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Twitter e consumo de notícias

Uma pergunta para aqueles que seguem veículos jornalísticos no Twitter (G1, Último Segundo, BBCBrasil, etc.) – vocês efetivamente acompanham o que dizem os veículos, ou preferem tomar conhecimento dos fatos pelas atualizações dos amigos? (Óbvio que não me refiro aqui àqueles que lêem notícias apenas pelo Twitter – seria insano, não? – mas aos que, além de recorrer a outros sites e meios, também acompanham notícias pelo Twitter).
Chris Garrett, do Blog Herald, questiona se o Twitter não estaria modificando nossos hábitos de consumo de notícias. Garrett comenta que a maior parte das notícias que ele lê atualmente é lida a partir do Twitter (em detrimento de outros meios ou de outros sites). Mas não necessariamente essas notícias vêm da mídia tradicional – ele também fica sabendo das novidades a partir das sugestões dos amigos.
O questionamento veio logo após a morte de Heath Ledger, em janeiro – ocasião em que os usuários do Twitter mostraram-se particularmente ávidos em (re-)informar a novidade, disputando o direito ao furo (ou re-furo, pois reverberavam um fato anteriormente divulgado pela mídia). Mas será que as pessoas realmente acompanham o que diz a grande mídia, ou preferem ler o que seus amigos dizem sobre o que diz a grande mídia? É mais ou menos assim: é mais provável que você tenha tomado conhecimento da morte do Heath Ledger porque algum dos seus amigos comentou sobre o fato (algo como “oh, pobre Ledger, era tão novo e foi dessa para uma melhor”) do que propriamente por ter visto a atualização do G1, por exemplo, com link para matéria sobre a morte. Não sei quanto aos outros, mas, de minha parte, já até desenvolvi uma espécie de “filtro subconsciente” para o mar de atualizações no Twitter, e na maior parte das vezes acabo ‘pulando’ o que dizem os veículos para ler logo as atualizações dos amigos.
Para quem busca notícias, o Twitter traz alternativas interessantes. Há desde empresas jornalísticas que disponibilizam bots automáticos para manchetes e links (mais ou menos desempenhando o papel de um feed) até complexos projetos colaborativos que contam com a participação de vários usuários (também tem vários experimentos praticamente desertos, mas isso é outra questão). A idéia geral é que, se você seguir vários bots de notícias no Twitter, é possível receber notícias o tempo inteiro. Mas isso, por si só, não significa que a pessoa estará bem informada. É como ao assistir televisão: se você não assistir ao telejornal, não vai ficar sabendo das notícias (e isso vale mesmo que a televisão esteja ligada durante o jornal, mas você esteja longe dela).
Assim, há um problema prático ao se usar o Twitter para tomar conhecimento das notícias: como Tamar Weinberg aponta em seu post sobre o consumo de notícias em redes sociais, publicar notícias é apenas uma das 17 maneiras de se utilizar o Twitter, o que significa que é extremamente fácil se perder no fluxo contínuo de informações (a menos que se crie uma conta APENAS para acompanhar notícias, o que ainda leva ao segundo problema prático de simplesmente se esquecer que essa conta existe e voltar a consumir informações apenas na conta principal do Twitter – aquela que tem seguidores, permite falar e ser lido e responder às mensagens dos outros).
Com isso, retorno à pergunta inicial: dentre os que acompanham notícias pelo Twitter, quantos, efetivamente, o fazem a partir de veículos tradicionais? E, só para complicar ainda mais as coisas, substituta “Twitter” por “Internet” ao longo do post, e tente responder à pergunta, tentando pensar na relação blogs, redes sociais, conteúdo colaborativo X sites tradicionais de notícias.

Assunto paralelo: Lembram da perguntinha embutida como assunto paralelo alguns posts atrás? Obtive o imenso total de QUATRO respostas, e cada respondente anônimo (ou quatro vezes a mesma pessoa) informou ter chegado ao blog de uma forma diferente… Dos quatro, dois chegaram por feed, um por link em outro blog, e outro por indicação de amigos. Veja o gráfico abaixo:

