, que levou à ascensão do crime de homicídio qualificado à categoria de hediondo, dadas as inúmeras pressões da televisão, visto que se tratava de um crime contra uma atriz de novela — o que causou enorme comoção pública — praticado por um ator — o que estimulou a necessidade de que o rapaz não ficasse impune — e deu a calhar de a diretora da novela também ser mãe da vítima — ou seja, a pressão era tamanha que o legislativo não viu outra saída senão sucumbir ao poder da mídia). Bourdieu fala mal até dos operadores do direito (pois sustentam a hipocrisia coletiva ao se submeterem ao poder da mídia a influenciar suas decisões!).
Assim, o jornalismo na televisão, ao menos das grandes emissoras que precisam fazer de tudo para manter a audiência, está sempre submetido a pressões (externas – concorrência, leis de mercado; ou internas – urgência, medo de entediar e perder o telespectador). O jornal escrito deveria estar livre disso, mas no entanto cada vez mais tem se preocupado em mostrar de forma impressa aquilo que a TV o faz de forma mais atraente: e é assim que crescem o número de imagens, tabelas, quadros, e notícias que não dizem nada e apenas ocupam espaço.
Em um universo dominado pelo temor de ser entediante e pela preocupação de divertir a qualquer preço“, parece que tudo o que a mídia faz é elaborar maneiras de escapar do tédio. E uma das maneiras de fazer isso é mostrar uma “seqüência de acontecimentos que, surgidos sem explicação desaparecerão sem solução“. A televisão mostra tudo de forma dinâmica, aparentemente desconexa e de modo fragmentário, e seus telespectadores falham em perceber que no fundo todos os acontecimentos têm alguma coisa a ver com os demais.

As críticas do livro são um pouco exageradas. Mas mesmo assim são válidas como uma maneira de se repensar o papel da mídia na sociedade contemporânea, já que ela tem produzido efeitos sobre todas as demais esferas culturais… 🙂

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Overdose de Google

No site Google Tutor há uma série de dicas para quem quer explorar ao máximo o poder do Google. Dentre as sugestões que estão por lá, achei algumas coisas particularmente interessantes (mas a maioria não serve para nada mesmo :P).
Primeiro, há dois sites-clones do Google (Woogle e Toogle) que usam o banco de imagens do Google para gerar resultados divertidos 🙂 No Woogle, é possível escrever uma frase com imagens (experimente procurar, por exemplo, “the sky is blue“). O Toogle transforma qualquer imagem em uma série ascii com repetições coloridas do termo pesquisado para encontrá-la (só vendo para entender como funciona… :P).
Outra dica curiosa que o site mostra diz respeito às opções de idiomas do Google. Se você prestar atenção na lista de opções disponíveis, vai perceber que há uma chamada “Elmer Fudd” (em português, “Hortelino Trocaletras“). Se você trocar o idioma do Google para essa opção, sua página de buscas ficará um tanto mais divertida 😀 E há também uma série de outros idiomas falsamente divertidos, como Bork, bork, bork!, Hacker e Língua do P 🙂

P.S.: Faltou citar Klingon, o Google tem até versão para o idioma falado em Star Trek!!!

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Controle da Internet

Terminou em nada a reunião da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação, organizada pela ONU, e realizada de 16 a 18 de novembro na Tunísia. Estiveram presentes representantes de 170 países, e foram abordados temas como os direitos humanos e a censura na internet, além, é claro, do tema principal – o controle e a administração da Internet.
Até então, o sistema estava basicamente todo nas mãos dos Estados Unidos – uma empresa chamada Icann (Corporation for Assigned Names and Numbers), situada na Califórnia, e vinculada ao Departamento de Comércio norte-americano, é quem detém o monopólio da criação, registro e armazenamento de endereços Ips, o que faz com ela controle a oferta de endereços de internet em todos os países do mundo. Por estar vinculada a um órgão do governo americano, é praticamente como se o próprio governo pudesse decidir a seu bel-prazer sobre a liberação de novos endereços na web. É um risco enorme deixar tudo nas mãos nos Estados Unidos!
Entretanto, durante a Cúpula Mundial da Informação foi criado o Fórum de Governança da Internet, no qual os países insurgentes (como o Irã e o Brasil, que clamavam por um controle internacional dos registros na internet) poderão tratar de questões como segurança, políticas de inclusão digital (a meta realisticamente utópica da Cúpula era traçar estratégias para garantir o acesso de pelo menos metade da população mundial à internet até 2015!) e a regulamentação do comércio online mundial (se bem que para este ponto era mais simples fazer um Conselho de Comércio Virtual, que se reportasse ao Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio… 😛 — se bem que é bem provável que próprio Fórum de Governança faça parte da OMC…). Basicamente, esse Fórum não vai servir para nada. Os EUA seguem detendo o monopólio da administração da rede mundial de computadores, e os demais países apenas poderão brincar de tomar decisões tratando de temas (bem) mais irrelevantes.
Ao menos a Cúpula serviu para discutir questões como a liberdade de expressão na internet e o direito de informação 🙂 E também para promover discussões acerca de estratégias para a inclusão digital de países em desenvolvimento — só que os Tios Patinhas lá de cima não estão dispostos a colaborar com o desempobrecimento daqui debaixo, a julgar pelas parcas contribuições feitas por aqueles ao Digital Solidarity Fund das Nações Unidas!

[Editado: se der certo a idéia do laptop de baixo custo para as populações carentes (funciona a manivela! ¬¬), a Cúpula terá servido para alguma coisa, afinal… :P]

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Cartel da mídia norte-americana

“The media cartel that keeps us fully entertained and permanently half-informed is always growing here and shriveling there, with certain of its members bulking up while others slowly fall apart or get digested whole.”