Interpretação absurda dos dados: Versão otimista: tenho apenas quatro leitores, dos quais dois são fiéis (assinam o feed). Dos dois fiéis, um tem blog e colocou link para o meu blog em algum lugar (o que explica o leitor que chegou por link em outro blog). O outro leitor do feed indicou o blog para um amigo (o que explica o quarto leitor). Versão pessimista: Tenho um único leitor, e este, sentindo pena, respondeu a pergunta quatro vezes, de formas diferentes e aleatórias. Versão pulso-cortante: Eu mesma respondi o questionário quatro vezes, enquanto testava o sistema, e esqueci de apagar os dados. Versão super otimista: o questionário estava fora do ar, daí muitas possíveis respostas se perderam. Versão extremamente otimista: o Google entrou em colapso com tantos acessos ao questionário que esqueceu de coletar as milhares de respostas obtidas. Versão realista: colocar uma pergunta teste como assunto paralelo em uma postagem sobre outro assunto não foi uma boa idéia 😛 (e vejam que insisto no erro, colocando o resultado novamente em assunto paralelo).

Notícia em 20 palavras

O site argentino 20palabras.com suspendeu suas atividades no início de fevereiro. O motivo: seus criadores pretendem dedicar-se a outros projetos.

Não é nada fácil dar uma notícia completa em apenas 20 palavras. Mas essa era a proposta do 20palabras.com, um projeto argentino idealizado por Pablo Mancini e Darío Gallo, inspirado na idéia de brevidade do Twitter. No ar desde setembro do ano passado, junto com as notícias curtas, o site também trabalhava com uma proposta de redação descentralizada, e apostava em publicações a partir de e para dispositivos móveis.

Ao suspender suas atividades, o projeto demonstra as dificuldades que ainda se enfrenta ao se tentar inovar online. As vinte palavras que José Luis Orihuela, do eCuaderno, usou para comentar a suspensão das atividades do 20palabras.com sintetizam bem essa idéia: “un proyecto original que se toma um respiro porque innovar no es fácil y triunfar no es barato. Hasta pronto”.

Também na linha de propostas inovadoras em jornalismo que não tiveram fôlego para ir adiante está o ChicagoCrime.org. O projeto de Adrian Holovaty estava no ar desde 2005, e usava dados do departamento de polícia de Chicago para mapear os crimes ocorridos em Chicago. Dava para navegar por tipo de crime, ou por localização. O mapa criado por Holovaty foi um dos primeiros mashups criados com o Google Maps, em uma época em que acrescentar dados a um mapa não era nada fácil (hoje, basta ter uma Google Account para fazer isso). O projeto foi o vencedor do Batten Awards for Innovations in Journalism no ano de 2005.
Mas a idéia do ChicagoCrime não morreu por completo – foi incorporada ao EveryBlock, um projeto mais abrangente de jornalismo hiperlocal, também idealizado por Holovaty.

Ver grandes idéias chegarem a um fim em tão pouco tempo nos faz repensar os rumos do jornalismo digital. (Mas vai dizer que não seria bacana tentar misturar tudo isso e fazer uma salada mista do tipo notícias colaborativas via Twitter em caráter hiperlocal e posicionadas sobre um Google Map??? — foi mais ou menos isso o que o Google tentou fazer na Super Terça…)

2008, o ano dos mashups?

Anteontem, na Super Terça (dia decisivo nas prévias das eleições norte-americanas, em que 24 estados iriam decidir seus candidatos do lado democrata e republicano), Google, Twitter e Twittervision anunciaram uma ferramenta que permitia acompanhar ao vivo, em um mapa, os comentários que estavam sendo feitos no Twitter sobre as votações (além de agregar notícias do Google News sobre o assunto). O resultado do cruzamento de dados era/é algo que mistura informação hiperlocal (é possível saber o que pensam os eleitores em cada ponto dos Estados Unidos, e do resto do mundo), com a lógica do tempo real (as atualizações do Twitter vão pipocando sobre o mapa, e ao lado, era possível acompanhar, ao vivo, o andamento da apuração da votação em cada estado – os dados da apuração também eram fornecidos em um gadget), a partir do cruzamento de informações provenientes de mais de uma fonte (ou seja, um mashup). O resultado é um grande volume de dados expostos de uma forma visualmente interessante.

Como se não bastasse isso… os vídeos relacionados às eleições postados no YouTube também foram posicionados em um mapa – o que permitiu acompanhar em vídeo as reações à votação Internet afora. No mapa, há ícones que diferenciam os vídeos postados por usuários do YouTube, por empresas jornalísticas, e por candidatos democratas ou republicanos. Significado disso tudo: um volume imenso de informação sintetizado e apresentado com uma boa dose de criatividade. (Ou, na fórmula sintetizada do Google Maps Mania: Google Maps + Twitter + Twittervision + YouTube + Google News = The Google Super Tuesday Map).

Não é à toa que Paul Bradshaw do Online Journalism Blog chamou a Super Tuesday de “Mashup Election” (“If 2004 was the blogged election, and 2006 the YouTube election, 2008 is the mashup election. The bar has just been raised. Again”). Ele também levanta questionamentos quanto ao modo como as pessoas consomem informações atualmente (para onde é mais provável se dirigir um jovem eleitor – para o site de um jornal, ou para YouTube ou Twitter, para um texto seco e sério, ou para algo dinâmico e divertido? A gente chega à informação de forma tradicional, entrando na home page de um megaportal, ou de uma forma mais social/viralizada, indo de site em site a partir de sugestões de amigos?).
Mas os dois mapas não foram algo isolado. A tendência parece ser produzir cada vez mais infográficos e mashups, cada vez mais conteúdo multimídia. As próprias prévias das eleições norte-americanas já foram objeto de inúmeras outras “experiências jornalísticas”, por assim dizer. De jogos a mapas, de infográficos multimídia a mashups. Quer mais? O Mashable trazia ontem uma lista com 40 fontes para acompanhar a Super Terça, muitas delas realmente interessantes.
É esperar para ver o tanto que a criatividade de empresas jornalísticas e empresas de Internet (o que seria o Google?) serão capazes de produzir ao longo deste ano. (E tomara que o material produzido nas eleições regionais aqui no Brasil seja no mínimo remotamente parecido com o que tem aparecido lá nos Estados Unidos).

Via Blog da Raquel.

Em tempo, a pergunta que não quer calar: qual é o plano secreto do Google para o Jaiku??? — porque ninguém, em sã consciência (empresas têm consciência?), compra uma ferramenta de microblogging para fazer parcerias gratuitas com o concorrente direto dessa ferramenta…

Atualização — percorrendo a barreira de feeds acumulados dos últimos dias, vi que O Biscoito Fino e a Massa tem feito uma cobertura completa das votações, inclusive tendo realizado uma interessante cobertura em tempo real das primárias da Super Terça. Os posts são uma fonte excelente para quem quiser compreender um pouco mais a fundo como funcionam as eleições nos EUA. (Não sabe por onde começar? Que tal partir de um ABC das eleições americanas, e ter uma aula rápida sobre cada um dos principais pré-candidatos?)