O artigo “What’s Wrong With This Picture?“, do The Nation de 7 de janeiro de 2002 (notícia antiga, mas ainda é válida :P) critica, em tom mordaz, o cartel* da mídia norte-americana, que vem cada vez mais concentrando os grandes veículos da mídia mundial nas mãos de poucos. O professor de estudos midiáticos da New York University Mark Crispin Miller critica a falta de eficácia das leis que deveriam regular tal matéria, e se vê pessimista diante de uma perspectiva de futuro onde o muito que for produzido seja propriedade de poucos.

“Bill Clinton championed the disastrous Telecom Act of 1996 and otherwise did almost nothing to impede the drift toward oligopoly.”

Ele também se mostra insatisfeito com relação ao que pode acontecer caso tais conglomerados midiáticos não sejam regulados num futuro próximo, e analisa as conseqüências que ele tem trazido para a sociedade e a cultura americana.
“Of all the cartel’s dangerous consequences for American society and culture, the worst is its corrosive influence on journalism.”
“The monoculture, endlessly and noisily triumphant, offers, by and large, a lot of nothing, whether packaged as ‘the news’ or ‘entertainment.'”

Em nome do interesse público, seria necessário que a situação atual de oligopólio fosse destituída.
“A media system that enlightens us, that tells us everything we need to know pertaining to our lives and liberty and happiness, would be a system dedicated to the public interest. Such a system would not be controlled by a cartel of giant corporations, because those entities are ultimately hostile to the welfare of the people. “

“In short, the news divisions of the media cartel appear to work against the public interest–and for their parent companies, their advertisers and the Bush Administration. The situation is completely un-American. “

A conclusão é incisiva:
“We therefore must take steps to liberate the media from oligopoly, so as to make the government our own. “

O artigo é acompanhado de uma ilustração em flash detalhando as áreas de atuação de cada uma das corporações que formam o chamado “Big Ten”, os dez maiores gigantes da mídia.

* A título de curiosidade, veja o que diz o glossário executivo do dicionário Michaelis acerca do termo “cartel“: “União informal de empresas industriais independentes, que produzem bens similares com a finalidade de monopolizar um determinado mercado (market).
Na visão do articulista supracitado, grosso modo, é isso o que vem acontecendo na mídia norte-americana, onde dez empresas (AOL Time Warner, Disney, General Electric, News Corporation, Viacom, Vivendi, Sony, Bertelsmann, AT&T and Liberty Media) detêm grande parte da produção midiática, em áreas como televisão, publicação de livros, rádios e jornais.

P.S.: artigo encontrado via StumbleUpon 😛

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Provas

Foi por pouco, mas sobrevivi [quase] ilesa às semanas de provas 😀 (ainda faltam umas 4 ou 5 provas, mas é como se já tivesse praticamente acabado…). Talvez meu grande problema tenha sido que durante todo o tempo eu estava mais preocupada em aprender tudo aquilo que deveria ter aprendido durante as aulas mas por algum motivo qualquer não consegui apreender, do que propriamente em estudar, revisar uma matéria que já devia estar compreendida. Para o ano que vem, já decidi que vou começar a estabelecer um sistema de prioridades: é impossível dedicar-se interiamente a 11 matérias! Nessas semanas, quando ocorria de ter duas provas num espaço temporal equivalente a um dia (como ter uma prova na noite de quarta, e outra na manhã de quinta) eu inevitavelmente acabava tendo de priorizar o estudo de uma em detrimento de outra. No caso concreto, preferi Direito Constitucional a Foto; Teoria da Comunicação a Civil. No fim, deu tudo certo. Tirei algumas notas vergonhosas, mas creio que nenhuma tenha sido abaixo da média (pelo menos!) 😛

Bom, e a partir de hoje, declaro que paro de falar sobre provas aqui no blog e retomo a temática inicial (relações entre direito e jornalismo, ou algo do tipo — faz tanto tempo que me desvirtuei do rumo que já nem sei mais :P)…

[Editado porque eu (ou o teclado) devia estar sob algum efeito narcótico absurdo na hora de escrever este post, tamanha a quantidade de erros! :P]

Dolus malus

Fiquei durante algum tempo pensando no que postar por aqui. Como não leio o jornal há uma semana (por causa das provas), evito abrir livros divertidos (por causa das provas), raramente saio de casa (por causa das provas) e fico boa parte do dia encarando o teto (para não ter que estudar para as provas :P), a única solução que encontrei é falar sobre… a matéria das provas 😀

É interessante a distinção entre dolus malus e dolus bonus… O meu manual de Direito de Civil (Sílvio Venosa – Direito Civil I) fala que o “dolo bom” é aquele que é tolerado no convívio social, enquanto que o “dolo mau” é o único que merece sanção (no caso do Direito Civil, a sanção é algo tosco e vago, como a anulação de um negócio jurídico — como diz nosso professor de Penal: quando o assunto é crimes, todo mundo se empolga; ao falar de usucapião, entretanto…). Um exemplo de dolo bom é quando um vendedor diz que seu produto é o melhor do segmento, que nenhum outro produto pode superá-lo em preço e qualidade. Se isso não for verdade, o cara não pode ser condenado por fazer auto-promoção do produto que vende 😛 Esse tipo de dolo, baseado na conduta de um homos medius, é perfeitamente aceitável na vida em sociedade. Mas também não dá para extrapolar na propaganda, porque as regras do Código de Defesa do Consumidor são bastante rígidas… 🙂

Ah, enfim… esse assunto não é nada empolgante 😛 Vou lá retomar meus estudos e pensar em algo melhor para postar assim que passarem as provas 😀

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