Comentários em blogs e em notícias

Com toda essa onda de Web 2.0 e endeusamento da participação do usuário, de uns tempos para cá, praticamente todos os sites jornalísticos passaram a contar com ferramentas que permitem a expressão de seus leitores. Além de espaços em que se pratica um ainda incipiente “jornalismo cidadão” (vejam o que se tornou o Minha Notícia, usado para autro-promoção de blogs e publicação de releases), em quase todos eles é possível encontrar pelo menos algumas notícias que permitem comentários.
A política de comentários em cada site varia. Há os que possibilitam comentários em toda e qualquer notícia, outros que restringem os comentários a certos temas e certas notícias. Há ainda os que realizam uma moderação prévia, de modo a filtrar os comentários ofensivos ou completamente nada a ver com o tópico posto em discussão (e nisso a Folha Online acaba se saindo bem). Mas, em geral, a quantidade de comentários em notícias de temas parcialmente polêmicos costuma ser bem grande. Entretanto, quantidade de comentários não é sinônimo de conversação.
O que os blogs têm, e que os sites jornalísticos ainda precisarão batalhar muito para atingir, é a característica de serem um espaço pertencente a alguém. Ao comentar, interage-se não só com os demais leitores, mas com um determinado autor, com o dono do blog. Há uma forma de identificação, uma personificação, ainda que mínima.
Nos grandes e frios portais não se tem isso. O texto da notícia aponta um autor, mas esse autor geralmente é um repórter desconhecido, praticamente anônimo. A quem dirigir o comentário? Ao repórter, à empresa jornalística, à fonte utilizada na matéria, aos demais comentaristas? Como construir uma conversação? Não há um jornalista, um repórter para mediar a discussão. Daí o que se vê são opiniões mais ou menos desconexas sobre os fatos, muita repetição de argumento, e um que outro diálogo entre dois ou mais leitores que se disponham a acompanhar a discussão do início ao fim. Fora isso, vocês já viram o jornalista, o editor ou o veículo interagirem com seus leitores? Então, se não for para gerar uma conversação, de que adianta simplesmente abrir para os comentários???
Em um blog é diferente. Há lurkers, fakes, trolls, pára-quedistas, salsinhas, enfim, toda uma variedade típica de visitantes. Com o tempo, aprendemos sobre os comentadores, passamos a prever suas reações – afinal, também comentamos em outros blogs. Ao comentar em um blog, sabemos que o comentário ao menos vai ser lido, e que poderá ser respondido. Falar alguma coisa absurda vai gerar uma reação, senão do blogueiro, de alguém que leia o comentário depois e não aceite o absurdo da declaração. Blogs formam comunidades. Comentamos e voltamos para ver se tem alguma resposta, alguma continuação, algum outro comentário que complemente o que foi dito.
Em um portal jornalístico… bem, o que me faria voltar para ler os demais comentários das notícias? Um texto informativo, seco, pasteurizado, praticamente despersonificado, mesmo que trate de assuntos polêmicos, não gera conversação – como iniciar uma conversa única, fluida, entre centenas de anônimos, como evitar que não se torne um bate-boca descontrolado, com cada um falando algo destoante dos demais? (okay, a dona Folha é uma pseudoexceção, porque aposta na moderação, e na necessidade de cadastro para poder comentar). As pessoas que comentam uma notícia não costumam ser as mesmas que comentam as demais notícias. Não é como em um blog.
Mas há uma saída, pelo menos a longo prazo – formar jornalistas para gerenciar construir comunidades. Imagine a diferença que seria se os leitores tivessem a idéia de que aquele espaço é cuidado por alguém, um jornalista, um editor, que participasse ativamente das discussões, que comentasse junto, que respondesse comentários que sejam passíveis de serem respondidos…
Claro, nem tudo está perdido. Há blogs em sites de notícias (!), e, nesses espaços, os comentários costumam ser mais bem estruturados, mais lógicos, personificados, enfim, gera-se conversação.
Posso ter feito uma interpretação completamente equivocada, mas acho que é mais ou menos isso o que trata o texto “Why newspaper sites will continue to struggle with reader participation“, de Howard Owens. São questões para se pensar…

Jornalismo online: velocidade X inovação

O que é mais importante em termos de jornalismo online: ser o primeiro a falar sobre um assunto, ou tratar o assunto de forma diferente dos demais?
Na Internet, ao menos em tese, não há limites de ordem espaço-temporal. Em termos práticos, isso significa que uma notícia pode ser dada a qualquer momento, e pode ter qualquer tamanho. Mas essa é apenas uma das possibilidades abertas pela Internet. Além da velocidade, o jornalismo online também se caracteriza pela integração de mídias, pela interatividade, pela personalização, pela memória, e pela hipertextualidade. Entretanto, paradoxalmente, mesmo sem limitações espaço-temporais, não se tem necessariamente um maior aprofundamento dos fatos. A meta é a instantaneidade – a redução máxima possível do tempo entre o acontecimento e a publicação da notícia.
Assim, pode-se perceber uma grande diferença entre o que se poderia fazer na Internet – matérias diferenciadas, inovadoras em termos de conteúdo e formato, que permitissem a participação/interação com o público – e o que acontece na prática – imitação do conteúdo de outros meios, reaproveitamento de material produzido originalmente para outras mídias, enfim, a produção e notícias para a Internet acaba, muitas vezes, seguindo a lógica dos meios de comunicação de massa: publicar tão logo aconteça o fato, em narrativas em que predomina o texto.
Mas, aos poucos, percebe-se o interesse dos veículos em tentar aproveitar as potencialidades da web e procurar inovar. Para tentar ilustrar essas tentativas de inovação, escolhi, como exemplo aleatório, a morte do ator australiano Heath Ledger, ocorrida ontem. Uma rápida passada de olhos em todos os jornais, por volta das 20h27min de ontem, trazia o seguinte panorama geral:


Primeira conclusão óbvia: todos os sites noticiaram a morte. Independente de quem noticiou primeiro (a lógica do ‘furo’ simplesmente não faz sentido em termos de jornalismo online), o fato é que todos os sites dispunham de informações gerais sobre a morte, além de poder contar com dados padrões para esse tipo de acontecimento (biografia, filmografia e fotos do ator). Há sites que se limitaram a fazer apenas isso – traziam uma notícia textual sobre a morte, com uma fotinho básica do ator, mais ou menos reproduzindo as informações do despacho da Associated Press, além de disponibilizarem uma galeria com fotos. Ah, e claro, a chamada na página inicial. A informação foi dada, os sites cumpriram seu papel. Mas isso basta?


Infográfico do G1 sobre a morte de Heath Ledger

Partindo do pressuposto de que a informação pode ser dada por qualquer um, e mais ou menos ao mesmo tempo (pouco importa quem disse primeiro), o que diferencia um site do outro é a forma de contar a história. Então, por que simplesmente jogar as fotos do ator lá, sem sentido, se é possível usá-las para contar uma história? Por que passar em um texto sem graça as mesmas informações que os demais veículos já deram, se é possível explicar os fatos de uma forma visualmente mais interessante? Por que não aproveitar material de arquivo, e resgatar vídeos, fotos, entrevistas passadas, cruzar informações? Por que não abrir para comentários dos leitores, para aqueles que gostariam de lamentar publicamente a morte do ator? Por que não procurar por fatos que possam ter alguma relação menos óbvia com o ocorrido, mas que possam enriquecer a cobertura de alguma forma?
Claro, foi apenas um fato, escolhido aleatoriamente, e com pouca relevância prática para o nosso país. Mas talvez se se utilizar dos recursos proporcionados pela web fosse rotina, infográficos, slides, galerias, discussão de notícias e outros formatos diferenciados para narrativas poderiam se tornar a regra, e não a exceção.

* Este texto faz parte da primeira edição brasileira do Carnival of Journalism – Ciranda de textos sobre jornalismo online. Veja o guia de leitura deste mês no blog do André Deak.

Twitter e Jornalismo

A partir de um artigo escrito para um jornal da Suíça, Nico Luchsinger fez um post no Online Journalism Blog sobre o potencial de utilização do Twitter por jornalistas. O texto é interessante porque, além de falar do uso óbvio – usar o Twitter como uma forma de ‘alerta’ de notícias (na forma como Último Segundo, G1, BBCBrasil, e outros tantos utilizam – tipo um feed em um formato mais reduzido ainda) – o autor também explora possibilidades mais específicas do Twitter, como interagir com leitores, ou reunir dados e utilizá-los em formatos diferenciados (o Twitter tem a API livre, o que permite que uma série de mashups e integrações possam ser realizadas). Um dos exemplos de sites que reúnem informações que possam ser interessantes do Twitter é o Hashtags, que acompanha e agrega todas as utilizações de palavras precedidas de “#” no Twitter (as hashtags). Um dos criadores do site é Nate Ritter, que ajudou a popularizar o uso das hashtags ao usar a tag #sandiegofire durante os incêndios na Califórnia.
Partindo dos exemplos fornecidos no post de Luchsinger (e incluindo outros que consegui lembrar), resolvi fazer um teste e mapear algumas das iniciativas de utilização do Twitter que tenham relação com o Jornalismo (como no caso dos incêndios na Califórnia). A princípio está tudo meio caótico. Mas assim que tiver dados mais específicos, vou atualizando o mapa. Sugestões (de fatos ou formatos) são extremamente bem-vindas.
Para acessar o mapa, clique aqui.

Exibir mapa ampliado

Os Simpsons e o fim da imprensa

Em um episódio recente dos Simpsons, o personagem Nelson debocha do fim dos jornais impressos. Confira abaixo o vídeo (mas assista logo, antes que retirem novamente do YouTube – caso isso aconteça, ainda resta a opção de assistir pelo Hulu [desde que você consiga burlar o sistema e acessar com nacionalidade estadunidense]):


Caso já tenham removido: o personagem aponta para um jornalista da versão impressa do Washington Post e diz: “Hah, hah, your medium is dying!”, ao que é advertido: “There’s being right and there’s being nice”.
Ele está certo? Talvez – muito provavelmente – não. Segundo dados divulgados pela WAN em 2007 (referentes a 2006), os índices de circulação de jornais impressos estão em baixa apenas na América do Norte. No restante do mundo, a imprensa segue firme e forte – e até com tímidos crescimentos. Ou seja: muito provavelmente ainda teremos jornais impressos circulando por aí durante muito tempo. Mas e vocês, o que acham? A imprensa ainda tem futuro?
(Só para constar: depois que assisti ao vídeo, resolvi procurar no Google alguma coisa sobre o fim do jornal em papel – sabe como é, para não deixar o post com um vídeo solto, sem texto – e me deparei com meu próprio blog como primeiro resultado… [!]).
Via O Lago.

Assunto paralelo: a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos irá disponibilizar seu acervo de fotos no Flickr. Uma parte das imagens já está por lá. Como está tudo em domínio público, dá para usar livremente. Em contrapartida, cabe a nós, usuários, colaborar para incluir etiquetas/tags nas fotos. Uma troca justa. E em sintonia com o mundo 2.0. (Mais informações sobre o projeto aqui).

A arte de reconhecer um erro


Errar é umano. Mesmo assim, espera-se da imprensa que haja um alto nível de precisão nas informações divulgadas. Erros – especialmente aqueles que são cometidos e não reconhecidos – atingem em cheio a credibilidade de uma publicação.
O impacto de um erro é amenizado quando esse erro é reconhecido. É por isso que os jornais impressos e as revistas costumam trazer pequenos quadradinhos em cantinhos obscuros de suas publicações informando os erros cometidos em edições anteriores. Na Internet, o processo se torna ainda mais fácil, pois, além de ser possível ter uma página ou seção apenas para apontar os erros e suas respectivas correções, o próprio texto errado pode ser corrigido.
É a partir dessa possibilidade de correção que surgiu o blog Regret the Error. Criado em outubro de 2004 pelo jornalista Craig Silverman, o blog traz uma seleção de correções, retratações, pedidos de desculpa e esclarecimentos com relação à acuidade e honestidade na mídia. Em entrevista ao Poynter Online, Silverman conta que dedica de uma a três horas por dia a seu blog. Para encontrar material, ele visita as seções de correções de erros dos principais sites de língua inglesa, e conta com a colaboração do público.
Segundo ele, os erros mais comuns são de digitação em nomes e títulos (como o que pode ser visto neste post aqui, do Gilberto), números ou cálculos errados (como no caso de fazer conversões de moeda de forma equivocada) e equívocos em identificar quem disse ou fez algo. “A grande maioria dos erros factuais são acidentais. Sabemos ou podemos facilmente obter a informação correta, mas algo dá errado em algum ponto do processo de coleta, escrita, edição e produção”, diz Silverman. E pondera: “Posto de forma simples, erros afetam a credibilidade. O público percebe os erros, e eles notam quando nós não os corrigimos”. Atitudes simples, como ensinar os jornalistas a reconhecer os próprios erros (visto que é imposssível querer exigir de alguém a perfeição total) podem ajudar a acabar com o tabu do erro nas redações.

Após visitar o Regret the Errors, resolvi ir em busca de correções de notícias em sites brasileiros. Não fui muito a fundo em minha busca, mas encontrei seção de correção de erros em pelo menos três grandes sites: Uol, Terra e Folha Online [o que é ótimo; sinal que os três sites estão preocupados em corrigir seus erros – entretanto, nem todos os sites possuem espaço para correções e, dentre os que têm, nem todos são tão rápidos quanto gostaríamos]. A Folha Online ainda vai além – o site apresenta uma Antologia do Erramos, que apresenta uma seleção de correção de erros da edição impressa do jornal Folha de S.Paulo desde 1991. A idéia é que divulgar esses erros possa servir para evitá-los em outras oportunidades.
Segue abaixo uma seleção aleatória de erratas recentes nos três sites:
Folha Online – Erramos
Tráfico X Tráfego
“Diferentemente do publicado na reportagem “Pequim tem mais de mil novos carros por dia” (Ambiente – 14/01/2008 – 11h43), o tráfego de automóveis está em crescimento, e não o tráfico. O texto, produzido pela agência Ansa e reproduzido pela Folha Online, já foi corrigido.”
SMS X MSN
“Diferentemente do informado no texto Multinacional acusa Rede TV! de violação de direito autoral (15/11/2007 – 12h40), os lances do programa “Lance Perfeito” podiam ser feitos via SMS, e não MSN. A informação foi reproduzida do site do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, onde consta a descrição do processo. O texto já foi corrigido.”
Década X Século
“Diferentemente do que foi publicado na reportagem Blog relata aventuras de soldado da Primeira Guerra Mundial (07/01/2008 – 16h26), o leitor do blog tem a mesma sensação que a família de Harry tinha há quase um século, e não há quase uma década. O texto já foi corrigido.”
UOL – Erros [reparem na quantidade de erros corrigidos na editoria de Esportes!]
Esporte: Kenenisa Bekele é homem
“A reportagem “Etíope vence Meeting de Edimburgo pela 3ª vez e se vinga de rival” informou incorretamente que Kenenisa Bekele era mulher. Na verdade, o atleta é homem. O erro foi corrigido.”
Esporte: Sport é de Pernambuco
“A reportagem “Cruzeiro acerta novo empréstimo de Carlinhos Bala ao Sport-PE” informou incorretamente que o Sport era da Parabíba (PB) (sic). Na realidade, o time é de Pernambuco (PE). O erro foi corrigido.”
Ciência e Saúde: México não faz parte da América Central
“Diferentemente do publicado na reportagem “Um terço dos latino-americanos com HIV vive no Brasil, diz ONU“, da AFP, o México não faz parte da América Central. O texto já foi corrigido.”
Terra – Correções
Doadores X receptores
“Ao contrário do que foi publicado anteriormente pelo Terra na notícia Órgãos de homem morto em SP vão para 7 receptores , no dia 2 de janeiro de 2008, às 22h54, os órgãos de Ed Carlos do Amaral, 39 anos, morto durante uma tentativa de assalto em Camburi, litoral norte de São Paulo, no dia 31, serão doados para sete receptores e não doadores. A informação foi corrigida no mesmo dia, às 23h28.”
Itaririri
“Ao contrário do que foi publicado anteriormente pelo Terra, na notícia SP: chuva dificulta retorno a residências alagadas, no dia 15 de janeiro de 2008, às 9h13, o nome correto da cidade é Itariri e não Itaririri. A informação foi corrigida no mesmo dia, às 9h38.”
Estupro X Atentado violento ao pudor
“Ao contrário do que foi publicado anteriormente pelo Terra na notícia OAB: doente mental foi violentado em prisão do PA, no dia 29 de novembro de 2007, às 16h27, o adolescente de 16 anos, com deficiência mental, foi violentado e não estuprado por vários presos. Só é considerado estupro a relação forçada entre homem e mulher. A informação foi corrigida no mesmo dia, às 17h05.”

Em tempo: caso não tenha ficado claro: sim, o erro da primeira frase do post foi intencional. Mas está lá só para tentar ilustrar o quanto um erro fica menos bizarro quando o veículo que erra se retrata… 🙂

Journalism Enterprise

Paul Bradshaw, do Online Journalism Blog, lançou oficialmente ontem o Journalism Enterprise, um blog coletivo voltado à crítica de empreendimentos na área de Jornalismo na Internet. A idéia é lançar um olhar crítico sobre o potencial das novas empresas jornalísticas da era pontocom – ou, como o próprio Bradshaw diz, mais ou menos como um TechCrunch para iniciativas jornalísticas:

“There are so many experiments by so many people in so many fields – from journalists going it alone to large news organisations trying new projects, from amateurs who feel passionately about their field to non-profit organisations who see the potential of the web, and from internet startups to established new media players, I thought we needed a blog to keep track of it all and provide a place for debating the issues involved”

As críticas seguem um padrão fixo de seis perguntas (inspirado no blog New Music Ideas):
What do they say it is? (O que eles dizem que é?)
What do I say it is? (O que eu digo que é?)
What’s great about it? (O que é interessante sobre isso?)
What could be better? (O que poderia ser melhor?)
How is it going to make money? (Como irá fazer dinheiro?)
Should I pay it any attention? (Devo prestar alguma atenção?)
(O jornalista Alex Gamela, de Portugal, teve a idéia de aplicar essas perguntas ao próprio Journalism Enterprise. O resultado é interessante.)
A equipe do blog é formada por blogueiros de várias partes do mundo (inclusive esta que vos fala), e está aberta à participação de todos que queiram colaborar, sugerindo sites para serem analisados, ou então analisando sites.
Em dezembro, fiz uma crítica ao Yoosk?, um site de origem britânica cuja proposta é realizar entrevistas colaborativas – qualquer um pode sugerir e votar nas perguntas, além de poder escolher quem será o entrevistado. Como contrapartida, o site se encarrega de tentar obter as respostas do entrevistado – desde que as perguntas atinjam um número mínimo de votos. A parte mais interessante é que a versão da crítica postada no OJB (antes de o Journalism Enterprise ser lançado oficialmente, as críticas eram postadas no próprio Online Journalism Blog) obteve uma resposta. E, ao entrar no Yoosk dias depois, foi possível notar que algumas das mudanças anunciadas no comentário à crítica foram efetivamente implementadas 🙂

Assunto paralelo: ficaram sabendo da última do judiciário brasileiro, envolvendo os jovens cariocas Fernando Mattos Roiz Júnior e Luciano Filgueiras da Slva Monteiro? O juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto atribuiu uma multa de R$ 10 mil para os veículos de comunicação de massa que divulgarem os nomes ou a imagem dos rapazes (há ainda um terceiro, menor de idade). O crime? Os três playboyzinhos agrediam prostitutas e travestis com extintores de incêndio. A idéia da restrição à divulgação dos nomes seria proteger as vítimas de possíveis represálias. Seria. Não há como conter a blogosfera. Além do mais, o Judiciário brasileiro (e a própria mídia de massa, que não reagiu de forma veemente ao caso) precisa entender que censura prévia não combina com uma democracia – ao menos nesse caso, a liberdade de imprensa parece ser um bem mais valioso a ser considerado. [Ok, paro por aqui, antes que o assunto paralelo fique maior que o próprio post…]

Distribuição de conteúdo online

Na quarta parte sobre o modelo de produção de notícias no século XXI (serão ao todo cinco partes), Paul Bradshaw fala sobre uma mudança no modelo de distribuição de conteúdo na Internet. Diferentemente do paradigma tradicional de distribuição de notícias (como em publicações impressas, ou nas transmissões de rádio ou televisão), na Internet, uma mesma pessoa (um mesmo jornalista) pode produzir, publicar e distribuir conteúdo de uma só vez, e a partir de um único clique. E essa especificidade faz com que algumas atitudes precisem ser repensadas na distribuição de notícias online: não se trata de se tentar promover um jornal inteiro, como ocorre nos formatos tradicionais de distribuição. Na Internet, é preciso promover cada página isoladamente.
A idéia é que na distribuição online há um componente a mais a ser considerado: a possibilidade de se passar adiante o conteúdo. Bradshaw reconhece que “É claro, as pessoas sempre passaram adiante jornais, ou contaram aos amigos sobre uma história que acabaram de ouvir no rádio, mas a replicabilidade digital e as tecnologias em rede tornam o processo mais fácil, rápido e – principalmente – mais mensurável para os anunciantes”. E isso implica em pensar em estratégias que facilitem essa distribuição em rede, como a preferência por vídeos ’embedded’ (que podem ser passados adiante até mesmo em scraps no Orkut), a disponibilização de widgets, a inclusão de links externos nas notícias, a utilização de estratégias de SEO (search engine optimization), ou a colocação, ao final do texto, de links que permitam que a informação seja passada adiante com um clique, através de redes sociais, social bookmarking, ou e-mail. Com a distribuição social, o conteúdo se torna mais importante que o jornal em si, e permite que mesmo conteúdos mais antigos possam ser ‘redescobertos’ e voltarem à tona a qualquer momento (meio que provocando um efeito de cauda longa em arquivos jornalísticos).
E o que eu tenho a ver com isso? As mesmas estratégias podem ser/são usadas por blogs em busca de maior visibilidade – principalmente em blogs que buscam rendimentos financeiros. Por que contar uma história de forma tediosa, se você pode dizer a mesma coisa de diferentes maneiras e interagir com seu público? Por que se preocupar apenas com a página inicial do blog, se grande parte das visitas entra direto em páginas internas? Por que dificultar a vida de alguém que tenha gostado de seu conteúdo e queira compartilhar com outras pessoas, se com algumas linhas básicas de códigos é possível permitir que as informações sejam passadas adiante de forma mais fácil? São questões para se pensar…
Leia o post no Online Journalism Blog.